O ensino da
"porta fechada" (Porta fechada?) se
baseia na parábola das dez virgens de Mateus 25. De acordo com a parábola, os
mensageiros do Esposo clamam à meia-noite que o Esposo, que representa a Jesus,
vem à festa das bodas. (Mat. 25:6). Muitos adventistas continuaram crendo que o
movimento de 1844 anunciando o regresso de Cristo era o clamor da meia-noite.
Os seguidores da porta fechada ensinavam que o Esposo veio à "ceia das
bodas" em 22 de outubro de 1844:
E saindo elas [as
virgens insensatas] para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas
entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta!”Mat. 25:10”.
Ensinavam que o
versículo anterior se cumpriu em 22 de outubro de 1844, quando Cristo se
levantou no santuário celestial e passou do Lugar Santo ao Lugar Santíssimo. Ao
fazê-lo, Cristo fechou a porta da salvação para todos, exceto
para "as virgens prudentes", os crentes adventistas que haviam
participado do movimento de Guilherme Miller de 1844. Criam que Jesus agora
estava "encerrado" com seu povo especial, preparando-o e
purificando-o por meio de uma série de provas e tribulações para que fosse
digno de receber o Seu reino. Criam que, desde 22 de outubro de 1844, Cristo
estava ministrando só a Israel – os crentes adventistas. Ensinavam que
Cristo estava provando Seus filhos sobre certos pontos da verdade, como o
sábado, e que Sua obra em favor da salvação dos perdidos havia terminado.
A princípio, Guilherme
Miller ensinou a doutrina da porta fechada, como se pode ver no artigo que
escreveu em dezembro de 1844:
"Ao
advertir os pecadores e tentar despertar uma igreja formal, cumprimos nossa
obra. Em sua providência, Deus fechou a porta;
só podemos instar-nos mutuamente a ser pacientes."30
Em 19 de fevereiro
de 1845, Miller expressou sua crença de que nenhum pecador se havia convertido
na terra durante os últimos cinco meses: "Não vi nenhuma conversão
legítima desde então [22 de outubro de 1844]”.31 No entanto, pelo final de 1848 quase todos os crentes na
porta fechada, incluindo Miller, haviam abandonado a doutrina.
No entanto, havia
uns poucos adventistas que persistiam na doutrina da porta fechada. Joseph
Bates era um firme crente na doutrina da porta fechada. Sustentava que haveria
um período de sete anos durante o qual Cristo provaria Seus filhos. Cria que ao
final desse período, em 1851, Cristo regressaria à terra. Em 1847, Bates
escreveu:
"A
porta aberta de Paulo, então, era a pregação do evangelho aos gentios. Feche-se
esta porta, e a pregação do evangelho não terá nenhum efeito. Isto é exatamente
o que dissemos que ocorre. A mensagem do evangelho terminou no tempo assinalado
com a terminação dos 2300 dias [em 1844]; e quase todos os crentes honestos que
estão observando os sinais dos tempos o admitirão”.32
Como Bates, Tiago
e Ellen White eram ardentes partidários da doutrina da porta fechada. Já em
1845, Ellen estava recebendo “visões” que
mostravam que a porta da salvação estava fechada. Uma senhora que vivia no
Maine, e que tinha mais ou menos a idade de Ellen, era Lucinda Burdick. Ela
descreve como conheceu Ellen:
"Ouvi
falar pela primeira vez da Srta. Ellen G. Harmon (depois Sra. Ellen G. White)
em princípios do inverno (janeiro ou fevereiro) de 1845, quando meu tio Josiah
Little veio à casa de meu pai e informou que havia visto uma tal Ellen Harmon
no ato de ter visões que ela assegurava receber de Deus. Meu tio disse que ela afirmava que Deus lhe havia revelado
que a porta da misericórdia tinha-se fechado para sempre, e que de agora em
diante não havia mais salvação para os pecadores. (Inclusive para os atuais adventistas).
