terça-feira, 13 de abril de 2021

Tinha de ser


Não apenas os céticos e ateus, mas também muitos dos que se autodenominam cristãos, costumam reclamar: “Por que Deus não fez um mundo perfeito, sem pecado, sofrimento e  morte. Se Ele  é todo-poderoso, certamente poderia tê-lo feito, se quisesse”.  Esse protesto comum repousa sobre um mal-entendido muito simples: o fracasso em reconhecer que Deus  outorgou a toda a humanidade o dom da escolha. É auto-evidente que sem essa habilidade universal não poderíamos amar a Deus, nem nos amarmos uns aos outros, nem receber amor, o qual comparado com a fé e a esperança, é o maior (1 Coríntios 13:13).

 

        Também não se trata do poder de Deus. O amor é uma escolha que deve partir do coração; desse modo, nem mesmo Deus, com o Seu poder infinito,  pode forçar pessoa alguma a amá-Lo, pois nesse caso já não seria amor. Escolher amar a si mesmo e amar o mundo, em vez de amar o Deus de infinito amor, o qual nos criou, certamente é a causa de todo o mal.

 

        Mesmo assim, muitos cristãos não sabem responder a esse ataque contra o Criador. Muitos se escondem por trás da soberania divina e pensam estar agradando-O, quando Lhe atribuem atitudes e ações sem amor, contrariando totalmente a consciência que Deus lhes deu e o Seu caráter, conforme é revelado na Sua Palavra. Essa mal dirigida capitulação à irracionalidade, por seres inteligentes e moralmente responsáveis, é desonrosa a Deus e muito escarnecida pelos cépticos sinceros. “Soberania” não  é razão nem desculpa para se deixar de amar e muito menos para se gerar sofrimento e morte, que não precisariam existir. Quantos maus tiranos têm usado a mesma desculpa!

 

        Deus poderia ter feito um mundo habitado por seres com o poder de escolher entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio, no qual pessoa alguma jamais pudesse fazer a má escolha, ninguém fosse odioso ou vingativo, infalivelmente gentil e amoroso? Obviamente não, caso eles fossem verdadeiramente livres para optar por si mesmos, em vez de optar por Ele e pelos outros. Poderia Ele ter criado um universo, no qual os seres, que são menores do que Ele próprio, jamais pudessem escolher menos que a semelhança de Deus e no qual  os seres, podendo fazer o que bem desejassem, jamais se rebelassem contra Ele? Não! Isso seria impossível. Seres que fossem menores do que Deus (como o são todos os seres criados) jamais poderiam atingir a Sua perfeição, mas pecar, pois os que foram feitos à imagem de Deus (Gênesis 1:27) foram “destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23). Obviamente, se Deus pudesse ter feito criaturas morais com a capacidade de amá-LO, sem, contudo, jamais pecar,   o que Ele não fez, Ele poderia ser censurado por criar um  mundo vulnerável ao mal, à dor, à tristeza e à morte. Contudo, um  mundo assim não poderia existir de uma criação original. Deus não merece censura pelo mal que o homem tem praticado na terra. Mesmo assim, quantas vezes uma esposa, marido, mãe, avô ou filho  se revoltam, culpando Deus pela morte de um ente querido? Que censurem Eva e Satanás, que a enganou, e Adão, por tê-los seguido, mesmo sem ter sido enganado (1 Timóteo 2:14), mas não culpem Deus.

 

        Era inevitável que Adão e Eva quisessem pecar, devido a uma errônea escolha egoísta, a qual não poderia ser atribuída ao Criador, se eles fossem capazes de amar e ser amados.Tinha de ser assim.

 

        Deus não os levou a pecar, porém sabia que eles o fariam. Por isso, até mesmo antes do universo ser criado, o Filho de Deus, co-igual e co-eterno com o Pai, já estava preparado para vir à terra como homem, através do nascimento virginal, para de morrer no lugar do homem, a fim de pagar a total penalidade dos pecados de cada pessoa  que viria a existir.

 

        Está além de nossa compreensão, mas é absolutamente verdadeiro que, por toda a eternidade, Cristo esteve aguardando a cruz que um dia iria suportar: “...o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hebreus 12:2-b).

 

        É significativo que o livro que decide a sorte dos condenados seja chamado Livro da Vida “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).

 

        No  inacreditável e inevitável horror do assassinato do Filho de Deus pelo homem, o verdadeiro coração humano (Jeremias 17:9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”), foi desnudado, enquanto a justiça e o amor eterno de Deus foram demonstrados, além de qualquer dúvida, para serem ponderados por toda a eternidade. No crime de todas as eras, o homem desprezou, rejeitou, humilhou, açoitou e pregou o seu Criador numa cruz.

