“Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6.21).
Um dia desses, um internauta comentou, em um dos nossos vídeos, que tinha pena de nós que, segundo a visão dele, cremos em alguém que não existe e desperdiçamos a vida que o universo nos presenteou, não vivendo intensamente nossos desejos. Bem, fora a contradição de não crer no Deus Criador que nos concedeu vida, para, em vez disso, acreditar que a vida é um “presente” de algo impessoal, involuntário e fruto de um acaso burro, chama atenção o modo como os incrédulos interpretam a existência humana. Para eles, a existência humana é algo sem sentido em si que pode apenas ser aproveitada ao máximo, enquanto ela não deixa de existir. Ironicamente, pessoas que pensam assim buscam, com todas as suas forças, encher-se de alegrias enquanto vivem da maneira mais vazia possível.
De qualquer modo, o mundo perdido é assim mesmo. Entretanto, o que assusta é o crescimento de uma mentalidade parecida entre os crentes, não no sentido de deixar de crer na existência de Deus, mas em acreditar que precisamos buscar, com todas as forças, a alegria e a satisfação dos nossos desejos e objetivos nessa vida a fim de que ela tenha sentido e não seja desperdiçada. Essa mudança de valores e paradigmas encontra apoio no ensino do mundo de que tudo que vale é o que vivemos agora, não existindo nada errado além de reprimir os desejos próprios e alheios. Também encontra apoio no falso cristianismo que se instalou à caça de dinheiro fácil de tolos, os quais são incentivados a buscar em Deus satisfação e sucesso na vida e nada mais. Como consequência, até igrejas formadas por crentes verdadeiros mudaram o foco de seus cultos e de sua própria existência, propondo-se a agradar seus frequentadores em suas reuniões, em vez de cultuar a Deus do modo que o agrada, e a suprir carências pessoais que atrapalhem a felicidade humana, justificando tal mudança de rumo sob o discurso do exercício do “amor cristão”. Com tanta pressão por todos os lados não é de surpreender que a mentalidade e os valores dos crentes tenham mudado tanto nos últimos tempos e tornado a igreja tão distante do ensino bíblico.
Obviamente, uma transformação assim não fica sem produzir efeitos danosos e curiosamente contrários aos objetivos de quem os abraça. Assim, o primeiro efeito dessa mentalidade deturpada nos crentes é o desvio dos objetivos e prioridades. Os planos e metas de outrora, que envolviam aprendizado da Palavra de Deus, evangelismo, frequência aos cultos e crescimento na oração e na vida pessoal, cederam lugar para a busca afoita por diversão, realização e desenvolvimento secular. Há crentes que não podem faltar a uma festa, perder um churrasco, deixar de ver um jogo ou ficar sem viajar em um feriado sem que sintam estar desperdiçando a vida e perdendo a chance de ter as únicas coisas que lhes deixam felizes.
Do mesmo modo, há quem priorize o trabalho acima da família, do cuidado pessoal, da presença regular na igreja, do tempo de leitura bíblica e oração e do crescimento na comunhão com Deus simplesmente porque almejam acumular mais dinheiro que, não apenas lhes possibilite adquirir coisas pelas quais a cobiça lhes tira a paz, mas também pela sensação de autossuficiência, seja diante das pessoas ou mesmo de Deus. Para esses, tempos valiosos de edificação espiritual e de crescimento familiar são, muitas vezes, considerados perda de um tempo em que mais dinheiro poderia ser ganho. E tudo isso acontece porque os princípios que tais crentes antes valorizavam perderam seu brilho e deixaram de ser tesouros para eles, dando lugar a preciosidades contabilizadas pelo mundo desviado do Senhor.
Jesus disse bem ao afirmar que “ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). Do mesmo modo, Tiago acertou ao dizer que “aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4b). Por isso, o segundo efeito de manter valores distorcidos é o afastamento de Deus e dos irmãos. Não é possível cultivar dois tesouros e, nesse caso, o tesouro de valor eterno é que fica em segundo plano, tendendo ao ocaso. É claro que nenhum crente gosta de admitir que pensa ou age desse modo, nem tampouco gosta de sentir sua consciência acusá-lo de tais males.
