É interessante notar que toda vez que Paulo escreveu sobre a predestinação ou eleição ele teve um fim prático em vista. Em Rm. 8:28-30 escreveu sobre este assunto para apresentar uma garantia aos cristãos. Terminou sua intrincada exposição deste assunto em Rm 9-11 com um hino de louvor a Deus e esperança para os homens. “Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos, ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus!” etc. Em Efésios 1, onde desenvolve este mesmo assunto, introduzo com uma palavra de louvor a Deus, “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”, etc.
Jonathan Edwards disse o seguinte sobre o conforto que a doutrina da soberania de Deus traz:
“A doutrina da absoluta soberania e livre graça de
Deus em mostrar misericórdia a quem Ele quer mostrá-la; e a de depender
absolutamente o homem das operações do Espírito Santo, têm-me parecido como
doutrinas suaves e gloriosas. Estas doutrinas têm sido para mim grande delícia.
A soberania de Deus sempre me tem parecido ser grande parte de sua glória.
Muitas vezes tem sido para mim um deleite aproximar-me dEle, adorá-lo, como
Deus soberano, e dEle suplicar soberana misericórdia” [1]
Quando contemplamos este mundo, cheio de confusão,
pecado e sofrimento, somos tentados a perder toda a fé e a nos tornarmos
pessimistas e quase que nos tornamos presa de desespero. Quando, porém, nos
lembramos que Deus está acima de tudo, que Ele é o Soberano dos soberanos, que
Ele tem em suas mãos onipotentes as rédeas do governo do universo; quando nos
lembramos que nada acontece sem que Ele permita, e que tudo quanto acontece
está incluído em seus planos todos sábios, gloriosos e misericordiosos,
readquirimos nossa confiança e alegria, e louvamos o Senhor pelo seu poder e
glória. O mal é uma triste realidade. Sabemos, contudo que ele não vai além do
ponto permitido por Deus em seu decreto. Sabemos que Deus o controla e que no
devido tempo o destruirá. Aquele que é
capaz de fazer que, “a ira
humana” o louve, e que pode conter o restante dela (Sl.76:10) fará que
tudo, inclusive o mal, redunde em sua glória e na felicidade do seu povo.
Pelas doutrinas dos decretos e da predestinação de
Deus aprendemos que tudo só depende dEle. Os eleitos não são salvos por serem
melhores do que os não eleitos, mas unicamente por causa da graça divina. Não
fora a graça de Deus, todos estaríamos perdidos. O mais das vezes Deus escolhe
as piores pessoas para fazer delas monumentos de sua graça, de sorte que no fim
toda a glória seja sua. Quando nos lembramos de que tudo que somos e temos
recebemos de Deus, vemos que nenhuma razão nos assiste para vangloria. (1Co.4:7).
Spurgeon, o grande pregador inglês, disse:
“Penso que, para uma pessoa piedosa, a eleição é a
doutrina que mais humilha, de quantos há no mundo — por afastar toda confiança
na carne, ou todo apoio em qualquer coisa, exceto Jesus Cristo. Quantas vezes
não nos revestimos de nossa justiça própria e nos enfeitamos com as falsas
pérolas e jóias de nossas obras e empreendimentos. Começamos a dizer, Agora,
sim, serei salvo, porque tenho esta e aquela evidência. Em lugar disso, é uma
fé simples, desnuda, que salva. Somente essa fé nos une ao Cordeiro,
independentemente de obras, embora seja a fé o que produz tais obras. Quantas
vezes nos apoiamos em alguma obra, que não é a do nosso Amado, e confiamos em
algum poder, que não é o que vem de cima. Se quisermos que tal poder nos seja
tirado, consideremos a eleição. Detém-te, ó minha alma, e considera isto. Deus
te amou antes que viesses a existir. Amou-te quando estavas morta em delitos e
pecados, e enviou seu Filho para morrer por ti. Comprou-te com o seu precioso
sangue, antes que pudesses balbuciar seu nome. Podes, pois, envaidecer-te com
alguma coisa?
