Conhecida pela maneira ríspida como trata as demais
igrejas evangélicas, a CCB completou 100 anos em meio a inúmeras crises e
dissidência de adeptos. Sua origem está ligada ao italiano Luigi Francescon,
que em 1910 desembarcou em São Paulo e conseguiu reunir um grupo de vinte
seguidores e fundou a Congregação Cristã do Brasil. Apesar de fundada em 1910,
o nome “Congregação Cristã do Brasil” somente foi dado a Igreja por ocasião da
Convenção de 1936, sendo substituída a preposição “do” por “no” Brasil na
década de 60.
Com sede no Brás (SP), a CCB rapidamente se
espalhou pelo país e em pouco tempo atravessou a fronteira alcançando um número
significativo de adeptos. Dados da Pentecostalism Encyclopedia (Enciclopédia
Pentecostal – uma publicação americana que monitora o crescimento dos
pentecostais no mundo) revelou que já no ano 2000 a CCB ocupava a 6º posição no
ranking mundial em número de membros pentecostais. No Brasil, somente era
superada pela Assembleia de Deus que à época somava cerca de 8,4 dos quase 26
milhões de evangélicos – a CCB reunia cerca de 2,4 milhões de seguidores.
Não se sabe se por esse motivo ou simplesmente
pelas diferenças doutrinárias e de usos e costumes, a CCB evita qualquer tipo
de contato com a A.D. Ao se referir a A.D – e também as demais igrejas
evangélicas – a CCB utiliza o termo pejorativo de “primos”. Aos que decidem
frequentar suas congregações, ordena que sejam novamente batizados e se submetam
a regras rígidas de comportamento e de expressão social. Caso seja pego em
prática de adultério, o membro é destituído de suas obrigações na Igreja e
evita-se qualquer tipo de contato com ele – isso porque, segundo eles, o
adultério é um pecado contra o Espírito Santo ao qual não existe possibilidade
de perdão.
Dissidências
Interpretações como essas e outras mais são um dos
motivos do surgimento de inúmeros grupos dissidentes da Congregação Cristã no
Brasil, ainda na década de 50. A primeira ruptura de que se tem notícia ocorreu
no alto escalão da CCB, com a saída do cooperador Aldo Ferreti que abdicou do
seu cargo para fundar a Igreja Renovadora Cristã. Sua atual sede
fica na Vila Madalena (SP) em um prédio cuja arquitetura é semelhante aos
templos da CCB.
Amigo de longa data de Francescon, Ferreti
denunciou – na noite de 14 de maio de 1952, no Brás – os motivos pelos quais
ele decidira abandonar o ministério, como a falta de humildade do Colégio de
Anciões e o uso excessivo por parte destes de bebida alcoólica – sendo este um
dos motivos que mais preocupavam Ferreti. Seguindo o exemplo da IRC, nos anos
seguintes novos grupos dissidentes surgiram da CCB, tais como:
- Igreja Cristã Remanescente (fundada em 1967 pelo
ancião Nilson Santos, em Telêmaco Borba, PR);
- Congregação Cristã no Brasil Renovada (fundada
em 1991 pelo ancião José Valério, em Goiás);
- Congregação Cristã do Sétimo Dia (fundada em
1993 pelo ancião Luiz Bento Machado, em Santa Catarina);
- Congregação Cristã Apostólica (fundada em 2001
pelo cooperador Antônio Silvério Pereira, em Aparecida de Goiás, GO.
Surgiu de uma fusão da Congregação Cristã no Brasil com a Igreja Renovação
Cristã);
- Congregação Cristã Moriá (fundada em 2004 por
Saulo Corcovado Macedo, em Mairinque, SP);
À lista podemos acrescentar também os
adenominacionais ou Assembleias Cristãs (grupo de irmãos que se reúnem em casas
e possui ministério próprio, embora alguns congreguem na CCB. Sua
característica principal é a busca pelo “primitivismo apostólico”, sendo
considerado um “movimento de reforma”), a Igreja da Sã Doutrina (fundada no
Maringá pelo advogado Laertes Souza), a Congregação Cristã Primitiva (fundada
em Goiás e que também promove campanhas pelo retorno à fé primitiva), a
Congregação Evangélica Apostólica do Brasil (Imperatriz, Maranhão) etc.
A situação se agrava
Além de dissidências, a CCB se vê às voltas por uma
crise que vem se arrastando desde 2000 e que tem causado prejuízos
incalculáveis à instituição. De um lado, há os que argumentam haver um “complô”
contra o Conselho, enquanto outros dizem possuir evidências que comprovariam
corrupção, homossexualismo e prostituição envolvendo o líder máximo da CCB, o
ancião e ex - presidente mundial José Nicolau.
