quinta-feira, 2 de novembro de 2023

UMA FESTA DE ANIVERSÁRIO QUE TERMINOU EM TRAGÉDIA

Por Pr. Silas Figueira

 

Texto base: Lucas 3.19-20; Marcos 6.14-29

 

INTRODUÇÃO

 

Esse texto que lemos a respeito da morte de João Batista está dentro da narrativa dos milagres que Jesus estava operando e do envio dos doze apóstolos. Em Marcos 6.14,16 nos diz que “ouviu isto o rei Herodes (porque o nome de Jesus se tornara notório), e disse: João, o que batizava, ressuscitou dentre os mortos, e por isso estas maravilhas operam nele. [...] Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dentre os mortos”.

 

Herodes ficou inquieto com esses acontecimentos pois foi ele que havia mandado prender e, posteriormente, matar João Batista. Herodes teve a oportunidade de conhecer João Batista, o último profeta do Antigo Testamento, o precursor do Messias, como teve a honra de conhecer o Messias encarnado e interroga-lo. No entanto, ele perdeu as duas oportunidades de arrependimento e salvação que lhe foram dadas. João ele mandou matar e Jesus ele consentiu que o matassem. 

 

Existem pessoas em que oportunidades ímpares lhes caem no colo por mais de uma vez e no entanto as rejeitam.   

 

Herodes e sua família conturbada. Em muitas famílias o que reina é a intriga a desconfiança e até mesmo a morte. Foi assim na família horodiana. Esta família tem uma passagem sombria pela história. Era uma família cheia de mentiras, assassinatos, traições e adultério. Herodes, o Grande foi um monarca insano, desconfiado e inseguro. Ele casou-se dez vezes, matou esposas e filhos. Mandou matar as crianças de Belém, pensando com isso, eliminar o infante Jesus, rei dos judeus.

 

Herodes Antipas era o filho mais novo de Herodes, o Grande (Mt 2.1). Ele era chamado de rei, mesmo que o seu título oficial era “tetrarca” (Lc 3.19), governador de uma quarta parte da nação. Quando Herodes, o Grande morreu, os romanos dividiram seu território entre seus três filhos; e Antipas foi feito tetrarca da Peréia e Galileia, aos dezesseis anos, de 4.a.C. até 39 d.C. [1]

 

 Quais as lições que podemos tirar desse texto:

 

1 – HERODES, UM HOMEM ADÚLTERO E INCESTUOSO (MC 6.17-19).

 

O casamento desleal de Herodes Antipas e Herodias forma o pano de fundo para a morte de João Batista [2]. O conflito entre João Batista e Herodias começou quando João Batista iniciou suas pregações sobre o arrependimento e a iminência do advento de Cristo. Tal pregação provocou duas reações. Algumas pessoas responderam com entusiasmo e perguntavam a João o que fariam, a fim de se prepararem para este acontecimento (Lc 3.10-14). Quando, porém, Herodes soube que o profeta apontava para pecados específicos, inclusive o seu relacionamento com Herodias, Lucas diz que “acrescentou a todas as outras (maldades) ainda esta, a de lançar João no cárcere” (Lc 3.19,20).

 

A razão de Herodias ficar tão furiosa com João é porque ele havia apontado o pecado dela também, por ter passado de um irmão para o outro.

 

Herodes Antipas era casado com uma filha do rei Aretas, rei de Damasco. Divorciou-se dela para casar-se com Herodias, mulher de seu meio irmão Filipe. Herodias era cunhada e sobrinha de Herodes. Era filha de Aristóbulo, seu meio-irmão. Ao casar-se com Herodias, Herodes cometeu pecado de adultério e incesto, violando assim a moral e a decência (Lv 18.16, 20.21). O casamento de Herodes foi duramente condenado por João Batista. 

 

João Batista não era um profeta da conveniência, mas voz de Deus quer no deserto quer no palácio. Estava pronto a ser preso e a morrer, não a calar sua voz.

 

Muitas pessoas hoje, assim como Herodes e sua esposa Herodias, têm banalizado o casamento. Para muitos, o casamento não passa de uma ascensão social, um bom negócio, ou, uma aliança déspota. Casamento por conveniência. Quantos relacionamentos incestuosos tem sido denunciados nas redes sociais. Desde estupros a casamento entre mãe e filha. Isso sem contar que alguns pastores liberais têm apoiado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Para eles o que importa é o amor.

