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segunda-feira, 25 de março de 2013


PRECONCEITO RACIAL NA IGREJA MÓRMON


Entre 1849 e 1978, a Igreja de Jesus Cristo Dos Santos dos Últimos Dias seguiu a política de não ordenar um homem negro ao Sacerdócio.

Sob a mesma política, homens e mulheres negros eram proibidos de entrarem nos templos da igreja para realizarem seus Endowments, casamentos e selamentos da família, ordenanças necessárias para o maior grau de salvação mórmon.

A política de restrição racial era aplicada aos negros de descendência africana e à qualquer um com mistura racial, mas não se aplicava aos nativos americanos, hispânicos ou polinésicos.

Entretanto, a igreja SUD sempre teve uma política de estar aberta aos membros de todas as raças, e os negros que sabiam desta política se uniam à igreja.

Em 1978, os líderes da igreja finalizaram esta discriminação, declarando que haviam recebido uma "revelação", instruindo os membros a assim procederem. Hoje, a igreja se opõe à discriminação racial e racismo de qualquer tipo [1]


Sob a liderança de Joseph Smith, poucos afro-americanos, incluindo Elijah Abel, foram ordenados ao Sacerdócio. 

Porém, esta política mudou ainda durante a época de Smith, e se fixou durante o mandato do segundo presidente da igreja, Brigham Young. 

Em 1852, ele fez um pronunciamento à Legislatura Territorial de Utah, dizendo que os Afro-americanos não podiam receber o Sacerdócio. [4]


POLÍTICA DE RESTRIÇÃO RACIAL – OFICIALMENTE INSTITUÍDA POR BRIGHAM YOUNG?


Um discurso prévio de Young sobre o banimento do Sacerdócio aos negros foi feito em 13 de fevereiro de 1849. O discurso – que se refere à maldição de Caim como a razão para esta política – foi dado em resposta à questão “quais as chances de redenção do negro?”. Young respondeu: 
“O Senhor amaldiçoou a semente de Caim com a negritude e proibiu o Sacerdócio a eles”.[4]


POSSÍVEIS MOTIVOS PARA TAL POLÍTICA

Alguns pesquisadores sugerem que as ações de William McCary, em Winter Quarters, Nebraska, levaram à decisão de Young em adotar a proibição do sacerdócio aos negros.

McCary era um converso mulato, e após seu batismo e ordenança ao sacerdócio, começou a clamar ser o profeta e possuidor de outros dons sobrenaturais. [5] 

Ele foi excomungado por apostasia, em março de 1847, e expulso de Winter Quaters[6]. Após sua excomunhão, McCary começou a atrair seguidores SUDs e instituiu o casamento plural entre seu grupo, e ele mesmo selou-se a várias esposas brancas [5-6]

O comportamento de McCary irritou vários SUDs em Winter Quaters. Pesquisadores declararam que seus casamentos com suas esposas brancas 

“tiveram um papel importante em pressionar a liderança para terem uma posição anti-negros”[5] e provavelmente foi este fato que teve um efeito imediato em Young para instituir tais proibições. [5-7]

Antes da proibição, Young declarou à McCary, em março de 1847 que a raça não tinha nenhuma importância para  qualificar ou desqualificar um homem  à portar o sacerdócio [8]. 

Porém, um mês após McCary ser expulso de Winter Quarters, Parley P. Pratt fez um discurso sobre o sacerdócio onde falava sobre a cor da pele estava relacionada à elegibilidade do candidato ter o sacerdócio [6]. Falando sobre McCary, Pratt disse ainda que ele:
“é um homem negro, com o sangue de Cão, cuja linhagem foi amaldiçoada em relação ao sacerdócio”. [9]


UTAH E A ESCRAVIDÃO

O  GRANDE COMPROMISSO de 1850 permitiu que a Califórnia fosse um estado livre da escravidão, e os estados de Utah e Novo México puderam decidir essa questão por inquérito popular.  

Em 1852, a Legislatura Territorial de Utah oficialmente sancionou a escravidão no território de Utah. Nessa época, Brigham Young era o governador do estado e a Legislatura Territorial era dominada por líderes da igreja [15].   

A lei da escravidão de Utah estipulava que o escravo poderia ser libertado se seu mestre tivesse relação sexual com ele, se tentasse retirá-lo do território contra a sua vontade ou se negligenciasse a alimentá-lo ou prover abrigo. Em adição, a lei estipulava que os escravos deveriam receber educação.  Há relatos conflitantes sobre a possibilidade dos escravos libertarem-se por suas próprias escolhas. [16-17]

Utah era o único estado no oeste que mantinha escravos em 1850 [18]. 


Quando a Guerra Civil Americana estourou, em 1861, Utah ficou ao lado da União e a escravidão terminou em 1862, apenas quando o Congresso dos Estados Unidos aboliu a escravidão de todo o país.



OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL

A exclusão do sacerdócio não foi a única descriminação praticada pelos membros da igreja. Nos anos 1950, o escritório da missão de São Francisco iniciou uma ação legal para impedir que famílias negras se mudassem para os arredores da igreja [43].

Em 1965, Daily Oliver, um homem negro morando na cidade de Salt Lake, descreveu como – quando era um menino – foi excluído do grupo de escoteiros porque eles não queriam negros em seus prédios [44].



O apóstolo Mark E. Petersen descreve uma família negra que tentou se unir à igreja SUD: 
“[alguns membros brancos da igreja] foram ao presidente do ramo e disseram que ou a família [negra] saia ou que eles todos sairiam. O presidente do ramo determinou que [a família negra] não poderia comparecer às reuniões da igreja. Isso quebrou seus corações.”[45]


UM ERRO?

Apesar de não refutar sua crença que a política de exclusão do sacerdócio veio de Deus, o apóstolo Spencer W. Kimball reconheceu, em 1963, que esta política poderia ter sido criada por um erro humano. 

Ele disse: 
“A doutrina ou a política não mudaram na minha memória. Eu sei que ela assim o poderia. Eu sei que o Senhor poderia mudar Sua política e liberar o banimento e perdoar o possível erro que trouxe a privação [do sacerdócio]”[55]


EXCEÇÕES

Vários negros receberam o sacerdócio após a política de restrição racial, incluindo Enoch Abel, filho de Elijah Abel, que foi ordenado como élder em 10 de novembro de 1900. 

O filho de Enoch – que também se chamava Elijah Abel – recebeu o sacerdócio Aarônico e foi ordenado bispo em 05 de julho de 1934. O jovem Elijah Abel também recebeu o sacerdócio de Melquisedeque e foi ordenado ao ofício de élder em 29 de setembro de 1935[58].

Um comentarista mostrou que estes incidentes ilustram as ambiguidades, contradições e paradoxos deste problema no século vinte. [58]



A DECLARAÇÃO DA QUESTÃO NEGRA


Em 1949, a primeira presidência, sob a direção de George Albert Smith (foto ao lado), fez uma declaração afirmando que a restrição do sacerdócio era um mandamento divino e não uma questão de política da igreja. [59]

“A atitude da igreja em relação aos negros continua como sempre foi. Não é uma questão de uma declaração política, mas um mandamento direto de Deus, que pode ser encontrada na doutrina da igreja desde os dias de sua organização. Assim os negros podem tornar-se membros da igreja, mas não podem receber o sacerdócio nos dias de hoje. 

"Os profetas do Senhor fizeram vários discursos sobre esse princípio. O presidente Brigham Young disse:

" 'Por que há tantos habitantes na terra amaldiçoados com uma pele negra? É a consequência por seus pais rejeitarem o poder do sacerdócio sagrado, e da lei de Deus. Eles morrerão. E quando todas as crianças [brancas] receberem suas bênçãos no sagrado sacerdócio, então esta maldição será removida da semente de Caim, então eles [os negros] virão a possuir o sacerdócio e receber todas as bênçãos que agora nós recebemos'."


POLÍTICA RACIAL – 1951-1977


Em 1954, o presidente da igreja, David O. McKay ensinou: 
Não há agora, e nunca houve uma doutrina nesta igreja de que os negros estão sob uma maldição divina. Não há doutrina na igreja de qualquer tipo que se refira ao negro.
"Nós acreditamos que temos um precedente nas escrituras para impedir o sacerdócio ao negro. É uma prática, não uma doutrina, e a prática, algum dia irá mudar. E isso é tudo.”[67]


APÓSTOLO HAROLD B. LEE VETA MUDANÇA NA POLÍTICA RACIAL


Em 1969, o apóstolo Harold B. Lee impediu que a igreja rescindisse a política de restrição racial.


Isto aconteceu quando os líderes da igreja votaram a favor da rescisão desta política em um encontro em 1969. Porém, Lee estava ausente na reunião devido a viagem. 


Quando retornou, ele convocou  uma nova votação, argumentando que a política não poderia ser mudada sem uma revelação. [70]



A IGREJA SUD E O MOVIMENTO DOS DIREITOS CIVIS

A NAACP (National Association for the Advancement of Colored People) tentou receber apoio da igreja SUD em relação à legislação dos direitos civis e reverter sua prática discriminatória durante a década de 1960. 

Em 1963, a liderança da NAACP tentou organizar encontros com a liderança da igreja, mas esta recusou-se a encontrá-los. [43]. 

Em 1965, finalmente a liderança SUD encontrou-se com a NAACP e concordou em publicar um editorial no jornal que pertence à igreja, The Deseret News, que poderia apoiar a legislação dos direitos civis. 
 
Porém, a igreja falhou em manter seu compromisso e o apóstolo SUD explicou: 


“Nós decidimos permanecer em silêncio”[43]. 

Em março de 1965, a NAACP liderou uma marcha anti discriminação em Salt Lake, protestando contra a política da igreja [43]. 