No vídeo acima, José Nicolau fala de seu
afastamento da CCB
Afastado de sua função no final de 2000, Nicolau –
que teria sido alvo de um processo judicial movido por Mário e Lúcio – teve sua
credencial definitivamente cassada por ocasião de uma assembleia realizada
entre os dias 09 e 13 de abril de 2001, quando Jorge Couri – até então vice –
presidente da CCB – interveio para que Nicolau fosse de fato expulso da presidência
e abrisse caminho para sua posse. O que de fato ocorreu. Concluído o processo
contra José Nicolau, Couri foi empossado como o novo presidente da Congregação
Cristã no Brasil e uma nova batalha judicial teve início.
Pessoas ligadas ao ex-presidente da CCB acusaram
Couri de ter agido secretamente – e com uso de artifícios mentirosos – para
convencer o Conselho a desempossar Nicolau. Tal consta de uma circular e dossiê
enviado ao Conselho Nacional de Anciões, na página 30 que reproduzimos em
parte.
“Consta que inconformado com a maneira apressada e
errada como foi decidido o caso, o saudoso irmão Basílio Gitti, teria proposto
rever o assunto logo em seguida, por ocasião da assembleia, realizada nos dias
09 a 13 de abril de 2001, quando seria feito um julgamento responsável.
Porém, sabendo da proposta e da possibilidade do
caso ser revisto e a injustiça reparada, JORGE COURI, que era o vice de
NICOLAU, de olho na “cadeira da presidência” e sedento para tomá-la a todo custo,
tudo fez para embaraçar o reexame da causa. Foi assim, que após incansáveis
diligências, localizou SERGIO, ex-motorista de NICOLAU, que havia se mudado
para o interior de São Paulo, cidade de Itápolis. Ligou pessoalmente para
SERGIO e convocou-o para vir a São Paulo com urgência, onde no interior do
apartamento de COURI, começaram as negociações malignas.
Para reforçar as falsas acusações apresentadas
anteriormente e aplicar o golpe mortal, COURI teria lançado mão de expediente
diabólico, traiçoeiro e criminoso. Aproveitando-se do caráter vulnerável de
SERGIO, persuadiu-o após prometer recompensas de todo tipo, inclusive com
pagamento em dinheiro, a que aceitasse fazer o papel de mais um falso acusador
contra NICOLAU.
O plano foi estabelecido sob as instruções diretas
de COURI, que cuidadosamente passou as instruções com todos os detalhes, no
interior de seu próprio apartamento; ficando apenas em aberto o preço total da
traição. Foram pagos duas parcelas de R$ 5 00,00, pelo próprio COURI e R$ 4.000,00,
por seu amigo JEREMIAS GUIDO; enquanto o restante ficou por conta dos depósitos
a serem feitos após o cumprimento do acordo.”
Resultado: Jorge Couri foi empossado presidente e
José Nicolau seguiu impedido de exercer seu ministério. No entanto, passados
alguns dias da posse de Couri, o motorista Sérgio – que segundo a circular
teria se arrependido das acusações – procurou o ex-presidente para revelar os
detalhes da conspiração criada por Couri e Jeremias Guido. Mesmo após as
revelações do motorista, nada foi feito pela Comissão para reverter o quadro.
Há pelo menos 11 anos Couri segue na direção da CCB
e enfrenta acusações de desvio de verbas – algo em torno de 20 milhões -,
acobertamento de anciões e falsidade ideológica. Juntamente com Jeremias Guido
e Sergio Anísio Soares Alves (o motorista), Couri é alvo de um processo
impetrado na 8º Delegacia de São Paulo – IP 343/2008, com acusações de
estelionato e crime contra a honra. Dois anos antes, o comerciante e membro da
CCB de Piedade, José Aparecido da Cruz, foi acusado pelo Ministério Público de
ter desviado R$ 19. 962 00 do setor de assistência social da Igreja. Casos como
esse demonstram que a corrupção saiu do alto escalão da CCB para se alastrar
pelas congregações, havendo até mesmo denúncias de estelionato envolvendo
anciões do Japão e em outros países onde a instituição se faz presente (algo em
torno de 80).
Além de processos judiciais, Couri também acumulou
inimigos dentro e fora da CCB. Grupos reformistas, como a CCB a Verdade – um
site criado por anciões que veicula denúncias contra o atual presidente e prega
o retorno ao “primitivismo congregacional” – tem deflagrado uma crise sem
precedentes dentro da instituição. Mudanças na liturgia – como a proibição de
os membros darem glória a Deus nos cultos e a forma de coleta da oferta da
piedade – também são motivos de desentendimentos e troca de acusações. Um
dossiê completo sobre a crise na CCB pode ser visto no site ccbverdade.com.br e
no Scribd.