Isto me causou grande inquietude e angústia mental, porque eu não havia sido
batizada e meu jovem coração se preocupou muito pelo que sucederia com a minha
salvação se a porta da misericórdia estivesse realmente fechada”.33
Ter a informação
de que a porta da salvação estava fechada para os pecadores deve ter sido
angustioso para a jovem Lucinda. Ela recorda mais experiências espantosas com a
profetisa:
"Ellen estava tendo o que se conhecia como visões: Dizia que
Deus lhe havia mostrado em visão que Cristo Jesus se levantou no dia décimo do
sétimo mês de 1844 e fechou a porta da misericórdia; que havia abandonado para
sempre o trono mediador; que o mundo inteiro estava condenado e perdido, e que
jamais se salvaria qualquer outro pecador”.34
A mensagem de
Ellen White para seus seguidores era de que não restava qualquer obra por fazer
a favor dos não-adventistas (é claro!!). O ministro adventista Isaac Wellcome
recorda tê-la ouvido relatar esta mensagem em visão em 1845:
"Amiúde,
estive em reuniões com Ellen G. Harmon e Tiago White em 1844 e 1845. Várias
vezes a sustive enquanto caía ao solo, -- às vezes quando desmaiava durante uma
visão. Ouvi-a relatar suas visões destas datas. Várias foram publicadas em
panfletos, dizendo que todos os que não apoiavam o movimento de 1844 estavam
perdidos, que Cristo havia abandonado o trono da misericórdia, que todos os que
seriam selados o haviam sido, e que ninguém mais se arrependeria. Ellen e Tiago ensinaram isto por um ou dois anos.
Recentemente, em suas visões publicadas, chamadas ‘Testemunhos,’ suas visões
diferem amplamente, e contradizem suas visões anteriores direta e
patentemente”.35
Em princípios de
1846, Ellen escreveu acerca de uma experiência em que suas visões ajudaram a
convencer almas que duvidavam de que a porta da salvação estava realmente
fechada:
"Enquanto em
Exeter, Maine, ao estar reunida com Israel Dammon, Tiago, e vários outros, e
muitos deles não criam numa porta fechada. Eu sofria muito no início da
reunião. A descrença parecia estar por todo lado.
Havia uma irmã ali
que era considerada muito espiritual. Tinha viajado e fora uma poderosa
pregadora pela maior parte do tempo durante vinte anos. Ela havia sido
verdadeiramente uma mãe em Israel. Mas uma divisão havia surgido no grupo sobre
a questão da porta fechada. Ela tinha tido grande misericórdia, e não podia
crer que a porta estava fechada. (Eu nada soubera da diferença entre eles). A
irmã Durben levantou-se para falar. Sentia-me muito, muito triste.
Minha alma parecia
em agonia o tempo todo, e enquanto ela falava, caí de minha cadeira ao chão.
Foi então que tive uma visão de Jesus erguendo-Se de Seu trono de Mediador e
indo para o Lugar Santíssimo, como o Noivo indo receber o Seu reino. Todos
estavam profundamente interessados na visão. Todos disseram que era algo
inteiramente novo para eles. O Senhor operou com grande poder estabelecendo a
verdade em seus corações.
A irmã Durben
sabia o que era o poder do Senhor, pois o havia sentido muitas vezes; e pouco
tempo depois que eu caí, ela foi atingida, e caiu ao chão, clamando para que
Deus tivesse misericórdia dela. Quando eu saí da visão, meus ouvidos foram
saudados com o cântico e clamores da irmã Durben em alta voz.
A maioria deles
recebeu a visão, e ficaram estabelecidos quanto à porta fechada.”36”.
Pode ser que suas
visões hajam convencido a Irmã Durben e outros presentes na reunião de que a
porta da salvação estava fechada, mas outros ainda
não estavam convencidos. Os White começaram a viajar num esforço por convencer
outros adventistas, como o Irmão Stowell, de que a porta da salvação estava
fechada. Ellen escreve:
"O
primeiro sábado que passamos em Topsham [24 de março] foi doce e interessante.
