"Sabe, porém isto: Nos últimos dias sobrevirão
tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos jactanciosos,
arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos
do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos
de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também
destes. Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas
e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de
várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade.
E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à
verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles,
todavia, não irão avante: porque a sua insensatez será a todos evidente, como
também aconteceu com a daqueles" (II Tim.
3:1-9).
A Inglaterra, que uma vez já foi conhecida pela sua
vitalidade espiritual, agora está mergulhada numa letargia espiritual e a visão
missionária dos Estados Unidos está substituindo aquilo que a Inglaterra deixou
de lado. Além disso, muita coisa do que Deus está fazendo hoje está acontecendo
fora desses dois países. Eu espero que a Igreja no Brasil esteja em constante
oração para que, a partir do Brasil, uma outra reforma e um grande
despertamento venha e tome conta do mundo.
Não sabemos o que Deus vai fazer no mundo, mas
seria muito emocionante se pudéssemos fazer parte daquilo que Ele deseja fazer
no Brasil. É maravilhoso ser um cristão e saber que Deus tem todas as coisas
debaixo do Seu controle. Todos nós sabemos da necessidade de um grande
avivamento, mas ao mesmo tempo existe uma grande polêmica nesses dias sobre a
questão. Sem sombra de dúvidas, se convidássemos as pessoas para uma reunião de
avivamento, muitas delas viriam com conceitos diferentes do que é avivamento.
Assim sendo, faz-se necessário ter uma definição clara em nossa mente do
significado desse termo. Qual a diferença entre avivamento e avivalismo, se
assim podemos chamar?
Avivalismo e Pragmatismo
Avivalismo, especialmente na tradição deixada por
Charles Finney, é, na realidade, um fenômeno americano e queremos tratar de
parte desse fenômeno. Não somente porque é um produto feito na América, mas
porque muitos dos movimentos que estão vindo dos Estados Unidos para outras
partes do mundo têm essa visão característica de entender avivamento segundo o
modelo de Charles Finney.
Esse modelo tem como base o que nós chamamos de pragmatismo. Se você for abrir um negócio você tem que ser pragmático e se você vai criar uma família, existe uma série de considerações práticas que você precisa sempre ter em mente; e, certamente, o mesmo se aplica quando nós estamos fundando uma Igreja e queremos desenvolvê-la.
Todos sabemos que há preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”
Esse modelo tem como base o que nós chamamos de pragmatismo. Se você for abrir um negócio você tem que ser pragmático e se você vai criar uma família, existe uma série de considerações práticas que você precisa sempre ter em mente; e, certamente, o mesmo se aplica quando nós estamos fundando uma Igreja e queremos desenvolvê-la.
Todos sabemos que há preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”
Quais os perigos do pragmatismo? Voltando para o
texto de II Tim. 3:1-9, consideraremos primeiramente os aspectos relativos à nossa
chamada para o ministério. Vejamos, então, o contexto do nosso ministério.
Paulo se refere a esse contexto como sendo o dos “últimos dias”. Sabemos que os
“últimos dias” começaram com o tempo dos apóstolos, e terminarão com a segunda
vinda do nosso Senhor. Portanto, estamos vivendo nos “últimos dias”, como,
também, Timóteo estava vivendo nos “últimos dias”. Qual é o contexto, então, do
ministério nesse período entre as duas vindas de Cristo? Paulo diz, em primeiro
lugar, que nos últimos dias os homens serão amantes de si mesmos.
Narcisimo e Auto-Estima
Christen Lash, um sociólogo americano bastante
conhecido, escreveu um livro sobre a cultura americana cujo título é: “O
culto do Narcisismo”. Essa é uma acusação difícil de se fazer, porque o que
ela implica é que a cultura americana é uma cultura onde as pessoas se
endeusam. E como vocês se lembram “Narciso” é o nome daquele jovem da lenda
grega que costumava admirar o seu próprio reflexo no espelho das águas. Mas
isso não somente é parte da nossa cultura, como também se tornou parte das
nossas igrejas. Muitos dos movimentos que se entitulam “avivados”, em nossos
dias, simplesmente estão reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do “eu”.
Isso pode ser visto na declaração de um desses pastores que afirmou: “A Reforma
errou porque foi centralizada em Deus e não no homem, como devia ser”. Esse
pastor escreveu um livro cujo título é: “Crendo no Deus Que Crê em Você”.
