segunda-feira, 22 de julho de 2024

A Bíblia é mais Difícil do que Parece?

Esta carta foi dirigida como resposta às especulações de um professor. Na seção de artigos de um referido jornal secular este senhor escreveu expondo suas ideias sobre as alegadas dificuldades da Bíblia. Ele apoia suas críticas partindo de alguns pressupostos particulares. Para ele a Bíblia seria difícil por que entre outras coisas:

 

Foi escrita em línguas bem diferentes;

 

Várias cópias dos manuscritos geraram “erros” nas versões existentes;

 

A Bíblia foi escrita numa língua difícil de compreender – o hebraico;

 

A composição da Bíblia seria complicada pois apresenta relatos duplos de uma mesma passagem;

 

Moisés não escreveu o Pentateuco, mas este é de fonte tardia comprovado pela crítica textual nos chamados documentos JEDS;

 

O Espírito Santo não pode auxiliar numa tradução da ideia do texto original;

 

Somente ler a Bíblia não revela os propósitos de Deus para nós.

 

Enviamos então a resposta abaixo sem contudo até o exato momento obter respostas a mesma. Segue abaixo a carta despachada a este senhor.

 

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Prezado *Mario Eugênio!

 

Não te conheço pessoalmente, então não posso fazer julgamentos a seu respeito no tocante à sua crença na Bíblia.

 

Sou evangélico e obreiro da Assembleia de Deus em Rio Preto. Sou também leitor de alguns jornais desta cidade entre eles a “Folha de Rio Preto”.

 

Lendo o exemplar do dia 9 de Abril de 2003 deparei com o artigo intitulado “A Bíblia é mais Difícil do que Parece” de sua autoria publicado no jornal “Folha de Rio Preto”. Este artigo foi posteriormente reeditado no dia 31 de Maio de 2003 neste mesmo jornal. Lendo o referido artigo não pude deixar de constatar alguns equívocos naquela matéria concernente à Bíblia Sagrada, cuja correção gostaria de compartilhar com você.

 

A princípio, concordo que há certas “dificuldades” em relação ao texto bíblico. Mas isso não implica que o homem não possa saber dos propósitos de Deus concernente á salvação de sua alma e sua vida espiritual. Os propósitos de Deus estão claros e patentes para nós no sacro livro. Negar tal fato é obscurecer o objetivo para o qual esta coletânea sagrada foi escrita.

 

Outrossim, permita-me esclarecer que não há nenhum “problema” em saber que este livro foi escrito em épocas diferentes, em línguas diferentes por escritores diferentes como alega Vsª.; isto ao invés de ser um problema, revela a grandiosidade da obra divinamente inspirada. Em toda sua harmonia e beleza revela a mente de um ser supremo e inteligente guiando cada escritor com suas diferenças culturais, geográficas e sociais em todo o relato bíblico. Quando todos estes livros são reunidos num tomo só, reflete uma harmonia tal que nenhum conjunto de escritores, por mais capazes que sejam, conseguem, sob as mesmas condições, produzir uma literatura tão coesa em sua estrutura.

 

Há de se esclarecer ainda que as ditas cópias (manuscritos) da Bíblia não representam nenhuma objeção à sua compreensão. Ao invés disso, mostra que Deus preservou sua Palavra de modo maravilhoso. A Bíblia foi submetida durante séculos a várias provas, entre elas perseguições e extermínio sob o regime dos Imperadores, dos papas e mais atualmente dos céticos, agnósticos, comunistas e ateus. Quando o ataque não vinha de fontes externas, surgia de dentro da própria igreja. Quando a fogueira já não mais funcionava, foi levantada as objeções intelectuais contra ela – a alta crítica – a inquisição e a pseudociência do século XX.

 

Outra falácia que observo em seu artigo é dizer que “a própria composição da Bíblia é complicada”. Ao que tudo indica, o senhor está se baseando nas teorias documentárias de Wellhause, que por sinal já estão ultrapassadas. É verdade que muitos estudiosos liberais acreditam nisso até hoje, mas é igualmente verdade que tantos outros de igual gabarito, rejeitou por completo essas teorias por não condizerem com os fatos. A razão é que elas partem de pressupostos naturalistas fixos, que por vezes acaba se firmando como a regra a ser aplicada sem levar em conta pesquisas mais recentes em outras áreas. O crítico Baruch Spinosa, por exemplo, acreditava que Moisés não escreveu o Pentateuco, baseando para isso em seus preconceitos anti-sobrenaturalistas.

 

Sim, há fartas provas internas e externas que amiúde corroboram e apontam para a o fato de que foi Moisés que escreveu o Pentateuco. Se a ICR preza tanto os escritos dos primeiros pais da igreja, deveria saber que nem um deles se levantou contra a autoria mosaica dos primeiros cinco livros da Biblia. Os únicos a fazerem isso foram seitas que viviam à margem do cristianismo.

 

Demais disso, as chamadas fontes “JEDP”, carecem de provas conclusivas. Tal teoria se baseia em uma má exegese do texto sagrado; é na verdade uma eisegese. Os vários usos dos nomes divinos “Elohim, Yahweh” , são somente entendidos quando postos em sua correta perspectiva. Não há de se falar em complicações, o exame minucioso sem preconceitos do texto bíblico não comporta tal ideia.

 

Quanto às repetições de alguns textos, isso não prova que haja mais de um autor compondo o Pentateuco.

 

Supostos relatos duplicados ou triplicados de um mesmo episódio, na verdade são relatos diferentes com detalhes similares. É necessário saber que a reiteração é uma característica do estilo hebraico, que com frequência fazia uma declaração geral, sob forma introdutória, para então ampliar essa declaração com alguns detalhes.

 

Os supostos detalhes que muitos críticos acham até contraditórios, nada mais são que detalhes suplementares, e só são vistos como conflitantes quando tais narrativas são mal-interpretadas.

 

Assim é a Bíblia, de complicada e errada não tem nada. É uma fonte inesgotável de saber para teólogos, historiadores, sociólogos, em suma para todos os doutos.

 

Isto porque, felizmente existe um Espírito Santo que ficou como o guardião dessa bendita Palavra. Incumbiu-se a terceira pessoa da santíssima Trindade em levar a igreja a toda a verdade, por isso mesmo João diz com muita propriedade: “E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei.” [I João 2:27]

 

Sim, acredito que há a necessidade de buscarmos uma avaliação criteriosa do texto bíblico, usando as ferramentas disponíveis nas ciências teológicas: arqueologia e metodologia científica… Contudo, gostaria de ressaltar que no contexto que se refere estritamente á salvação do indivíduo, a Bíblia não apresenta nenhum tipo de complicação, tanto é, que o próprio Jesus instou os seus adversários a “examinar livremente as escrituras” pois encontrariam nelas a “vida eterna” [João 5:39]

 

Por tudo isso, vemos o quão abençoados somos nós, por termos como pastores homens que realmente acreditaram que a Bíblia não é uma miscelânea de contradições, mas que ela é “a Verdade” e como tal, é simples. Todos que se colocam sob o titulo de pastor deveria aceitar a Bíblia de maneira incondicional como faziam os primeiros cristãos. E somos de fato gratos por homens como esses que estudaram a Bíblia partindo desta premissa para no-la ensinar.

 

*Mário Eugênio Saturno é tecnologista sênior do INPE, professor da Fafica e congregado mariano.

 

Fonte: CACP

Imagem: Google

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