A omissão é o
templo sombrio da indiferença, onde muitos cristãos têm se ocultado
nesse tempo do fim. Apesar de serem defensores ferrenhos do dever de
congregar, a impressão é de que não se importam em contribuir para o
crescimento do caráter e da conduta cristã uns dos outros,
principalmente quando é necessário dizer ao próximo a verdade sobre
qualquer fato.
O descaso é tão
grande em determinados grupos evangélicos, que sinceramente somos
compelidos a indagar: Qual é o resultado prático que as igrejas têm
produzido a partir da proximidade entre os seus integrantes? Essa
aproximação se resume às liturgias ou existe algum tipo de convivência
que extrapola os limites do templo? Há realmente crescimento rumo à
maturidade cristã ou cada um atua ao seu modo sem a visão do corpo
espiritual no seu todo?
É lamentável
constatar que há líderes que não dizem a verdade acerca de pecados e
erros dos seus liderados. A Palavra de Deus ensina-nos que “se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com o espírito de brandura” (Gálatas 6.1).
Contudo, apesar da aparência de espirituais, não usam mais a vara e o
cajado para consolar as ovelhas no caminho da retidão, nem aplicam a
disciplina bíblica, a exemplo das três instâncias quanto ao pecado
contra irmão: repreensão individual, repreensão na presença de duas ou três testemunhas, e repreensão pela igreja (Mateus 18.15-18).
O argumento
para essa lacuna é que preferem se calar a perder gente para outras
igrejas. Dizem também que a legislação pátria não permite advertir uma
pessoa publicamente, sob a pena de responder por dano moral e arcar com o
pagamento de indenização. Então vamos omitir a orientação Bíblica?! "Aos (presbíteros) que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor" (I Timóteo 5.20).
Na verdade, as restrições legais não funcionam bem assim, porquanto há
tempo, modo e lugar, apropriados para tratar determinações questões que
dizem respeito somente ao Corpo de Cristo. No entanto, mostram pela
condescendência que são extremamente tolerantes com o pecado e não
querem mesmo é melindrar os mais sensíveis nem enfrentar a dura cerviz
dos obstinados.
Há também
aqueles que são pouco afeitos ao pastoreio no campo, embora com recursos
à disposição. Não saem pelos valados e penhascos, não sentem o odor das
ovelhas nas suas aflições, não ouvem seus gemidos nem amenizam os
carrapichos que lhes causam dores. São pregadores de massas, líderes de
auditório e estrelas de púlpito, nada mais!
Ao contrário disso, tenho como referência o exemplo do Pastor Cirilo Teófilo,
meu pai, que dedicou sua vida ao ministério pastoral. Nas igrejas que
cuidou, conhecia todos pelo nome e sabia das dificuldades de cada um.
Corrigia qualquer deles com firmeza e amor sempre que
necessário. Presenciei inúmeras vezes ele chorando a dor das ovelhas!
Não tinha carro, mas visitava e assistia cada família em suas
necessidades, caminhando com dificuldade, claudicando em razão de
deficiência na perna e braço direitos. Atualmente, cansado com o peso
dos anos, anda com dificuldade, porém em paz com a consciência, porque de muito boa vontade se gastou e se deixou gastar pelas almas (II Coríntios 12. 15).
O que se
percebe atualmente é a política do faça o que quiser, mas não saia
daqui. Venha como está e permaneça como achar melhor. Vamos decretar a
vitória da igreja e deixar que os desvios de conduta dos crentes Deus
vai tratar. Atitudes como essas não representam a essência do amor
cristão, porque "melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto" (Provérbios 27.5).
Mas também a conduta pública de alguns não é mais referencial de vida
cristã, o que não lhes permite exigir aquilo que não exercitam. Outros,
apesar das repreensões que proferem dos púlpitos, algumas vezes com
veemência, não têm a coragem de encarar a disciplina individual, tal
como exemplificada nas Escrituras: “Porque
o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe, [...]
