Qual professor ou
estudioso da Bíblia que nunca foi perguntado sobre “como é que Deus
poderia permitir que Jefté oferecesse sua filha em holocausto”? Difícil,
né! Para aqueles que não estão familiarizados com a história (Juízes
11.29-40) quero apresentar um breve relato do que aconteceu.
Deus levantou Jefté,
gileadita,“guerreiro valente”(Jz 11.1). Ao ser proposta a ele a
liderança na batalha contra os filhos de Amom, Jefté firma um voto a
Deus, no qual, se vencesse a batalha, o primeiro que saísse ao seu
encontro, ele o ofereceria em holocausto. Jefté venceu a batalha. No
retorno, a primeira pessoa que saiu de sua casa, foi sua filha, a única
filha. Jefté não voltou atrás no seu propósito e a ofereceu em
holocausto (v. 31). A questão, contudo, gira em torno da natureza deste
“holocausto” (sacrifício).
As opiniões a respeito
do assunto, entretanto, divergem. Pessoas sérias e comprometidas com a
interpretação bíblica não conseguem ter consenso no veredicto. Não é
para menos, o assunto é daquele tipo onde discutido entre dentro dez
teólogos, onze opiniões são emitidas, uma diferente da outra.
Complicado!
Antes de emitir o meu
parecer, quero, contudo, trazer três posições: 1) Comentário Bíblico
Moody, 2) Comentário Bíblico Vida Nova 3) e o parecer do apologista
Norman Geisler que se encontra em seu Manual de dificuldades bíblicas.
Segundo o comentário
Bíblico Moody, Jefté, de fato, ofereceu sua filha em holocausto. O
posicionamento tolo de Jefté teve a influenciado pagã de sua cultura que
ele nasceu e cresceu. Jefté, portanto, tinha pouca instrução acerca da
tradição dos israelitas. O paganismo de seus antecedentes ainda era
forte no seu entendimento teológico. Ele cumpriu aquilo que havia
prometido de antemão, foi até o fim na sua posição mesmo que equivocado.
O comentário bíblico
Vida Nova traz uma opinião parecida com o comentário Moody. O
comentarista diz que a frase de Jefté “o primeiro da porta da minha casa
me sair” (31a) era ambígua, pois punha todos os moradores de sua casa
em risco. Jefté teve uma motivação ao firmar o voto de barganha. D. A.
Carson trabalha o seu argumento com base no verso 31: “aquele que vier
saindo da porta da minha casa ao meu encontra, quando eu retornar da
vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em
holocausto”. Se não fosse o verso 31, tudo seria mais fácil para aqueles
que discordam dos dois comentaristas. Risos...
Norman Geisler escreveu
“Manual de dificuldades bíblicas” contendo respostas para mais de 780
passagens polêmicas. Essa obra teve a parceria de Thomas Howe, professor
de grego, hebraico, siríaco, latim e aramaico. Geisler não entende que o
sacrifício da filha de Jefté tenha sido a sua vida, mas a virgindade.
Ela não poderia casar e o lamento maior consistia no fato de Jefté não
ter filhos e filhas para perpetuar a sua descendência (Jz 11.34).
Norman Geisler diz que o
holocausto mencionado não poderia ser considerado“sacrifício de morte”,
pois Jefté continha o mínimo de conhecimento sobre a tradição de Israel
onde era proibido o sacrifício de seres humanos. Esse pouco
conhecimento de Jefeté seria suficiente para ele não votar tolamente. O
texto não diz em nenhum lugar que ele realmente matou a sua filha. O
único lugar que apareceholocausto é no verso 31, porém, não significa
que este sacrifício tenha envolvido a morte dela.
Paulo, por exemplo,
disse que seres humanos devem ser oferecidos a Deus como um “sacrifício
vivo” (Rm 12.1), e não como sacrifício morto. O contexto dá a entender
que Jefeté ofereceu sua filha como sacrifico vivo ao Senhor para que ela
pudesse servir a Deus de forma integral nos dias da sua vida, não
podendo se casar. Ela não dariaa seu pai uma descendência (este foi o
motivo do pranto de Jefté quando encontrou com sua filha na volta da
batalha).
Não ter descendentes no
contexto judaico era tido por maldição. Porém, Jefté, pela fé, não
voltou atrás na sua decisão; parecido com o caso de Abraão que foi até
as últimas consequências de sacrificar seu filho Isaque. Deus certamente
aceitou o ato de Jefté, pois seu nome é citado junto dos heróis de
Hebreus 11.32. O contexto trata de homens que venceram suas batalhas
pela fé. (Abraão creu que Deus poderia ressuscitar Isaque dentre os
mortos e por isso foi até o fim na sua atitude).
O meu posicionamento vai
de encontro com o de Norman Geisler. Creio que Jefté não sacrificou
(matou) sua filha. O sacrifício foi a impossibilidade dela se casar (Jz
11.37). No verso 38, junto das amigas, ela foi chorar porque “jamais se
casaria”. Veja que ela não saiu para lastimar a sua morte iminente, mas
para chorar sua virgindade.
Minha convicção aumenta
quando leio o verso 39: “Passados os dois meses, ela voltou a seu pai, e
ele fez com ela o que tinha prometido no voto. Assim, ela nunca deixou
de ser virgem. Daí vem o costume em Israel”. Caso Jefté houvesse
sacrificado sua filha, a Bíblia certamente diria isso com todas as
letras; contudo, passado os dois meses (que ela pediu ao pai para chorar
sua virgindade), a Escritura não diz que “ela era morta”, mas que nunca
deixou de ser virgem (v 40 NVI). Ou seja, ela estava viva! Disso nasceu
um costume em Israel.
O povo hebreu jamais
perpetuaria tal costume se de fato Jefté tivesse sacrificado sua filha.
Essa prática era totalmente contrária lei estabelecida por Moises (Lv
18.21; 20. 2-5; Dt 12.31; 18.10). Esse, portanto, é o meu
posicionamento.
Respeito quem pensa diferente!
Abraços fraternos,
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
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Referências bibliográficas:
CARSON, D.A. Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova, 2012. São Paulo, SP
F.
HARISSON, Everett. Comentário Bíblico Moody. Volume I. Batista Regular,
2010. São Paulo, SP GEISLER, Norman & HOWE, Thomas. Manual de
dificuldades bíblicas. Mundo Cristão, 2015. São Paulo, SP
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com


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