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quinta-feira, 1 de maio de 2008

A PÉROLA DOS SALMOS

Por: Humberto Xavier Rodrigues 27/04/2008

Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida: e habitarei na casa do Senhor por longos dias. Salmo 23:6.
O Salmo 23 é considerado pelos estudiosos da Bíblia como a pérola dos Salmos, pela sua simplicidade, beleza e doçura. Encontramos aqui um relacionamento íntimo e intenso do Pastor com a ovelha. O Pastor é o nosso Senhor Jesus e as suas ovelhas são todos aqueles que foram redimidos pelo Seu sangue. Esta pérola está fundamentada em três grandes verdades: a provisão, o andar e a comunhão.
A provisão está relacionada ao que o Senhor é, e o que Ele fez por nós. Numa palavra: a provisão nada mais é do que a Sua suficiência. Vemos isto nos versículos 1,2,3: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. O salmista começa com uma grande afirmação: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará. Ele não faz nenhuma alusão à necessidade, mas tomou a posição de um filho que, nada tendo, mas possui tudo. Pobre, mas rico e abundante Nele. Esta é a história de cada um de nós: nossa pobreza O fez pobre para que, Nele, fôssemos ricos.
Ele se fez faminto e sedento por nós, para nos levar a um lugar de refrigério. Estávamos cansados, fatigados, mas Ele nos deu repouso. No evangelho de João capítulo 7:37, encontra-se um relato em conexão com a festa do tabernáculo: No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. João disse, “levantou e exclamou”. Qual é a força que está por trás desta atitude de Jesus ao se levantar e exclamar? Alguns estudiosos vêem aqui um momento único, algo parecido com um intercessor que se coloca no lugar de alguém e se desespera pelo desesperado e sedento. E, ao mesmo tempo, Jesus se revela como a Fonte única e abundante para dessedentar o sedento, venha a mim e beba.
Venha a mim e beba, esta é a vida transbordante. Em um dos nossos hinos, encontramos uma frase que diz: Tu, oh Cristo, és tudo que eu quero. Mais do que tudo, em ti, eu encontro. Esta é a linguagem daquele que ouviu e recebeu o chamado do nosso Senhor, venha a mim e beba.O apóstolo Paulo fala de uma riqueza em glória. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades. Filipenses 4:19. Esta palavra “riqueza” sugere um suprimento infinito e inesgotável, pois as riquezas de Deus, ao contrário das riquezas do mundo, não têm absolutamente limite. A palavra grega riqueza, Ploutos, é semelhante a Pleion, que significa muito, muito mais, tendo a mesma raiz que expressa a idéia de pleno, cheio e abundante. Mas este conceito não basta; é preciso acrescentar outra palavra em grego, Perisseuo, que significa exceder, ser supérfluo. As riquezas em Cristo são tão abundantes em nossa direção que chegam a exceder qualquer tipo de demanda, mesmo levando em conta nossa desmedida falta de merecimento. Nas palavras de Guthrie: A miséria do homem e não o seu mérito é o ímã que atrai dos céus o Salvador.
Depois da provisão, começamos a andar no caminho traçado pelo Pastor. Ele conhece o ponto de partida, o caminho dos vales, dos montes e montanhas. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam. O nosso Senhor conhece os perigos, as dificuldades que poderiam ocorrer com as ovelhas. Nesta jornada, o Pastor não se ausentará e jamais abandonará o Seu rebanho.
Andar com o Senhor é aceitar o seu jugo, que não é pesado, pois Ele disse: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11:28-30. Neste texto, o Senhor nos chama para Si, vinde a mim, e nos fala da nossa união com Ele; em seguida, Ele nos pede para tomarmos o seu jugo, mostrando-nos o princípio diário do nosso morrer, e, finalmente, Ele diz: aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração. Aqui é-nos revelado o propósito pelo qual fomos chamados: para sermos parecidos com Ele. Se dissermos que estamos andando com o Senhor e não trouxermos estas duas marcas de Cristo, não é com Ele que estamos andando.
Unidos em Cristo, a cruz realizará a obra de desconstrução de tudo aquilo que não agrada ao Senhor e abrirá o caminho para um relacionamento íntimo com o nosso Senhor. A caminhada é longa, e aqueles que nasceram de novo precisam saber que essa intimidade não é instantânea, mas sim um processo. Muitos tentam acelerar essa caminhada criando métodos, mas infelizmente esses métodos vão causar sérios problemas, porque o relacionamento íntimo com o Senhor é uma conquista diária.
