Trazendo as experiências para junto da sola-scriptura e dessa forma
negando-a, manifestações contemporâneas como profecias, visões sonhos e
novas revelações são o ápice de um evangelho novo, que procura um
fundamento também novo, substitui-se as tradições católicas romanas, por
novíssimas revelações, atualizadas e “melhores” por definição. Passam
aos poucos a reger, inconscientemente, ou não, a fé e prática da igreja,
as Escrituras Sagradas aos poucos também vão deixando o seu posto de
Verdade de Deus para ceder lugar a “verdade” dos homens, abrindo as
portas da igreja para o relativismo e subjetivismo.
Quando se trata da doutrina da salvação esse movimento é por excelência
conturbador, arminiano por natureza traz como cerne central de sua
crença o antropocentrismo que se manifesta nas preocupações humanísticas
da valorização do homem, do censo de democracia e liberdade e o pano de
fundo do seu discurso legalista e entusiasta é o próprio desprezo ao
que é legitimamente instituído, à história da igreja e à própria
ortodoxia cristã com todas sua tradição. A crença da Igreja em um só
batismo revela o caráter da salvação soberana, aquele que não tem o
Espírito de Cristo a ele não pertence, somos recebidos em Cristo por
seus méritos próprios, e assim batizados todos em um mesmo Espírito, a
ideia bastante difundida de que devemos buscar o batismo com o Espírito
Santo rouba da graça seu monopólio da salvação, e acrescentá-lhe
conceito estranho não evangélico, a busca pelo batismo com o Espírito
que é dado soberanamente aos eleitos nada mais é que negação da graça da
salvação como dom gratuito de Deus.
Tudo começa com o pressuposto de que é vital e necessário ao cristão,
pelos menos aos que querem ter uma vida de plena comunhão e experiência
pessoal com o Espírito Santo que vai além da simples conversão, que ele
seja agraciado com uma segunda benção que erroneamente chamam de Batismo
com o Espírito Santo, estes reivindicam para si o título de cristãos
pentecostais, em uma atitude no mínimo descabida e sectária, rebaixam
assim todos os outros cristãos ao nível ou a classe de meros convertidos
que não contam com o revestimento necessário para o desempenho de sua
missão como legítimos seguidores de Cristo. Não seria esta uma grande
demonstração de prepotência incentivada por essa corrente, que ousa
afirmar em alto e bom som, que somente a partir de seu surgimento, o
Cristianismo passou a contar com o auxílio e plenitude do Espírito
Santo?
Toda Igreja é Pentecostal, pois foi no pentecostes que de uma vez por
todas o Espírito foi dado a Igreja, assim como de uma vez por todas
Cristo morreu e ressuscitou dos mortos, são cumprimentos proféticos que
devem ser cridos e proclamados como fundamentos postos para a Igreja e
que não necessitam de outras repetições contemporâneas, o pentecostes
deve ser tão real para o cristão quanto a morte e a ressurreição de
Cristo o são, não como promessa pela qual se deva esperar, mas como
eventos do plano da redenção cumpridos e registrados nas Escrituras
Sagradas, fonte de revelação suficiente para a fé e vida dos eleitos.
Outra arma mortal desse movimento que tem assolado as igrejas reformadas
é o apelo ao irracionalismo, é bem comum ouvir críticas severas aos
pregadores bem preparados, que são até tratados com desdém, usam de má
exegese quando afirmam que a letra mata, se referindo aos esforços
teológicos e estudos sistemáticos da Palavra de Deus, e assim revelam
sua falsa espiritualidade, é pior que má exegese é um argumento que
chega mesmo a dar arrepios. Mas como contestar alguém que alega ter uma
linha direta com Deus? Como contestar alguém que não se intimida ao
dizer que até os esboços de suas pregações recebe diretamente de Deus,
muitas vezes entre um cochilo e outro?
É bem verdade que os cristãos primitivos tinham uma grande convicção da
presença do Senhor através do Espírito Santo, porém isso não se dava
porque estavam buscando ter uma nova experiência de batismo com o
Espírito Santo como uma segunda benção separada e distinta da conversão
operada em seus corações, exatamente por causa dessa obra, que é única
na vida do eleito, ter sido algo soberano e verdadeiro e que levava
primeiramente à convicção de pecado, eles se colocavam na dependência de
Deus para sua permanência na graça divina, esse sim é o verdadeiro
sinal do novo nascimento: convicção de pecado e dependência de Deus.
Hoje infelizmente por causa dos exageros desse movimento místico
descaradamente aprovado em nosso meio por lideranças que por vezes até
estão envolvidas no mesmo erro ou quando não, fazem vista grossa pra
tudo isso, muitos são levados a outro extremo, por medo de serem
confundidos já não se permitem gozar a presença de Deus de forma mais
intensa, com medo de está se emocionando demais, orando demais ou se
consagrando demais, isso só contribui para a causa mística-pentecostal,
contemplamos e nos maravilhamos na história da igreja e principalmente
na vida dos puritanos, exemplo de homens que foram grandes e fiéis
expositores da Palavra de Deus e também de homens que não temeram ser
cheios do Espírito Santo, é do extremismo que se alimenta o discurso
legalista pentecostal, pois infelizmente é reagindo a ortodoxia morta
que muitos preferem o misticismo vivo.
Ao mesmo tempo em que as práticas e crenças pentecostais ganham
defensores nas igrejas históricas, há uma reação dentro do próprio
pentecostalismo contra aquilo que agora chamam de exageros, já
denominado também de “pentecostalismo popular” com suas aberrações
excêntricas e culminando no famigerado neo-pentecostalismo, muito
daquilo que alguns membros de igrejas tradicionais anelam por vê
presente em suas denominações, há muito já está sendo descartado por
pentecostais tradicionais, alguns desses agora até já simpatizam com
igrejas historicamente cessacionistas, e outros até mudam de igreja por
esse motivo, um desses fui eu, isso é um forte indício de que esse
namoro no meio reformado durará pouco tempo, só resta saber o tamanho do
estrago que ele terá causado quando a desilusão chegar, tanto aos que
aderiram ao movimento quando aos que no rigor do zelo acabaram negando
sua própria espiritualidade, caberá então um resgate da identidade
espiritual dessas denominações? Só o tempo dirá.
Por Djalma Oliveira Santiago
Fonte: http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com
Imagem: Google
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