Prometo: não vou chover no molhado.
Lá por meados
de 2010 escrevi um texto que era um verdadeiro desabafo. Publiquei e
depois voltei atrás, reconhecendo um conteúdo raso, emotivo demais e sem
solução prático-teológica. Optei remover o texto, embora o mesmo tenha
sido replicado em outros sites.
É o preço deste
tempo: o que entra na rede, se multiplica em velocidade exponencial.
Assim como os devaneios das “Igrejas Pão e Circo”, que se multiplicam em
velocidade alarmante.
Creio que você já deve ter ouvido alguma vez a expressão “Pão e Circo” em sua vida, correto?
Vou contar
brevemente o motivo de tal expressão. Nos dias da Roma antiga
praticava-se a política “panem et circenses” (política do pão e circo),
já que devido a fatores socioeconômicos, houve um considerável êxodo dos
moradores das regiões rurais em direção a Roma. Sem emprego e sem ter o
que comer, a multidão se tornava um perigo crescente para ordem social,
levando o império a tomar uma decisão que entorpeceria o povo,
fazendo-os esquecer da realidade e maquiando a verdade onde estavam
inseridos. Manobra de manipulação em massa.
Tudo muito
simples: de modo constante ocorriam lutas envolvendo gladiadores nos
estádios, sendo o Coliseu o mais conhecido de todos. Durante as lutas o
povo era “gentilmente” alimentado. Enquanto se divertiam com o show de
horrores e se alimentavam de modo precário, a multidão ficava “domada”.
Mesmo estando mal alimentado e podendo curtir um entretenimento raso, o
povo se contentava e não haveria preocupações relacionadas à massa para
que os poderosos viessem a ter incômodos.
Vindo para
nossa proposta, temos como fato que nossos dias têm sido marcados por
agito eclesiástico. Onde olhamos é possível constatar gente que anda “em
roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com
astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4.14).
Vi recentemente
coisas que – infelizmente – não chocam mais. Ilustrações trágicas
travestidas de mensagem do Evangelho, mas que são vazias do mesmo.
“Pastores” utilizando poço e lama para ilustrar e infectar seus
seguidores com a nefasta Teologia da Prosperidade e similares; outros da
ala dos “revoltados” com a vida utilizando crianças para expor suas
teorias mercantilistas mirabolantes; igreja emprestando o altar para que
o sósia de um apresentador faça micagens; a infestação da Teologia
Relacional (Teísmo Aberto), com seus “pensadores” liberais e
moderninhos, e por aí vai. A lista é grande, e você sabe bem disso, não é
preciso repetir.
De modo claro e
direto, tais demonstrações nada mais são que “pão e circo”. Todo mundo
se diverte com o show de horrores com jeitinho de Evangelho, “come” um
pãozinho aqui e acolá, volta para sua casa e se engana achando que está
alimentado com pão genuíno. Seja sincero: você acredita que tais
práticas correspondem ao Evangelho e a missão da Igreja no mundo? Se
você acha que sim, peço que calque biblicamente sua resposta, já que as
Escrituras quase não são utilizadas nos Coliseus eclesiásticos, e quando
são, é de modo pervertido e desconexo.
Mas não vamos
gastar mais linhas falando sobre o problema. A proposta é falar mais
sobre o que acredito – biblicamente – ser um caminho de solução. Lendo
muito sobre o assunto, vendo a prática de muitos pastores e professores,
de pessoas não presas a métodos e a números, mas sim enveredadas na
senda da qualidade eclesiástica.
O que fazer para melhorar um pouco este cenário?
Fato é que os
líderes que apregoam o “Pão e Circo” dificilmente mudarão a sua práxis. O
foco deste texto é tentar alcançar aqueles que estão seduzidos pelo
erro e vacinar os que não têm contato com as modinhas, bem como reforçar
e incentivar os cristãos a permanecerem na Verdade.
COISAS SIMPLES E FUNCIONAIS
Exposição bíblica / pregação expositiva: Você já teve a oportunidade de receber alimento sólido através de uma exposição bíblica?
Os púlpitos
estão cada vez mais carentes da exposição da Verdade. É chocante ver que
dia-a-dia nossos pastores estão se transformando em animadores de
plateia e terapeutas se distanciando da genuína vocação. Nesta via de
mão dupla, a plateia anseia pelo espetáculo e quer a todo custo ouvir o
que agrada, enquanto aquele que deveria expor a Verdade a todo custo,
acaba cedendo a vontade dos seguidores.
Se uma mãe
alimenta o filho apenas de batata frita, por mais que o filho ame tal
comida, o deixará doente, desnutrido e obeso. E a analogia bate com a
saúde do povo evangélico. Um povo carente de alimento sólido e obeso de
teorias e filosofias humanas de sucesso e prosperidade.
Mark Dever é um pastor que pensa assim. Veja sua opinião:
Se alguém me
procura e pergunta se deveria aceitar o pastorado de uma igreja que não
deseja que ele pregue de maneira expositiva, talvez eu o desestimulasse a
aceitar essa posição. Se um cristão me procura e diz que um falso
evangelho é ensinado consistentemente no púlpito de sua igreja,
provavelmente eu o encorajaria a mudar de igreja.
