Texto base: João 1.43-51
“Siga-me”
foi uma expressão corriqueira no ministério de Jesus. Ele a usava para chamar
pessoas para se tornarem seus discípulos. Isso é visto no chamado dos
discípulos. Após chamar André e Pedro, Jesus decidiu ir para a Galileia. No
caminho, encontrou Filipe e o chamou para segui-lo. Filipe recebeu essas
palavras e tornou-se seguidor de Jesus. E, como discípulo, encontrou Natanael e
o convidou para ir e ver quem era Jesus de Nazaré. Natanael reconhece quem é
Jesus e se torna seu discípulo.
Essa corrente do discipulado
começou com Jesus, estendeu-se aos seus discípulos pessoais e chegou a todos
quantos foram chamados a entrar no processo. Todos os chamados para segui-Lo
incluirão outros discípulos na corrente do discipulado. É isso que faz com o
que o evangelho seja pregado e ensinado, e todos os dias novas pessoas sejam
salvas e convidadas para andar com Jesus.
Que
todos os discípulos de Jesus, como você e eu, continuem mantendo a corrente do
discipulado sempre forte e ativa. Que os discípulos de Jesus sejam encontrados
e chamados por Ele, e encontrem outros e os chamem, e esses encontrem outros e
os chamem, até que Jesus seja conhecido por todos.
É
uma honra participar do movimento missional que Jesus iniciou ao encarnar-se e
anunciar que o Reino de Deus havia chegado, e que aqueles que se arrependessem
entrariam nele e cumpririam a missão de propagá-lo a todas as pessoas. Estamos
no Reino e, em estando nele, o movimento missional será natural. Muitas pessoas
virão, verão e entrarão no Reino de Deus.
Encontrou
O
evangelho de João é conhecido como o evangelho do encontro. Alguns encontros
são emblemáticos, como os encontros de Jesus com Nicodemus e com a Mulher
Samaritana. Tenney diz que “a relação pessoal de Jesus com o homem é posta em
relevo em João. Vinte e sete entrevistas são anotadas, umas extensas e outras
breves”[1] . Dois desses breves encontros foram com Filipe e Natanael. Dois
homens que experimentaram o encontro pessoal com Jesus, a revelação de sua
pessoa, a salvação e o chamado ao discipulado.
É
interessante observar que a palavra “encontrou” repete- -se no chamado de
Filipe e Natanael. Primeiro Jesus encontrou Filipe e, depois, Filipe encontrou
Natanael. Nada é casual quando o Verbo Encarnado está envolvido. Estava escrito
na agenda de Deus que Jesus encontraria Filipe e o chamaria para segui-lo. Isso
é tão poderoso que o evangelista João faz questão de dizer que Filipe
atendeu ao chamado, porque quem o havia chamado era o divino Filho de Deus.
Quando o Filho chama alguém, o atendimento é imediato. Quem é chamado
“encontra” outro e o chama para conhecer Jesus. É o que Godet diz: “Uma tocha
acesa serve para acender outra”. Filipe sabia bem quem o havia encontrado:
“Aquele sobre quem Moisés escreveu na Lei, e a respeito de quem os profetas
escreveram” (João 1.45). Quando alguém é encontrado e chamado por Jesus, este
revela-se a Si mesmo. Filipe procurava Aquele para o qual a Lei e os profetas
apontavam. E na procura, foi encontrado! Quando a busca e a revelação
acontecem, o resultado é o chamado para viver com Jesus e O proclamar àqueles
que querem achá-lo e, também, àqueles que nunca quiseram.
Quando
Filipe encontrou Natanael, disse que havia encontrado o Salvador. O problema é
que o fato de Jesus ser de Nazaré colocou em descrédito as palavras de Filipe.
Natanael não esperava alguma coisa boa de Nazaré. Por isso Filipe diz: “Venha e
veja”. O próprio Filipe não tinha ido, mas tinha visto. O outro poderia ir e
ver o que ele viu, o Mestre. Não importa se vão acreditar ou não, ir ou não,
seguir ou não, o importante é encontrar pessoas e chamá-las para que venham e
vejam. O restante é com Jesus.
Filipe
continuou vivendo a revelação de Jesus e chamando pessoas durante toda a sua
vida e ministério. Observamos Filipe, agora como diácono, explicando as
Escrituras ao Etíope que não conseguia entendê-las. Jesus foi apresentado na
Palavra àquele homem e ele foi batizado. Filipe continuou dizendo às pessoas:
“Venham às Escrituras e vejam Jesus, o Salvador” (At 8.32-35).
Jesus
quer ser achado, conhecido, vivido e anunciado. Tudo é propósito de Deus, cujo
desejo é fazer Jesus e a sua salvação conhecidos. Deus deu o seu Filho em
doação de graça para que encontre pessoas e seja encontrado por elas. Deus ama
o mundo e quer que o mundo conheça esse amor, que está em Cristo Jesus.
É
muito peculiar como o termo “achar” perpassa os versículos 41-45.
Constantemente algo está sendo “achado”. Como são preciosos aqueles tempos! Por
trás do “achar” de Jesus encontra-se, assim como por trás do “achar” das
pessoas, o “dar” de Deus. Por isso, em seu último diálogo com o Pai, Jesus
agradece pelas pessoas que o Pai lhe deu no mundo (Jo 17.6).[2]
Ao
encontrarmos ou sermos encontrados por Jesus, entendemos que esse encontro tem
um propósito: fazer Jesus conhecido a todas as pessoas; ser um instrumento para
que novas pessoas encontrem o Nazareno e entreguem a vida a Ele. Esse encontro
com Jesus é o encontro com a missão de Deus em dar Jesus como Salvador ao mundo
e a missão de Jesus em ir por todo o mundo, pregar o evangelho e fazer
discípulos de todas as nações.
