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sábado, 26 de outubro de 2024

DEUS SE LEMBROU DE ZACARIAS E ISABEL

Texto base: Lucas 1.5-14

INTRODUÇÃO

Se há algo que aprendemos nesse texto é que Deus não está preso ao tempo. Não está limitado as consequências naturais de nossas vidas. Aquilo que para nós se tornou impossível, para Deus não é e nunca será. A prova está aqui na vida de Zacarias e Isabel. Ambos justos, da descendência de Arão, mas que não tinham filhos. Os anos foram se passando e por fim os sonhos morreram também, mas Deus tinha algo a realizar na vida deles.

Zacarias era um sacerdote da descendência de Abias (1Cr 24.10). Todo descendente direto do Arão era automaticamente sacerdote. Eles estavam divididos em vinte e quatro seções (1Cr 24.1-6). Só na Páscoa, no Pentecostes, e na Festa dos Tabernáculos serviam todos. Durante o resto do ano cada grupo servia duas semanas. Os sacerdotes que amavam seu trabalho esperavam ansiosos essa semana de serviço; era a tarefa suprema de suas vidas. Havia cerca de vinte mil sacerdotes e portanto havia quase mil em cada seção. De modo que dentro delas as tarefas se realizavam em grupos.

Era muito possível que muitos sacerdotes não tiveram o privilégio de queimar incenso em toda sua vida; mas se a qualquer um deles lhes tocasse a sorte fazê-lo, esse dia seria o mais grandioso de todos, o dia tão desejado e sonhado. Havia muitos sacerdotes, mas um só templo, por isso esses turnos de trabalho eram necessários para que todos os sacerdotes pudessem ter o privilégio de queimar incenso no templo, ou pelo menos, ter a oportunidade de ser sorteado para esse fim.

Zacarias estava em Jerusalém para seu período anual de duas semanas de serviço como sacerdote. Naquele ano, recebeu a maior de todas as honras: foi escolhido para oferecer o incenso, sozinho no Templo. Foi nesse dia que o anjo Gabriel aparece a Zacarias com um recado do céu para ele e sua esposa Isabel.

Quais as lições que podemos tirar desse texto que estamos analisando?

1 – A PIEDADE DELES NÃO OS ISENTARAM DAS ADVERSIDADES (Lc 1.5-7).

Zacarias (o Senhor se lembrou) e Isabel (Deus é meu juramento) eram um casal piedoso. Ambos pertenciam a linhagem sacerdotal, no entanto, não tinham filhos. Isso só revela uma verdade que muitos tentam não ver ou discordam: “Que ninguém está livre de passar por lutas e provações nesta terra, ainda que seja uma pessoa boa”. O céu não é aqui. Só lá teremos a eterna paz. Só lá será enxugada as nossas lágrimas para sempre. Só no céu a morte será vencida para todo o sempre (Ap 21.4).

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”

Em outras palavras, além de nós não estarmos blindados contra as adversidades, elas virão em maior ou menor proporção para cada um de nós sempre. Mas a palavra de Deus nos diz que “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1 Co 10.13).

Um sacerdote só podia casar-se com uma mulher de linhagem judaica absolutamente pura, não necessariamente da tribo de Levi. Considerava-se um mérito especial o casar-se com uma mulher que também era descendente de Arão, como o era Isabel, a mulher de Zacarias. A Bíblia nos fala que tanto Zacarias como Isabel eram pessoas boas (piedosas), de famílias sacerdotais, mas que sofriam a muito tempo com a dor e o estigma de não terem filhos, apesar de suas orações. E havia outro agravante sobre a vida de Zacarias, os rabinos judeus diziam que havia sete pessoas que não podiam comunicar-se com Deus, e a lista começava assim: “um judeu que não tem esposa, ou um judeu que tem esposa, mas não tem filhos”.

Podemos tirar duas lições aqui:

1o – Zacarias foi um exemplo de marido. A esterilidade era uma causa válida de divórcio, mas Zacarias não abandonou a sua esposa e nem se casou com outra como era costume da época. Não ter filhos era um grande infortúnio para um casal em idade avançada, e até mesmo era percebido, com extremo sofrimento, como um sinal do desfavor divino e como vergonha perante as pessoas, como um sinal da destituição da bênção prometida em Gn 1.28. Veja Lc 1.25. Os filhos eram responsáveis por cuidar de seus pais na velhice, e um casal sem filhos corriam o risco de sofrerem grandes dificuldades quando a idade avançada chegasse.