Não sei de nada que mais nos humilhe do que esta
doutrina da eleição. Algumas vezes, procurando entendê-la, tenho-me prostrado
diante dela. Tenho aberto as asas e à maneira das águias, tenho alçado o voo na
direção do Sol. Meus olhos têm-se fixado nele, minhas asas não me têm falhado,
por certo tempo. Mas, ao aproximar-me dele, e só pensando nisto — “Desde o
princípio Deus vos escolheu para a salvação” — vi-me ofuscado pelo seu fulgor e
cambaleante sob a força desse poderoso pensamento. E dessa elevação
estonteante abateu-se-me a alma, a dizer prostrada e aniquilada, Senhor, não
sou nada, sou menos que nada. Por que escolheste a mim? A mim?
Amigos, se vocês querem ficar humildes, estudem a
eleição, pois ela os fará assim, sob a influência do Espírito de Deus. Quem se
orgulha de sua eleição, esse não foi eleito. E quem se humilha por
considerá-la, esse pode crer que foi eleito. Tem toda razão de crer que o foi,
visto como um dos mais benditos efeitos da eleição é esse de fazer-nos humildes
perante Deus”. [2]
Os que creem na predestinação são os únicos que
podem estar certos de sua salvação. Segundo esta doutrina, a salvação depende
somente de Deus e, portanto, não pode falhar nunca. De acordo com a doutrina
arminiana, a salvação depende, em última instância, da vontade da pessoa e, por
isso, pode falhar a qualquer momento.
O arminiano nunca estará certo de sua salvação enquanto não entrar
no céu, após a morte, e mesmo aí, para ser coerente com sua doutrina, deve admitir
a possibilidade de nova descaída da graça. Mas a doutrina da eleição inclui a
confortadora doutrina da perseverança dos santos, ou melhor, na perseverança
do Salvador. Ensina a Bíblia ser incerta a salvação do crente? Absolutamente
não. João escreveu sua Primeira Epístola para que soubéssemos que temos a vida
eterna (1Jo.5:13). Vida eterna não é coisa que temos hoje e perdemos
amanhã. Neste caso seria vida transitória, jamais eterna. Jesus disse que
aquele que crê em Deus tem a vida eterna e não entrará em condenação mas passou
da morte para a vida (Jo.5:24). Se tem essa vida eterna, que provém do próprio
Cristo, não mais pode morrer. O crente nasceu de novo, e é impossível que uma
pessoa assim nascida volte a ficar “por nascer”, isto é, depois que se
nasce é impossível retroceder ao estado de antes do nascimento, estado de
inexistência.
Paulo escreveu o cap. 8 de Romanos para dar aos seus leitores uma certeza de salvação. “Nenhuma condenação” é o princípio; “Se Deus é por nós” é o termo médio; “Quem nos separará?” é o termo final. Aos perdidos Cristo dirá, “Nunca vos conheci” (Mt.7:23; veja-se 25:12) e isto é uma prova de que em tempo algum pertenceram ao Senhor. Todas as passagens que parecem ensinar a possibilidade de um crente perder-se, referem-se realmente ao falso crente. Como João disse, “Eles saíram de nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1Jo.2:19). O crente pode perder comunhão com o seu Senhor e a alegria de sua salvação, porém não a própria salvação. Confessando seu grande pecado, Davi não disse, “Restitui-me a tua salvação”, visto como não a perdera. Disse, porém, “Restitui-me a alegria da tua salvação” (Sl.51:12), porque essa alegria podemos perder sempre que caímos em pecado.
Paulo escreveu o cap. 8 de Romanos para dar aos seus leitores uma certeza de salvação. “Nenhuma condenação” é o princípio; “Se Deus é por nós” é o termo médio; “Quem nos separará?” é o termo final. Aos perdidos Cristo dirá, “Nunca vos conheci” (Mt.7:23; veja-se 25:12) e isto é uma prova de que em tempo algum pertenceram ao Senhor. Todas as passagens que parecem ensinar a possibilidade de um crente perder-se, referem-se realmente ao falso crente. Como João disse, “Eles saíram de nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1Jo.2:19). O crente pode perder comunhão com o seu Senhor e a alegria de sua salvação, porém não a própria salvação. Confessando seu grande pecado, Davi não disse, “Restitui-me a tua salvação”, visto como não a perdera. Disse, porém, “Restitui-me a alegria da tua salvação” (Sl.51:12), porque essa alegria podemos perder sempre que caímos em pecado.
