Comentário introdutório do tradutor
Este estudo tem por finalidade compartilhar o testemunho de um
renomado teólogo cristão que, a despeito de suas opiniões particulares
divulgadas nesse texto, dá testemunho de algo que experimentou quanto à
incompatibilidade - por ele alegada - existente entre cristianismo e
maçonaria. Não há interesse nele em comentar a respeito de ritos e
simbologia, fazendo-se observações de tradução ao final tão-somente como
complementação didática.
Há que se enfatizar, na presente divulgação, o total respeito aos
membros dessa ordem iniciática, embora não se expresse aqui concordância
alguma com sua postura filosófica e doutrinária, pelo que figura em
nossa seção "Apologética", cabendo ao leitor as verificações e
conclusões que se lhes fizerem necessárias acerca dos tópicos nele
abordados.
Charles G. Finney (1792-1875) foi pastor, considerado o pai do
Reavivamento moderno, sendo creditada às suas preleções a conversão de
mais de 500 mil almas ao Evangelho. Advogado, conheceu a vida cristã ao
estudar direito, vindo a Jesus em 1821 (ainda como Mestre-maçom) e
autorizado a pregar a Palavra de Deus em 1823, promovendo uma verdadeira
cruzada evangelística entre 1824-1832 pelo Oeste estadunidense. Serviu
ao Senhor por 40 anos, e foi autor de 17 livros.
Quando fui convertido a Cristo, eu pertencia à Loja Maçônica em Adams, Nova Iorque, havia cerca de quatro anos. Durante as lutas da convicção do pecado pelas quais passei, eu não me lembro se a questão sobre a Maçonaria já havia ocorrido em minha mente.
Novas Visões das Práticas da Loja
Logo depois da minha conversão, entretanto, fui certa noite a uma
sessão(1) em minha Loja. Eles, obviamente, estavam cientes de que eu me
havia tornado um cristão, e os Mestres me convidaram para abrir os
trabalhos da Loja com uma oração. Eu fiz isso, e derramei o meu coração
diante do Senhor, pedindo bênçãos sobre a Loja. Observei que isso criou
considerável alvoroço. A noite passou, e no fechamento dos trabalhos da
Loja me pediram para rezar novamente. Assim procedi, e me retirei muito
deprimido em espírito. Logo descobri que eu era completamente convertido
da Maçonaria para Cristo, e que eu não tinha mais simpatia com qualquer
das deliberações da Loja. Seus juramentos pareciam-me monstruosos,
profanos e bárbaros.
Naquela época eu não sabia o quanto tinha sido sujeito a muitas das
pretensões da Maçonaria. Após reflexão e análise, entretanto, sob uma
luta severa e fervorosa em oração, achei que não poderia permanecer com
eles de modo consistente. Minha nova vida estava instintiva e
irresistivelmente resguardada de qualquer simpatia com aquilo que eu já
considerava como as "improdutivas obras das trevas".
Afastando-me da Membresia com Tranquilidade
Sem consultar ninguém, eu finalmente fui à Loja e pedi meu
desligamento(2). Minha mentalidade havia sido formada. Retirar-me deles é
um dever - esperava, se possível, com seu consentimento; sem esse
consentimento, se eu precisasse. Sobre isso não me manifestei, mas de
alguma maneira tornou-se conhecido que eu havia me desligado.
Assim, eles planejaram um ágape e enviaram-me um convite, pedindo para
que eu fizesse um discurso nessa ocasião. Calmamente eu me recusei a
fazê-lo, informando à comissão que eu não poderia, de maneira tranquila e
em qualquer hipótese, fazer algo que pudesse mostrar a minha aprovação
àquela instituição, ou simpatia para com ela; no entanto, durante certo
período de tempo e nos anos seguintes eu permaneci em silêncio, e não
disse nada contra a Maçonaria, embora eu já tivesse opinião formada
sobre a questão que diz respeito aos meus juramentos maçônicos,
considerando-os como absolutamente nulos e sem efeito. A partir desse
momento, entretanto, nunca mais me permiti ser reconhecido como maçom,
por onde quer que eu andasse.
Iniciando um Testemunho Público
Passaram-se poucos anos antes da publicação das revelações sobre a
Maçonaria, pelo capitão William Morgan(3). Quando esse livro foi
publicado, eu lhe perguntei se ele era uma autêntica revelação sobre a
Maçonaria. Argumentei que ele ia muito além do que eu sabia sobre a
Maçonaria e que, até onde eu podia lembrar, consistia numa fiel
revelação dos três primeiros graus, tal qual eu mesmo os havia obtido.
Eu reconheci com sinceridade que o que havia sido publicado fora uma
autêntico relato sobre a instituição, bem como uma autêntica exposição
de seus juramentos, princípios e procedimentos. Após eu ter considerado
essa revelação mais profundamente, eu fui convencido de modo mais
perfeito de que eu não tinha o direito de aderir àquela instituição, nem
ao menos na aparência, e que eu estava vinculado, sempre que viesse a
ocasião, a manifestar livremente minha opinião em relação a ela, e de
renunciar aos terríveis juramentos que eu havia feito.
