sexta-feira, 6 de setembro de 2024

As Mídias Sociais são Zonas de Distorção Espiritual

Às vezes alguém diz: “As mídias sociais são neutras. É apenas uma questão de como as utilizamos.” Isto é falso. À medida que aprendemos mais sobre o papel das redes sociais na nossa crise nacional de saúde mental, torna-se cada vez mais claro que esta tecnologia é tudo menos neutra—e os líderes governamentais estão a começando a responder. Em maio, Montana se tornou o primeiro estado norte-americano a decretar a proibição total do TikTok. O estado de Arkansas promulgou uma lei semelhante que exige que menores tenham aprovação dos pais para criar uma conta em determinadas plataformas de mídia social.

 

Os cristãos bem sabem que os efeitos nocivos das redes sociais também se estendem à nossa formação espiritual. Como observaram autores como Chris Martin, as mídias sociais se tornaram nosso principal discipulador. Elas conformam nossas mentes aos padrões do conteúdo que consumimos (ansioso, indignado, medroso e entorpecido), reestruturam nossos hábitos com suas práticas litúrgicas (abrir, rolar, deslizar, curtir e comentar) e nos pedem para oferecer nossos corpos como sacrifícios vivos (publicação de conteúdo para consumo de terceiros e lucro para a corporação por meio de anunciantes).

 

As redes sociais atuam como uma máquina de distorção espiritual e cognitiva que distorce nossa visão da realidade e inclina nossa vontade para longe de Deus. É a inversão sistemática e corporativamente incentivada de Romanos 12.1–2. Em vez de nossas mentes serem renovadas pelo Espírito de Cristo, elas são moldadas pela entrega algoritmicamente selecionada dos padrões específicos do mundo que melhor atendem aos nossos desejos não santificados. Elas nos acenam para a conformidade com o mundo, afastando nossos corações e mentes de Deus.

 

As mídias sociais não são atores neutros em nossa santificação. São agentes ativos que operam contra nos tornarmos mais semelhantes a Cristo.

 

Isso não significa que as mídias sociais sejam totalmente irredimíveis. Nosso consumo de mídia tem o potencial de nos afastar de Cristo ou nos aproximar de Cristo. É pelo fato de que os algoritmos refletem nossos desejos, que existe a possibilidade de resgatar as mídias sociais. Quanto mais nossos desejos forem para Cristo, e quanto mais conteúdo procurarmos para nos ajudar no nosso desejo por ele, mais o algoritmo se inclinará para um conteúdo centrado em Cristo que beneficie o nosso discipulado. A própria ferramenta que pode nos afastar de Cristo tem a capacidade de ser reformada para nos incentivar em direção a Cristo.

 

Novas Categorias de Usuários Cristãos das Mídias Sociais

Embora seja necessário sabedoria para nos envolvermos na zona de distorção espiritual das redes sociais—e para alguns, isso pode significar o afastamento completo—também precisamos de novas categorias para pensar sobre isso de forma cristã e modos de operação que glorifiquem a Cristo e ajudem outros a florescerem na Babilónia digital. Aqui estão quatro categorias a serem consideradas.

 

1. Discipulado através da criação de conteúdo.

Subestimamos o poder formativo do consumo constante de conteúdo ao longo do tempo. Se consumir conteúdo digital pode nos afastar de Cristo, pode também nos moldar em direção a Cristo. No entanto, necessitamos de cristãos fiéis, intencionais e inteligentes criando esse conteúdo e usando as melhores práticas para atingir o público-alvo.

 

As igrejas têm uma oportunidade única de fazer isto para suas próprias congregações. Cada vez mais, à medida que pastores são substituídos por podcasts e a média da presença no culto cai para uma vez ao mês, as igrejas podem reunir-se com os seus fiéis onde quer que estejam durante a semana, produzindo meios digitais locais que mantêm as pessoas conectadas à congregação local.

 

Existem alguns exemplos iniciais disso já acontecendo: Immanuel Nashville usa Substack para escrever devocionais curtos e diários para sua igreja. Um plantador de igrejas no Arizona, Trey VanCamp, usa seu canal no YouTube há anos para explicar seu ministério, recomendar livros, encorajar outros em suas práticas devocionais, lançar vídeos de workshops que conduziu em sua igreja e muito mais. A Crossing Church produz um podcast devocional semanal chamado Ten Minute Bible Talks [Conversas de 10 Minutos Sobre a Bíblia], que discorre sobre os livros da Bíblia.

 

2. Substituir influenciadores por missionários.

E se, em vez de procurarem uma grande plataforma para se tornarem conhecidos, pessoas cristãs criassem conteúdo de nicho baseado em interesses para públicos específicos, vendo-se como missionários para essas pessoas?