Parecia que Jesus mesmo passava pelo meio de nós e espalhava sua luz e sua
glória sobre nós. Todos bebemos um grande sorvo do poço de Belém. O Espírito
veio sobre mim e fui arrebatada em visão. Vi muitas coisas importantes, algumas
das quais as descreverei antes de fechar esta carta. Vi que o irmão Stowell, de
Paris, vacilava sobre a questão da porta fechada. Pareceu-me que devia
visitá-los. Embora o lugar ficasse a cinquenta milhas de distância e o caminho
estivesse em condições muito más, cria que Deus me daria forças para fazer a
viagem. Fomos e encontramos a necessária força. Não tinha havido uma reunião no
lugar por mais de dois anos. Passamos uma semana com eles. Nossas reuniões
foram muito interessantes. Tinham fome da verdade presente. Tivemos com eles
reuniões livres e poderosas. Deus me deu duas visões enquanto estive ali, para
grande consolo e fortaleza dos irmãos e irmãs. O Irmão
Stowell foi firmado na doutrina da porta fechada e em toda a
verdade presente de que havia duvidado”.37
Os esforços dos
White para estabelecer a doutrina da porta fechada foram observados por outros
adventistas. Um crente na porta fechada, Otis Nichols, escreveu a William
Miller em abril de 1846 elogiando a Irmã White por suas visões acerca da porta
fechada:
"Sua
mensagem sempre era acompanhada pelo Espírito Santo, e onde quer que fosse
recebida como de parte do Senhor, quebrantava e derretia seus corações como se
fossem criancinhas, e alimentava, consolava, e fortalecia os débeis, e os
animava a apegar-se à fé, e ao movimento do sétimo mês; e que nossa obra
para a igreja nominal e o mundo estava terminada, e o que restava fazer era a
favor da casa da fé”.38
Ellen teve algumas
de suas visões sobre a porta fechada na casa de John Megquier, que vivia em
Poland, Maine. Ele compartilha sua experiência como segue:
"Conhecemos
bem a trajetória de Ellen G. White, a visionista, enquanto esteve no estado do
Maine. Algumas das primeiras visões que teve ocorreram em minha casa de Poland.
Dizia que Deus lhe havia dito em visão que a porta da misericórdia se havia
fechado, que não havia mais oportunidade para o mundo, que
ela podia dizer quem tinha manchas em sua veste, e que essas manchas
eram obtidas pondo em dúvida se suas visões eram do Senhor ou não. Então, ela
dizia o que fazer, o que cumprir, para recuperar outra vez o favor de Deus. Então Deus lhe mostrava, por meio de uma visão, quem estava
perdido, e quem estava salvo em diferentes partes do estado, segundo
houvessem aceitado ou rechaçado as visões." 39
Novamente encontramos
a Sra. White predizendo quem estava perdido e quem era salvo, baseando-se na
receptividade de suas visões. Depois de um tempo, os White pensaram que
simplesmente ir de localidade em localidade pregando a porta fechada não era
suficiente. Em 1847, Tiago publicou um documento intitulado "A Word to the
Little Flock" [Uma Palavra ao Pequeno Rebanho], no qual ele e Ellen
promoviam sua doutrina da porta fechada. Nessa publicação, Ellen descreve uma
assombrosa visão que recebeu de Deus:
“Enquanto orava no
altar da família, o Espírito Santo veio sobre mim, e parecia que estava sendo
transportada mais e mais para o alto, bem acima do escuro mundo. Ergui os
olhos, e vi um caminho reto e estreito que se estendia muito acima do mundo.
Nesse caminho o povo do Advento estava viajando para a cidade, que se situava
na sua extremidade. Tinham por detrás e no princípio do caminho uma luz
brilhante que um anjo me assegurou ser o clamor da meia-noite. Essa luz
brilhava ao longo do caminho inteiro e fornecia luz para os seus pés de modo a
que não tropeçassem. Se mantivessem os olhos fixos em Jesus, que estava à
frente deles, conduzindo-os para a cidade, estariam seguros. Mas logo alguns
negaram grosseiramente a luz atrás deles e disseram que não fora Deus quem os
conduzira até tão distante”.
A luz por detrás
desses extinguiu-se lhes deixando os pés em total escuridão, e tropeçaram e
perderam de vista o marco e a Jesus, e caíram para fora do caminho, mergulhando
para o mundo escuro e ímpio em baixo. Era tão impossível para eles alcançar
o caminho novamente e seguir para a cidade, como também para todo o mundo ímpio
que Deus havia rejeitado.”40.
De acordo com esta
visão, os adventistas caídos não podiam retornar ao
caminho que conduzia ao céu porque a porta da salvação estava fechada.
