O cuidado do mundo dos pensamentos é uma das áreas mais negligenciadas em nossos dias, e é por isso mesmo que estamos vivendo em um mundo tão perturbado por deformações espirituais e ambiguidades que empurram as pessoas para o abismo do relativismo moral que é tão evidente em nossa sociedade.
Em II Coríntios 10:5, Paulo ensina que devemos levar todo o nosso entendimento (Grego Noema) à obediência a Cristo. Trata-se de um imperativo, uma regra fundamental de guerra espiritual. O próprio contexto fala acerca de sofismas e as armas espirituais de combate. A versão corrigida e Fiel traduz o substantivo neutro Noema, para entendimento, outras versões traduzem como “pensamento”. Entendo que o entendimento significa a forma como a nossa percepção mental e seus mecanismos atuam, formando nossas convicções e a vida intelectual. Isso inclui o pensamento, a maneira como entendemos e raciocinamos. Nosso pensamento deve estar fixo, cativo a Cristo, deve ser firme, estar sob uma autoridade. Não estar cativo à obediência de Cristo pode explicar muitas coisas no conflito de âmbito espiritual dentro da nossa mente. Um dos pecados mais graves dos homens nos dias de Noé era que a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente (Gênesis 6:5). Pensamentos não fixos no Senhor, sem a influência do Espírito Santo, vagam e se perdem num mundo de confusão e engano. Por esse motivo, encontramos perdidos e falsos cristãos em situações terríveis. Tiago adverte: “O homem de ânimo dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tiago 1:5). Animo dobre no grego é “Dipsuchos” e significa “ter duas mentes ou dois pensamentos vacilantes.” Esse adjetivo só ocorre no livro de Tiago e é novamente usado por ele em 4:8: “Chegai-vos a Deus, e Ele se chegará a vós.” Limpai as mãos, pecadores, e, vós de duplo ânimo, purificai os corações”. O duplo ânimo aqui é o também é “dipsuchos”. Satanás faz grande vantagem em corações vacilantes, é uma marca de um homem condenado, de uma civilização frouxa, de coração superficial, de mente que oscila entre verdade e erro, entre realidades e ilusões, entre o divino e o demoníaco. A maneira como nossa sociedade atual vive, com certeza, pode ser vista como de pensamento oscilante, superficial, e a cristandade caiu nessa armadilha. Cada vez mais notamos os cristãos modernos oscilando entre o espiritual e o carnal, entre o santo e o profano, entre a luz e as trevas. Isso ocorre por falta de convicções, um coração não disposto a crer e viver as verdades do Evangelho, mas ficar “voando” entre o ambiente sagrado e o profano, não há firmeza, apenas uma confissão superficial que flutua entre as trevas e a luz da graça de Deus. A duplicidade produz uma falsa identidade, a carência de convicções firmes e de um coração totalmente rendido a Cristo é um desastre espiritual com consequências devastadoras. Se Cristo não é Senhor de nossos pensamentos, se não estamos levando nosso coração e todo o universo intelectual dele para dentro de Cristo, ficaremos oscilando e flutuando sobre um mundo que jaz no maligno, e satanás terá vantagem sobre nós. Temos um caso de pensamento fora da autoridade de Cristo, um coração que não é servo do Senhor. Ananias e Safira (Atos 5:1 a 11) ambos eram de pensamento duplo. A oscilação entre dar todo o valor como foi prometido e reter parte dele para quebrar o acordo é um caso típico de pensamento fraco, oscilante e o resultado foi a inconstância ao invés da firmeza de propósito. Notamos duas ações gravíssimas no texto, primeiro a ação de Satanás, diz Lucas que o tentador encheu o coração de Ananias de intenções malignas e depois agiu induzindo-o a mentir contra o Espírito Santo. Entendemos nessa descrição em Atos, através do ocorrido, que satanás vai tirar vantagem do coração oscilante que produz pensamentos duplos, que não é firme em seus propósitos e não está debaixo da autoridade do Senhor Jesus. Este não é um assunto que deve ser visto de forma superficial, é algo sério. Satanás e os demônios buscam “caçar” pensamentos vagos e corações enfraquecidos pelos valores reduzidos provocados pela falta de convicções e firmeza espiritual. Nosso mundo intelectual não deve estar fora do senhorio de Cristo, satanás não pode encontrar pensamentos fracos e inconstantes nos homens, se ele encontrar, terá