Juramentos Maçônicos Tomados Através da Fraude
Descobri que, ao efetuar esses juramentos, eu havia sido enganado de
modo grosseiro, uma vez sendo por eles sujeito. Eu tinha sido levado a
supor que havia alguns segredos muito importantes a me serem
comunicados; nisso, todavia, encontrei-me totalmente decepcionado. Na
verdade cheguei deliberadamente à conclusão de que meu juramento tinha
sido tomado pela fraude e pelo engano; que a instituição não era aquilo
de que eu fui informado a seu respeito e, como já tinha os meios de
examiná-la mais exaustivamente, tornou-se-me cada vez mais evidente, de
modo irresistível, que a Maçonaria é altamente perigosa para o Estado, e
de todas as formas prejudicial para a Igreja de Cristo.
Características de um Anticristão
Ao julgar por evidências inquestionáveis, como podemos deixar de
considerar a Maçonaria como uma instituição anticristã? Podemos ver que a
sua moralidade é anticristã; seus segredos vinculados a juramentos são
anticristãos; sua ministração e tomada de juramentos são anticristãos,
além de uma violação do comando positivo de Cristo; os juramentos
maçônicos fazem com que seus membros se comprometam com algumas das
atitudes mais ilegais e anticristãs possíveis:
- Ocultar os crimes, uns dos outros;
- Oferecerem-se mutuamente para auxílio nas dificuldades, sejam elas corretas ou incorretas;
- Favorecer indevidamente a Maçonaria em ações políticas e nas questões comerciais;
- Seus membros juram retaliar e perseguir os violadores dos deveres maçônicos, até a morte;
- A Maçonaria não conhece misericórdia, e faz seus candidatos jurarem que suportarão vingança a violação dos deveres maçônicos, até a morte;
- Seus juramentos são profanos, tomando o nome de Deus em vão;
- As sanções dos seus juramentos são bárbaras, até mesmo selvagens;
- Seus ensinamentos são falsos e profanos;
- Seus propósitos são parciais e egoístas;
- Suas cerimônias são uma mistura de infantilidade e irreverência;
- Sua religião é falsa;
- Eles professam a salvar os homens, sob outras condições diferentes daquelas reveladas no Evangelho de Cristo;
- Ela é, em seu todo, uma enorme mentira;
- É uma vigarice a obtenção de dinheiro de seus membros sob falsos pretextos;
- Ela se recusa a todas as indagações, protegendo-se sob a capa do segredo vinculado a um juramento;
- Trata-se de uma virtual conspiração contra ambos Igreja e Estado.
Algumas Conclusões Diretas
Ninguém, todavia, jamais se comprometeu a defender a Maçonaria dos
argumentos ora expostos. Os próprios maçons não fingem que a sua
instituição, tal como revelado em livros confiáveis, e por algumas das
suas próprias testemunhas, seja compatível com o Cristianismo. Por isso,
segue-se que:
Em primeiro lugar, a Igreja Cristã não deveria ter comunhão com a
Maçonaria, e aqueles que aderem de modo consciente e determinado a essa
instituição não têm o direito de estar na Igreja Cristã. Nós
pronunciamos esta sentença de modo triste, mas solene.
Em segundo lugar, deve-se perguntar: "que deve ser feito com o grande
número de cristãos professos que são maçons"? Eu respondo: não há mais
nada a fazer com eles. Que fique claramente atado a suas consciências de
que todos os maçons, acima dos dois primeiros graus(4), têm de jurar
solenemente ocultar os crimes, homicídios e traição uns dos outros,
exceto estes últimos de si próprio, e que todos acima do sexto grau têm
conjurado abraçar a causa um do outro, e de livrá-los de qualquer
dificuldade, esteja ela correta ou incorreta.
Em terceiro lugar, se forem relevados aqueles graus em que se deva jurar
a perseguir até à morte aqueles que violarem seus deveres maçônicos,
questionemo-nos se eles realmente têm a intenção de agir assim.
Deixem-nos ser questionados de modo especial se tencionam ajudar e
amparar a ministração e a tomada de tais juramentos, se ainda pretendem
suportar os ensinamentos falsos e hipócritas da Maçonaria, ou se eles
pretendem suportar a profanação das suas cerimônias, bem como a
parcialidade das suas práticas juramentadas. Se assim o for, certamente
não deveria ser permitido o seu lugar na Igreja Cristã.
Em quarto lugar, pode um homem que alcançou, e ainda aderiu ao juramento
do grau de Mestre Maçom(5), ocultar qualquer crime que o irmão de Grau
cometeu em segredo, exceto homicídio e traição, ser um homem justo a
quem se confie um cargo público, qualquer que ele seja? Ele pode ser
confiável como uma testemunha, como um jurado, ou com qualquer serviço
relacionado à administração da justiça?
