Texto base: “E mandou
Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta
Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi
mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com
ela...”. – 2 Samuel 11: 3,4 (AFC)
Quando me perguntam qual
o meu herói favorito no Antigo Testamento – para surpresa de muitos –
digo que é Urias, o heteu. Urias foi mais um dos justos injustiçado
neste mundo de cão. A tragédia se torna ainda mais dramática pelo fato
da crueldade ter sido praticada não pelas mãos do ímpio, mas de um
justo, o rei Davi.
Urias é meu referencial
não por causa da habilidade com a espada, mas por seu caráter e por sua
hombridade. Ele era viril segundo os padrões de Deus. O “mano” foi
valoroso frente a “molecagem” de Davi.
Urias significa “minha luz é Yahweh”; o herói da nossa reflexão, com efeito, fez valer o significado.
Urias era estrangeiro,
heteu, que pertencia ao seleto grupo dos heróis de Davi (2 Sm 23.39; 1
Cr 11.41); residia em Jerusalém, vizinho do palácio real (pois sua casa
era possível de ser avistada do palácio [2 Sm 11.2]).
Tanto o seu nome como a
sua conduta sugerem que ele havia abraçado a religião hebraica (2 Sm
11.11). O hitita lutava sob as ordens de Joabe, comandante das tropas de
Davi. Certa vez, quando Urias estava na guerra, o rei encontrava no
terraço do palácio e, ao olhar para baixo, viu Bate-Seba, esposa do
soldado, banhando-se. Davi desejou-a ardentemente, mandou trazê-la e
engravidou-a (1 Sm 11. 1-5). O rei ordenou que Urias retornasse a
Jerusalém, na esperança de que dormisse com a esposa e lhe evitasse
assim a situação embaraçosa.
Ao chegar da guerra a
mando do rei, Urias recebe a ordem de Davi que fosse para casa descansar
e dormir com sua esposa. Urias,sem falar nada, saiu da presença do rei
e, o invés de ir para o conforto do seu lar e deliciar-se com os
carinhos de sua esposa,preferiu dormir à porta do palácio real.
Urias recusou tal
privilégio que seus companheiros de exército não teriam. Sua preocupação
era com a Arca e com o povo de Israel. As investidas de Davi para fazer
com que ele dormisse com Bate-Seba não deram certo. Mesmo
embriagando-o, o valente Urias honrou sua convicção: novamente dormiu
com os servos.
Exasperado, Davi o
enviou de volta à frente da batalha, com uma recomendação ao comandante
Joabe para colocar Urias na linha de frente no cerco à cidade de Rabá, o
que acarretou na sua morte. O rei Davi, então, toma Bate-Seba para ser
sua esposa. O que parecia ser louvável a todo Israel (ainda ninguém
sabia o que de fato havia acontecido), cheirava mal perante o Senhor
Deus (2 Sm 11.27).
Urias foi apagado pelo homem, mas elogiado por Deus.
Com efeito, a disciplina
e fidelidade de Urias são dignas de ser imitadas por todo aquele que
verdadeiramente leva Deus a sério. Quanta virtude há neste homem que
morreu sem saber da trama que foi levantada contra ele.
Sem promover a
fidelidade aos seus camaradas de guerra, Urias não esperou “sentir de
Deus” para entender que naquela ocasião, ainda que fosse lícito, não
convinha dormir com sua esposa. A fé de Urias não era pautada em emoções
ou em expectativas de triunfos, mas em princípios: “Pela tua vida, e
pela vida da tua alma, não farei tal coisa” (2 Sm 11:11).
A voz da consciência de
Urias falou mais alto que a ordem do rei:“Porém Urias se deitou à porta
da casa real” (2 Sm 11.9a). Ele se abdicou do prestígio daquele
privilégio e preferiu dormir com os servos de Davi: [pernoitou] “com
todos os servos do seu senhor; e não desceu à sua casa” (2 Sm 11.9).