Por que digo
isso com tanta firmeza? Pela mesma razão que desestimularia alguém de ir
a um restaurante onde não servem alimentos, mas somente figuras de
alimentos. A Palavra de Deus, somente a Palavra de Deus, dá vida! [1]
De fato,
existem métodos variados de pregação: pregação em tópicos, pregação
biográfica, pregação histórica, etc. Porém a pregação expositiva é a que
provem o sólido alimento pelo fato de expor a Palavra de Deus. Expor as
Escrituras demonstra submissão total ao Deus da Palavra. Como é
maravilho mergulhar num determinado texto, absorver seu conteúdo
contextual e poder absorver o ensino e aplicar na própria vida! Não há
preço que pague tamanha refeição.
Minha esperança
é que o pastor que leia este ensaio se desperte para a pregação
expositiva. Desta forma a autoridade da pregação sempre começa e termina
na Escritura. Sempre! Não devemos nos enganar, igrejas cujo eixo não é a
Palavra (existem igrejas onde o louvor é o centro do culto, ledo
engano) tendem a superficialidade. Antes que os “levitas” [2] me
apedrejem, reafirmo a necessidade do louvor, porém a Palavra de Deus é o
foco do culto. A igreja não deve estar edificada sobre a música, mas
sobre a Palavra.
E vou além:
nossas canções precisam de base bíblica profunda. É duro constatar um
sermão profundamente bíblico e expositivo, porém regado a canções
centradas no homem para que ele se sinta bem, prosperando “para direita,
para esquerda” e por aí vai.
Bíblia, maravilhosa Bíblia
A teologia
bíblica é o norte que nos garante o caminho certo. Quando se desvirtua a
centralidade da Palavra, tende-se a migrar para caminhos ermos.
Tende-se a correr atrás de um horizonte utópico, como certo pensador
falou acerca de algo profundamente bíblico e absolutamente verdadeiro.
Em nossos dias,
onde a pseudoteologia dos neopensadores tenta a todo custo derrubar a
teologia, falar em sã doutrina é visto como insanidade, intolerância,
pensamento na caixinha.
Quero
incentivar o leitor a ir um pouco além. O cristão de nossos dias não se
sente motivado a estudar sobre doutrinas centrais da fé cristã. O
ambiente é tão hostil, tão modificado, que soa estranho (e sinceramente,
as vezes me sinto um dinossauro) quando incentivo alunos e leitores ao
estudo sistemático das Escrituras e ao estudo – ao menos superficial –
de matérias teológicas.
Aquilo que até
pouco tempo atrás era fundamental e verdadeiro, foi travestido de
pensamento bitolado pelos dirigentes dos Coliseus eclesiásticos. E viva a
farra do “pão e circo”.
A Bíblia é
incisiva ao alertar que o ensino correto deve ser aplicado na igreja.
Não fui eu que inventei isso, mas é alerta da Palavra. Tomemos por
exemplo a exaustiva insistência de Paulo para Timóteo e Tito (leia as
cartas, são curtas e profundas). A insistência de Paulo na questão
doutrinária é impressionante, um verdadeiro megafone para a igreja de
hoje.
A pregação
expositiva, em aliança com a teologia bíblica, fará toda a diferença.
Deixo as palavras sábias de um mestre nas Escrituras, Lawrence Richards,
que de certo modo é uma bela aplicação sobre tudo que foi dito até
aqui:
1) Conhecer a
verdade , estar comprometido com a sã doutrina, precisa nos levar à
santidade de vida, ao autocontrole, à reverência etc.; 2) Não se espera
somente que a verdade tenha um grande impacto sobre a nossa vida, mas
que a vida esteja em harmonia com a verdade. Nossas boas obras precisam
refletir nossas crenças; 3) É a verdade que produz o estilo de vida
marcado pela santidade, e não o contrário. Ser uma “boa pessoa” não leva
o indivíduo à verdade. Mas ela, aceita e aplicada, produz a santidade
em nós. [3]
Não seja apenas
um “revoltado com o sistema”. Precisamos ser mais práticos neste
momento e tentar melhorar o quadro, ao menos com alertas na neblina. É
nosso dever.
Oremos pela
igreja para que os pastores se voltem para as Escrituras e para que
nossos irmãos em Cristo busquem esse compromisso. Ainda há esperança.
Pão e circo, não. Pão da vida, sim (Jo 6.35).
Por João Rodrigo Weronka
NOTAS
[1] DEVER, Mark. O que é uma igreja saudável? São José dos Campos: Editora Fiel, 2009. p.56
[2]
“Levitas” estão em aspas, pois, biblicamente falando, em nossos dias, o
ofício levítico simplesmente não existe. Os que usam o título para si o
fazem por ignorância ou propositalmente. A pregação expositiva é um
remédio para tratar tamanho equívoco.
[3] RICHARDS, Lawrence. Comentário bíblico do professor. São Paulo: Editora Vida, 2004. p. 1124-25
Fonte: [NAPEC]
Fonte: http://adielteofilo.blogspot.com
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