quinta-feira, 15 de abril de 2021

A Divindade de Cristo

Os Quatro Evangelhos foram escritos como relatos muito diferentes sobre Cristo - relatos não biográficos e o relato que nos é entregue no Evangelho de João é o de Cristo como o Filho de Deus. Ao leitor inteligente, suas omissões, das quais o incrédulo sempre se vale para os seus malignos propósitos, promove uma vibrante indicação de Sua autoridade divina e do propósito pelo qual ele foi entregue. O Apóstolo João é o único dos quatro evangelistas  que esteve com o Senhor, no Monte da Transfiguração e, contudo, ele é o único a não mencionar essa visão da glória. Ele é o único dos evangelistas que presenciou a agonia no Jardim e, contudo, é o único a silenciar esse fato. Mesmo tendo sido um dos onze discípulos que estavam com o Senhor no Monte das Oliveiras, seu livro não contém sequer uma palavra de registro sobre a Ascensão. Pode ser que essas extraordinárias omissões possam ser explicadas, se nos lembrarmos que na visão do Monte Santo, o Senhor apareceu em glória como o Filho do Homem, enquanto o propósito do Quarto Evangelho é revelá-Lo como o Filho de Deus. Assim, também, com relação ao Getsêmani, temos as explícitas palavras do Senhor: “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens”. E embora Sua exaltação à destra de Deus O tenha proclamado como o Filho de Deus, isso ficou além do escopo do evangelista, pois foi sobre o ministério terreno que ele foi inspirado a escrever.
 
         Mas existe outra "omissão” muito mais extraordinária do que estas. O escritor é o discípulo a quem o Senhor, na hora da morte confiou os cuidados de Sua mãe. “E desde aquela hora ao discípulo a recebeu em sua casa” (João 19:27).  Quantas conversas eles devem ter compartilhado sobre o nascimento sagrado e a infância. Quantas horas ele deve ter estado a escutar as suas excitantes reminiscências! E como deve ter sido inesquecível o registro impresso em sua memória e em seu coração! E mesmo que nenhuma palavra seja aqui encontrada sobre a visita do anjo, a hospedaria em Belém e a vida familiar em Nazaré, Ele estava no mundo... “E o verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Isso é tudo! Pois embora Aquele de quem fala o evangelista seja o Homem de Belém e Nazaré, novamente aqui não é Dele, como homem, que o Apóstolo é inspirado a escrever, mas como o Filho de Deus. (Nota: - O Evangelho Messiânico de Mateus também omite a Ascensão porque as palavras finais do mesmo pertencem ao tempo, cuja dispensação, segundo Zacarias 14:4, ainda será cumprida. (Comparar com Atos 1:11).  E Cristo enviará o Seu povo terreno como missionário para evangelizar o mundo inteiro.)
 
         “Inspirado”, advertimos mais uma vez, pois se essas omissões não devem ser contabilizadas pela liderança e restrição divina que chamamos “inspiração”, qual a explicação que nos dariam destas? “Ponhamos-nos em nosso lugar!” Se qualquer um de nós tivesse passado pelas experiências do Apóstolo João, seria concebível que escrevêssemos um livro sobre o Senhor, sem responder às mesmas? De fato, se este Evangelho fosse mera obra humana, ele representaria um fenômeno psicológico muito extraordinário e sem paralelo na literatura mundial. Leiamos estas palavras em  João 1:1-4: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.”
 
         O livro foi escrito, segundo fomos expressamente informados, para que pudéssemos crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus, livro iniciado com a proclamação de que Ele é Deus. Ele é chamado “Filho do Homem” por ser “Verdadeiro Homem” e é chamado “Filho de Deus” por ser “Verdadeiro Deus”. O livro em sua totalidade destina-se a confirmar a Sua Divindade.
 
         O leigo costuma exagerar o valor relativo da evidência direta, enquanto o advogado reconhece que nenhum testemunho é mais convincente do que o incidental, e aqui, como na nota precedente do Primeiro Evangelho, temos a prova incidental para a qual eu chamaria rapidamente a sua atenção.
 
         Para o cristão, a declaração positiva de que o “Verbo era Deus” parece estabelecer um final de controvérsia, contudo esta declaração foi usada pelos arianos para provar que Ele ocupava uma posição subalterna. E quando a leitura alternativa do verso 18: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou” lhes foi imposta, parece que eles tomaram posse destas palavras como distinguindo-O do Pai, único Deus no sentido mais elevado. Realmente, a controvérsia ariana fornece uma prova  do que muitas vezes havia sido observado - que os Pais foram influenciados pelo paganismo que prevalecera em seu meio e no qual tantos deles haviam andado, antes de sua conversão ao Cristianismo. E para a mentalidade pagã nada parecia absurdo, nem mesmo  incongruente, na concepção de um Deus subordinado. Enquanto para nós, que imaginamos Deus como um Ser Supremo, isso envolve uma contradição em termos e nos parece mera tolice. Conosco, portanto, o assunto é definitivo, isto é, se Cristo é Deus ou simplesmente homem.
 