Urias, como um bom
soldado, era disciplinado e rigoroso consigo mesmo. Ele sabia que o seu
chamado era o de proteger Israel. Diferente de Davi, Urias sabia que sua
espada seria enfraquecida caso cedesse aos desejos do seu coração: “...
mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade” (Pv
16.32).
O heteu era obediente
(v.12); porém fazia apenas aquilo que era correto. Mesmo sob influência
do vinho, Urias foi mais disciplinado e leal do que Davi, que estava
sóbrio (v. 13).
O hitita é o tipo de
gente que podemos confiar o tempo todo. Você poderia deixar, por
exemplo, sua esposa a sós com ele sem nenhuma preocupação de haver dele
algum galanteio. Não havia suspeita na vida deste guerreiro. Era o tipo
de servo que não vasculhava a gaveta do seu patrão. Sem abrir o envelope
entregue por Davi direcionado a Joabe, Urias levou sua própria sentença
de morte (14-15).
Urias não tinha medo de
nada exceto de Deus. Sem retrucar ou pedir explicações, sabendo do
perigo de morte por ser o “linha de frente” na batalha, obedeceu ao seu
comandando; porém, desobedeceu ao rei quando ordenou que dormisse com
sua esposa.
Quanta virtude! Cadê os homens deste quilate?
Joabe não viu com bons
olhos a orientação de Davi mas obedeceu ao rei (v.25). Colocou Urias na
linha de frente e, no calor da batalha, conforme planejado, Urias foi
morto.
Aparentemente o plano de
Davi foi bem sucedido. Com indiferença, recebeu a notícia da morte do
heteu: “Não fique preocupado com isso, pois a espada não escolhe a quem
devorar” (2 Sm 11.25). Bate-Seba, porém, chorou a morte de seu marido.
O desejo descontrolado
de Davi e sua pervertida atitude destruiu a família de Urias. Com isto, o
rei trouxe desgraça sobre Israel e sobre sua família. Quanta desgraça
por causa de um simples olhar onde por tudo começou.
Quando tudo estava sob o
controle do rei, após alguns meses, Deus resolve tratar com Davi e
honrar a memória de Urias. O profeta Natã é enviado ao rei para
repreendê-lo. Com uma história contada na pessoa de um terceiro, o rei
sem saber que este homem mal se tratava dele mesmo, cravou sua própria
sentença:
“Então, Davi encheu-se
de ira contra o homem e disse a Natã: "Juro pelo nome do Senhor que o
homem que fez isso merece a morte! Deverá pagar quatro vezes o preço da
cordeira, porquanto agiu sem misericórdia. “Então Natã disse a Davi:
"Você é esse homem!” – 2 Samuel 12:5-7
Davi sofreu graves conseqüências por causa do seu pecado.
Desde então a família do
rei viveu em guerra; seus filhos se deitaram com as concubinas do
próprio Davi; houve muita contenda entre seus filhos, e um estupro por
meio do incesto entre os irmãos Amnon e Tamar, filhos do rei. Deus,
porém, perdoou Davi por haver ele confessado o seu pecado publicamente
(ver salmo 51).
Infelizmente o mundo é
atraído pelo carisma, e não pelo caráter. Urias não foi uma personagem
de destaque nas Escrituras, mas não tenho dúvida que Deus o considera um
herói.
A maior tentação dos
cristãos não é o desânimo dos fracassos, mas o anseio pelo sucesso. É
aqui que todos aqueles que se deixam levar comem nas mãos do diabo (Mt
4.8). O sucesso pode nos dar privilégios – como tinha o rei Davi – porém
facilita a possibilidade de adquirir também aquilo que não nos
pertence. Como disse Charles Haddon Spurgeon, considerado o príncipe dos
pregadores:“Com muito mais frequência o cristão envergonha sua fé na
prosperidade do que na adversidade."
Que Deus nos guie e nos livre não somente do mau, mas de não sermos o agente do mal na vida de alguém.
Em Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo Gloria!
Por Fabio Campos
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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