Uma certa ocasião, trouxemos esse cidadão para falar no nosso programa de
rádio. Então eu li essa passagem, onde Paulo diz que as pessoas serão amantes
de si mesmas, e perguntei-lhe: “Como você pode dizer às pessoas que a salvação
começa com o amor próprio, quando Paulo diz que nos últimos dias as pessoas
serão amantes de si mesmas? Não estaria ele dizendo que isso é uma coisa
errada, e que nós não devíamos ser amantes de nós mesmos? E como Deus vai nos
fazer felizes com esse falso evangelho narcisista?”
O que está acontecendo é que a piedade e a
santidade deixaram de ser os referenciais pelos quais julgamos se um movimento
é ou não é do Espírito. Assim, o critério que tem sido adotado é: “Funciona?
Vai me fazer feliz? Vai me ajudar a criar minha família? Vai consertar o meu
casamento?”. Todas essas questões são importantes, à luz das Escrituras, mas
não são as mais importantes.
Em segundo lugar, Paulo diz que eles serão amantes
do dinheiro. Porque as pessoas amam excessivamente a si mesmas, elas criam o
evangelho da auto-estima; e porque as pessoas amam excessivamente o dinheiro,
elas criam o evangelho da prosperidade.
Rebeldia, desprezo pelo passado e busca do prazer
Paulo diz ainda que haverá muito orgulho e revolta
contra as autoridades. Haverá pessoas desobedientes aos pais. Uma geração não
se preocupará com a geração anterior. O cantor Bob Marley escreveu uma música
sobre a cultura americana dizendo: “Povo do futuro, onde está o teu passado?
Povo do futuro, quanto tempo vocês vão durar?” O povo que não tem passado
também não tem futuro. Não sei se Bob Marley era crente, mas com certeza esses
versos refletem um ponto de vista bíblico ao tentar se segurar naquilo que pede
o seu passado.
Eu quero lhes garantir que se levarem a doutrina
bíblica a sério, muitos irmãos e irmãs vão lhes dizer que vocês não estão
andando nos passos do Espírito; vão lhes dizer que o Espírito Santo hoje quer
fazer uma coisa inteiramente nova, tal como nunca fez no passado. E o que vocês
vão falar? Vão falar sobre os grandes avivamentos do passado, sobre a Reforma?
Qual o valor disso para os amantes de si mesmos e materialistas? Eles
responderão que Deus está fazendo algo completamente diferente nos dias de
hoje. Mais uma vez eu quero lembrar que isso faz parte do narcisismo que diz o
seguinte: - “eu é que sou importante e aqueles da minha geração é que são
importantes e não os que vieram antes de nós”.
E ele diz também que as pessoas serão hedonistas,
amantes do prazer, nos últimos dias; como ele diz no verso 4, serão mais “amigos
dos prazeres que amigos de Deus”. Mais uma vez queremos enfatizar: Se você
perguntar em uma Igreja: “Vocês concordam com o hedonismo?” Creio que ninguém
vai responder sim a essa pergunta. Mas se você entrar numa livraria evangélica,
se ouvir uma emissora de rádio evangélica, se prestar atenção a muitos sermões
evangélicos, você ouvirá mensagens afirmando que o Cristianismo é a
melhor maneira para você se auto-realizar. Quantos testemunhos temos visto que
funcionam como comerciais de televisão? Nos Estados Unidos, temos aquelas
propagandas de dieta que mostram uma pessoa antes e depois da dieta. Muitas
vezes, os testemunhos dos crentes são assim: “Antes eu era triste, agora sou
feliz; antes eu era deprimido, mas agora eu estou extremamente motivado para
viver”. Esses são benefícios maravilhosos, mas, por vezes, a verdade é que nós,
como cristãos, nos tornamos tristes. Algumas vezes, o caminho da cruz é o
caminho do sofrimento, e nem sempre estamos tão entusiasmados a respeito disso.
Apesar de tudo isso, a perspectiva que predomina nos nossos dias é que temos
que viver para satisfazer a nós mesmos.