 

Em vez de o cenário da mídia cristã ser dominado por um punhado de celebridades, os pequenos e médios criadores de conteúdo cristão—enraizados em suas igrejas locais—têm a oportunidade de falar aos seus nichos de maneira útil e minimizar a atenção dada àqueles que representam o mundo evangélico em suas plataformas, mas não em seu caráter. Como seria isso?

 

Um exemplo é Gavin Ortlund e seu canal no YouTube, Truth Unites [A Verdade Unifica]. Gavin cria vídeos claros, úteis e harmonizados defendendo o Cristianismo (e especificamente o Protestantismo). Outro exemplo é Elijah Lamb (@doctrinewithlamb), um jovem cristão TikToker que regularmente aborda questões doutrinárias difíceis para seu público de mais de 70.000 pessoas em uma plataforma com viés mais para aqueles que abandonam a fé do que para aqueles que a mantêm. Ambos os criadores assumiram a tarefa de apologética de uma forma que é nativa das plataformas digitais em que estão e estão encontrando um público significativamente envolvido com seu conteúdo. À sua maneira, são missionários digitais.

 

3. Selecionando o bom, o verdadeiro e o belo.

Nem todo mundo consegue criar conteúdo original. É um processo desgastante em termos de tempo e esforço mental. Mas a seleção de conteúdo é outra maneira de apresentar recursos benéficos às pessoas para ajudá-las a crescer em sua caminhada cristã. Os pastores podem fazer isso criando páginas da web para acompanhar suas séries de sermões que apontam recursos adicionais para sua congregação se aprofundar. O pastor John Houmes fez isso com sua congregação em sua série de sermões sobre uma visão cristã do corpo. Tentei fazer isso tanto com uma playlist do Spotify contendo mais de 100 horas de música e podcasts para ajudar alguém a reconstruir sua fé quanto com um site com seleção de documentos da história da igreja para crescimento devocional e intelectual.

 

4. Resistir saindo.

Para alguns, a resposta é realmente se excluir das redes sociais. Este movimento não só conduz muitas vezes ao aumento da felicidade e da saúde espiritual, mas também funciona como uma forma de resistência espiritual e cultural. Às vezes, nosso testemunho cristão ocorre através da abstinência e não do envolvimento. Alguns cristãos se destacam por usarem as mídias sociais de maneira diferente de outros; alguns se destacam por não usá-las.

 

O objetivo de sair não é principalmente negativo. Em vez de simplesmente subtrair as redes sociais da vida para ajudar a saúde mental e espiritual, há a abstenção com o objetivo de adicionar relacionamentos mais sólidos em comunidade.

 

Papel das Igrejas

Como seria para as igrejas identificarem e apoiarem pessoas em suas congregações que são talentosas criadoras de conteúdo e comunicadoras, que poderiam ser chamadas para o campo missionário das mídias sociais?

 

Talvez as igrejas pudessem desenvolver oportunidades para os criadores de conteúdo em sua congregação se conectarem, colaborarem e encorajarem uns aos outros. Talvez as igrejas pudessem alocar uma pequena bolsa mensal para ajudar os “missionários digitais” a cobrir custos de software ou publicidade, da mesma forma que ajudam outros missionários. Os criadores poderiam, sob certas circunstâncias, usar as câmeras ou microfones da igreja para economizar dinheiro em equipamentos?

 

As igrejas também devem encorajar e apoiar as pessoas da quarta categoria—aquelas que optam por não estar nas redes sociais. Quando os refugiados da zona de distorção espiritual encontrarem o caminho para uma igreja local em busca de um Deus amoroso e de uma comunidade solidária, necessitarão de pessoas saudáveis, de visão clara, bem ajustadas e espiritualmente maduras para conhecê-los e recebê-los. com os braços abertos. Se uma igreja fizer das plataformas digitais o seu ministério principal, então não estará equipada para receber estes refugiados das redes sociais. As igrejas precisam garantir que tenham ministérios presenciais, como grupos nos lares, estudos bíblicos, aulas equipadas, cuidado pastoral e muito mais, para receber aqueles que optam pelo off-line em comunidades ricas e abundantes.

 

Às vezes, essas categorias se sobrepõem e outras vezes são totalmente distintas. Mas tanto as igrejas como os cristãos individuais devem procurar formas de combater ativamente a máquina de deformação das redes sociais. Se não o fizermos, as tendências sombrias do cenário das redes sociais só ficarão mais sombrias e os algoritmos corromperão espiritualmente cada vez mais os nossos amigos, familiares e entes queridos.

 

Sejamos proativos ao pensar em como levar a esperança do evangelho e a reforma a esse espaço de deformação. Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, tanto online quanto offline.

 

Traduzido por Anyela Rojas Molina

 

Ian Harber é escritor e gerente de marketing da Endeavor, um ministério digital. Ele escreve sobre a reconstrução da fé em seu boletim informativo, Back Again [De Volta]. Pode-se segui-lo no Twitter.

 Fonte: https://coalizaopeloevangelho.org

 

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