É mais provável que um pecador creia e se
arrependa, se a fé e o arrependimento dependerem inteiramente do poder
regenerador do Espírito Santo, do que se dependerem em parte da força de
vontade desse pecador. E é mais provável ainda, se dependerem inteiramente desse
poder. O crente sabe que, se sua fé e arrependimento fossem deixados, em parte
ou de todo, à sua própria iniciativa, não chegaria a crer nem a se arrepender,
visto ser tenazmente inclinado ao pecado, gostar dele e aborrecer a confissão
humilde do mesmo e não querer lutar contra ele.
“A luz do mesmo princípio, é mais provável que o
mundo de pecadores chegue à fé e ao arrependimento, se isto depender
inteiramente de Deus, e não de todo ou em parte da vontade letárgica, volúvel e
hostil do homem. Se o êxito do Espírito Santo depende da assistência do
pecador, Ele pode não ter êxito algum. Mas se o seu êxito depende inteiramente
dEle mesmo é certo que terá êxito. É melhor confiar a Deus tão imenso bem, a
salvação da grande massa do gênero humano, do que confiá-lo a este, seja de
todo, seja em parte. Dizem as biografias de ministros e missionário bem
sucedidos que quanto menos faziam depender seu êxito da vontade dos pecadores,
tanto mais pregavam e tanto mais vitórias contavam em sua pregação.” [3]
Vamos concluir com palavras do grande teólogo Dr.
Robert Dabney:
“A doutrina da predestinação é de todo edificante.
Dá lugar a humildade, porque não deixa ao homem base para reclamar para si
nenhum crédito quer da origem, quer do prosseguimento de sua salvação. Lança um
fundamento de esperança tranquila, pois mostra que “os dons e a vocação de Deus
são sem arrependimento”. Deve fazer que os corações transbordem de amor e
gratidão, visto revelar o imerecido e eterno amor de Deus por pessoas
indignas... Devemos aprender a ensinar e a considerar esta doutrina, não de um
ponto de vista exclusivo, mas inclusivo. É o pecado que impede ò favor de Deus,
e leva à ruína. É o decreto de Deus que restaura, remedeia e salva a quantos se
salvam. O que o mundo tem de pecado, de culpa ou miséria, de desespero, procede
inteiramente da transgressão do homem e de Satanás. O que de redenção, de
esperança, de conforto, de santidade e bem-aventurança vem modificar esse
panorama triste, provém do decreto de Deus. O decreto é a fonte de benevolência
para com o universo; o pecado voluntário é a fonte dos sofrimentos. Deve ser
malsinada a fonte da misericórdia porque, embora ponha em circulação toda a
felicidade que existe no universo, é limitada em sua correnteza?” [4]
Chegamos ao final desta tese. Ninguém tem maior
consciência da imperfeição dela do que seu próprio autor. Sabemos que ninguém
no mundo é capaz de resolver os problemas que este assunto apresenta, contudo
não precisamos ficar aturdidos em face destes e de outros problemas de
teologia. Deus é infinito e nós somos finitos. Não podemos compreendê-LO, não
podemos explicar Seus mistérios. Basta-nos saber que Ele nos ama e proveu um
plano de salvação para a humanidade, plano tão simples que até as crianças podem
compreendê-lo. Sabemos que o nosso dever é confiar em Deus e amá-LO, amar ao
próximo e dele nos compadecer; servir a Deus e ajudar aos homens, proclamando
a todos o grande amor de Deus e seu plano de salvação. E com relação aos
mistérios que cercam até os mais simples fatos deste mundo, deixamo-los nas
mãos de Deus e descansamos na certeza de que Ele conhece tudo. Sabemos que “às
coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos
pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as
palavras desta lei” (Dt.29:29).
Notas:
[1] Jonathan Edwards, apud “Determinism in the Theological System of Jonathan Edwards” (these) do Dr. John Newton Thomas, p. 98.
[2] Charles Spurgeon, Sermão sobre a Eleição, Sermons, Vol. II, pp. 83, 84.
[3] William G. Sheed, Op. Cit., Col. 1, pp. 461, 462.
[4] R. L. Dabney, Op. Cit., p. 246.
[1] Jonathan Edwards, apud “Determinism in the Theological System of Jonathan Edwards” (these) do Dr. John Newton Thomas, p. 98.
[2] Charles Spurgeon, Sermão sobre a Eleição, Sermons, Vol. II, pp. 83, 84.
[3] William G. Sheed, Op. Cit., Col. 1, pp. 461, 462.
[4] R. L. Dabney, Op. Cit., p. 246.
Fonte: http://bereianos.blogspot.com.br/
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