Moralidade sem piedade
No verso 5 do texto destacado, Paulo diz: “tendo
forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Veja bem! O que Paulo
está dizendo é que pode haver uma moralidade sem Deus. Existem pagãos que tem
uma vida moral excelente, e há ímpios que acreditam ser errado você trair sua
esposa. Há pessoas não cristãs que têm famílias muito boas. Mas será que este é
o propósito do cristianismo? Consertar tudo aquilo que está moralmente errado
no mundo, ou será que o foco está em Deus, nos Seus mandamentos justos, e no
Evangelho pelo qual nós devemos viver?
É esse o contexto do nosso ministério. Então
respondamos à pergunta: Qual o nosso chamado para o ministério? O exemplo de
Paulo é alguma coisa que temos de imitar nesse sentido. Mas agora perguntamos:
Como, historicamente, essa filosofia do pragmatismo dominou o pensamento
moderno? A figura mais destacada no cenário evangélico, neste sentido, é a de
Carlos Finney. Quantos de vocês já ouviram falar de Charles Finney? Quase todo
mundo. Isso é significante porque Finney é uma pessoa muito importante para
aqueles que são proponentes do movimento de crescimento da Igreja e do
movimento de sinais e prodígios.
Evangelho ou Pragmatismo?
Charles Finney era presbiteriano, mas atacou a Confissão
de Fé de Westminster que ele próprio subscrevera. Ele a chamou de: “um papa
de papel”. Ele dizia, no século XIX em que viveu: “Nós já somos pessoas muito
ilustradas e racionais para acreditar em todas essas coisas aí que a Confissão
de Fé está dizendo”. Vejam algumas das coisas que Charles Finney escreveu:
Quando o homem se torna religioso - disse Finney -
ele não recebe um poder que não tinha antes, ele simplesmente muda a sua
vontade, e resolve seguir, agora, numa direção moral. Religião é obra do homem,
não é um milagre e nem depende de um milagre em qualquer sentido; é
simplesmente um resultado filosófico do uso correto de técnicas. O homem já
possui, por natureza, toda a habilidade necessária para prestar perfeita
obediência a Deus, portanto o objetivo do ministro é emocionar as pessoas até
que se disponham a tomar essas decisões.
Foi dessa filosofia que nasceu o que ficou chamado naquela época de “novas medidas introduzidas por Finney”. Por exemplo: O sistema de apelo para que as pessoas se manifestem fisicamente e caminhem até à frente em resposta à pregação nasceu com Charles Finney, nesse período. Em sua Teologia Sistemática, Finney nega explicitamente a doutrina do pecado original. Ele diz ainda que a doutrina da substituição vicária de Cristo é uma ficção, e que a justificação pela graça, por meio da fé somente, é “outro evangelho”. Com certeza, é um evangelho diferente daquele que Finney estava pregando.
É isso que Paulo diz a Timóteo, quando fala de
pessoas que têm forma de piedade mas negam, entretanto, o seu poder. Afinal de
contas, onde reside o poder da piedade? É o poder de Deus para a salvação! E
que poder é esse? É o evangelho de Jesus Cristo! Somente o Evangelho pode nos capacitar
a viver a vida cristã. Portanto, é possível ter moralidade sem piedade; e esse
é o resultado do pragmatismo.
Mais tarde, tornou-se conhecida a idéia de D.L.
Moody. Ele disse no século XIX que não faz nenhuma diferença como você leva
alguém a Deus; se você conseguir fazer isso, não importa o meio. O importante é
levar, de qualquer maneira, a Deus.
Uma vez perguntaram a Moody: Qual é a sua teologia?
Ele disse: “Minha teologia? nem sei se eu tenho uma!”. Vejam bem! Moody era um
vendedor de sapatos, e um dia ele disse que ao se tornar evangelista não mudou
de profissão, o que ele havia feito era trocado de produto.
Como abordamos o pragmatismo corporativo da nossa
cultura? Alguns dizem que a contribuição distinta da América para a história da
filosofia foi a criação do pragmatismo. Um dos grandes pais do pragmatismo e
quem o transferiu da esfera religiosa para a esfera secular foi William James.
Ele era filho de pastor; pastor, ele próprio, e também professor da
Universidade de Harward. Ele disse: “Faça a seguinte pergunta: Como é que você
define que determinada verdade é o que você deve crer?” E acrescentou: “A
resposta é que você tem que determinar o seu valor em termos de experiência e
resultado”. Então, com princípios pragmáticos, analisou a doutrina de Deus
dizendo o seguinte: “Se a doutrina de Deus funciona, então é verdade. O
pragmatismo tem que adiar questões dogmáticas porque no começo nós não sabemos
qual reivindicação doutrinária vai produzir resultado”.
