As Curas de Dr. Fritz
Por Cledson Ramos
É bastante incrível, e muito mais lamentável ainda, que haja pessoas teimando em acreditar nas "curas" do Dr. Fritz, ou melhor dos "Doutores Fritz", já que o fantasminha camarada até hoje não se decidiu qual o seu médium favorito. Ora, a entidade "se incorpora" em fulano de tal, ora em beltrano, e por aí vai. O mais incrível é a eficiência: considerando que os três prediletos do Dr. Fritz no Brasil moram há quilômetros de distância entre si, e atendem diariamente ao público, é de se ficar imaginando como o bom fantasma faz para driblar estes obstáculos. Nem mesmo o famoso "jeitinho brasileiro" chegaria a tanto.
Igualmente intrigante é que, apesar de tanta popularidade, ninguém saiba nada a respeito da vida do famoso médico alemão: onde nasceu, em que cidades morou, quem foram seus parentes, em que universidade se formou... Tudo o que se sabe é isso: um alemão de nome Fritz, algo tão incomum como um brasileiro de nome Francisco ou José. Nem mesmo "Mister M" possui um passado tão bem escondido. Até a vida do Salman Rushdie (autor de "Versos Satânicos" , e que vive escondido temendo a fúria muçulmana) se apresenta mais clara que a do nosso Dr. Fritz.
O pior é que, ultimamente, quando aparece alguma notícia ligada a tão singular figura é justamente nas páginas policiais. Observe-se, p. ex., esta reportagem extraída do "Jornal da Tarde" em 27 de maio de 2000:
Justiça decreta prisão do `Dr. Fritz'
O juiz presidente do 1º Tribunal do Júri, José Ruy Borges, recebeu ontem denúncia do promotor Fernando Pastorelo Kfouri contra o médium Rubens de Faria Júnior, que diz incorporar o espírito do "Dr. Fritz", e decretou sua prisão preventiva.
O promotor acusa Faria, que está foragido e envolvido em outros inquéritos, de ter antecipado a morte de Vanessa de Biafi, que sofria de leucemia. A vítima foi convencida pelo médium a abandonar tratamento médico no Hospital das Clínicas, com a promessa de "cura miraculosa" em suas sessões.
Ao preço de R$ 20 cada uma, as sessões aconteceram em um galpão na Rua dos Patriotas, no Ipiranga, de 25 de julho de 1997 até 14 de agosto do ano seguinte. No último atendimento, Vanessa sentiu-se mal e foi internada no Hospital Leão XIII, onde faleceu três dias depois.
O juiz marcou o interrogatório do médium, caso ele venha a ser preso até lá, para o próximo dia 30 de junho.
Se já é revoltante saber o quanto os médiuns espíritas prejudicam suas vítimas com os crimes de charlatanismo, exercício ilegal da medicina e lesão corporal, muito pior é constatar casos como este, ou seja, em que paira uma acusação de homicídio. Até que ponto estes indivíduos vão continuar fugindo, ou usando de todo tipo de manobra judicial, é também de deixar qualquer um indignado.
Caso fôssemos acrescentar aqui também sobre o prejuízo para as almas, em seguir os preceitos espíritas, pior ainda o resultado.
No entanto, vamos nos limitar a uma simples pergunta: Por que a pobre Vanessa morreu ? A reportagem mostra: porque que sofria de leucemia e parou o tratamento tradicional, para ficar apenas recebendo os passes espíritas.
Terrível. Boa parte dos médiuns espíritas não manda que o paciente pare o tratamento. Pelo contrário, sugerem aqueles que o fiel continue seguindo as recomendações médicas, mas que também receba alguns "passes" ou mesmo se submeta a uma "cirurgia espiritual". Os motivos aqui são óbvios: ainda que seja a medicina quem cure, sabe-se muito bem quem é que recebe as glórias da vitória. Além disso, o médium se arrisca menos.
Mas há um outro aspecto que queremos destacar: a leucemia é uma doença essencialmente somática, corporal, que atinge a produção de leucócitos (glóbulos brancos).
Não se trata, portanto, de uma doença psíquica, como uma neurose qualquer; ou mesmo de alguma doença psico-somática, como certos tipos de úlcera.
Ora, quando o médium trata os seus pacientes, o máximo que ele pode fazer é curar ou aliviar a dor de algumas doenças destes dois últimos grupos (psíquica e psico-somática). Tal se dá, não porque "baixe" algum espírito, mas simplesmente por meio de um processo sugestivo que, obviamente, não teve efeito sobre a medula e os leucócitos de Vanessa.
A psicologia e a parapsicologia são ricas em casos como este, em que o poder sugestivo do paciente, seja oriundo dele mesmo ou de algum fator externo, pode curar ou aliviar o seu sofrimento. É por isso que muitas vezes se fala em tratamento médico por hipnose, embora haja várias questões éticas envolvendo o tema. Nos piores tempos de crise da ex-URSS, houve médicos que, por falta de anestesia, chegaram a hipnotizar pacientes até para fazer cirurgias.
No entanto, a eficácia de tais métodos por sugestão, como se pode notar, é restrito a certos casos e, mesmo assim, nem sempre apresenta a segurança e o resultado esperados.
Mas vejamos, por exemplo, o caso de pessoas com problemas na coluna, tão comuns nos centros espíritas. Via de regra, o máximo que o médium consegue aí é tirar a dor do paciente. Se este possuir uma hérnia de disco ou mesmo outra deformidade mais grave, continuará com ela, embora não sinta mais dor. Tal situação é extremamente grave, pois, mais cedo ou mais tarde, o organismo pode reagir e talvez seja tarde demais, precisando o paciente se submeter a uma cirurgia (médica, e não espírita) de última hora.
É por isso que não se vê, em contrapartida, um médium espírita que trate sequer de uma simples cárie dentária. De fato, ele pode até tirar a dor de dente, mas a mancha preta continuará ali, denunciando que o serviço não fora completo.
Mas, além de tudo, porque os médiuns espíritas quando adoecem não procuram um de seus colegas para receber os "passes" ?
Portanto, quando aparecer um padre, pastor, médium ou quem quer que seja, propagando os seus poderes de cura, sempre muito cuidado. Não precisamos de mais vítimas.
Ah, e caso alguém encontre o Dr. Fritz por aí, peça-lhe que nos envie a biografia dele.
Mas se o encontro for apenas com o médium Rubens de Faria, pode entregá-lo à Justiça mesmo.
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sexta-feira, 10 de outubro de 2008
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Leitor da Bíblia e apaixonado por suas incontáveis lições de vida, também um conselheiro e amigo.
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