Como o "mundo ímpio que Deus havia rejeitado”, os adventistas caídos não
tinham esperança de salvação. No mesmo documento, Tiago acrescentou seus
próprios pensamentos sobre a porta fechada:
"Jesus
está claramente representado na Bíblia em seus diferentes caracteres, ofícios,
e obras. Na crucifixão, foi o manso cordeiro que foi morto. Desde a ascensão
até que a porta se fechou em outubro de 1844, Jesus continuou com seus braços
de amor e misericórdia abertos, pronto para receber e advogar a causa de cada
pecador que viesse a Deus por meio dEle. No dia
décimo do mês sétimo de 1844, entrou ao Lugar Santíssimo, onde desde então tem
sido um misericordioso ‘sumo sacerdote sobre a casa de Deus.’"41
Enquanto Tiago e
Ellen continuavam ensinando que em 1847 Jesus já não advogava a causa dos
pecadores, a maré estava começando a volver-se
contra a doutrina. Pelo fim de 1848, a maioria dos adventistas se dera conta de
que a doutrina estava errada abandonando-a. Nesse entretempo, a
profetisa de Deus não estava disposta a abandoná-la. Esta era a mensagem que
Deus lhe havia dado para pregar, e não ia renunciar a ela, apesar de que sua
popularidade estava desaparecendo. Deveriam os profetas alterar suas mensagens
só porque são impopulares? Não! Por isso os White e Bates continuaram pregando
a doutrina da porta fechada. Na realidade, Tiago iniciou uma nova revista
mensal intitulada Present Truth [A Verdade Presente]. A doutrina da
porta fechada recebeu atenção especial nessa revista quase todos os meses de
sua curta publicação.
No outono de 1849
tinham decorrido quase cinco anos desde que os adventistas da porta fechada
recusaram trabalhar pela salvação dos perdidos. É doloroso imaginar quantas
almas perdidas nunca ouviram falar do evangelho durante esse período. Quantos
dos que se perderam poderiam ter-se salvado? Depois
de cinco anos do dogma da porta fechada, alguns provavelmente se perguntavam
quando iam os anjos tocar a Ellen no ombro e dizer-lhe que o ensino da porta
fechada era ficção. Ao contrário, porém, os anjos lhe diziam que o
dia da salvação para os perdidos havia terminado. Em agosto, Ellen compartilhou
com os leitores de Present Truth o que o seu anjo acompanhante lhe havia
dito:
"Meu anjo acompanhante me convidou a buscar ver o trabalho
pelas almas dos pecadores, como antes existia. Olhei, mas não pude vê-lo,
porque o tempo da salvação deles havia passado”.42
Em princípios de 1850, os
adventistas da porta fechada enfrentaram um dilema. Sua doutrina capengava, e
tinham dificuldade para atrair novos adeptos. De acordo
com a maneira como Bates entendia a profecia, Jesus devia regressar no outono
de 1851, e eles só tinham dezoito meses para se preparar! O mais
preocupante de tudo era que seus seguidores somavam apenas centenas e eles
necessitavam de 144.000 para o outono do próximo ano. Que iam fazer? Talvez
houvessem fechado a porta de forma demasiado hermética!
Em princípios de
1850, apareceram os primeiros sinais de que a porta fechada estava começando a se abrir um pouquinho. Numa carta
escrita a alguns amigos em fevereiro, a Sra. White anunciava alguns novos
conversos à mensagem adventista:
"As
almas estão encontrando a verdade por toda parte aqui. São os que não
ouviram a doutrina adventista, e alguns deles são os que saíram a encontrar
o Esposo em 1844, mas que desde esse tempo foram enganados
por falsos pastores até ao ponto de
não saberem nem onde estavam nem no que criam."43 (Quanta hipocrisia!!)
Aqui encontramos o
primeiro indício de que os que não eram parte do movimento de 1844 podiam
salvar-se. Logicamente, a Sra. White cuida em dizer que essas pessoas eram
cristãos que nunca haviam ouvido falar da doutrina adventista. Ainda não havia
esperança para os não cristãos e os cristãos que tinham rechaçado a mensagem de
Miller de 1844 fixando uma data para a segunda vinda.
Em abril de 1850,
a porta fechada se abriu um pouquinho mais para deixar entrar os filhos dos
santos. Tinham-se passado quase seis anos desde o grande Desapontamento, e
muitas crianças foram nascidas durante esse período. Poderiam salvar-se essas
crianças, posto que não fizeram parte do movimento de 1844? A questão foi
decidida na revista Present Truth:
"Como
elas [as crianças] estavam então [em 1844] num estado de inocência, tinham
tanto direito a que seus nomes fossem registrados no peitoral do juízo como os
que haviam pecado e tinham sido perdoados; portanto, estão sujeitos à presente
intercessão de nosso grande sumo sacerdote”.44
Durante 1850,
Tiago White continuou promovendo a mensagem da porta fechada em sua revista.