Nosso Pastor já passou pelo vale da morte. E, Nele, podemos dizer: não temerei mal nenhum. Isso é verdadeiro em todos os aspectos. Da vitoriosa experiência de Sansão, sai o seu enigma: Do comedor saiu comida, e do forte saiu doçura. Juízes 14:14. Aqui Sansão se refere ao leão que ele matou e, dias depois, encontrou com um enxame de abelhas com mel. Que lição poderia tirar deste episódio? O leão, neste contexto, tipifica um problema ameaçador, pois nenhum de nós está vacinado contra dificuldades. Então, como tirar comida e doçura do comedor? Olhando todas as coisas do ponto de vista de Deus. Caso contrário, seremos comidos pelo leão. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar. 1Pedro 5:8.
Aqui está o segredo da vida cristã: em vez de sermos devorados pelos problemas, nós que os devoramos, e é nisto que nos tornamos dóceis pela doçura de Cristo. E passamos a ser como um favo para uma humanidade mergulhada na amargura. Esse é o verdadeiro significado do crescimento. Tomou o favo nas mãos e se foi andando e comendo dele; e chegando a seu pai e a sua mãe, deu-lhes do mel, e comeram; porém não lhes deu a saber que do corpo do leão é que o tomara. Juízes 14:9.
Quando passamos pelo vale da sombra da morte, que são aqueles momentos sombrios e humilhantes, aprendemos o sentido da comunhão. No sofrimento, ao invés de nos referirmos a Deus como “ele”, passamos a chamá-Lo de “tu”. Assim, quando nos encontramos no vale da sombra da morte, dizemos: porque tu estás comigo. Estamos face a face com o nosso Deus. O caminho foi preparado para desfrutarmos da Sua mesa, preparado por Ele mesmo. Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
A nossa caminhada prossegue. Agora, nos encontramos na terceira e grande verdade: a comunhão. Se lermos cuidadosamente a Bíblia, vamos descobrir que, antes de qualquer realização ou trabalho, Deus nos chamou para vivermos diante Dele. Antes do ide, temos o vinde. Antes do fazer, temos o crer. O desejo expresso de Deus nas escrituras, antes de qualquer realização externa, é nos conduzir a uma vida mais profunda simbolizada pela “mesa”. Por que preferimos o ide ao invés do vinde, o desempenho ao invés do descanso, o trabalho quando Ele nos pede para esperar?
Adão, depois da queda, tentou se cobrir com folhas de figueira. Caim ofereceu a Deus uma oferta, fruto do seu trabalho. Os homens perguntavam a Jesus: Que faremos para realizar as obras de Deus? Tudo indica que, por trás das realizações há uma necessidade de aceitação. O homem tenta ser aceito por Deus pelos seus méritos. Então, mãos a obra!
Depois da queda, o homem perdeu a visão do verdadeiro motivo pelo qual foi chamado. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 1 Coríntios 1:9. Isto não significa que o homem não tenha que realizar algumas tarefas. Sim, o homem tem algo para realizar, mas em cooperação e a partir de Deus. Ao criar o homem, o Senhor o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. Na redenção Deus trabalha no homem para que este possa trabalhar para Ele.
Deus, em Cristo, está nos atraindo dia após dia para a “mesa” que Ele mesmo preparou para nós. Ele quer que tenhamos um relacionamento íntimo. Ele está nos conquistando diariamente para nos levar à Sua mesa, onde desfrutaremos das delícias por toda a eternidade. Esse é o objetivo final do Pastor.Tudo o que Ele planejou e espera e tem em vista é nos conduzir à Sua presença. Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente. Salmos 16:11.
O Espírito Santo, através do apóstolo Paulo, usa uma palavra grega para falar dessa superabundante graça de Deus: Enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós. A palavra Huperballo significando aquilo que passa de um certo limite, como uma flecha que ultrapassa o alvo, ou uma vasilha que ferve e derrama o seu conteúdo, transmitindo a idéia daquilo que é excessivo, exagerado, proeminente.
A provisão nos fala da riqueza de Sua graça que Ele mesmo derramou sobre nós. O nosso Deus é pródigo em graça. Vários termos são usados para expressar a riqueza que está disponível para os seus. A multiforme graça, a suprema riqueza da sua graça, insondáveis riquezas, graça sobre graça, plenitude, graça transbordante. A graça nos é apresentada como uma benesse pura, generosa e transbordante, estendendo o seu favor para os que não merecem: Cálice transbordante.
O nosso Pastor nos conduz pelo vale da sombra da morte. Através dessas experiências, começamos pouco a pouco a entender o coração de Deus e a compreender que, para que Cristo seja formado em nós, é necessário passarmos por dores de parto. E, em Sua companhia, desfrutaremos do Seu amor. Compremos, então, colírio para os nossos olhos para que possamos vê-Lo! E, ao vê-Lo, seremos reduzidos a zero. Porque tu és pó e ao pó tornarás.

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