Acredito que quase ninguém iria marcar essas coisas
num exame tipo teste dizendo que acredita nelas, mas, na prática, o que
acontece é que esse é o credo do evangelicalismo mundial hoje. Um evangelista
americano famoso disse: “Não tente entender, simplesmente comece a desfrutar,
porque funciona; eu já tentei”. Ele estava falando a respeito da meditação
transcendental da Nova Era. Na década de 50 do nosso século, esse pragmatismo
se desenvolveu em termos de pensamento positivo. Foi então publicado um livro
chamado “A Mágica do Crer”. Esse livro propõe que há uma certa qualidade
mágica no simples ato de crer. Porém, a verdade é outra. No cristianismo, o que
salva não é o ato da fé, mas sim o objeto da fé. Nós não somos salvos pela fé,
não somos justificados pela fé; nós somos justificados pela justiça de Cristo
que nos é imputada. Mas hoje em dia, desenvolveram essa equação de que fé é
igual a pensamento positivo. Na realidade, essa última frase que mencionei foi
uma citação de Peter Wagner.
Deus como objeto de consumo
Muito bem! Esses conceitos funcionam numa sociedade
materialista, que está satisfeita e centralizada no ego; pode funcionar muito
bem na América do final do século XX, pode ser até que funcione em São Paulo
também, e pode funcionar em Londres. Mas imagine o seguinte quadro: Você vai a
um cristão do século I e diz a ele que a razão principal pela qual ele está
indo para a boca dos leões é porque o Cristianismo funcionou melhor do que as
outras religiões!
Os testemunhos que temos no Novo Testamento são
muito diferentes dos testemunhos que nós vemos hoje em dia. No Novo Testamento
temos a palavra de testemunhas oculares, que é muito mais importante que o
nosso próprio testemunho. O que é que Paulo disse em I Cor. 15? Ele disse: “E,
se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e é vã a vossa fé... Se a
nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes
de todos os homens”. Ele não diz “pelo menos vocês têm uma vida feliz e
saudável!”. E ele também não está dizendo “Bem! o que é que você pode perder?”
Por que Paulo não fez isso? porque ele não era um pragmático. Paulo
fundamentava todas as reivindicações da fé cristã no Evangelho verdadeiro.
Temos que nos perguntar: “Será que não estamos
usando a Deus? Será que, finalmente, não embarcamos nesse consumismo da nossa
sociedade? Será que não estamos tratando a Deus como tratamos um produto?” São
perguntas muito importantes que devem ser feitas a nós mesmos. “Será que Deus
está nos usando ou nós estamos usando a Deus?”
Reavivamento e Reforma não virão à Igreja até que a
mentalidade dos crentes seja desviada desse egoísmo humano, da centralização no
homem que Paulo descreve, para o verdadeiro Evangelho e para Deus.
Nos Estados Unidos, temos um adesivo que diz:
“Jesus é a resposta”. Os incrédulos fizeram um outro adesivo para retrucar a
esse: “Qual é a pergunta?” Considere, agora, o que diz o pragmatismo: “Eu não
sei qual é o seu problema, mas qualquer que seja, Deus pode resolver. O seu
carro está enguiçado? A sua vida familiar não está progredindo como devia? Deus
pode consertar em um piscar de olhos!”. Assim, passamos a consumir a Deus. Nós
usamos a Deus, ao invés de amá-Lo, servi-Lo e honrá-Lo.
Muito bem! Então qual é o propósito do nosso
ministério? Vejamos o que diz Paulo:
“Tu, porém, tens seguido de perto o meu ensino,
procedimento, propósito, fé longanimidade, amor, perseverança, as minhas
perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e
Listra, - que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me
livrou o Senhor. Ora todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus
serão perseguidos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior,
enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de
que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde a infância sabes
as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo
Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção para a educação na justiça. a fim de que o homem de
Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Conjuro-te,
perante Deus e Cristo Jesus que há de julgar vivos e mortos, pela sua
manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, que
não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois
haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão
de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu,
porém, sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de
evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (II Tim. 3:10-4:5).