         Sendo assim, sintamo-nos livres dos erros que a religião possa excitar nas mentes de muitos e também da mentalidade relaxada que nos conduz a dar um consentimento leviano às verdades que, se realmente aceitas, iriam nos influenciar a vida inteira. E no mesmo espírito de pesquisadores honestos, e aplicados à verdade, tentemos captar a significação das palavras do Senhor Jesus, conforme registradas neste livro. Aqui estão alguns dos seus pronunciamentos colhidos a esmo, numa mesma seção: João 6:41: “E sou o pão que desceu do céu...” 6:47-48: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida”. 7:38: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre”. 8:12: “: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.”  8:51: “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte”. 8:58: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”. 10:11,17,18: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas... Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai”. 10:27,28,30: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão... Eu e o Pai somos um”.
 
         À medida em que ponderamos sobre tais palavras, parece que nos colocamos sob a luz do sol, ficando prontos a exclamar, conforme o fez Tomé: “Senhor meu e Deus meu!” (João 20:28). Contudo, alguns de nós temos mentes tão constituídas que algumas vezes nuvens de dúvidas nos escurecem o firmamento individual e nos indagamos: “Como posso ter certeza de que estas são realmente as palavras de Cristo?” Então vejamos outra declaração Dele, cuja genuinidade tem sido confirmada pelos fatos: “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer V. 22: E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; V. 23: para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. V. 24:  Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. V. 25:  Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. V. 26:  Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; V. 27:  E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem. V. 28:  Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. (v. 29)  “E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação”.
 
         Aqui o Senhor, sem qualquer sombra de dúvida, reivindica honra igual à do Pai. Ele declara no verso 21: “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer”. Isso porque Ele tem a vida em Si mesmo, não uma vida derivada ou delegada, mas uma vida como somente Deus tem. Ele ainda acrescenta que será sob o Seu comando que os mortos se levantarão dos túmulos. Que significação devemos dar a palavras como estas? No capítulo 11 temos a resposta, pois aí lemos sobre um túmulo que escondia um cadáver já em decomposição, nos versos 43-44: “E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir”.
 
         A fé viva de Marta poderia tê-la munido de poder para salvar a vida do seu irmão. Ela mantinha, sobretudo, uma crença convencional sobre a “ressurreição do último dia”, e contudo, fora incapaz de captar a verdadeira significação de Suas palavras, quando Ele disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11:25). Então, quando Ele ordenou que se abrisse o túmulo, ela depressa O advertiu: “Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias” (v. 39). A isso Jesus respondeu: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” . E foi ali que ela teve a visão da glória, pois em obediência às Suas palavras: “Lázaro, sai para fora”, o que estava morto ressuscitou!
 
         As pessoas que rejeitam a direção divina implícita na inspiração, podem duvidar racionalmente da veracidade  de um registro falado. Contudo, esta é uma narrativa dos fatos. Aqui o escritor faz um relato detalhado dos eventos que sucederam diante dos seus olhos. Ele conhecia pessoalmente Lázaro de Betânia. Ele o viu sair do túmulo em obediência às palavras de Cristo: “Desligai-o, e deixai-o ir”.
 
         A casuística do ceticismo pode minimizar a narrativa dos milagres de outro tipo, mas aqui está um caso no qual é impossível haver erro.  A não ser que toda a história seja uma fabricação - e nesse caso, o escritor seria um profano impostor - mas a ressurreição de Lázaro é um fato. E se a ressurreição é um fato, “o enigma do universo” está resolvido: Deus, o autor e doador da vida”, manifestou-se ao homem. E assim, a Divindade de Cristo fica estabelecida.
 
         O racionalista se acha inteligente demais para reconhecer isso. E para salvar sua cara, ele rejeita o Quarto Evangelho. Mas se alguém que professa crer nas Escrituras nega  ou questiona a Divindade de Cristo, ele não apenas renega a sua profissão de fé cristã, como viola a própria razão. Pois ninguém, a não ser Deus, poderia dar vida a um cadáver em decomposição. Contudo, pode-se dizer que o Apóstolo Pedro trouxe Dorcas de volta à vida e que notáveis milagres foram operados também pelos apóstolos. Sim, mas isso deveria ser mais uma prova da Divindade do Senhor Jesus. Pois foi em Seu Nome que todas as obras poderosas foram realizadas. Em Seu Nome e não no Nome do Pai. Quando o Apóstolo Paulo declarou: “em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos...”, logo acrescentou: “ainda que nada sou (2 Coríntios 12:11), e também na sua grata declaração: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4:13), ele diz que nele não havia poder algum, mas Naquele que pode fortalecer os que devem agir em Seu Nome. Ele tem a vida em Si mesmo, vida no sentido de que ninguém, exceto Deus, tem vida, de modo a poder dizer: “Eu sou a vida!”
 
         Contudo, poder-se-ia indagar: “Não foi a Sua oração, diante do túmulo de Lázaro um reconhecimento de Sua dependência do Pai?” Dependência, sim, porém não no sentido de incompetência ou de fraqueza, mas de total submissão. Esta oração deve ser lida à luz de Suas palavras: “nada faço por mim mesmo” (João 8:28). Mas também destas palavras: “O Filho vivifica aqueles que quer” (João 5:21). Esse poder e essa vontade estavam em absoluta sujeição à vontade do Pai.
 
 
 
Cap. 6 do livro “The Lord of Heaven”,
Sir Robert Anderson

Traduzido por Mary Schultze

 

Imagem: Google

 

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