Deus vos trata como a filhos; pois, que filho há a quem o pai não
corrige? Mas se estais sem correção, de que todos se têm tornado
participantes, logo sois bastardos, e não filhos” (Hebreus 12.6-8).
Nesse evangelho
da omissão, o rebanho é conduzido a se comportar de forma semelhante.
As pessoas participam dos programas da igreja, todavia muitos convivem
como se não fizessem parte do corpo, alheios aos fracassos e
dificuldades uns dos outros. São ensinados até a ignorar determinados
problemas, principalmente quando envolve alguém da liderança. Ouse dizer
alguma coisa! Logo surgem as ameaças espirituais: "Quem é você para julgar seu irmão? Ai daquele que se levanta contra o ungido do Senhor!" Será
que o Profeta Samuel se levantou contra o rei Saul quando o repreendeu
por agir nesciamente? (I Samuel 13.13-14 e 15.22-26). Será que o Profeta
Natã se levantou contra o rei Davi quando o repreendeu pelos pecados
que cometera? (II Samuel 12.9-12). Francamente, está faltando é profeta
autêntico e sobrando "ungidos"! Ademais, se acreditamos que de fato
somos um só Corpo em Cristo e individualmente membros uns dos outros
(Romanos 12.5), devemos deixar o engano da dissimulação e falar a
verdade ao próximo (Efésios 4.25), para o bem de sua própria alma!
Os indiferentes
não são capazes de atuar na própria casa como protagonistas do
Evangelho que promove amor fraternal, arrependimento e confissão de
pecados (Tiago 5.16). São meros expectadores do bem ou do mal, por maior
dano que isso cause ao Corpo de Cristo. A Palavra de Deus nos ensina
que se alguém ver o seu irmão pecar deve orar e Deus lhe dará a vida,
desde que o pecado não seja para morte (I João 5.16). Ensina-nos também
que precisamos agir: "porque Deus não nos destinou para a ira,
mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, [...]
por isso exortai-vos uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como
também o fazeis" (I Tessalonicenses 5.9-11).
Ora, o Senhor Jesus não quer ninguém em cima do muro,
na apatia religiosa de um evangelho mais ou menos, titubeante entre o
acerto e o erro. Por esse motivo nos adverte pela revelação ao Apóstolo
João no exílio: "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem
está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é
santo, seja santificado ainda" (Apocalipse 22.11). Portanto, não sejamos mais omissos,
"antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que
se chama hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado"
(Hebreus 3.13). Para que ninguém seja tentado a se acostumar
com o erro alheio e o cristianismo não caminhe para baixo em círculo
vicioso, mas edificando cristãos que se tornam padrão dos fiéis (I
Timóteo 4.12).
E quanto aos
que presidem sobre nós e nos admoestam com sinceridade? Precisamos
reconhecer a importância da obra que realizam e acatá-los com apreço e
amor, com grande estima e máxima consideração (I Tessalonicenses
5.12-13), "porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida" (Provérbios 6.23).
Agem assim reconhecendo que o dom ministerial lhes foi dado por Jesus
visando o aperfeiçoamento dos santos e a edificação do Corpo de Cristo,
para não sermos mais meninos levados pelo engano dos homens (Efésios
4.10-14).
Enfim, nem todos conseguem receber a correção ou suportar a disciplina. Assim sendo, "não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará" (Provérbios 9.8), pois “a repreensão penetra mais profundamente no prudente do que cem açoites no tolo” (Provérbios 17.10).
Ciente de tudo isso acima comentado, não poderia jamais deixar de falar
a verdade! Caso me calasse, seria o maioral dos omissos... E sabe qual
seria a minha recompensa? "Mas, quanto aos tímidos (covardes),
[...] a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a
segunda morte" (Apocalipse 21.8). Deus me livre da omissão!!!
Adiel Teófilo
http://adielteofilo.blogspot.com/
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