Nasci em uma família Testemunha de Jeová e permaneci dentro dessa religião por quase 26 anos. No entanto, eventualmente, tomei a decisão de me afastar, pois algo dentro de mim sussurrava que aquilo não era a "verdade". Me afastar da família e romper laços com pessoas que tinha como amigos foi uma das partes mais angustiantes, pois dentro dessa fé, a própria vida é ditada por regras e dogmas inquestionáveis. Você não pode simplesmente sair, isso tem um preço.
Embora os membros dessa religião enfatizem o amor e a fraternidade, esses sentimentos parecem estar sempre condicionados à estrita obediência aos mandamentos estabelecidos. Qualquer desvio das expectativas pode resultar em ostracismo. Não se trata apenas de quebrar dogmas; às vezes, você pode ser marginalizado na congregação simplesmente por não cumprir o número de horas de pregação estipulado, por ser visto em um lugar considerado inadequado, por contemplar a ideia de cursar uma faculdade ou até mesmo por adotar um estilo de vestimenta considerado "mundano" - algo tão simples como usar barba ou vestir-se de acordo com as tendências da moda, como eles costumam dizer.
Quando finalmente tomei a decisão de sair, não fiz muitas perguntas, apenas dei o passo para seguir meu próprio caminho. Tive que recontruir minha vida social do zero, amadurecer, pois tinha muitas atitudes infantis, não sabia me relacionar com as pessoas, era um tanto quanto ingênuo. Eu era como um animal que escapou de sua jaula e, no mato, aprendeu a sobreviver por conta própria. Essa analogia parece se encaixar perfeitamente.
O fato é que muitas questões me fizeram durante a pandemia voltar no passado e estudar sobre somo vieram a existir, qual era a real origem. Conforme mergulhei mais fundo na análise dessa organização, comecei a perceber os traços claros de lavagem cerebral entranhados em sua estrutura. Nas publicações, vídeos e palestras, métodos de programação neurolinguística são habilmente aplicados, tornando o que é dito inquestionável. As pessoas, muitas vezes, ficam em um estado quase hipnótico, perdendo seu senso crítico diante das mensagens que lhes são apresentadas. Essa influência sutil é tão eficaz que, na maioria das vezes, não nos damos conta dos assédios e absurdos presentes, abraçando a narrativa como a única verdade inquestionável e a maneira correta de viver.
Hoje, aos 37 anos, estou em terapia, um processo que se tornou essencial para ressignificar aspectos profundos da minha vida que estavam irremediavelmente ligados à minha criação dentro dessa seita. O aspecto mais assustador dessa jornada é que não posso simplesmente culpar meus pais ou os membros que tiveram influência sobre mim e me causaram danos. Agora vejo que todos, em diferentes graus, estavam (ou estão) submetidos a um controle opressivo e enganador, presos em diferentes camadas de um sistema complexo.
Fonte: https://pt.quora.com/
Imagem: Google
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