 

        Assim, a própria rebelião escondida no coração humano - a paixão natural de desarraigar Deus do Seu trono - se pudesse fazê-lo - foi revelada e a amorosa resposta divina silenciou toda a queixa legítima.

 

        Quando a humanidade, inacreditavelmente, estava atirando todo o seu ódio contra o Criador, Deus respondeu com amor e perdão, submetendo-se, não apenas ao injusto tratamento que o homem lhe impôs, mas ainda ao castigo da infinita justiça contra os pecados do mundo, intercedendo até mesmo por aqueles que dEle escarneciam e O crucificaram:“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). “Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”  (Romanos 3:26). Não podemos duvidar da soberania de Deus nem minimizar o Seu amor. Porque sabemos que assim tinha de ser.

 

        É evidente que sem o poder de escolha outorgado por Deus, ninguém poderia ser moralmente responsável por coisa alguma e os exatos termos “certo” e “errado” nada significariam. Também não se poderia experimentar o amor de Deus, nem amá-Lo, nem amar os outros seres humanos. Desse modo, nenhuma criatura poderia conhecer o próprio Deus porque “Deus é amor” (1 João 4:8). Os crentes que têm correspondido ao a mor de Deus através do Evangelho são comparados a uma “noiva” que se casará e tornará a esposa de Cristo. (Efésios 5:22-32; Apocalipse 19:7-9). Porque, de todo coração, Lhe dera o “sim”,m por toda a eternidade!

 

        Os cristãos que tentam fugir de uma discussão inteligente sobre o item mais vital esqueceram, se é que jamais  o souberam, que Deus dá as boas vindas às indagações sinceras e nos tem dado as respostas na Sua palavra Santa. Ele convida a humanidade inteira: “Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías 1:18). Ele também ordena que todos os que O conhecem devem estar : “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3:15).

 

        Todo pai sabe que cada filho é um indivíduo singular, com a sua própria mente, o qual não deve ser forçado a comportar-se de determinada maneira e que, mais cedo ou mais tarde, ele fará livres escolhas por suas  próprias razões egoístas. Ninguém pode viver a vida do  outro. Para escolher entre o bem e o mal, uma inescapável responsabilidade, cada pessoa é moralmente responsável por ter Eva imposto isso sobre todos os seus descendentes, quando desobedeceu a Deus, comendo da árvore do bem e do mal. Nem ainda podem seres imperfeitos optar sempre pela escolha moralmente correta. O mais trágico de tudo é  o fato de que, mesmo tendo sido uma criança bem educada, sabendo o que é certo e o que errado, ela ainda pode se autodestruir, sem que se possa fazer coisa alguma para impedir que isso aconteça.

 

        Qual é o pai e a mãe, cujo filho morre de uma overdose de drogas, ou numa batida causada por excesso de velocidade sob influência do álcool, ou seja confinada a uma  prisão perpétua (ou até mesmo de um dia) deseja que isso aconteça? Deus diz: “não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva” (Ezequiel 33:11). Ele “quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4). Contudo, Ele não pode nos forçar a isso, mais do que um pai e uma mãe podem forçar o seu filho a voluntariamente fazer a escolha certa.

 

        O Deus que criou este mundo e a humanidade para nele habitar não deseja a condenação de pessoa alguma mais do que os pais desejam o sofrimento e, por fim, a morte que tantos filhos trazem sobre si mesmos.Escutem o lamento de Deus, quando Ele derrama o coração sobre o Israel desobediente, o Seu povo escolhido, como um pai choraria pelos seus filhos: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ai, nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás (Isaías 1:2-4).

 

        Toda pessoa racional deve saber que Deus  não pode ser honestamente culpado pela rompante maldade deste mundo. Ela existe em razão das escolhas que as suas próprias vítimas têm feito, escolhas sobre as quais muitas vezes os pais têm advertido os seus filhos, à medida em os vão educando, pedindo que estes as evitassem.

 

        Mesmo assim, Lutero escreveu um livro inteiro – A Escravidão do Desejo - negando que alguém tenha o poder da escolha. João Calvino, em seu zelo pela soberania divina, também negou essa habilidade humana essencial. Até mesmo muitos líderes cristãos mais populares negam o livre arbítrio à humanidade – inclusive a capacidade de fazer a escolha mais importante de todas - crer no Evangelho, o único que salva a alma. Desse modo, em sua visão, afinal Deus é culpado de tudo, embora eles tentem negar a óbvia conclusão à qual essa teoria antibíblica conduz.

