quarta-feira, 29 de junho de 2022

Os Adventistas, John Stott e o Bode para Azazel

A soteriologia adventista possui alguns problemas sérios e distintos da Teologia Cristã protestante histórica. Embora em suas Crenças Fundamentais (n.10) a afirmação da doutrina da salvação está alinhada com a teologia bíblica, ela infelizmente não é deixada só na teologia adventista. Destaco antes, porém, que alguns teólogos adventistas já disseram que a soteriologia adventista não é nem arminiana, nem calvinista. Outros teólogos identificam a soteriologia adventista sim com o arminianismo wesleyano. Mas seus problemas são outros. Em primeiro lugar a soteriologia adventista está ligada a eventos escatológicos, como o juízo investigativo iniciado em 22 de outubro de 1844 e também com forte ligação com o selo sabático. Os problemas são advindos da dependência e da submissão que precisam inclinar toda reflexão doutrinária ao que a profetisa escreveu, visto que a consideram inspirada, é somente obvio que essa submissão intelectual e espiritual seria inevitável. Em segundo lugar, outro problema mais exótico e estranho é que Ellen White disse que quem vai levar o pecado de toda a humanidade, incluindo os justificados em Cristo, será por fim Satanás, o Diabo. Segundo ela

Quando Cristo, pelo mérito de seu próprio sangue, remover do santuário celestial os pecados de seu povo, ao encerrar-se o seu ministério, Ele os colocará sobre Satanás, que, na execução do juízo, deverá arrostar a pena final”. (GC, p. 421).

Apesar disso, o adventismo insiste em dizer que os críticos que dizem que eles fazem do Diabo um Co-redentor, são desonestos e fazem caricatura de suas crenças. Pois bem, entre eles dizerem isso é uma coisa, mas culparem os críticos das conclusões inevitáveis do absurdo que Ellen White escreveu, é outra coisa. Ao invés de negarem o que ela escreveu, eles preferem nublar o debate entre ‘honestidade’ e ‘desonestidade’, ao passo que o que parece, para esses críticos, o que está em jogo é a lógica da proposição.



Pois bem, um dos interpretes mais respeitados do nosso tempo, o já falecido John Stott escreveu algo sobre esse assunto, fazendo algumas observações que são bem pertinentes ao assunto em tela. O nome de Stott vez por outra é citado por adventistas, visto que ele expressou alguma opinião contrária ao tormento eterno, causando assim alvoroço nos burgos adventistas. Veja o que ele diz sobre o Dia da Expiação, no qual o chamado “bode emissário” recebe relevo:

“Mais claro ainda era o ritual anual do Dia da expiação. O sumo sacerdote devia tomar “dois bodes para a oferta pelo pecado” a fim de expiar os pecados da comunidade israelita como um todo (Levítico 16.5).  Um bode devia ser sacrificado e seu sangue aspergido da maneira usual, ao passo que sobre a cabeça do bode vivo o sumo sacerdote devia pôr ambas as mãos e confessar “todas as iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode.” (v.21). Então ele devia enviar o bode ao deserto, e o bode levaria “sobre si todas as iniquidades deles para a terra solitária” (v.22). Alguns comentaristas cometem o erro de colocar uma cunha* entre os dois bodes, o sacrificado e o de escape, menosprezando o fato de que os dois juntos são descritos como “oferta pelo pecado” no singular (v.5). Talvez T. J. Crawford tivesse razão em sugerir que cada um deles incorporava um aspecto diferente do mesmo sacrifício, “um exibia os meios, e o outro os resultados, da expiação”. Nesse caso a proclamação pública do Dia da expiação era clara, a saber, que a reconciliação era possível somente através do levar o pecado substitutivo. O autor da carta aos Hebreus não hesita em ver Jesus tanto como “misericordioso e fiel sumo sacerdote” (2.17) quanto como as duas vítimas, o bode sacrificado cujo sangue era levado para o Santo dos Santos (9.7,12) e o bode expiatório que tirava os pecados do povo (9.28).” (A Cruz de Cristo, p. 149).

*Parece que essa ‘cunha’ fica bem evidente na obra, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, (para os que são familiarizados com obras protestantes, é uma Teologia Sistemática), diz em sua página 434:
“Azazel entra em cena depois... Esse bode não tem nada a ver com os rituais expiatório do Dia da Expiação. Serve apenas para levar sobre si todas as iniquidades do povo de Israel... A locução “levar sobre si” não significa levar o pecado de alguém vicariamente, pois somente nessa passagem a locução... é seguida por um destino: “para a terra solitária”. A expressão significa “levar embora” para o deserto não tem implicações doutrinárias. O rito do bode emissário era um rito de eliminação do pecado/impureza, não era um ato sacrifical.

Fonte: MCA

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