É raro encontrar alguém
que defina biblicamente o que é conversão. Muitos confundem o seu
resultado com o ato do que de fato ela representa.
É interessante ponderar sobre a conversão do apóstolo Paulo.
Ele não era um sujeito
imoral (do ponto de vista social e religioso). Seu pecado não era a
boêmia, a noitada, o mulherio. Seu mundanismo não era oriundo de uma
vida pródiga, mas do orgulho de sua “pregressa piedade”. Paulo, do ponto
de vista da lei era irrepreensível; também era um bom cidadão; além de
ser exemplo para qualquer um de seus compatriotas.
O passado ímpio do
apóstolo, todavia, é justamente o testemunho de muita gente dos nossos
dias. Seus deveres religiosos eram devidamente cumpridos. Mas do que
Paulo tinha que se arrepender?
Perceba o discurso da grande maioria; falam mais do que fizeram para Cristo do que aquilo que Cristo fez por eles.
Paulo mantinha sua
segurança no realizar dos afazeres ministeriais e na virtude das boas
obras. Era disto que ele se arrependeu. Muitos, porém, se gabam
justamente do que Paulo considerou perda. Ou seja, apoiam-se em suas
obras de justiça (Fp 3. 4-9).
Afinal, o que é conversão?
A primeira coisa que
precisa ser definida é que conversão não é moral, mas ontológica. A
moral (e não moralismo) é simplesmente o resultado da nova criatura que
foi gerada em Cristo (2 Co 5.17). A primeira coisa que deveria ser dito
num testemunho não é o que você é, ou faz hoje, mas como Deus te
convenceu do quanto a sua justiça (aquilo que você confiava para
salvação) se tratava de esterco (excremento humano, porção do alimento
rejeitado pelo organismo como não nutritivo e que deve ser expelido).
Por ignorância da sã
doutrina, quando Cristo me converteu a Ele, logo de inicio fui radical
com coisas que hoje tolero (usos, costumes e ingestão de alimentos em
geral), e tolerava coisas que hoje sou radical (doutrinas espúrias).
Pelo estudo das Escrituras fui convencido de que o Reino de Deus não
consiste em “coisas”, mas pessoas que verdadeiramente tiveram um novo
nascimento; nascidas não de descendia natural, nem pela vontade de algum
homem, mas de Deus (Jo 1. 13).
Não se trata do que você come ou do que você bebe; mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14.17).
Muitos chamam de pecado o
que Deus fez para ser desfrutado. A Bíblia chama esses “mestres” de
hipócritas e mentirosos, que têm a consciência insensível (1 Tm 4.2). E é
aqui que entra o ponto que ofusca o verdadeiro sentido ontológico do
resultado da conversão. Baralhar santificação com rigor ascético,
abstendo até de prazeres legítimos; proibir o que Deus criou para nosso
deleite e para o louvor da sua glória (1 Tm 4.3; 1 Co 10.31). Muitos
religiosos taxariam de mundano as festas realizadas sob orientação do
próprio Deus no meio do seu povo (Dt 14.26).
Conversão passou a ser
“não tocar” nisto; “não provar” aquilo; “não manusear” tal coisa. De
fato, como diz a Escritura, isto até tem aparência de santidade; mas só
aparência, pois não tem valor algum no combate contra os desejos que
realmente são pecaminosos (Cl 2. 20-23).
Os legalistas, no
entanto, dizem ser certo justamente o que Deus abomina (opressão em nome
da lei). Seita procede exatamente deste modo. Rígidos para com o corpo e
laicos na doutrina, que poderia libertar as pessoas do fardo pesado
colocado sobre seus ombros.
O Senhor é traído não
quando caímos pela fraqueza da carne. Deus é traído quando nos apartamos
da simplicidade e pureza devidas a Cristo; quando abraçamos outro
evangelho; quando prestamos culto a um "deus" estranho (tipo mamon, o
“deus” da teologia da prosperidade). Isto é traição!
A conversão, portanto,
está muito além da mera mudança de comportamento. A conversão bíblica
consiste primeiramente em abandonar por completo sua própria justiça
para lançar-se por completo, por meio da fé, na justiça de Cristo (Ef 2.
8-9). É descansar no sacrifício vicário de Jesus; se trata em renunciar
nossa auto-suficiência e pretensioso orgulho de cumprir a lei (Fp 3.3).
O que importa não é isto
ou aquilo; guardar o sábado; deixar de comer ou beber certos alimentos.
Nada disto valerá se, contudo, você não for nova criatura. Estamos
firmados e confirmados numa Pessoa. Não é a obediência de regras ou a
observação de determinada tradição que nos fará aceitáveis diante de
Deus. É Cristo Jesus, justiça nossa. É n’Ele e em nada mais. Ele é tudo
para aquele que sabe que não possui nada.
Se você ainda se apóia
no seu desempenho religioso; no fato de se abster, por exemplo, do
álcool e de certos alimentos – você até pode ser um bom moço ou moça,
mas você ainda não é um genuíno cristão. O Evangelho de Cristo incomoda
os libertinos tanto quanto incomoda os legalistas. Os libertinos
esquecem Deus; os legalistas tentam ser Deus.
Portanto, conversão é
ter em Cristo toda a confiança, é ser achado n”ele, não tendo por
justiça as nossas obras, mas sim a justiça que procede da fé no
Salvador, a saber, a justiça que vem de Deus. O fim da lei é Cristo para
a justificação do todo aquele crê.
Em Cristo Jesus, considere esta reflexão e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo Gloria!
Por Fabio Campos
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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