Apesar da crescente impopularidade da mensagem da porta fechada, Tiago e Ellen
estavam decididos a seguir promovendo-a. Em maio, Tiago escreveu:
"Mas
o pecador, a quem Jesus havia estendido seus braços todo o dia, e que havia
desprezado a oferta da salvação, ficou sem advogado quando Jesus saiu do Lugar
Santo e fechou essa porta em 1844”.45
Finalmente, pelo
final de 1850, a porta fechada se abriu outro pouquinho. Abriu um pouco mais para deixar entrar Herman
Churchill, um homem que havia sido inconverso em 1844. A decisão de
Herman Churchill de unir-se aos crentes adventistas em agosto de 1850 causou
considerável comoção entre os crentes da porta fechada. Tiago escreveu acerca
do acontecimento numa carta:
"Um
irmão [Herman Churchill], que não havia estado no Advento, e não havia feito
profissão de religião até 1845, mostrava-se forte e claro na verdade inteira.
Nunca se opusera ao Advento, e é evidente que o Senhor lhe havia estado
guiando, embora sua experiência não tinha sido como a nossa. Os que, como ele, vêm
para a verdade à hora undécima, podem esperar grandes provas."46
Quase seis anos
depois do grande Desapontamento, os adventistas
tinham feito o primeiro converso que não havia sido cristão em 1844.
Os adventistas se surpreenderam de que alguém, que não era parte do movimento
de 1844, estivesse interessado em unir-se a eles. George Butler, presidente da
Associação Geral, escrevendo na Review and Herald de 7 de abril de 1885,
recorda a assombrosa natureza da decisão de Churchill:
"O seu foi um dos primeiros casos de conversão do mundo à
verdade presente, que ocorreram depois de 1844... Lembro-me bem quando
chegou a Waterbury, Vermont, e assistiu às reuniões na casa de meu pai, onde
uns poucos se reuniam de quando em quando. A princípio, ficaram bastante
surpresos de que alguém que havia sido incrédulo manifestasse interesse na
doutrina adventista. Não foi rejeitado, mas bem acolhido. Era fervoroso e
zeloso, e ao discernir sua sinceridade, aceitaram-no como a um verdadeiro
converso”.47
Ao transcorrer o
ano de 1851, começou a ser mais e mais evidente para todos que Cristo já não ia
regressar no outono. Esperavam sinais que não ocorriam, e sem dúvida as pessoas estavam se cansando de ouvir predições acerca do
regresso de Cristo. Também se estavam cansando
do ensino da porta fechada. Depois de quase sete anos, Tiago e Ellen
finalmente abandonaram a doutrina da porta fechada. Nenhum anjo lhes
advertiu de seu erro. Ellen não recebeu nenhuma visão mostrando-lhe seu engano.
O tempo mesmo havia matado a doutrina. Simplesmente, já não fazia sentido.
O abandono da
doutrina da porta fechada pôs Ellen White numa situação em que todo profeta
odeia estar. Como explica alguém a seus seguidores que suas visões estavam
erradas? As pessoas esperam que um profeta corrija falsos ensinos, não que os
estimule. Bem, a Sra. White permaneceu relativamente tranquila durante os
poucos anos seguintes. Felizmente, o dano foi de extensão limitada. É
improvável que mais do que uns poucos milhares de pessoas tivessem sequer
ouvido falar de Ellen White. Talvez esta fosse uma ferida que o tempo curaria.
Mudar-se para uma nova localidade e a um novo campo de trabalho parecia ser o
certo a fazer, posto que sua influência se havia perdido no nordeste do país.
