“Então, regressaram os setenta, possuídos de
alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!
Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos
dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do
inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos,
não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está
arrolado nos céus.” (Lucas 10.17-20).
No início do capítulo 10 vemos que o Senhor Jesus
envia estes setenta homens para anunciar a sua chegada e proclamar seu
evangelho, provavelmente nas cidades de Jerusalém (cf Lc 9.51). Não se revela
quanto tempo levou para eles cumprirem a missão, nem em que lugar voltaram para
Jesus. O que sabemos é que voltaram com alegria e júbilo pelo sucesso da
missão.
Estes versículos nos mostram quão facilmente os
crentes podem sentir-se envaidecidos por causa do sucesso. Fica claro que entre
eles havia auto-satisfação no relato das realizações. A declaração de nosso
Senhor Jesus a respeito da queda de Satanás do céu provavelmente tinha o
objetivo de ser um alerta. Ele sondou o coração daqueles homens e percebeu
o quanto eles haviam sido ensoberbecidos pela sua primeira vitória. Com
sabedoria, o Senhor os repreendeu em sua incorreta exultação, advertindo-os
contra o orgulho.
É uma lição que precisa ser recordada por todos os
que servem a Cristo. Pelos os fiéis trabalhadores da seara do evangelho que
desejam sucesso. Os pastores das igrejas locais, os missionários, evangelistas,
professores de Escola dominical e demais obreiros – por todos que esperam
igualmente sucesso no trabalho que realizam. Todos eles desejam ver almas
convertidas a Deus. E este desejo é correto e bom. Porém, jamais devemos
esquecer que o tempo de sucesso é uma ocasião de perigo para a alma do crente.
Os corações que se acham deprimidos, quando todas as coisas parecem estar
contra eles, com frequência sentem-se indevidamente exaltados no dia da
prosperidade. O apóstolo Paulo instruiu que o presbítero: “não seja
neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo.”(1Tm
3.6). Muitos servos do Senhor Jesus provavelmente alcançam tanto sucesso quanto
suas almas são capazes de suportar. O que fazer?
1 - Ore
intensamente por humildade – Quando tudo ao nosso redor parece prosperar e
todos nossos planos se realizam bem; quando as provações familiares e a
enfermidade são mantidas longe de nós e os nossos afazeres seculares segue com
tranquilidade; quando nossa cruz é suave e tudo em nossa vida vai bem – este é
o tempo em que nossas almas encontram-se em perigo. É tempo em que necessitamos
de reforço na vigilância dos nossos corações. É tempo que as sementes do mal
são plantadas no nosso íntimo por Satanás. Há poucas pessoas que permanecem
humildes nos tempos de grandes sucessos. Somos tendentes a pensar que nossa
própria capacidade e sabedoria nos conquistaram a vitória. A advertência do
Senhor Jesus nesta passagem jamais deve ser esquecida. Em meio ao triunfo,
clamemos ao Senhor com sinceridade de coração: “Senhor, reveste-me de
humildade”!
2 - Os dons e milagres não são superiores à graça de Deus – O Senhor Jesus disse aos setenta discípulos: “alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.” Com toda certeza, foi uma honra e privilégio receberem eles o poder de expulsarem demônios. Tinham motivos corretos para estarem agradecidos. No entanto, um privilégio maior era serem convertidos, perdoados e salvos em Cristo. A distinção entre a graça da salvação e os dons é profundamente importante, mas com frequência tem sido esquecida em nossos dias. Dons, tais como uma poderosa inteligência, grande memória, eloquência admirável, argumentação hábil, são constantemente valorizados acima do que convém por aqueles que os possuem e admirados de maneira indevida por aqueles que não os tem. Estas coisas não devem ser assim. Os homens esquecem que os dons sem a graça divina não salvam a alma de ninguém e são uma característica do próprio Satanás. Aquele que têm dons, sem a graça, está morto em seus pecados, ainda que seus dons sejam admiráveis. Porém aquele que possui a graça divina está vivo em Deus, mesmo que pareça iletrado e inculto aos olhos dos homens.
Jamais nos contentemos com o falar com eloquência,
o pregar com vigor, o debater com dinamismo, o argumentar com inteligência e
conversar com muita fluência. Jamais nos contentemos em saber todas as
doutrinas do cristianismo e ter à nossa disposição textos e passagens bíblicas.
Estas coisas são boas e não devem ser menosprezadas. Elas são proveitosas, mas
não constituem a graça de Deus e, portanto, não poderão livrar-nos do inferno.
Não podemos descansar enquanto não tivermos o testemunho do Espírito Santo em
nosso íntimo e não formos lavados, santificados e justificados em Cristo (cf
1Co 6.11). Esforcemo-nos para ser cartas de Cristo, conhecidas e lidas por
todos os homens (cfr 2Co 3.2); devemos nos empenhar para demonstrar por meio de
humildade, amor, fé e mentalidade espiritual que somos filhos de Deus. Esse é o
verdadeiro cristianismo. Estas são verdadeiras características do cristianismo
que salva. Sem elas, uma pessoa pode ter dons em abundância e tornar-se nada
mais do que um seguidor de Judas Iscariotes.
Fonte: Bereianos
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