 

        É patentemente simples que negar ao homem a própria escolha o exonera de responsabilidade moral e torna Deus o causador do mal. Não importa quanto tentamos, jamais podemos escapar ao fato de que cada um de nós faz uma legítima escolha, de livre vontade, quando decida fazer ou não fazer isto ou aquilo.Isso inclui submeter-se à vontade de Deus ou escolher o seu próprio caminho e ainda receber ou não a Cristo como salvador. Todos sabem que isso é verdade.. Escolhemos pelo nosso livre arbítrio entre opções muitas vezes conflitantes - cada dia - e Deus não pode ser censurado dessas escolhas, nem de suas consequências.

 

        Quando fez o homem, Deu sabia que teria um mundo de rebeldes em Suas mãos, bilhões de egocêntricos, cada um desejando tomar o seu próprio rumo, bilhões de pessoas que necessitariam ser redimidas, cada uma tendo de escolher entre si mesmo e Deus. Quando Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”(João 14:6),  Ele estava explicando a total situação da vida passada à interminável eternidade futura. Somente Ele poderia ver o caminho de volta para Deus. E assim tinha de ser.

 

        Deus sabia, desde o princípio, o que  iria acontecer. Ele não estava se arriscando, ao criar seres humanos com o poder da escolha. Ele sabia que estes se rebelariam contra ele. E sabia que existe apenas uma maneira  deles serem redimidos da penalidade que a si mesmos acarretariam. O Seu Filho unigênito (João 3:16) o Filho do Seu amor, deveria vir à terra como homem para morrer em lugar deles, pagando a penalidade que a Sua justiça iria exigir pelo pecado. E por toda a eternidade Ele já sabia disso. Tinha de ser.

 

        Não podemos imaginar o que realmente significa ter o Filho sempre sabido que iria nascer neste mundo como um bebê, teria uma vida perfeita, vivendo sem pecado, e somente Ele poderia ser odiado sem causa, ser rejeitado e desprezado pelo Seu próprio povo, os judeus, para os quais viria como um deles, com a voluntária cooperação do Império Romano, e o crucificaram. Claro que a verdade de nossa redenção está além da nossa capacidade de entender. Fomos ensinados que “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” (Isaías 53:11), declaração que nos parece obscura.

 

        Qual o conhecimento que poderia haver sobre pagar a penalidade de nossos pecados? Obviamente o Seu pleno conhecimento de cada detalhe (inclusive a motivação), de cada pecado vergonhoso, violento e repulsivo que seria cometido - sem o total conhecimento da penalidade de Sua própria justiça exigida - “o servo, o justo de Deus” não poderia pagar todo o débito da humanidade devido pela sua maldade e, portanto, justificar todos os que Nele cressem. De fato, Ele seria punido como se fosse o próprio  pecado: “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). Quanta misericórdia e graça!

 

        O grito triunfante de Cristo na cruz: “Está consumado!” tem um significado maior quando entendemos que ele o havia antecipado desde toda a eternidade (Hebreus 10:12,14,18). Finalmente, dependeria Dele toda a penalidade a ser paga por toda a humanidade!

        Quão clara e blasfemamente o “Sacrifício da Missa” católica romana nega esse triunfante grito de Cristo: “Está consumado”, com os seus sacerdotes afirmando transformar o pão e o vinho em Seu corpo e sangue, imolando-O milhões de vezes sobre os altares católicos, para que seja ingerido aos estômagos dos fiéis que acreditam  nessa mentira, achando que estão realmente recebendo o Cristo. A verdade é que Ele agora está no céu, com o Seu corpo ressurreto e glorificado, exaltado à destra do Pai!

 

        Os pecados dos redimidos já foram esquecidos para jamais serem relembrados (Hebreus 8:12; 10:17). Sim, os livros nos quais cada pecado está registrado serão abertos no julgamento do Grande Trono Branco, mas somente para os que rejeitaram Cristo e o perdão que Ele obteve por eles na cruz. No julgamento final, todos os que se recusaram a aceitar o pagamento de Cristo pelos seus pecados serão atirados no Lago de Fogo, para ali serem atormentados, eternamente, por uma conscientização de que já não podem se esconder por trás das desculpas com as quais iludiram a si mesmos, enquanto estavam na terra. O sofrimento não só incluirá a total conscientização do horror que os seus pecados têm causado a si mesmos e aos outros, mas também a esmagadora carga do audacioso mal que acalentaram em sua rebelião contra o Deus que os criou. Infelizmente não será menor o tormento da constatação de que poderiam ter sido eternamente perdoados e estar no céu, se não tivessem rejeitado Cristo e o pagamento que Ele fez pelos seus pecados.

 

 

Dave Hunt

The Berean Call Letter”, julho 2005

 

Traduzida por Mary Schultze

 

Imagem: Google

 

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