 

E quando Deus aponta para tais casamentos e os condena, as pessoas envolvidas neste erro acham mais fácil matar o mensageiro de Deus do que mudar o comportamento. Preferem tapar os ouvidos ao que Deus tem falado a voltar-se para Deus com rogos e arrependimento (Apocalipse 16.8-11).

 

2 – HERODES, UM HOMEM ACUSADO PELA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA (MC 6.14-16,20).

 

Essa foi a resposta de sua imaginação mórbida e doentia, influenciada por uma consciência acusadora. O homem com a consciência pesada vive num estado de temor. Como Marcos mostra: Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo; e guardava-o com segurança, e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa mente o ouvia” (Mc 6.20).

 

Quando Herodes, que havia mandado decapitar João Batista, ouve o povo falar de Jesus, fica aterrorizado pensando que o profeta havia ressuscitado, pois isto significaria, na cabeça dele, que o próprio Deus havia tomado a defesa de sua vítima. 

 

Ele pensava isso pois ele sabia que João era um homem justo e santo!

 

Herodes temia João Batista vivo, mas agora, o teme ainda mais morto. Sua consciência está atormentada e ele não sabe como livrar-se dela. Ninguém pode evitar viver consigo mesmo; e quando o ser interior torna-se o acusador, a vida torna-se insuportável. Herodes, em vez de arrepender-se, endurece ainda mais seu coração. 

 

Adolf Pohl diz que nada é mais perigoso que uma consciência pesada sem arrependimento. Herodes está vivendo o conflito entre a consciência e a paixão.

 

Dois aguilhões feriam a consciência de Herodes, o assassinato de João Batista e o medo de haver ele ressuscitado. João Batista havia se interposto no caminho do pecado de Herodes. Este, para agradar sua mulher e acalmar sua consciência, colocou João na prisão e depois mandou decapitá-lo. Herodias temia o povo, Herodes temia a João, mas este não temia nem a um nem a outro a não ser a Deus.

 

Com isso em mente, podemos destacar duas coisas:

 

a) Herodes era um homem supersticioso. Herodes pensa que Jesus é João Batista que ressuscitou para perturbá-lo. Ele está tão confuso acerca de Jesus quanto a multidão da Galileia. Sua crença está desfocada. Sua teologia é mística e supersticiosa. E uma teologia cheia de superstição traz tormento e não libertação.

 

A superstição é uma fé baseada em sentimentos e opiniões. Não emana da Escritura. Ela varia de acordo com o momento. Ela não oferece segurança nem paz.

 

Muitas igrejas hoje pregam um evangelho supersticioso. Um evangelho de mandingas, um evangelho do medo. Um evangelho que aprisiona. Um evangelho opressor.  Muitas igrejas hoje estão mais parecidas com centro espírita do que com igreja evangélica. Até mesmo a coreografia que esboçam é semelhante a esses lugares. 

 

Crentes que creem mais no diabo do que poder de Deus. Depositam sua fé em figas e amuletos, mas não nas promessas de Deus. Isso ocorre porque ouvem uma teologia sincrética, híbrida e sem profundidade teológica. Tais pessoas não foram libertas por Cristo, continuam prisioneiras de Satanás.

 

Herodes era escravo na sua consciência e do seu pecado. Teve a oportunidade de mudar, mas optou em matar o seu mensageiro e o próprio Salvador. 

 

Se você estivesse no lugar de Herodes o que você faria?

 

b) Herodes um homem conflituoso. Herodes teme João, gosta ouvi-lo, respeita-o, mas prende-o. A voz de Herodias falava mais alto que a voz da sua consciência. Ele não foi corajoso o suficiente para obedecer à palavra de João, mas agora se sente escravo da sua própria palavra e manda matar um homem inocente. 

 

Não basta admirar e gostar de ouvir grandes pregadores. Herodes fez isso, mas pereceu. Herodes e Herodias estavam tão determinados a continuar na prática do pecado que taparam os ouvidos à voz da consciência e mais tarde silenciaram o profeta, mandando degolá-lo. Herodes silenciou João, mas não conseguiu silenciar sua própria consciência culpada.

