Uma das
questões que tem provocado debates teológicos acalorados e até mesmo cismas
denominacionais, tem sido a questão da prática homossexual. De um lado temos conservadores que abraçam a
visão majoritária de toda a cristandade (católicos romanos, ortodoxos,
protestantes) de que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são
proibidas por Deus, portanto, quem incorre nessa prática comete pecado. De
outro, revisionistas que tentam a todo custo mudar essa compreensão, apelando
para diversos argumentos e utilizando-se de métodos de interpretação que
desconsideram a inspiração e a autoridade das Escrituras. Um dos argumentos mais utilizados é o de que
Jesus nada teria dito sobre esse tema, por tanto não haveria qualquer pecado
nessa prática, relegando a uma influência meramente cultural todos os textos
bíblicos que reprovam esse tipo de relação sexual.
Primeiramente,
é preciso ter em mente, que as Escrituras não são um amontoado de opiniões pessoais condicionadas pela cultura da
época. Todos os escritores bíblicos
escreveram por inspiração Divina. Nenhuma só palavra foi escrita na Bíblia fora da direção de
Deus. É como John Wesley afirma sobre as
Escrituras:
“Com referência às Escrituras em geral,
pode-se observar que a palavra do Deus vivo que dirigiu também os primeiros
patriarcas foi escrita no tempo de Moisés. Foram adicionados a esta os escritos
dos outros profetas em várias gerações posteriores. Depois os apóstolos e os
evangelistas escreveram o que o Filho de Deus pregou e o que o Espírito Santo
falou através dos apóstolos. Isto é o que nós agora chamamos de Escritura
Sagrada. Esta é a palavra de Deus que permanece para sempre; dessa palavra não
passará um til, embora passem os céus e a terra. Portanto, a Escritura do
Antigo e do Novo Testamentos é o mais sólido e precioso sistema de verdade
divina. Todas as partes da mesma são dignas de Deus, e todas juntas constituem
um corpo total, no qual não há defeito nem excesso”.[1][1]
Ele resume
muito bem o que é, e qual o propósito da
Bíblia. Portanto, o primeiro
grande erro desse argumento é ser seletivo sobre o que deve ou não ser aceito
das Escrituras como palavra de Deus. O apóstolo Paulo enfatiza a seu discípulo
Timóteo: “Toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para
a correção, para a educação na justiça, a fim de que o servo de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2. Tm. 3.16-17
NAA – SBB) Portanto, não podemos pinçar partes das Escrituras para
determinar o que deve ou não ser aceito como inspirado de acordo com o que
julgarmos mais palatável aos nossos dias.
É verdade que existem questões
culturais e circunstanciais na bíblia, mas isso fica evidente em uma analise
dos textos à luz de seus respectivos contextos. A Bíblia é a fiel interprete de
si mesma! Quando tratamos daquilo que a Bíblia classifica como pecado, tratamos
de princípios eternos que são normas de conduta para o ser humano em todos os
tempos e lugares.
Estaria correta a afirmação de que Jesus nada teria dito sobre a prática
homossexual? Uma leitura atenciosa dos Evangelhos nos mostra que não! Jesus em diversos momentos se referiu aos
princípios de santidade sexual estabelecidos no Antigo Testamento. Vejamos:
1. Jesus e o cumprimento da Lei
O próprio
Jesus declarou que não veio subverter a lei. Diferente do que algumas
(re)leituras bíblicas propõe, ele não veio ser a antítese da lei, mas sua fiel
expressão, tanto no obedecer, quanto no ensinar. Ele afirmou sua origem divina
e seu propósito. Lemos em Mateus 5.17-19
“Não pensem que vim revogar a Lei ou os Profetas;
não vim para revogar, mas para cumprir. Porque em verdade lhes digo:
até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til
jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que
desrespeitar um destes mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros
a fazer o mesmo, será considerado mínimo no Reino dos Céus; aquele, porém, que
os observar e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus.” (NAA – SBB)
Com essas Palavras Jesus confirma a procedência divina da Torah, a lei de Moisés. Ele, mesmo sendo
o infinito Deus-homem se coloca como cumpridor da mesma. Esse cumprir tem
diversas implicações. A lei mosaica (Torah)
era composta por 613 mandamentos, dentre eles, mandamentos morais, civis e
cerimoniais.
Os mandamentos cerimoniais tratavam de tudo aquilo que estava ligado ao
culto, suas simbologias sacrifícios e cerimonias. Incluem-se nisso os ofícios
sacerdotais, os dias sagrados, os objetos do templo, as leis sobre pureza e
impureza, etc. Tudo isso apontava para Cristo, seu ministério e
sacrifício. Na pessoa e obra de Cristo tudo isso foi cumprido e não mais é
exigido do ser humano. Eram sombras das coisas futuras. (Gl. 3.24-25,
Cl.2.16-17, Hb.7.11-19).