Ver
Outra
palavra que observamos repetindo-se no chamado de Filipe e Natanael é o verbo
“ver”. “Veja”, “ver”, “vi”, duas vezes, “verá”, “verão”. Ao olharmos para o que
está no entorno dessas palavras que se repetem ao longo da narrativa, muitas
lições são aprendidas. Então, analisemos o verbo “ver” e a suas implicações.
O
primeiro “ver” está no convite que Filipe fez a Natanael. “Venha e veja” foi o
que Filipe disse. O convite surgiu quando Natanael não acreditou que o Messias
havia sido “achado” em Nazaré. Afinal, poderia vir alguma coisa boa de uma
cidade desprezada pelos Galileus? Para o evangelista João, era muito mais do
que apenas um desprezo, havia outras implicações. Segundo D. A. Carson, da
perspectiva de João, o fato de que Jesus foi criado em Nazaré não só obscurecia
sua origem, Belém, para aqueles que não pesquisavam a fundo (7.41,42,52), mas
também refletia a auto-humilhação do homem vindo do céu. Ele era conhecido como
‘Jesus de Nazaré’ ou ‘Jesus, o Nazareno’ (cf. Mt 2.23), não ‘Jesus Belemita’,
com toda as implicações reais e davídicas que isso teria provido. Alguns anos
mais tarde, os cristãos seriam desdenhosamente desprezados como a ‘seita do
Nazareno’ (At 24.5).[3]
“Venha
e veja” é um convite feito por alguém que reconheceu Jesus como o Messias.
“Venha e veja” é um convite feito por alguém que não criou ou idealizou um
Jesus à sua imagem e semelhança, mas por alguém que o encontrou na Escritura.
“Venha e veja” é um convite feito a alguém que, ainda que tenha preconceitos,
pode entender quem verdadeiramente é Jesus de Nazaré. “Venha e veja” é um
convite para ser discípulo de Jesus.
O
segundo e o terceiro “ver” aparecem no encontro de Natanael com Jesus. O Mestre
o viu pessoalmente e disse que já o tinha visto antes do encontro. Quando Jesus
viu Natanael, revelou que o conhecia muito bem. O Senhor sabia que aquele era
um homem da aliança – um verdadeiro israelita em quem não havia dolo. As
palavras de Jesus fizeram com que Natanael reconhecesse que o Nazareno era o
Messias prometido a Israel.
Jesus
disse que havia visto Natanael debaixo da figueira, antes mesmo do encontro
entre os dois. O Mestre conhece os seus, aqueles a quem vai se revelar e chamar
para o discipulado. Quando o discípulo é visto por Jesus, no dia do chamado ao
discipulado descobre que foi visto por Ele a vida inteira e que foi escolhido
nessa visão. Quando isso acontece, o resultado é reconhecer quem Ele é e
segui-lo para onde Ele for.
O
quarto e o quinto “ver” são uma promessa a Natanael, Filipe e todos os
discípulos de Jesus. O Nazareno disse a Natanael que ele veria coisas maiores
do que aquela, maiores do que saber que Jesus o tinha visto. Natanael veria a
grandeza e os feitos do divino Filho de Deus.
O
Nazareno também disse que todos veriam o céu aberto e os anjos de Deus subindo
e descendo sobre o Filho do homem. Os céus falam da visão de coisas divinas. Os
anjos falam da proteção e providência de Deus. O Filho do homem fala da visão
verdadeira de Jesus e a certeza de que, estando Nele, tudo pode ser
experimentado.
Decidiu
Jesus
decidiu ir à Galileia encontrar e ser encontrado; chamar discípulos para o
seguir. Foi uma decisão que tinha como objetivo revelar a si mesmo e ser
achado. Isso é graça! A comida que Jesus comia era fazer a vontade de Deus e
concluir a sua obra (Jo 5.34). E a vontade de Deus era que pessoas cressem em
Jesus. Para que isso acontecesse, Jesus decidiu encarnar-se e revelar-se às
pessoas, a fim de que a fé no seu nome gerasse salvação.
A
decisão que Jesus tomou e a decisão que todos os seus discípulos precisam tomar
é a decisão de segui-lo e entrar para o processo de discipulado. Cada discípulo
deve comer a comida que Jesus comia: fazer a vontade de Deus. Os campos estão
brancos, e nós devemos tomar a decisão de colher o fruto da semeadura de Jesus.
Eu
e você devemos decidir hoje pregar o nome de Jesus para que Ele seja conhecido
e achado pelas pessoas. Não podemos mais protelar. Deixar para amanhã. Arrumar
desculpas. Transferir a responsabilidade da evangelização e discipulado para
outras pessoas. Chamar pessoas para se tornarem discípulas de Jesus é urgente.
A decisão Jesus já tomou. Precisamos tomar a nossa! Todo discípulo de Jesus
decidiu-se pelo discipulado. Ser discipulado por Jesus é chamar pessoas para
serem discipuladas. É urgente! Decida-se!
[1] TENNEY, Merril C. O Novo Testamento: sua
origem e análise. Tradução: Antonio Fernandes. São Paulo: Shedd Publicações,
2008, p. 209. 30 MATHETES
[2] BOOR, Werner de. O evangelho de João II:
Comentário Esperança/ Werner de Boor. Tradução: Werner Fuchs. Curitiba: Editora
Evangélica Esperança, 2002.
[3] CARSON, D.A. O comentário de João / D.A.
Carson. Tradução: Daniel de Oliveira & Vivian Nunes do Amaral. São Paulo:
Shedd Publicações, 2007, p. 160.
Fonte: napec.org
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