Um ano depois, a NAACP fez uma declaração criticando a igreja, dizendo que ela 

“tem mantido uma posição rígida e contínua de segregação” e que “a igreja não fez nenhum esforço para conter as práticas discriminatórias na educação, moradia, emprego e outras áreas da vida.”[73]

BOICOTES ESPORTIVOS EM UTAH

Atletas afro-americanos protestaram contra a política SUD boicotando vários eventos esportivos na Universidade Brigham Young. 

Em 1968, após o assassinato de Martin Luther King, membros negros da UTEP abordaram seu técnico e expressaram seu desejo de não competir contra a BYU. Quando o técnico não concordou com a reclamação dos atletas, os próprios atletas boicotaram o evento. [76]

Em 1969, 14 membros do time de futebol da Universidade de Wyoming foram retirados do time por planejarem um protesto contra a política da igreja SUD. [76] 

Em novembro de 1969, o presidente da Universidade Stanford, Kenneth Pitzer, suspendeu as relações de atletismo com a BYU. [77]


RETALIAÇÃO CONTRA MÓRMONS ATIVISTAS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO

Certamente existiram alguns membros da igreja mórmon que eram contra  as práticas discriminatórias da igreja, inclusive protestaram contra ela.
Dois SUDs, Douglas A. Wallace e Byron Merchant, foram excomungados pela igreja (1976 e 1977 respectivamente) após criticarem as práticas discriminatórias [81-84].

O membro mórmon Grant Syphers também foi contra a política racial da igreja e, como consequência, seu presidente de estaca recusou-se a dar à Sypher a recomendação para entrar no Templo. O presidente disse: 
”Qualquer um que não puder aceitar as proclamações da igreja em relação aos negros... não pode entrar no templo.”[85]


Notas:

1 - Gordon B. Hinckley, "The Need for Greater Kindness", 2006-04-01.
5 – Larry G. Murphy, J. Gordon Melton, and Gary L. Ward (1993). Encyclopedia of African American Religions (New York: Garland Publishing) pp. 471–472.
6 – Newell G. Bringhurst (1981). Saints, Slaves, and Blacks: The Changing Place of Black People within Mormonism (Westport, Conn.: Greenwood Press).
7 – Connell O’Donovan, "The Mormon Priesthood Ban & Elder Q. Walker Lewis: 'An example for his more whiter brethren to follow', John Whitmer Historical Association Journal, 2006.
8 – "Its nothing to do with the blood for [from] one blood has God made all flesh, we have to repent [to] regain what we av lost — we av one of the best Elders an African in Lowell [referring to Walker Lewis ].": Brigham Young Papers, March 26, 1847, LDS Church Archives, Salt Lake City, Utah.
9 – General Minutes, April 25, 1847, LDS Church Archives, Salt Lake City, Utah.
15 – Bigler, David L. (1998). Forgotten Kingdom: The Mormon Theocracy in the American West, 1847-1896. Arthur H. Clark Company. ISBN 087062282X.  124-126
18 – Negro Slaves in Utah by Jack Beller, Utah Historical Quarterly, vol. 2, no. 4, 1929, pp.
43 – Glen W. Davidson, "Mormon Missionaries and the Race Question," The Christian Century, 29 Sept. 1965, pp. 1183-86.
44 – Utah Chronicle, May 28, 1965
45 – "Race Problems As They Affect The Church", presentation by Mark E. Petersen to the Convention of Teachers of Religion", 27 August 1954, p. 16
55 – Kimball, Edward L.. The Teachings of Spencer W. Kimball. Bookcraft. p. 448-9.
58 – Newell G. Bringhurst, "The 'Missouri Thesis' Revisisted: Early Mormonism, Slavery, and the Status of Black People" in Newell G. Bringhurst and Darron T. Smith (eds.) (2006). Black and Mormon (Urbana: University of Illinois Press) pp. 13–33 at p. 30.
59 – Ostling, Richard and Joan (1999). Mormon America. p. 101-102.
67 – Sterling M. McMurrin affidavit, March 6, 1979. See David O. McKay and the Rise of Modern Mormonism by Greg Prince and William Robert Wright. Quoted by Genesis Group
70 – Quinn, Michael D. The Mormon Hierarchy: Extensions of Power Salt Lake City: 1994 Signature Books Page 14
73 – The Deseret News, May 3, 1966
76 – Fried, Gil; Michael Hiller (1997). "ADR in youth and intercollegiate athletics". Brigham Young University Law Review. http://findarticles.com/p/articles/mi_qa3736/is_199701/ai_n8735454/pg_1 , p. 1, p. 10
81 – Salt Lake Tribune, April 13, 1976
82 – Salt Lake Tribune, October 4, 1976
83 – Salt Lake Tribune, April 3, 1978
84 – Dallas Morning News, October 20, 1977
85 – Dialogue: A Journal of Mormon Thought, Winter 1967, p. 6

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