Não por acaso, a crise vivida pela CCB ocorre em
meio às comemorações do centenário – algo semelhante acontece na CGADB, com
denúncias envolvendo os líderes da Assembleia de Deus do Belém, como
favorecimento da família Bezerra da Costa e problemas nas contas da Convenção.
Ambas as instituições fazem parte da chamada “onda Pentecostal” (termo
utilizado pela imprensa e estudiosos do pentecostalismo) que demarcaram o
início do Pentecostalismo no Brasil, lá pelos idos do começo do século XXI. Por
triste coincidência, adentraram ao centenário em meio a uma crise sem
precedentes e que promete abrir novas feridas nas duas principais
representantes do pentecostalismo brasileiro – embora, como dissemos, existam
inúmeras diferenças entre a irmandade e os assembleianos. No entanto, este é um
tema para uma futura reflexão.
Johnny Bernardo
é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.
É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.
Contato
ceirbrasil@yahoo.com.br
pesquisasreligiosas@gmail.com
3 comentários:
Olá, gostaria de esclarecer uma coisa, no texto vc diz "Conhecida pela maneira ríspida como trata as demais igrejas" , a ccb não trata as outras igrejas de maneira ríspida, é triste que vc veja a igreja assim, mas não temos nenhum tipo de preconceito nem discriminação contra outras igrejas.Nunca em meus 15 anos servindo a Deus na congregação vi algum irmão usar o termo "primos", nós não o usamos!...Também disse: "Aos que decidem frequentar suas congregações, ordena que sejam novamente batizados e se submetam a regras rígidas de comportamento e de expressão social"...Ninguém na congregação é obrigado a ser batizado e nem a seguir as doutrinas, nós recebemos os visitantes e as pessoas que estão frequentando, com muito carinho, e não os obrigamos a nada apenas são aconselhados sobre a doutrina retirada da bíblia. Deus é misericordioso e pode perdoar a qualquer pecado apenas ele pode julgar.Infelizmente não pude ler o restante do texto para esclarecer mais coisas....
Talvez você não tem esse conceito com relação ao tratamento ríspido dado aos membros de outra denominação, mas a CCB ela induz seus membros a isso, essa questão de chamar outras denominações evangélicas, principalmente os da Assembléia de Deus e real, já ouvi um católico que trabalha comigo dizendo que um membro da CCB que estava trabalhando no prédio dele (ele é sindico) falava pra ele que os assembleianos são primos deles porque ainda não se converteram para a CCB é claro. Veja só, essa pessoa da CCB falando a um católico.
Quanto ao rebatismo, isso é verdade, a CCB rejeita o batismo de outros evangélicos por entender que a fórmula batismal está errada. Ah se batismo salvasse!!
Existe um irmão chamado Ricardo Adam, acredito que você o conhece, ele foi um membro da CCB, saiu de lá e fez uma reforma (dissidente), esse mesmo, conta muita coisa do que acontecia no Braz. Busque-o na Internet e saberá do que estou falando.
Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade? Gálatas 4:16
Desculpe, Anonimo... seja sincero e nao tente tapar o sol com a peneira... ela trata SIM de maneira ríspida, tao ríspida a ponto de nao considerar como IRMAOS os de outra denominacao, que a propósito tem o mesmo PAI ETERNO e creem no mesmo JESUS CRISTO. Chamam sim de SEITÁRIOS embora, após muito tempo, pedem para evitar o termo, mas continuam usando. Se voce nunca ouviu, é apenas uma coincidencia, fui 26 anos da CCB e ouvi INÚMERAS VEZES. Também sempre chamavam outros de "primos" SIM!! Eu mesmo ouvi isso INÚMERAS VETES, um claro termo perjorativo por naos considerar eles como "IRMAOS, o pior cego é o que nao quer ver. Sao ARROGANTES, Presuncosos, se acham a Glória de Deus na terra, se julgam "a Graca", sem saber nem o que significa o termo Graca... voce sabe? entao deve saber que Graca é o FAVOR IMERECIDO de DEUS para com os homens, ao oferecer seu próprio FILHO para morrer pelos nossos pecados, sem que NÓS O MERECESSEMOS. Avisam por circular que os membros nao devem frequentar outras igrejas, nem ir na CCBMJ, numa clara ofensa ao direito de ir-e-vir que nos é dado pela CONSTITUICAO FEDERAL. Enfim... em que planeta voce vive? voce pode inumerar diversos pontos positivos da CCB. Mas nao pode dizer que estes pontos ruins NAO EXISTEM.
Postar um comentário