Os
mandamentos civis tinham a função de regular a vida cotidiana na sociedade
israelita. Israel era uma Teocracia e, portanto, Deus ditou as leis que regiam
a nação. Isso incluía normas de higiene, segurança, punições especificas para
diversos pecados e crimes, indenizações por prejuízos causados ao próximo etc.
Essas leis vigoraram enquanto vigorou a Teocracia israelita. Com a vinda de
Cristo, veio também o Reino de Deus. Não
um reino físico, mas espiritual, governado por princípios espirituais. Vivemos
sob a ética do reino de Deus e sua abundante graça, onde o “olho por olho e dente por dente” deu
lugar ao “se alguém e bater na face
direita ofereça também a esquerda” (Mt.5.38,39) O preceito de apedrejar quem adulterava deu
lugar a: “Quem não tiver pecado atire a
primeira pedra!”(Jo.8.1-11) A
lei condenava pecadores a morte, mas Cristo morreu nossa morte para que vivamos
sua vida. Ele veio para dar vida e vida
em abundância! Esses mandamentos assim como os cerimoniais eram transitórios e
não vigoram mais.
Os
mandamentos morais tratam daquilo que Deus estabelece e espera para a conduta
humana. Estes tem seu cumprimento na pessoa perfeita de Cristo, o qual devemos
imitar. A obra santificadora dos Espírito Santo em nossa vida nos torna
conforme o caráter de Cristo, ao restaurar a imagem de Deus em nós. Quando Deus anunciou por meio do profeta
Jeremias, que renovaria sua aliança com seu povo, mas, sob uma nova forma, ele
diz que suas leis (referindo-se aos seus princípios morais) seriam escritas nos
corações das pessoas. Isso se refere à regeneração, ao novo nascimento que
experimentamos quando entregamos nossa vida à Cristo: Porque esta é a aliança que farei com a casa de Israel, depois daqueles
dias, diz o SENHOR: Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no seu
coração as inscreverei; eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. (Jr.31.33
NAA - SBB ) .
Os princípios morais da lei podem ser sintetizados em dois: Amar à Deus
e ao próximo (Mt.22.37-40 – Rm. 13.8-10). Esse amor (ágape) não é
de sentimento, mas de entrega. É um amor de decisão e atitude. Se eu amo a
Deus, o honro e busco não fazer nada que ofenda sua santidade. Se eu amo meu
próximo, busco agir da melhor forma com ele. Todos os princípios morais estão
incluídos nestes dois mandamentos. Por tanto, se sei que determinada prática é
proibida por Deus e mesmo assim insisto nela, estaria amando a Deus?
Jesus,
portanto, não desprezou a lei, antes trouxe seu verdadeiro sentido. Dessa forma podemos compreender o que
era transitório e o que permanece. Os céus e a terra passarão, mas os princípios
morais estabelecidos por Deus jamais. Os
princípios morais da lei dentre outras
coisas, tratam de praticas sexuais as quais Deus proíbe, por exemplo: Ex.20.14, Lv.18.6-24. Jesus ao
enfatizar o espirito da lei, ao invés de somente sua letra tratou o pecado de
forma mais ampla e profunda: Mt.5.21-28
.
2. Falas de Jesus
sobre Sodoma e Gomorra
Jesus
diversas vezes se referiu a Sodoma e Gomorra como exemplo de impiedade e alvo
do juízo divino: Mt.10.15, 11.24, Lc.17.28-29. Se o relato
sobre Sodoma e Gomorra fosse apenas uma lenda ou mito judaico, Jesus não as
citaria dessa forma. O juízo sobre essas cidades se deu por causa se seus
pecados sexuais: “Igualmente Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, que
também se entregaram à imoralidade e adotaram práticas contrárias à natureza,
foram postas como exemplo do castigo de um fogo eterno.” (Jd.1.7 NAA
– SBB)
O pecado que mais se destacou de Sodoma e Gomorra
foi justamente a prática homossexual: E chamaram Ló e lhe disseram: Onde
estão os homens que, à noitinha, entraram na sua casa? Traga-os aqui fora para
que abusemos deles. (Gn.19.5 NAA – SBB). Cada vez que
Jesus se refere à condenação de Sodoma e Gomorra, ele está se referindo aos pecados
sexuais predominantes nelas, como é bem enfatizado por Judas em sua epístola.
3. O Ensino de Jesus sobre
o Casamento
Ao tratar do
casamento, quando foi questionado sobre a causa legitima para o divórcio, Jesus
se remete à criação e diz: Vocês não
leram que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: “Por
isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se
os dois uma só carne”? ( Mt.19.4,5 NAA
- SBB) Jesus afirmou categoricamente que casamento é a união entre um
homem e uma mulher. Não disse: duas pessoas! Disse que Deus fez “homem
e mulher” e que o homem “se unirá à sua mulher, tornando-se os dois
uma só carne”.
Jesus em sua fala, não deixa espaço para outra concepção de casamento.
Ele descreve o casamento como sendo uma união heterossexual. Não há qualquer
recurso interpretativo coerente que abra espaço para outra compreensão da fala
do Mestre. Portanto, o ensino de Jesus sobre casamento é a união entre um homem
e uma mulher.
