Não existem duvidas de que Cristo é humano, e
verdadeiramente humano, em diferença clara entre os conceitos do gnósticismo
(realidade da humanidade), Docetismo (integralidade da humanidade) e
Apolinarismo (integralidade da humanidade). Atualmente, o debate sobre Cristo
envolve muito mais sua divindade que sua humanidade. Seitas, por todos os
lados, crescem anunciando a humanidade de Cristo, ou apenas sua humanidade
(Legião da Boa Vontade, Espíritas, Testemunhas de Jeová, Mulçumanos, entre
outros). E, neste ponto o Novo Testamento é claro: Jo.8.40; At.2.22; Rm.5.15;
1Co.15.21; Jo.1.14; 1Tm.3.16; 1Jo.4.2; Mt.26.26,28, 38; Lc.23.46; 24.39; Jo.11.33;
Hb.2.14; Lc.2.40, 52; Hb.2.10, 18; 5.8; Mt.4.2; 8.24; 9.24; 9.36; Mc.3.5; Lc.22.44;
Jo.4.6; 11.35; 12.27; 19.28, 30; Hb.5.7.
Segue-se que é impossível negar que Cristo é
integralmente homem e plenamente Deus diante de tantas evidências. A esse fato
a Teologia Reformada denomina “União Hipostática”. União Hipostática é a
expressão que descreve a existência de duas naturezas distintas, juntas e sem
mistura, humana e divina, na pessoa única de Jesus Cristo, de forma que sua
humanidade não diminuiu sua divindade, bem como sua divindade não detratou sua
humanidade. E sobre isso Rm.9.5 afirma categoricamente: “e também deles descende
o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o
sempre“.
Sobre essas questões a sã teologia contemporânea
não apresenta dificuldades. Entretanto, os fatos evidenciados testemunham outro
questionamento: “Qual é a razão para que os autores bíblicos defendessem a
humanidade de Cristo?” ou “Por que era necessário que Cristo fosse
homem?“.
Anselmo de Cantuária desenvolveu uma teoria muito
conhecida sobre a necessidade da humanidade de Cristo, de modo que tratou
logicamente do assunto sem faltar com as escrituras no processo. Seu método foi
muito interessante, pois além de defender a necessidade da humanidade de
Cristo, defendeu sua divindade. Ou seja, a pessoa teantrópica de Cristo, tal
como compreendida pelas escrituras foi plenamente defendida de modo lógico.
Observe o que ele diz:
“Temos que investigar agora como Deus pode ser
homem. As naturezas divina e humana não podem alternar-se mutuamente, de sorte
que a divina torne-se humana ou a humana divina; nem elas podem ser tão
misturadas como se uma terceira devesse se produzir das suas que não seria nem
totalmente divina nem totalmente humana. Pois, se fosse possível que uma delas
se transformasse ou se convertesse na outra, ou resultaria somente Deus e não
homem, ou somente o homem e não Deus; e se da mistura e corrupção das duas
resultasse uma terceira, do mesmo modo que de dois indivíduos animais de
espécies diversas, macho e fêmea, nasce um terceiro que não reproduz
integralmente nem a natureza do pai nem a da mãe, mas uma terceira, mistura de
ambas, então nem seria Deus nem homem. Não pode, pois, o Deus-homem que
buscamos ser o resultado da natureza divina e humana pela conversão de uma na
outra ou pelo nascimento de uma terceira como resultante da decomposição de
ambas, pois esta decomposição não cabe nelas, e, ainda que fosse possível, não
diria respeito ao caso que aqui nos interessa. Também temos de descartar
qualquer outra união destas duas naturezas em que permaneçam íntegras, de sorte
que o homem seja um ser distinto de Deus, e Deus distinto do homem, pois neste
caso é impossível que estas realizem o que se necessita, pois Deus não o fará,
pois Ele não está obrigado, e o homem tampouco, pois este não poderá; e para
que isto o torne Deus-homem, é necessário que aquele que tem de cumprir esta
satisfação seja perfeito Deus e perfeito homem, pois não poderá cumpri-la se
não for verdadeiro Deus, e nem estará obrigado a ela, se não for verdadeiro
homem. E como é necessário que exista um Deus-homem com as duas naturezas bem
