Traduzido por Juliana Pellicer Ruza –
Artigo original aqui.
Nota do Editor: No
sábado, 24 de março, lideranças ateístas planejam uma “Marcha da Razão” no
National Mall, em Washington, D.C. Eles erguerão a razão como sua bandeira,
declarando que esta levará pessoas pensantes para longe da crença em Deus.
Em uma ação preventiva, a
Patheos Press publicou um e-book com capítulos escritos por William Lane Craig,
Sean McDowell, e 11 outros estudiosos cristãos. O texto a seguir é um trecho de
True Reason:
Christian Responses to the Challenge of Atheism (Verdadeira
Razão: Respostas Cristãs ao Desafio do Ateísmo, em tradução livre).
Uma
das grandes ironias do movimento ateísta contemporâneo vem do bastante
conhecido uso da retórica, branding
e gatilhos emocionais para defender a razão.
As lideranças ateístas proclamam sua devoção à razão em todas as suas
comunicações públicas, normalmente destacando a palavra em negrito nos títulos
de seus livros, websites,
sociedades e eventos. Por exemplo: Sam Harris, co-fundador e presidente da
Project Reason, disse: “Os únicos anjos que precisamos invocar são aqueles de
nossa virtude: razão, honestidade e amor.” Christopher Hitchens nos disse, em God Is Not Great (Deus
não é Grande, em tradução livre): “Podemos discordar em muitos pontos, mas o
que respeitamos é a livre investigação, a mente aberta e a busca de ideias para
seu próprio bem.” No documentário da BBC (Canal 4) The Enemies of Reason (Os inimigos da
Razão, em tradução livre), Richard Dawkins, fundador da The Richard Dawkins
Foundation for Reason and Science, declara, “A razão construiu o mundo
moderno.” Dawkins, Daniel Dennett, e Michael Shermer foram a extremos para
argumentar que os ateístas deveriam realmente ser chamados de “brilhantes”, à
luz de sua insistência em uma abordagem racional de todo o conhecimento. Ao
longo de seus livros, palestras e websites,
os neoateístas repetidamente promovem sua lealdade à glória da razão.
Isto
não é um acontecimento recente: os “novos” ateístas dificilmente são os
primeiros ateístas a reclamar a marca da razão para si. Na peça de Aristófanes,
Os Cavaleiros, escrita em 424 a.C., Demóstenes pergunta a Nícias: “Então você
acredita que os deuses existem?… Que prova você tem?” Há uma tradição já
estabelecida que conecta o ceticismo da religião com o amor pela razão. Mas
algumas destas ligações são mais duvidosas que outras. Por exemplo, durante a
Revolução Francesa, um “Culto da Razão” saquearam igrejas por sua prata e ouro
e “converteram” estas igrejas em Templos da Razão. No “Festival da Razão”
endossado pelo governo, que acompanhou este movimento, uma jovem foi
apresentada como “Deusa da Razão”.
Em
outros tempos, a ligação foi apresentada de forma exagerada, sem referência a
pesquisas históricas ou sociológicas sérias. Para dar apenas dois exemplos,
Nietzsche escreveu que “todos os
fundadores de religiões e seus semelhantes… estão sedentos por coisas que são contrárias à razão e
não colocam muitos obstáculos no caminho para satisfazê-las.” (ênfase do autor). Mais
recentemente, H. L. Mencken disse, “A religião é fundamentalmente oposta a tudo
o que eu venero — coragem, pensamento esclarecido, honestidade, justiça
e, acima de tudo, amor à verdade.”
Como os ateístas honram a Deus sem se dar conta
disso?
Para
os neoateístas, assim como para alguns dos antigos, a paixão pela razão
aparentemente motiva aversão visceral pela religião. Como Harris disse, “A fé
religiosa é a espécie de ignorância humana que não admitirá nem mesmo a possibilidade de
correção.” Dawkins chegou, ainda ao ponto de dizer que molestar crianças “pode
ser menos danoso, em longo prazo” do que dar a elas uma educação religiosa.
Apesar
de tais ataques, como cristãos, ficamos encantados por aqueles que se
consideram nossos oponentes serem tão admiradores tão apaixonados da razão.
Afinal de contas, é conhecido que Jesus proclamou que o mais importante
mandamento incluía amar a Deus “com todo seu entendimento” (Mc. 12:30). Então
ironicamente, cremos que os ateístas honram a Deus, sem saber, quando
argumentam bem.
Os
contrastes são claros: os ateístas declaram que a religião é a principal
barreira à razão. Os cristãos creem em nossa capacidade da razão vem de termos
sido criados à imagem do deus onisciente, e o uso ativo da razão é uma forma
importante de honrá-lo. Os ateus se promovem como uma comunidade unida pela
razão. Os cristãos se maravilham em como este grupo se reúne, mesmo quando seu
líder mais proeminente, Richard Dawkins, defende que a evolução favorece o gene do egoísmo, não o grupo
racional. Os ateístas trabalham duro para erradicar a religião pelo bem de um
futuro melhor. Os cristãos se surpreendem pelo fato de os ateístas tão
alegremente ignoram o fato científico de que, se a religião é uma falsa
consolação, o futuro sempre termina na morte.
O Ateísmo Impede a Reflexão
O
líder ateísta Sam Harris diz que “a fé impede o diálogo.” Os cristãos respondem
que Harris também disse que nenhum
de nós é “o autor de seus pensamentos e ações, da forma como a
maioria das pessoas supõe.” A cosmovisão reducionista, determinista e
materialista de muitos ateus parece, a cristãos racionais, excluir a existência
de coisas transcendentes, imateriais, como as proposições, as regras de lógica
e, acima de tudo, a própria existência da mente.
Estes
não são espantalhos, mas sim uma descrição de quantos ateus também veem os
limites. Considere o famoso discurso de Madalyn Murray O’Hair’s sobre o ateísmo,
proferido em 1962:
Devemos
olhar para a filosofia materialista que sozinha permite aos homens entender a
realidade e sobre como lidar com isso… O ateísmo se baseia na filosofia
materialista, que defende que não existe nada além dos fenômenos naturais. Não
há forças sobrenaturais ou entidades, nem pode haver nada disso. A natureza
simplesmente existe. Mas há aqueles que negam isso, que afirmam que apenas a
mente ou a ideia ou o espírito é primitivo. Esta questão da relação da mente
humana com o ser material é uma das questão com que todos os filósofos lidam,
ainda que satisfatoriamente. O ateu deve penetrar por toda a obscurescência,
até o fundamento, à ideia básica de que aqueles que consideram a natureza como
primitiva e o pensamento como uma propriedade (ou função) da matéria pertencem
ao campo do materialismo, e que aqueles que ainda afirmam que o espírito ou
ideia ou mente existiam antes da natureza, ou criaram a natureza ou sustentam a
natureza, pertencem ao campo do idealismo. Todas as religiões convencionais são
baseadas no idealismo.
Esta
é a questão: temos mentes, ou somos processadores neurológicos similares a
robôs? E qual visão de mundo pode lidar melhor com a existência e o uso da razão?
Em
resumo, [True Reason]
desafia diretamente os objetivos de comunidades ateístas organizadas. Nossa
esperança é o que eles temem: a revitalização da fé e do Cristianismo pensante.
Sua identidade como indivíduos racionais depende da verdade da nossa
cosmovisão. Seus ideais comuns de honestidade, liberdade, amor e justiça são
emprestados da Bíblia. A própria existência de cristãos racionais respondendo à
retórica ateísta enfraquece a falácia de sua descrição das pessoas religiosas.
Fonte: Napec.org
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