Às
margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos,
lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as
nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e
os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum
dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do
SENHOR em terra estranha? (Sl 137.1-4 - ARA).
Moisés -
que estava no monte Sinai encontrava-se com o Senhor e recebendo os Dez
Mandamentos - não percebera que, lá em baixo, o povo de Deus estava em
perigo. Envolto pela presença de Deus, esse líder não tinha outro
pensamento, senão o Senhor. No arraial, contudo, a história era
diferente.
Enquanto
estava no topo da montanha, o seu irmão, Arão, cedeu à ociosidade de
Israel. Moisés tinha ficado longe por mais tempo do que haviam previsto,
e algo precisava ser feito para saciar o apetite carnal do povo de
Deus. A verdade é que eles estavam cansados de esperar por Moisés.
Quando você
olha para os fatos, é fácil ver que um dos grandes perigos que
confronta o povo escolhido está relacionado ao ócio religioso. Entendiar-se com a religião é compreensível, mas entendiar-se com Deus, não.
Aqueles que um dia tiveram um encontro com o Senhor e com a Sua
presença poderosa e majestosa, de maneira alguma se amofinam - o mesmo
que: aborrecem, afligem, angustiam, apoquentam, atormentam, torturam,
trateiam. A religião, por outro lado, com todas as suas regras
enfadonhas, deixa-nos vulneráveis ao tédio. Qualquer um que tente seguir
minuciosamente sua crença experimenta muitos momentos de fadiga, diante
de todos os seus detalhes triviais.
Israel
havia vivenciado todas as maravilhas do Senhor a seu favor, no entanto
ficara entendiado com Deus desses milagres. Ao ser confrontado pela ira
de Moisés, Arão disse:
Respondeu-lhe
Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que o povo é propenso
para o mal. Pois me disseram: Faze-nos deuses que vão adiante de nós;
pois, quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não
sabemos o que lhe terá acontecido. Então, eu lhes disse: quem tem ouro,
tire-o. Deram-mo; e eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro (Êx
32.22-24 - ARA).
O ambiente
do espírito da Babilônia criou uma situação tal, que a Igreja tem sido
dominada pelo que chamo de rituais. Essas práticas têm exercido tamanho
domínio sobre a cena cristã atual, que o verdadeiro cristianismo tem
dificuldade até de respirar. Permita que eu explique isso melhor e lhe
mostre o que quero dizer.
O CULTO À IMITAÇÃO
O primeiro
ritual que tem dominado o cristianismo contemporâneo é a imitação
daquilo que se vê do lado de fora da Igreja [...]. Houve um tempo em que
o Corpo de Cristo estabelecia os padrões da música. Naquela época, o
mundo imitava a Igreja. Homens como Beethoven, Mozart e Handel definiam
as tendências musicais, e o seu foco estava na música religiosa. Hoje,
já não promovemos nossa musicalidade, apenas copiamos aquilo que ouvimos
ao redor.
Com nossa
leitura, não está diferente. Se há um best-seller mundial, tenha certeza
de que, eventualmente, será imitado pela igreja [...]. Parece que
alguns escritores sentem prazer em ver quão perto do abismo conseguem
chegar sem cair nele. Eu tenho uma notícia importante: eles não correm
perigo do precipício. Já caíram, apenas não sabem disso.
Alguns
dizem que é uma grande honra e uma marca de sucesso escrever um livro
que seja aceitável tanto no mundo quanto na Igreja. Há algo errado
nisso. Não consigo encontrar na Bíblia, ou mesmo na história da Igreja,
algo que, de algum modo, sugira qualquer compatibilidade entre o secular
e o sagrado. O padrão eclesiástico deveria ser muito mais elevado e
grandioso do que o mundano. Aquilo que satisfaz a Igreja jamais deveria
satisfazer o mundo. O verdadeiro cristão tem um apetite insaciável por
Cristo e pelos interesses dEle, enquanto o mundo não possui tal anseio.
Cristo é
único e não imita o outro. Tampouco corteja o mundo em uma tentativa
patética de ganhá-lo. Muitas igrejas evangélicas estão mais próximas do
mundo do que dos padrões do Novo Testamento em quase todos os aspectos.
O CULTO AO ENTRETENIMENTO
Associada
ao culto à imitação está a devoção ao entretenimento. Essa é,
provavelmente, a heresia mais destrutiva a envenenar o Corpo de Cristo. A
ideia de que a religião é uma forma de divertimento está tão longe dos
ensinamentos dos Evangelhos, que me admiro em ver que até mesmo igrejas
tradicionais têm cedido a esse apelo.
O que esta
geração de cristãos precisa não são de distrações religiosas para
satisfazer seu apetite carnal, mas de obras literárias com base bíblica,
que desafiem e conduzam a alma a um conhecimento mais profundo acerca
de Deus, de Cristo e de todo o plano da salvação. É verdade, tudo aquilo
que nutrimos cresce. Se nutrirmos a natureza carnal e sua voracidade,
isso se tornará o aspecto dominante de nossa vida. Por outro lado, ao
saciarmos nossa natureza espiritual, o desejo por Deus crescerá.
O CULTO ÀS CELEBRIDADES
O terceiro
rito que domina os evangélicos contemporâneos é a idolatria às
celebridades. De certo, eu deveria parar por aqui. Por alguma razão, os
líderes da Igreja atual acreditam que, para realizar seus propósitos em
Cristo, precisam de alguma celebridade convertida.
Presume-se
que essa pessoa ilustre fará pela Igreja o que um servo de Deus não pode
fazer. Afinal, esses famosos têm acesso ao mundo. Aqueles que se deixam
impressionar por uma celebridade convertida são cristãos carnais, e
eles só se impressionam até que chegue uma celebridade ainda maior. Onde
está a geração que se prostrava diante de Deus, com o coração
quebrantado pelo mundo à sua volta? Onde estão aqueles cristãos que
abriram mão de tudo para alcançar homens e mulheres não salvos?
Onde estão
os D. L. Moodys da Igreja hoje? E os A. B. Simpsons? Os Adoniram
Judsons? Ou os J. Hudson Taylors? Onde estão as Susanas Wesleys? As Lady
Julians? Eu poderia citar muitos outros. Contudo, o cristão
contemporâneo não é digno de desatar a correia das sandálias destes.
saber da
existência desses homens e dessas mulheres, da obra que realizaram para
Cristo e depois, sair à procura de alguma celebridade convertida a quem
se possa seguir é quase uma blasfêmia. Nós desfalecemos diante das
celebridades. Aceitamos o que quer que digam como sendo a palavra
importante do momento, mesmo quando se trata de algo contrário ao
ensinamento claro das escrituras. Inácio disse: "Não permita que nada o
fascine além de Cristo".
Hoje,
vivemos deslumbrados por celebridades. Por alguma razão, presumimos que o
entretenimento carnal é um substituto apropriado para a adoração
santificada ao Deus Altíssimo. Todo o status desses famosos, com seu
talento mundano, é estranho à Nova Jerusalém. Nenhuma emoção barata
poderá substituir a alegria inefável de conhecer a Jesus Cristo.
Pense nisso!
Por A. W. Tozer
Tozer. A. W. Os Perigos de Uma Fé Superficial. Graça Editorial, Rio de Janeiro, RJ, 2014: p. 37 - 44.
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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