4. O uso bíblico da
palavra porneia
Jesus
diz em Mateus 15.19: Pois do coração saem os maus
pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais[porneia],
os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. (NVI) A
palavra traduzida como imoralidade sexual é a grega porneia,
que é utilizada para se referir a todos os tipos de práticas sexuais proibidas
na lei (Lv.18.6-24). O concilio de Jerusalém enfatiza a permanência
dessa moralidade sexual (Atos. 15.29)
No capítulo
19 do Evangelho de Mateus, Jesus afirma
que a causa legitima para o divorcio e novo casamento
seria a infidelidade: Eu, porém,
lhes digo: quem repudiar a sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas[porneia],
e casar com outra comete adultério. (Mt.19.9 NAA – SBB) Aqui, porneia tem
o contexto de infidelidade conjugal, mas é utilizada em diversas partes do Novo
Testamento para se referir a outros pecados de natureza sexual, como podemos
conferir em diversas outras passagens.
Paulo
orienta a igreja de Corinto sobre disciplinar alguém que
incorria em pecado de natureza sexual. Lv. 18. 8 diz: Não tenha relações com a mulher de seu pai; este é
um direito que somente o seu pai tem.(NAA- SBB) Em 1 Corintios 5.1 Ouve-se
por aí que entre vocês existe imoralidade [porneia], e imoralidade [porneia]
tal como não existe nem mesmo entre os gentios, isto é, que alguém se atreva a
possuir a mulher de seu próprio pai. (NAA – SBB). Note-se que é
chamado de porneia justamente a violação de um dos mandamentos
de moralidade sexual do antigo testamento.
Hebreus 13.4 Digno de honra entre
todos seja o matrimônio, bem como o leito conjugal sem mácula; porque Deus
julgará os impuros [pornos] e os adúlteros. (NAA – SBB).
Como pode alguém cometer porneia dentro do contexto do
casamento? Aquelas relações sexuais proibidas poderiam acontecer no contexto de
um casamento ilícito do ponto de vista da lei do Antigo
Testamento. O homem de Corinto a quem Paulo se refere, aparentemente
tomou por esposa a própria madrasta! Esse leito conjugal estava maculado
pela porneia. O mesmo principio podemos enxergar em uma união de
pessoas do mesmo sexo (Lv.18.22) .
Judas
usa a palavra porneia para se referir ao pecado de Sodoma e
Gomorra: Igualmente Sodoma, Gomorra e as
cidades vizinhas, que também se entregaram à imoralidade [porneia] e
adotaram práticas contrárias à natureza, foram postas como exemplo do castigo
de um fogo eterno. (Jd.1.7 NAA – SBB)
Isso deixa claro que a prática homossexual é uma forma de porneia. Portanto,
Jesus ao falar sobre esse pecado ele esta incluindo esse tipo de relação
sexual.
Conclusão
Podemos ver
com muita clareza que o argumento de que Jesus nada teria dito sobre a prática
homossexual não se sustenta. Mesmo que ele não tivesse falado nada que
remetesse ao assunto, ainda assim, o Novo Testamento está cheio de referências
que nos permitem compreender essa prática como contrária ao padrão sexual
estabelecido por Deus.
Não
encontramos o Senhor tratando particularmente da prática homossexual, mas,
falou varias coisas que remetem diretamente ao assunto em questão. Ele disse
que não veio por fim a Lei. Também mencionou diversas vezes Sodoma e Gomorra
como exemplo de cidades condenadas por seus pecados. Ao falar sobre o
casamento, Jesus afirmou ser este uma união entre homem e mulher, não deixando
margem para qualquer outra interpretação. Ao listar diversos
pecados que provém do coração humano, o Mestre cita a porneia que
engloba todos tipos de relações sexuais proibidas na Lei. Ou seja,
Jesus de alguma forma tocou no assunto.
Meu desejo com esse artigo é desfazer essa
concepção errônea, propagada por pessoas, muitas das quais desconsideram a
autoridade das Escrituras, e que, tem sido abraçada como argumento válido por
muita gente, que por desconhecer ou não se ater a certos detalhes bíblicos,
acaba sendo facilmente influenciada.
Cabe
ressaltar que Jesus não veio chamar justos, mas pecadores ao arrependimento (Mt.9.13).
A Escritura afirma que justo não há um sequer, todos dependemos da graça de
Deus para alcançar gratuitamente por meio de Cristo o perdão e a salvação (Rm.
3.10-12, 22-24). Existe oportunidade de perdão e restauração para todos os
que vierem com sinceridade buscar isso do Senhor. Cristo continua
sendo aquele que acolhe a todos os sinceros e amorosamente diz “vá
e não peques mais” (Jo.8.11), Que o Senhor continue a
iluminar cada um de nós para que não nos afastemos da verdade de sua palavra.
Autor: Rev.
Francisco Belvedere Neto
FONTE: MCA
IMAGEM: Google
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