Durante os anos de casamento de Zacarias e Isabel quantas vezes eles devem ter ouvido palavras que julgavam a conduta deles ainda que de forma velada. Quantas pessoas os olhavam e os julgavam como se eles não tivessem nenhuma vida com Deus. Principalmente numa época em que a esterilidade era considerada como um sinal de reprovação e juízo de Deus. Era uma vergonha para a família quando isso acontecia. O pesadelo da esterilidade era tão grande que Raquel disse a Jacó, seu marido: “Dá-me filhos, se não morrerei” (Gn 30.1). No entanto, o próprio Deus testifica da vida piedosa desses irmãos. Isso serve de grande exemplo para todos nós.

Apesar de a esterilidade ser uma causa válida de divórcio, Zacarias não abandonou sua esposa. Zacarias é um exemplo para todos nós maridos, este homem, apesar de poder deixar a sua esposa por não gerar filhos ele não fez isso. Por muito menos os casais de hoje estão se divorciando e, no entanto, Zacarias não fez tal loucura. Zacarias seguiu o exemplo de Elcana, esposo de Ana, mãe de Samuel, que a amava e não a deixou, apesar dela não gerar filhos também.

2o – Apesar das adversidades que enfrentavam eram pessoas justas e serviam ao Senhor (Lc 1.6,7). Lucas dá a entender que a causa da ausência de filhos se deve a Isabel, a qual chama de “justa”. Não se trata de coincidência, mas de sabedoria do educador celestial permitir que justamente aquelas pessoas que ele honra com graças especiais passem por graves provações. Ambos andavam (viviam), isto é, não apenas conduziam temporariamente uma vida agradável a Deus, mas se empenhavam em praticar continuamente, com santa seriedade, aquilo que era correto perante Deus. Ninguém podia acusá-los de nada.

Apesar de todo esse opróbrio, eles não se revoltaram contra Deus por não terem seus sonhos realizados. Não quero dizer com isso que não estivessem tristes por não terem alcançado o sonho desejado. O que vemos através desse texto é que eles continuavam servindo ao Senhor com a vida no altar, com o coração rendido a Deus apesar de não terem sido atendidos em suas orações. Diferentemente de muitos hoje que abandonam as suas igrejas porque não tiveram seus desejos alcançados, como se quisessem fazer greve de culto contra Deus.

O que temos visto em muitos lugares são crentes que servem ao Senhor só se forem beneficiados, com a realização de seus desejos; não O servem pelo prazer de estar em Sua companhia. Creio que essas pessoas deveriam meditar melhor em 2 Co 11.23-33 a 12.1-10.

2 – O TEMPO DA RESPOSTA AS SUAS ORAÇÕES CHEGOU (Lc 1.8-14).

A ordem mais repetida em toda a Bíblia é: “Não temas”. O Senhor sempre vem para acalmar o nosso coração temeroso. Zacarias antes de receber a resposta de Deus as suas orações, o Senhor se manifestou a ele para lhe acalmar o coração. Afinal, a sua causa, humanamente falando, era perdida. Orou por longos anos e o Senhor não lhe atendeu, não vai ser agora que responderá. Ledo engano! O Senhor não mudou em poder e graça!

Quando Zacarias e Isabel haviam desistido da realização de seu sonho foi que veio a resposta de Deus para os seus servos. Gabriel diz para Zacarias que Deus nunca havia deixado de ouvi-los, mas que ainda não havia chegado o tempo de Deus agir. Que o Senhor se importava com os seus sonhos e que iria realizá-los pois era algo que edificaria muitas outras pessoas, não só a deles.

Gabriel não só anuncia que Zacarias e Isabel seriam pais, mas que eles seriam pais de um menino e que iria se chamar João a forma grega do nome hebraico “Joanã” (Deus é gracioso). A escolha desse nome para o precursor do Messias simbolizava o ponto de mudança na história da redenção. Deus estava prestes a derramar sua graça, mediante o dom de Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo (cf. Jo 1.14,17).