grande vantagem em destruir a fé e a própria vida do homem (Creio que aqui temos uma causa que explica muitos suicídios). É-nos dito que devemos guardar nossos pensamentos até o fim (Provérbios 29:11), devemos fortalecer e armar nossos pensamentos com a sã doutrina, com a Palavra de Deus, chamando Cristo aos nossos corações e tendo comunhão permanente com Ele (I Pedro 4:1). O pensamento livre nada mais é do que pensar por si mesmo sem as referenciais necessárias estabelecidas por Deus para um intelecto seguro e firme, o resultado disso é catastrófico, pois impele o intelecto para a rebelião e concede espaço para a influência demoníaca. Ora, vimos que um homem com convicções fortes e certezas inabaláveis, como Estêvão perante os judeus e seu próprio martírio, não entrou em desespero, pois o desespero é uma causa própria de quem tem um coração fragilizado por falta de convicções cristãs. O próprio Senhor mesmo ensinou que devemos amar a Deus de todo o nosso coração, alma e pensamento (Mateus 22:37). Paulo nos dá este imperativo: “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Colossenses 3:2; Filipenses 4:8). Cristo deve ser o Senhor de nossos pensamentos, eles devem estar cativos à obediência ao bendito Salvador. O duplo ânimo gera dúvidas, superficialidades, enfraquecem a vida espiritual, abrem frestas para a entrada de influência demoníaca. Encontramos hoje em dia pessoas que confessam a fé cristã, mas são de personalidade dupla, que vagueiam na inconstância, flutuam nas dúvidas, são sem qualquer tipo de convicções, não há firmeza em suas declarações e menos ainda em suas escolhas e ações, elas oscilam em dois mundos antagônicos, tentam mesclar o santo e o profano numa coisa só, como a mulher de Jó, seus corações ainda amam um mundo condenado ao juízo vindouro, ainda desejam viver dentro de um ambiente de pecado e se permitem persuadir a si mesmas que devem olhar para Cristo e Sodoma sem sofrer consequências. Toda a duplicidade de pensamento traz consigo, cedo ou tarde, consequências trágicas. “São como moinhas que o vento espalha” (Salmo 1: 4).
Aqueles que não têm o entendimento fixo no Senhor Jesus vagueiam num mundo de relatividades, tal homem não pode declarar certezas, suas ações são frágeis e tal homem pode ser facilmente manipulado e levado por todo vento de doutrinas. Seus passos não são firmes e suas declarações de fé não influenciam suas ações e nem apresentam fatos concretos. Infelizmente, hoje em dia, cada vez mais encontramos cristãos de ânimo dobre, de pensamentos vagos, como estrelas errantes, como nuvens sem água, oscilando numa atmosfera de fé fraca e dúvidas frequentes, quando não, permanecem numa esfera de confusão de crenças superficiais e dúvidas quanto ao certo e ao errado. O resultado disso é um testemunho falso, hipocrisia, apostasia e sincretismo, o testemunho dos cristãos, a maneira como vivem, suas declarações doutrinarias e suas convicções seguidas de ações controversas e frágeis revelam que seus pensamentos são dúbios, fracos e controversos, tudo isso é uma inversão das promessas do Senhor: “Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos” (Provérbios 16:3).
O pensamento é algo do âmbito espiritual que deve ser protegido de agentes demoníacos, assim como o corpo deve ser protegido de agentes patógenos. (Veja as setas inflamadas por espíritos demoníacos descritas em Efésios 6:10 a 18) Precisamos entender que um relacionamento correto com o Senhor e uma comunhão permanente com Ele enobrecem a alma e firmam nossos pensamentos nas verdades espirituais mais elevadas. Outro fator importante diz respeito à sã doutrina: As doutrinas fundamentais da fé cristã atuam como muros protetores e fortalezas espirituais contra a onda avassaladora de engano que predomina em nossos dias (Veja I Timóteo 4:1) Quanto mais bíblico for um coração, mais pura será sua espiritual, quanto mais bíblica for a fé, mais centrada em Cristo será a perspectiva, quanto mais bíblica forem as convicções, mais seguras serão as certezas que brotam dela e isso terá uma poderosa influência sobre a vida interior e a piedade fluirá como um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.
Por: Clavio J. Jacinto
Fonte: https://heresiolandia.blogspot.com/
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