Em sua incansável tarefa de inventar mentiras que perturbam a igreja de Deus, os falsos mestres de hoje criaram o conceito de “cobertura espiritual”. Segundo dizem, essa expressão se refere à suposta proteção de que desfruta o crente que está sob a liderança e orientação de pessoas que, por sua vez, respondem à cúpula da igreja. Isso, obviamente, implica a falsa ideia de que o cristão que se recusa a continuar sob a autoridade de seus mentores está “descoberto”, vivendo sem proteção espiritual alguma e, logicamente, sujeito aos mais diversos perigos, podendo enfrentar revezes em sua saúde e em sua vida espiritual, familiar, financeira e profissional. É claro que esse conceito é usado para engendrar medo nas pessoas e, assim, mantê-las em silêncio, sob o total controle dos seus superiores.
O conceito de “cobertura espiritual” tem sido acolhido por várias igrejas independentes. O resultado bastante comum disso é um tipo radical de discipulado, com manipulação do indivíduo e controle de sua agenda, amizades, tempo e dinheiro, sempre com a exigência de sujeição completa aos líderes, sob a ameaça velada (e, às vezes, aberta!) de, no caso de recusa, o crente ficar fora da proteção de Deus.
Os exemplos dessas intervenções abusivas são chocantes. Relatos de pessoas que viveram sob esse sistema revelam que, muitas vezes, os discipuladores e líderes desconhecem os limites de suas prerrogativas. De fato, escudando-se na ideia de que o discípulo deve “prestar contas” a eles, geralmente os tais mestres “grudam” no discípulo, procurando-o constantemente e fazendo intromissões em sua vida financeira, determinando, por exemplo, o modo como ele deve usar seus recursos e fazendo exigências relativas à entrega de dízimos e ofertas. O mentor também exige que o discípulo lhe abra o coração (sob a ameaça de ser considerado rebelde) e exponha todos os seus segredos e lutas pessoais, chegando a formular perguntas acerca da vida íntima do pupilo com sua esposa, enunciando comandos acerca do modo como ele deve resolver seus problemas particulares e cobrando relatórios do seu tempo devocional. Isso tudo sempre é acompanhado da lição onipresente de que o crente deve “prestar contas” ao seu líder.
Agindo como chefes supremos, os tais discipuladores também proíbem os crentes sob seu “comando” de relacionarem-se livremente com outras pessoas, determinando até com quem o pupilo solteiro deve namorar ou não. Também exigem, frequentemente, que o discípulo peça autorização para ir a uma festa, ficar em casa em dias de reuniões da igreja, comprar um celular novo, ler um determinado livro, mudar de emprego, fazer um curso qualquer... Via de regra, o mentor usa até “base bíblica” para exigir obediência absoluta. Surpreendentemente, a “base” citada muitas vezes é Romanos 13.1-2, um texto que fala sobre a autoridade secular civil!!!
Escravidão! Essa é a palavra que define a liderança exercida nos moldes descritos acima. Com efeito, trata-se de uma escravidão nutrida pela altivez do falso mestre e pelo medo do discípulo, medo esse decorrente da mais tosca ignorância bíblica.
A verdade é que, se os cristãos modernos conhecessem um pouco mais a Santa Palavra, saberiam que sua “cobertura espiritual” não está ligada à sujeição a este ou aquele “ministério”. Em vez disso, saberiam que os crentes verdadeiros são todos “guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pe 1.5); que Deus sempre cuida dos seus (1Pe 5.7); que as ovelhas do Senhor estão nas suas mãos, de onde ninguém pode arrebatá-las (Jo 10.28-29); que a ação do Pai guarda os cristãos do maligno (2Ts 3.3); que o Espírito Santo habita permanentemente neles (1Co 6.19-20); e que essa presença vai perdurar até o dia da sua redenção final (Ef 1.13-14). Como, pois, alguém assim poderia ficar sem “cobertura espiritual”, especialmente quando se dispõe a escapar do erro e fugir da gente perversa que tenta manipulá-lo e escravizá-lo?
Ademais, é inegável que qualquer cristão com um mínimo de discernimento espiritual e com um entendimento mesmo que superficial das Escrituras tem condições de perceber que esse monitoramento tirânico e invasivo sobre as ovelhas de Cristo não encontra amparo em absolutamente nenhum versículo sagrado, sendo somente mais uma marca dos falsos mestres que não se cansam de tentar minar a liberdade daqueles que o Senhor resgatou, sujeitando-os a si pelo simples prazer de exercer domínio (2Co 11.20; Gl 5.1).
Pior do que isso, esse modelo terrível é também uma forma de anular a independência e privacidade do crente, amputando sua individualidade, impedindo que se autodetermine, que avalie seus rumos e decisões por si só e, assim, amadureça como pessoa normal. Isso sem falar que, muitas vezes, os tais “líderes” são pessoas carentes de elementos que as habilitem a orientar alguém, o que faz com que formulem ordens e conselhos com base apenas em suas intuições e preferências particulares, conduzindo fatalmente o pobre discípulo por direções erradas e gerando, enfim, prejuízos irreparáveis em seu caráter, em sua família, em seu trabalho e em sua vida acadêmica.
Assim, a igreja de Deus jamais deve adotar o conceito enganoso de “cobertura espiritual”. Em vez disso, deve trabalhar para promover o crescimento de cada crente fazendo uso dos meios realmente bíblicos, ou seja, o ensino formal da Sã Doutrina, ministrado por homens que Deus chamou (At 20.20,27), e a comunhão cristã dinâmica e produtiva (Rm 15.14; 1Co 12.12-26). Isso porque modismos e métodos “revolucionários” vão e vêm sempre causando prejuízos enormes na vida de muitos cristãos que se deixam levar por novidades. Fiquemos, pois, com os métodos salutares das Escrituras, métodos, sem dúvida, muito antigos, mas nunca obsoletos.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria
Assista um vídeo sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=PLpwUVvhQN0
Fonte: http://www.igrejaredencao.org.br
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