distintas, também o é que estas duas naturezas bem distintas e perfeitas se
reúnam em uma só pessoa, como o corpo e a alma racional se reúnem em um só
homem, pois do contrário não pode ser perfeitamente Deus e perfeitamente homem[2]“
Abaixo, a teoria de Anselmo é apresentada de
modo resumido, observe:
1. Se os homens sempre dessem a Deus o que
lhe é devido, nunca pecariam, pois pecar nada mais é do que não conceder a Deus
o que lhe é devido;
2. Se pecar é não dar a Deus o que lhe é
devido, estamos desonrando a Deus, e tiramos-lhe o que lhe é devido. Segue-se
que, enquanto não for restituído, a culpa permanece;
3. Se, porventura, resolvemos conceder tudo o
que é devido a Deus, não estamos fazendo mais do que a nossa obrigação, e assim,
não cancelamos a dívida lançada anteriormente;
4. Ou seja, a dívida que o homem tem diante
de Deus é impagável por sua condição;
Nós, normalmente, não temos idéia da gravidade do
pecado diante de Deus, pois temos convicção que a culpa dos nossos atos já foi
removida. Entretanto, note o grau da gravidade da dívida do homem diante de
Deus:
1. O grau da gravidade da ofensa depende do
nível de dignidade do ofendido;
2. O Pecado é uma ofensa direta a infinitude
da dignidade de Deus;
3. Logo, a culpa do homem é infinita, e para
supri-la exige uma satisfação infinita;
4. Se isto é verdade, o homem nunca poderá
supri-la, pois é finito;
5. Assim, apenas Deus pode sanar essa dívida.
Mas a culpa não é de Deus, mas do homem. Logo, Deus não deve pagá-la.
6. Ou seja, o homem deveria pagar, mas não
pode. Deus poderia, mas não deve. Segue-se que é necessário um Homem-Deus, pois
como homem deve, e como Deus pode. Por que “o que não é assumido não é
redimido[3]“.
b. O Testemunho das
Escrituras:
O testemunho lógico lançado acima é bem demonstrado
pela literatura bíblica. Pois, “desde que o homem pecou, era necessário que
o homem sofresse a penalidade. Além, disso, o pagamento envolvia sofrimento de
corpo e alma, sofrimento incabível ao homem, Jo.12.27; At.3.18; Hb.2.14, 9.22“.
Assim, era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, e como
representante capital da raça, pagasse a dívida perante Deus, do gênero humano.
O fato de que Cristo assumiu a raça humana, não
significa que Ele possuía pecado, ou natureza pecaminosa, pois o pecado não é
inerente a natureza humana, é um acréscimo depreciador da realidade original
desta natureza. Por isso, não se deve acoplar pecado com humanidade, nem Cristo
com pecado, pois o pecado é acessório (não fundamental, não essencial) à
natureza humana (Hb.2.14-18).
Assim, Cristo, isento de pecado, se fez pecado por
nós para que pudéssemos ser feitos justiça de Deus (2Co.5.21). E, era
necessário que não conhecesse o pecado, pois se possuísse pecado, estaria
destituído de sua vida, o que conseqüentemente o privaria da possibilidade de
prover redenção a si mesmo (Hb.7.26). Assim, “unicamente um Mediador
verdadeiramente humano, que tivesse conhecimento experimental das misérias da
humanidade e se mantivesse acima de todas as tentações, poderia identificar-se
com todas as experiências, provações e tentações do homem, Hb.2.17, 18,
4.15-5.2, e ser um perfeito exemplo humano para Seus seguidores, Mt.11.29; Mc.10.39;
Jo.13.13-15; Fp.2.5-8; Hb.12.2-4; 1Pe.2.21“.
[1] Anselmo de Aosta (1033-1109), arcebispo de
Cantuária de 1093 a 1109, que é também conhecido pelo nome de Anselmo da
Cantuária, é uma das personalidades mais importantes da história do pensamento
cristão. O Cur Deus Homo (Por que Deus se fez Homem?), provavelmente a mais
influente e conhecida de suas obras, é um clássico da teologia
Material
retirado do site: http://www.monergismo.com
Fonte: Teologando
Um comentário:
Mais seguidor da Torre!
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