Podemos tirar três lições nessa passagem:

1o – O Senhor tem o controle do tempo e de nossos destinos (Lc 1.8-10). Como já falamos, havia cerca de vinte mil sacerdotes e portanto havia quase mil em cada seção, que eram divididos em vinte e quatro seções. De modo que dentro delas as tarefas se realizavam em grupos. Era muito possível que muitos sacerdotes não tiveram o privilégio de queimar incenso em toda sua vida; mas se a qualquer um deles lhes tocasse a sorte fazê-lo, esse dia seria o mais grandioso de todos, o dia tão desejado e sonhado. Havia muitos sacerdotes, mas um só templo, por isso esses turnos de trabalho eram necessários para que todos os sacerdotes pudessem ter o privilégio de queimar incenso no templo, ou pelo menos, ter a oportunidade de ser sorteado para esse fim.

Durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando. Depois de Zacarias ter derramado o incenso sobre as brasas incandescentes do altar, ele se prostrara, conforme prescrito, para a adoração. Nessa hora da queima do incenso, em todo o país os rostos do povo se voltavam para Jerusalém, e as pessoas oravam. No instante em que o sacerdote se posta diante de Deus, ele resume, como representante do povo, as orações de todos, trazendo-as à face de Deus. Nessa hora ele também pode expressar sua intenção mais íntima e sagrada diante de Deus. A subida do incenso é uma imagem da ascensão da oração, agradável a Deus. Veja Sl 141.2 e Ap 5.8; 8.3,4.

Era natural então que Zacarias, em seu grande dia, pensasse e orasse a respeito de sua tragédia pessoal e doméstica. Então apareceu a assombrosa visão com sua alegre mensagem de que, apesar de suas esperanças estarem mortas, nascer-lhe-ia um filho, pois assim o Senhor o determinou. Como nos fala Jesus em Lucas: “Porventura Deus não fará plena justiça aos seus escolhidos, que a Ele clamam de dia e de noite, ainda que lhes pareça demorado em atendê-los?” (Lc 18.7).

Naquele dia, naquela hora e dentro do templo o Senhor envia Gabriel para dar um recado para o seu servo Zacarias. Deus tem o controle da história. Da minha história e da sua história. Ele controla o tempo e as estações, mas também controla as nossas vidas de acordo com a Sua vontade. Assim como aconteceu com Zacarias, o Senhor também nos envia respostas as nossas orações. O Senhor não mudou. Mas essas respostas virão no tempo dele, na hora dele e do jeito dele.

2o – O tempo de Deus contradiz o nosso tempo (Lc 1.11-13). “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec 3.1).“Tudo tem o seu Chronos determinado, e há um Kairós para todo propósito debaixo do céu” – existe um tempo cronológico dentro do qual vivemos, e dentro dele um momento oportuno para que se cumpram propósitos de Deus.

Chronos – “Tempo”, “período de tempo”, “espaço de tempo, longo ou breve”. Chronos serve, inicialmente, para a designação formal de um espaço de tempo, ou ponto de tempo, refere-se ao tempo cronológico ou sequencial que pode ser medido.

Kairós – “Tempo”, especialmente um “ponto no tempo”, “momento”, “tempo oportuno”. Na teologia passou a ser usado para descrever a forma qualitativa do tempo ou “o tempo de Deus”, o tempo que não pode ser medido, é o tempo da oportunidade (Lc 19.41-44 – “…POIS QUE NÃO CONHECESTE O TEMPO DA TUA VISITAÇÃO”.

Aion – Indicava o tempo de longo prazo, na verdade, de longuíssimo prazo, que o apóstolo usa quando diz que Jesus é Senhor não apenas neste século, ou era, isto é, aion, como também no vindouro (Gl 1.5).

O tempo de Deus é completamente o oposto do nosso tempo. Deus não está preso a ele como nós estamos. Ele age com poder e graça no tempo determinado por Ele (Gl 4.4,5). O anjo Gabriel vai visitar Zacarias e Maria levando uma mensagem do céu a um velho e a uma jovem virgem. O que temos aqui são tempos opostos. Cada um em uma extremidade.