Em quinto lugar, pode um homem que alcançou, e ainda aderiu ao juramento
do Real Arco Maçônico(6), ser confiável para ocupar cargos públicos?
Ele jura abraçar a causa de um companheiro desse Grau, quando este se
envolve em qualquer situação de dificuldade, e tão logo de livrá-lo,
esteja ele certo ou errado. Ele jura ocultar seus crimes, INCLUSIVE OS
DE HOMICÍDIO E TRAIÇÃO. Tal homem, amarrado por esse juramento, pode ser
empossado num cargo? Ele deveria ser aceito como testemunha ou jurado
quando outro maçom é parte, no caso? Ele deveria ser empossado no cargo
de juiz, ou juiz de paz, como um delegado, ou policial, oficial de
justiça ou em qualquer outro cargo?
Qual é a tua resposta?
Eu apelo à tua consciência, aos olhos de Deus, para uma resposta honesta a estas três perguntas:
- Existe algum homem que, sob um juramento solene de matar a todos os que violem qualquer parte dos juramentos maçônicos, se encaixe no perfil de autoridade sobre pessoas?
- Maçons dessa estirpe deveriam fazer parte da irmandade na Igreja Cristã?
- Você acredita que os pecados dos juramentos maçônicos serão perdoados apenas para aqueles que se arrependem, e não o fazem quanto àqueles pecados aos quais nós ainda aderimos, e cuja adesão nos torna também cúmplices dos pecados de outros homens?
"o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado";
"E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro" (I João 1:7b; 3:3).
Reimpressão das "Memórias" do pres. Finney,
originalmente publicadas pelo Colégio Oberlin. Transcrito de um tratado
publicado pela Associação Nacional Cristã - editores que, desde 1868,
publicam literatura que expõe as sociedades secretas.
NOTAS
(1) Sessão é o nome dado aos trabalhos da Loja Maçônica. Segundo o sítio
da Augusta e Respeitável Loja Simbólica "Fraternidade Paulista" (http://www.fraternidadepaulista.com.br/),
"SEÇÃO (sic) é a realização de reuniões maçônicas, também denominadas
de trabalhos. Podem ser: ordinárias, extraordinárias, administrativas,
iniciarias, magnas, de instalação, de instrução, de famílias,
acadêmicas, fúnebres, brancas, etc." No caso, Finney se refere à "sessão
de trabalho", ocasião em que a "Loja está coberta" (isto é, todos os
presentes são reconhecidos como maçons) e em cuja reunião só se admitem
iniciados na ordem maçônica (N. do T.).
(2) Esse pedido de desligamento definitivo depende de uma permissão dada
ao maçom, após o cumprimento de seus deveres junto à Loja e à Ordem
Maçônica, recebendo o nome de "quitte placet" (N. do T.).
(3) William Morgan, segundo o sítio "Masonic Info" (http://www.masonicinfo.com/morgan.htm),
publicou, associado a um editor de jornal, um livro em retaliação por
não ter sido admitido na constituição do Real Arco em LeRoy (Nova
Iorque), em 1825, no qual revelava, maliciosamente, segredos maçônicos.
Em resposta, o editor sofreu um atentado (incêndio), do qual escapou
vivo, e Morgan foi preso diversas vezes por várias acusações criminosas
(umas reais, outras aparentemente forjadas), possivelmente instigadas
por maçons da comunidade. Há quem diga que ele foi assassinado por
maçons, após ter sua fiança paga: desde esse dia, ele não mais foi
encontrado (N. do T.).
(4) Isto é, os de Aprendiz-Maçom e o de Companheiro-Maçom, dentro do
Rito Escocês Antigo e Aceito. Junto com o Grau de Mestre-Maçom, eles
compõem a denominada "Loja Azul" ou os "Graus Simbólicos" (N. do T.).
(5) Mestre Maçom é o terceiro grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, o
mais adotado dos ritos maçônicos no Brasil. A ele pertencia Finney,
quando houve seu desligamento da filiação maçônica (N. do T.).
(6) Real Arco é a denominação dada ao conjunto de quatro graus do Rito de York, que, segundo o sítio www.realarco.org.br,
traz aos maçons de todos os ritos "uma nova compreensão do simbolismo",
destinados a enfatizar certas lições de aprendizado da Maçonaria, como a
harmonia e a reverência. Também é nome dado ao 13º Grau do Rito Escocês
Antigo e Aceito, cujo integrante é o "Mestre do Arco Real de Salomão".
Segundo Esequias Soares e Natanael Rinaldi (2001), "no grau do Real Arco
do Rito de York, o maçom reconhece que o verdadeiro nome de Deus é
Jabulon, que até os três primeiros graus de chamou G.A.D.U. Nesse mesmo
Real Arco Rito de York, a maçonaria une Yahweh com divindade pagãs como
Baal, On e Osíris"(fonte: http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?Id=101) (N. do T.).
Traduzido por Cleber Olympio, conforme original publicado em http://www.isaiah54.org/finney.htm
Por Charles G. Finney
Fonte: http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com
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