O modelo apostólico
Em primeiro lugar, o propósito do nosso ministério
é seguir o modelo apostólico. Paulo menciona aqui o seu ensino, a sua maneira
de viver, o seu propósito, a sua fé, a sua paciência, o seu amor, e a sua
perseverança diante das tribulações. Perseguições? Sim! É o que ele diz no
verso 12. Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos. Será que é isso o que estamos ouvindo hoje? Ou será que estamos
ouvindo outra mensagem? Algumas vezes você vai pensar que não está dando certo,
que as coisas não estão funcionando como deveriam, como lemos em Romanos,
capítulo 7. Nós sofreremos como cristãos, e ainda vamos sofrer com os nossos
pecados.
A proclamação da Lei e do Evangelho
Além de seguir o seu exemplo, Paulo quer que
Timóteo também se firme naquelas verdades que aprendeu quando era jovem. Veja
que Paulo, ao invés de nos levar à questão do pragmatismo: “Será que
funciona?”, ele nos conduz para as Escrituras. Ele diz: “'prega a Palavra',
com muita paciência instruindo as pessoas. Porque haverá tempo em que não
suportarão a sã doutrina. Ao contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as
suas próprias cobiças, como quem sente coceira nos ouvidos” (4:3).
Vejam! sempre temos coceira nos ouvidos.
Pragmatismo não é uma coisa nova. Na realidade já foi praticado desde o jardim
do Éden. Quando Eva viu que a árvore era agradável para se ver, para descobrir
o conhecimento e desejável para trazer entendimento; então ela tomou do fruto e
comeu. O que significa para nós “pregar a Palavra”? O que Paulo quer dizer no
verso 5 “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze
o trabalho de evangelista”?. O que ele quer dizer com isso, “pregar a
Palavra”? Vez após vez, Paulo e os demais escritores bíblicos nos dizem que
isso é a proclamação da lei. Na verdade, é pela proclamação da lei santa de
Deus que nós somos tocados e feridos. A lei de Deus vem até nós e ela não vem
dizendo assim: “Eu vou transformar a tua vida numa vida feliz!”, ela não vem
dizendo: “Vou te dar prosperidade!”. Na realidade, a lei vem para nos dizer
exatamente aquilo que Deus tem dito que requer de nós. A lei nos confronta com
a glória de Deus e a nossa pecaminosidade torna isso aterrorizante!
Finalmente, o Evangelho vem e causa também
impressão em nós. Há uma Igreja no Estado do Arizona, cujo pastor, numa
entrevista que foi publicada na revista Newsweek, disse: “As pessoas
hoje em dia não estão preocupadas com doutrinas como justificação, salvação ou
expiação. Nos dias de hoje, ninguém entende esses termos. O que nós precisamos
fazer é atender as necessidades das pessoas!”
Imaginem um professor! Vocês não acham que seria
muito estranho se o professor chegasse dizendo assim: “Não posso ensinar o
alfabeto para esta criança porque ela ainda não sabe português”. Esse é o tipo
de argumento que esse pastor estava apresentando. Tanto que o que hoje se passa
com o nome de pregação, na realidade, não é pregação da Palavra. Porque não
apresenta nem a Lei nem o Evangelho. Esses pastores começam decidindo o que é
que as pessoas de sua igreja desejam ouvir. Quais são os pontos que estão em
moda hoje? Quais são as necessidades das pessoas dos dias de hoje? E aí, então,
eles vão às Escrituras e procuram e acham passagens que podem ser usadas para
apoiar essa necessidade, ao invés de, indo ao texto, perguntarem primeiro como
a santidade de Deus nos convence do nosso pecado e como o Evangelho de Cristo
pode ser tão claro que até pecadores como nós podem se arrepender e crer.
Mas vocês, irmãos e irmãs, ouçam o que Paulo diz, sejam sóbrios em todas essas coisas, preguem a palavra, suportem as aflições, façam o trabalho de evangelista, e cumpram cabalmente o ministério.
Palestra proferida por ocasião do V Simpósio “Os Puritanos”, realizado em Águas de Lindóia, SP, de 10 a 14 de junho de 1996. Michael Horton é professor no Seminário Reformado em Orlando, Flórida (USA), fundador e presidente do movimento “Cristãos Unidos pela Reforma”, na Califórnia, e autor de diversos livros. [Você também poderá baixar o eBook deste artigo clicando aqui]
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