O anjo parece chegar atrasado para um e adiantado para outro. Na perspectiva humana, Gabriel chegou atrasado à vida de Zacarias e Isabel, pois já eram avançados em idade e Isabel ainda era estéril e chegou adiantado à vida de Maria, pois ela era ainda jovem, virgem e noiva de um carpinteiro. No entanto, o Senhor enviou o seu anjo na plenitude dos tempos na vida de todos eles.

Observe a vida de algumas mulheres na Bíblia e você verá que o tempo, apesar de longo, foi um tempo de amadurecimento e de bênção para todos ao redor. Veja a vida de Sara, Rebeca, Raquel, Ana. Sara gerou Isaque, Rebeca gerou Esaú e Jacó, Raquel gerou José e Ana gerou Samuel. Não estamos fazendo dessas histórias uma doutrina. Estamos tentando lhes mostrar que o tempo para Deus não existe e quando ele age em nossas vidas, ainda que pareça tardio em agir, Ele age no tempo certo e nos abençoa.

3o – Para recebermos a resposta de Deus, no tempo de Deus, devemos estar na presença de Deus (Lc 1.10,11). Quando Deus começa uma nova obra ele não joga fora a antiga, mas estabelece uma conexão com ela! No seio de Israel, em Jerusalém, no templo (o centro da vida cultual de Israel), Deus engendra o surgimento da nova aliança. Observe que no templo começa a história narrada pelo evangelista Lucas a cerca do nascimento de João. A vida religiosa do povo de Israel estava centrada no templo.

Observe que Lucas começa o seu Evangelho nos mostrando que Zacarias tem uma visão de um anjo dentro do templo. Veja como essas frases no começo do evangelho relacionam-se com as últimas frases do seu evangelho:“Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus” (Lc 24.52,53). É “no templo” de Jerusalém, que é a continuação do tabernáculo, que Deus estabelece a conexão com o novo. Somente depois que Jerusalém rejeitou definitivamente ao Salvador que o templo também foi entregue à destruição (cf. Lc 13.35; 19.46 e 21.6).

O templo era o ponto central da adoração para os judeus. Agora no período da graça, o templo continua sendo o ponto central da adoração para cristão, só que o templo somos nós, como nos fala Paulo escrevendo aos Coríntios: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (1 Co 3.16,17).

Em outras palavras, as pessoas querem ter respostas de Deus em suas vidas mas não estão na presença de Deus para obter as respostas dele. O Templo que somos nós hoje não tem sido lugar de adoração ao Senhor. Na hora da crise, infelizmente, muitas pessoas preferem se afastar de Deus do que se aproximar dele. Zacarias por ser um homem justo permaneceu na presença do Senhor e foi no templo, no seu turno, no momento da oração que o Senhor se revelou a ele. Meu irmão você só encontrará as respostas de Deus para sua vida na presença de Deus e não longe dele. Temos que ser iguais a Jacó: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes!” (Gn 32.26).

Podemos resumir este ponto da seguinte forma: “A extrema incapacidade do homem é a oportunidade de Deus”, pois Ele é o Senhor do tempo.

CONCLUSÃO

Assim como o Senhor se manifestou de forma graciosa perante o seu servo Zacarias, o Senhor também tem feito o mesmo com cada um de nós hoje. Talvez nós estejamos nos questionando o porque da demora das respostas das nossas orações, mas saiba que todas elas têm chegado aos seus ouvidos.

No entanto, o tempo de Deus para respondê-las é diferente do nosso tempo. E pode ser que Ele não responderá de forma positiva ao que temos pedido a Ele. Mas independentemente de termos as nossas orações respondidas ou não, de forma alguma devemos nos afastar dele como crianças pirracentas. Devemos olhar para a vida de Zacarias e Isabel e tomar como exemplo de fidelidade ao Senhor ainda que as nossas orações não sejam atendidas.

Pense nisso! 
 
Por Pr. Silas Figueira


 

Bibliografia:

1 – Barclay, William. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

2 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.

3 – Davidson, F. O Novo Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987.

4 – Fee, Gordon D. e Stuart, Douglas. Entendes o Que Lês? Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986.

5 – Keener, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2017.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.

7 – MacArthur, John. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

8 – Manual Bíblico SBB. Barueri, SP, 3a edição, 2018.

9 – Mears, Henriqueta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 15a impressão, 2003.

10 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1986.

11 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança, Curitiba, PR, 2005.

Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com

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