Por isso, quem deixou de ter em Deus seu tesouro máximo, deixa de ler a Bíblia diariamente dizendo que já conhece bastante as Escrituras e que tem uma compreensão superior à dos demais irmãos. Ele não ora, além do agradecimento pelas refeições e de orações relâmpago nas horas de aperto, explicando que Deus sabe o que há em seu coração e o quanto ele ama o salvador. Também não frequenta os ajuntamentos dos crentes porque sabe ser uma pessoa bem-firme e resolvida, não tendo necessidade de ser ensinado e exortado regularmente para seu desenvolvimento espiritual. Não se arrepende de pecados, não luta contra eles, nem clama constantemente o auxílio e perdão divinos porque há muitos irmãos piores que ele, irmãos que não chegam aos pés da sua vida cristã. E desse modo, mesmo dizendo estar ocupado demais para essas coisas e que, em seu íntimo, não está longe de Deus, a verdade é que está, sim, longe do Senhor e se afastando cada vez mais tanto de Deus como do seu povo, enquanto seu coração se torna cada vez mais próximo e parecido com o daqueles que desprezam a Jesus.
Feita essa lambança, o próximo efeito inevitável, seja rápido ou em um prazo um pouco mais demorado, é justamente o oposto de tudo que a pessoa queria ao amar os bens, a felicidade e as realizações sob os óculos mundanos, alcançando apenas tristeza e decepção com a vida. As duas razões mais frequentes para isso são, em primeiro lugar, a pessoa alcançar seus objetivos, mas perceber que eles não bastam para seu preenchimento, alçando novas e sempre insuficientes metas, todas elas incapazes de fazer o que somente Cristo pode. A segunda, porém, mais frequente, é o crente não alcançar seus planos e ficar frustrado e amargurado com isso. Faz parte da vida as pessoas desejarem morar em casas que nunca possuirão, dirigir carros que nunca terão, desfrutar de um patamar financeiro que nunca alcançarão, desejar conhecer lugares aos quais nunca irão e ter experiências que nunca se concretizarão. Assim é a vida. Temos de conviver com isso, pois se trata de uma realidade na qual o homem caído está inserido.
Paulo, de modo claro, avisou que não teríamos tudo que desejamos, de modo que nossa alegria e gratidão deveriam vir dos suprimentos básicos, ensinando que “tendo sustento e com que nos vestir estejamos contentes” (1Tm 6.8). Mas isso não funciona para quem transformou em tesouros os valores admirados e perseguidos pelo mundo. Para esses, o que sobra, diante do insucesso, é a profunda tristeza de não ter as únicas coisas que ele valoriza. Em alguns casos, a própria vida parece perder o sabor e o sentido. Então, em um estado de profunda depressão, desânimo e frustração, o indivíduo passa até a desenvolver outros problemas que precisam, inclusive, ser tratados com atenção, pois os efeitos são bastante danosos. Mas a causa para tanto, em casos assim, não constitui um mistério médico, ou uma doença inevitável, mas simplesmente o fato de amar o tesouro errado e colocar nele o sentido de sua vida.
A partir de então, a ânsia por planos inatingíveis atinge o fundo do ser humano: “A ansiedade no coração do homem o abate” (Pv 12.25a). Tal abatimento chega até o mais íntimo da pessoa: “Com a tristeza do coração o espírito se abate” (Pv 15.13b). Quando isso se perfaz e se mantém, não apenas o espírito do indivíduo, mas também seu corpo passa a sofrer: “O espírito abatido faz secar os ossos” (Pv 17.22b). Finalmente, entra-se num estado de saúde do qual é difícil sair, precisando, muitas vezes, de tratamento médico: “O espírito firme sustém o homem na sua doença, mas o espírito abatido, quem o pode suportar?” (Pv 18.14). E essa jornada rumo ao fundo de um poço escuro, em uma proporção assustadora dos casos, começa simplesmente quando a pessoa transforma em tesouro as coisas e sensações passageiras em vez da comunhão com Deus, a união com os irmãos, o crescimento na Palavra e a esperança e desejo de chegar na vida eterna, quando não teremos mais frustrações e onde receberemos bênçãos e alegrias que nem nos melhores sonhos somos capazes de conceber ou imaginar.
Olhando para tudo isso, você consegue identificar quais têm sido os seus tesouros?
Pr. Thomas Tronco
Fonte: http://www.igrejaredencao.org.br
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