 

Em nossas igrejas existem muitas pessoas como Herodes. Gostam de ouvir um bom sermão, mas não os coloca em prática. Existem muitos “amigos do evangelho” em nossas igrejas. No entanto são pessoas que não querem nenhum compromisso com Deus. Tornam-se até frequentadores da igrejas, mas não querem assumir nenhum compromisso com Jesus. Podem até assumir algum compromisso com a instituição que frequentam, mas não com Deus. Pessoas assim dão mais ouvidos ao que as pessoas falam e pensam a seu respeito (Herodias da vida) do que o que Deus tem falado. Na hora de decidir a quem ouvir, ficam com os amigos, e abandonam a Deus.

 

Quem você tem dado ouvidos?

 

3 – HERODES, FESTEJA A VIDA, MAS CONDENA À MORTE (Mc 6.21-28).

 

Herodes festeja com seus convivas e se embebeda. As festas reais eram extravagantes tanto na demonstração de riqueza quanto na provisão de prazeres. Homens, mulheres, luxo, mundanismo, bebidas, músicas profanas e danças, pecados e Satanás com seus emissários… Observe que Marcos utiliza a designação “rei”, que era como Herodes desejava ser chamado, mas na realidade ele era apenas um tetrarca, o governador de uma quarta parte de sua nação. O Império pertencia a Roma e não a ele [3].  

 

Tudo estava presente, menos o temor de Deus. Esse é o retrato da sociedade mundana, sem Deus, transviada e perdida. 

 

Essa perversão fazia parte da vida luxuosa de Herodes e também da sua vida familiar. 

 

a) Herodes era um homem manipulado pela esposa (Mc 6.19,22-28). Herodes Antipas é uma casa dividida contra si mesmo [4]. Enquanto Herodes intentava preservar a vida de João Batista, Herodias esperou pacientemente por uma oportunidade de mata-lo. O caráter malicioso desses dois nos trazem à memória Acabe e Jezabel (1Rs 18-21).

 

Herodias sentiu que o único local onde sua certidão de casamento poderia ser escrita com segurança seria no verso da sentença de morte de João Batista [5].

 

Observe o que nos fala Marcos 6.19,20: “E Herodias o espiava, e queria matá-lo, mas não podia. Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo; e guardava-o com segurança, e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa mente o ouvia”.

 

Herodias sabia que Herodes temia a João e de boa mente o ouvia. Diante disso, era uma questão de tempo para Herodes dar ouvidos a João Batista e deixá-la. Como disse Paulo aos Romanos 10.17: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”.

 

Quando o Espírito Santo entra no coração de alguém gera vida e fé, com isso vem a transformação de vida. Há o rompimento com o pecado. Isso Herodias não queria, ela não estava disposta a perder o que havia conquistado.

 

Herodias finalmente encontrou um meio estratégico de manipular o “rei” Herodes. Agora ela tinha a oportunidade de pôr em ação o seu plano. O aniversário do “rei”. As festas reais eram sempre extravagantes, tanto em sua ostentação quanto nos entretenimentos. 

 

Os judeus não permitiam que as mulheres dançassem diante de um grupo de homens, e a maioria das mães gentias teria proibido uma filha fazer o que a enteada de Herodes fez. Herodias no entanto, sabendo da vulgaridade de Herodes (pois havia se casado com a mulher de seu irmão), e sabendo que com a dança ele cobiçaria a sua enteada, fez com que a menina entrasse na festa e dançasse para o “rei” [6]. E foi isso que aconteceu. Alguns comentaristas acreditam que essa menina era ainda adolescente. Se for assim, Herodes era adúltero, incestuoso e pedófilo. 

 

Muitas mulheres em troca de luxo e fama (o ex-marido de Herodias era um homem rico, mas não tinha poder), entram em um relacionamento errado e abraçam de vez o pecado. Tudo em troca de dinheiro, fama e status. Ainda que para isso exponham os filhos e os use para o seu bel prazer. 

 

Quantas esposas manipulam os maridos para se beneficiarem. Usam de malícia, impiedade e oportunismo. A mulher tem o poder de edificar e de derrubar um lar: “Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a tola a derruba com as próprias mãos” (Pv 14.1). 

 

Ester entra na presença do rei para salvar uma nação, Herodias usa a filha para matar um homem justo.