Em meados da década de 1850, os White se haviam mudado para o Michigan, e
enfocavam seus esforços sobre os estados do meio-oeste norte-americano. Lucinda
Burdick escreve acerca da perda da influência deles na área da Nova Inglaterra:
"Pouco
tempo depois disso, a confiança e o interesse nesse fanático casal desapareceu, pois
as visões, não só eram infantis e vazias de sentido, como absolutamente
contraditórias... Havendo perdido tanto sua influência quanto seu campo de
trabalho no Maine, logo partiram para o oeste, onde tiveram êxito em despertar
considerável interesse e levantar um grande número de seguidores por meio de
seus ensinos relativos ao sábado”.48
Imediatamente,
Tiago se dispôs a restaurar a imagem de Ellen. Iniciou o que haveria de
converter-se na tarefa de toda sua vida – revisar os escritos da esposa. Tiago
revisou todos os artigos de sua esposa, e eliminou as partes objetáveis que
tratavam da doutrina da porta fechada. Deu fim à revista Present Truth,
que alguns haviam chegado a crer que era qualquer coisa, menos a verdade
presente. Logo iniciou uma nova revista, chamada "Advent Review and
Sabbath Herald”. Voltou a imprimir a versão "corrigida" das visões de
sua esposa em 1851 num folheto de 64 páginas intitulado Vida e Ensinos.
Enquanto Tiago
aparentemente não sentia embaraço em eliminar os escritos de uma “profetisa” de
Deus, isso não foi do agrado de todos os irmãos. Quando
saiu o novo folheto com 19% do texto original faltando, tal fato ameaçou
deflagrar uma crise. Como é de se imaginar, alguns membros da diminuta
igreja se horrorizaram de que visões inteiras, que criam proceder diretamente
de Deus, houvessem sido omitidas. Alguns dirigentes convocaram uma reunião com
Tiago. A Sra. White descreve como Tiago acalmou a perigosa crise:
“Certa
ocasião nos primeiros dias da mensagem, o Pai Butler e o Ancião Hart se
sentiram confusos em relação com os testemunhos. Mui angustiados, gemeram e
choraram, mas durante algum tempo não quiseram dar as razões de sua
perplexidade. Todavia, pressionados para que explicassem a causa de sua
conversação e comportamento sem fé, o Ancião Hart se referiu a um pequeno
folheto que havia sido publicado como as visões da Irmã White, no qual, disse
ele que sabia com certeza, que algumas visões não tinham sido incluídas. Diante
de um grande auditório, estes irmãos falaram vigorosamente dizendo que haviam
perdido a confiança na obra”.
“Meu
esposo entregou o folhetinho ao Ancião Hart, e lhe pediu que lesse o que estava
impresso na página do título. ‘A Sketch of the Christian Experience and Views of
Mrs. E. G. White’ [Um Bosquejo da Experiência Cristã e Visões da Sra. E. G.
White], leu”.
“Por
um momento, houve silêncio, e a seguir meu esposo explicou que havíamos estado
muito destituídos de meios econômicos, e que a princípio só pudemos imprimir um
pequeno folheto, e prometeu aos irmãos que quando levantássemos os meios
suficientes, as visões seriam publicadas mais completamente em forma de livro”.
“O
Ancião Butler ficou profundamente comovido, e depois de que se havia dado a
explicação, disse: ‘Inclinemo-nos diante do Senhor.’ Seguiram-se orações,
pranto, e confissões, como raras vezes temos ouvido. O Pai Butler disse: ‘Irmão
White, perdoe-me; temia que nos estivesse ocultando algo da luz que devíamos
ter. Perdoe-me, Irmã White.”.
"Então,
o poder de Deus desceu sobre a reunião de uma
maneira maravilhosa”.49
Nesse dia, o
Irmão Butler aprendeu uma lição que muitos aprenderiam mais tarde. Quando Tiago
White corrigia e eliminava partes dos escritos da Sra. White, não estava
ocultando "a luz do céu”. Antes, estava ocultando erros e equívocos que, se
examinados pelas pessoas, as levariam a indagar-se se sua esposa era realmente
profeta.
Cumpriu Tiago
alguma vez sua promessa de imprimir todas as visões quando tivessem mais
dinheiro disponível? Apesar de sua posição financeira ter melhorado dramaticamente
em anos posteriores, Tiago nunca reimprimiu as doutrinas.
Gradualmente,
foram esquecidas como relíquias do passado. A porta fechada foi
"branqueada”, eliminada da história da igreja, e o tema raras vezes
suscitado no princípio da década de 1850. A doutrina da porta fechada poderia
ter descansado para sempre no cemitério do silêncio, se não tivesse sido pelos
acontecimentos da década de 1880.
Esse é o espírito
de profecia dos adventistas, no qual imagino que muitos desses adéptos não conhecem a
doutrina da porta fechada.
Texto extraído do
livro A Nuvem Branca
Os grifos são meus.
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