Na regeneração, o homem é atraído
das trevas para a maravilhosa luz do Evangelho. Ele recebe os olhos
iluminados do entendimento e percebe realidades invisíveis. Essas questões,
ocultas para o homem natural e vistas de uma perspectiva natural, são vistas agora
de maneira totalmente diferente pela pessoa que foi iluminada. Aquele que
estava na mais densa escuridão torna-se iluminado no Senhor, e o Espírito Santo
brilha em seu coração, para dar a luz do conhecimento da glória de Deus na face
de Jesus Cristo. Esta luz alegra o coração, aquece a alma, faz com que ela
queime em amor, converte e santifica todo o homem. Portanto, aqueles que
começam a ver esta luz ficam tão encantados com que desejam ser levados mais
profundamente a esta luz.
Com efeito, ao acontecer, eles não
se atentam para a distinção entre a luz da contemplação (que pode e deve ser
desejada, mas é reservada para o céu), e a luz da fé, concedida àqueles que
andam sobre a terra, permitindo-lhes atravessar a escuridão com alegria. Por
não considerar essa distinção, eles não ficam satisfeitos em andar na luz da
fé, mas desejam viver aqui à luz da contemplação. Eles, contudo, trazem
problemas à sua alma e começam a pensar que ainda estão inteiramente nas trevas
e não convertidos. Sim, isso pode causar grandes trevas sobre eles, de modo que
até a luz da fé se torna tão fraca que eles não conseguem perceber nenhuma luz.
Essa escuridão espiritual não é a
mesma que os não-convertidos estão, uma vez que ainda são inteiramente cegos.
Isso também não se compara ao que os iniciantes na experiência da graça, em
quem há um vislumbre de luz. Nós também não entendemos que essa trevas
espirituais sejam ondas que ocasionalmente surgem na vida de um crente e
prontamente se dissipam.
Uma Doença Espiritual
Esta escuridão é uma doença
espiritual de alguém que fez algum progresso na vida cristã. Na ausência das
influências iluminadoras normais do Espírito Santo, e devido à escuridão
residual de sua antiga natureza, a luz que está nele torna-se tão obscura que
ele agora contempla os assuntos espirituais, que anteriormente percebeu com
clareza, como um brilho distante, e apenas retrata o que aconteceu no passado
por meio da memória. Isso faz com que o crente fique sem alegria, calor e
direção, e viva com medo e ansiedade, fazendo-o vagar sem rumo, como em um
deserto.
A experiência não apenas ensina
que o crente entra em tais trevas (de modo que muitos não precisam de nenhuma
outra prova exceto o seu próprio caso), mas a Palavra de Deus nos mostra
abundantemente que isso é assim.
Aqueles que estão em tal condição
precisam tomar conhecimento disso, visto que eles geralmente chegam à conclusão
de que estão sem a graça, sendo da opinião que os piedosos não entram em tal
condição. Aquilo que se abateu sobre Abraão, o pai dos fiéis, também recai
sobre seus filhos. “Ao pôr do sol, um profundo sono caiu sobre Abrão, e grande
pavor e densas trevas tomaram conta dele” (Gênesis 15:12). Jó testifica isso a
respeito de si mesmo: “Se me adianto, Deus não está ali; se volto para trás,
não o percebo. Se ele age à minha esquerda, não o vejo; se ele se esconde à
minha direita, não o enxergo” (Jó 23:8-9). A igreja reclama disso: “Ele me
levou e me fez andar nas trevas e não na luz”. (Lamentações 3:2). O Senhor
ameaça o seu povo com a escuridão espiritual: “Deem glória ao SENHOR, seu Deus,
antes que ele faça vir as trevas, antes que os pés de vocês tropecem nos montes
tenebrosos e antes que, esperando vocês a luz, ele a mude em sombra de morte e
a reduza à escuridão” (Jeremias 13:16). O profeta aconselha aqueles que estão
em tal estado: “Quem de vocês teme o SENHOR e ouve a voz do seu Servo? Aquele
que anda em trevas, sem nenhuma luz, confie no nome do SENHOR e se firme sobre
o seu Deus” (Isaías 50:10).
Há temporadas de escuridão como
resultado da perseguição e da ausência de conforto, bem como devido à cegueira.
Todavia, essas coisas geralmente coexistem nos filhos de Deus, pois a escuridão
externa traz escuridão interna.
As Causas da Escuridão Espiritual
A visão natural pode ser obstruída
por várias causas: o desaparecimento do sol, o espessamento das nuvens, a
interferência de objetos opacos, doença nos olhos ou o brilho do sol. As trevas
espirituais também possuem várias causas.
(1) O desaparecimento do Sol da
Justiça, o Senhor Jesus Cristo, e a retenção da influência iluminadora do
Espírito Santo.
(2) O diabo, obscurecendo essa
luz, ofuscando o entendimento, gerando a fumaça do erro e da heresia, gerando
uma falsa luz, obscurecendo a verdade e seduzindo uma pessoa por meio de enganadores.
(3) A pessoa que não dá ouvidos à
luz da fé, considerando que isso é insignificante demais; um enfraquecimento do
amor pela verdade, um esforço por algo mais elevado, insistindo em ser
iluminado pela luz da contemplação, e por estar desejoso de receber luz
diferente da luz pela qual o Senhor geralmente conduz o seu povo.
(4) O afastamento dos nossos olhos
da luz, cedendo aos nossos desejos, fechando nossos olhos e espalhando areia
neles – por meio dos quais a verdade, em sua eficácia e preciosidade, não é
percebida.
(5) Exercendo nossa visão
espiritual em demasia para compreender as perfeições e os caminhos
incompreensíveis de Deus. Isso, em vez de nos proporcionar mais luz, nos levará
a mais escuridão. Pois, quando nos afastamos da luz da Palavra de Deus e não
podemos alcançar uma imediata contemplação, nosso intelecto corrupto e nossa
razão irracional voltarão ao primeiro plano, enganando a alma com falsas
contemplações, pelas quais a luz verdadeira é cada vez mais obscurecida.
Autor: Wilhelmus à Brakel
Trecho
extraído de The Christian’s Reasonable Service, volume 4.
Tradução: Leonardo Dâmaso
Fonte: defesaapologetica.blogspot.com
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