 

b) Herodes fez uma promessa inconsequente (Mc 6.22-29). Bêbado e seduzido, fez promessas irrefletidas à filha de Herodias. Os historiadores dizem que o nome dessa menina era Salomé (que tudo indica era maliciosa também), ela representa apenas a extensão do desejo de Herodias, um joguete complacente em um jogo de intriga e poder.

 

“Disse então o rei à menina: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino” (Marcos 6.22,23).

 

Que reino? Herodes não tinha reino nenhum. Ele era apenas um tetrarca. Mas eis que vem o pedido da menina depois de consultar a mãe: “E, saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João o Batista. E, entrando logo, apressadamente, pediu ao rei, dizendo: Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça de João o Batista” (Marcos 6.24,25).

 

Para manter sua palavra manda decapitar o homem a quem respeitava e temia. Herodes era um homem que agia por impulso e falava antes de pensar.

 

Sua festa de aniversário tornou-se numa festa macabra. O bolo de aniversário não veio coberto de velas, mas coberto de sangue com a cabeça do maior homem dentre os nascidos de mulher, o precursor do Messias. Faltou a Herodes coragem moral para temer a Deus e quebrar seus votos insensatos. Mas por orgulho atendeu ao pedido de uma mulher vingativa e de convivas fúteis.

 

Herodes foi vítima de suas escolhas. Ele seduziu a mulher de seu irmão e trouxe para junto de si uma cobra.

 

O salário do pecado é a morte (Rm 6.23), e um abismo chama outro abismo (Sl 42.7).

 

Devemos aprender a nunca fazer promessas quando estamos muito felizes e também muito tristes. 

 

4 – HERODES, UM HOMEM QUE PERDEU A OPORTUNIDADE DA SALVAÇÃO DUAS VEZES.

 

Herodes perdeu a oportunidade de salvação a não dar ouvidos ao que João Batista lhe falava e abandonado o pecado, e diante de Jesus, no dia de seu julgamento. Herodes estava curioso em conhecer Jesus, mas não em aceitá-lo como seu salvador (Lc 23.8-12).

 

Herodes simplesmente viveu no pecado. Não ouviu o profeta, prendeu o profeta, matou o profeta e endureceu ainda mais o coração. Jesus o chamou de raposa. Jesus esteve com ele face a face, mas ele zombou de Jesus (Lc 23.8-12). Foi exilado e morreu na escuridão em que sempre viveu. No ano 39 d.C., Herodes Agripa (At 12.1), seu sobrinho, o denunciou ao imperador romano Calígula, e ele foi deposto e banido para um exílio perpétuo em Lyon, na Gália, onde morreu.

 

Pode ser que demore, mas ninguém ficará impune diante do Justo Juiz. Talvez não ocorra em nosso tempo, mas no tempo de Deus irá acontecer.

 

CONCLUSÃO

 

O pecado não compensa. O prazer do pecado produz tormento eterno. Mas, o sofrimento por causa de Cristo não ficará sem recompensa no tempo e na eternidade. Herodes estava no trono e João na prisão. Hoje, o nome de Herodes está coberto de poeira e opróbrio, mas o nome de João Batista ainda inspira milhões de corações.

 

John Charles Ryle diz que fatos como esses, relembram-nos que as melhores coisas do verdadeiro cristão ainda estão por vir. Seu descanso, sua coroa, sua recompensa estão todos do outro lado da sepultura. Aqui neste mundo nós andamos por fé e não por vista. Aqui semeamos, trabalhamos, lutamos e sofremos perseguições. Mas esta vida não é tudo. Haverá uma recompensa. Há uma gloriosa colheita por vir. Há um descanso para o povo de Deus. O que nem um olho viu nem ouvido ouviu é que Deus preparou para aqueles que o amam.

 

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Lopes, Hernandes Dias. Marcos, o evangelho dos milagres, Editora Hagnos, 2006, pag. 298.

2 – Erwardes, R. Edwards. O Comentário de Marcos, Ed. Shedd, 2018, pag. 240.

3 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012, pag. 169.

4 – Erwardes, R. Edwards. O Comentário de Marcos, Ed. Shedd, 2018, pag. 241.

 Erwardes, R. Edwards. O Comentário de Marcos, Ed. Shedd, 2018, pag. 241.

6 – Keener, Graig s. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia – NT, Ed. Vida Nova, 2017, pag.162.

 

Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com

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