Por Pr. Silas Figueira
João Calvino comentando a respeito desse texto diz que o apóstolo Paulo havendo acabado de excluir as mulheres do ofício docente da igreja (1Tm 2.11-14), ele agora aproveita a oportunidade para falar a respeito desse ofício propriamente dito. Ele deixa claro que não é só as mulheres que não são apropriadas para o desempenho de tal ofício (do ofício docente na igreja), mas nem mesmo os homens devem ser admitidos para o seu exercício sem qualquer critério [1].
Com isso em mente, podemos dizer que o pastor, assim como o diácono, devem ser homens comissionados por Deus para exercerem o ministério. Tais pessoas devem ser idôneas, que façam a obra do Senhor com integridade.
O apóstolo Paulo inicia o capítulo 3 de 1 Timóteo dizendo que “fiel é a palavra”. Não a palavra dele Paulo, mas a instrução que ele recebeu do Senhor e está repassando ao seu filho na fé Timóteo.
Muitos pastores têm interpretado esse texto de 1Timóteo 3.1-13 e Tito 1.5-9 como algo meramente cultural. Eles dizem que por ser o apóstolo um homem do século I e a mentalidade dele de um judeu ele considerada a mulher como um ser inferior. Por exemplo, um judeu agradecia a Deus todas as manhãs por não ter nascido gentio, escravo ou mulher [2]. Muitos rabinos discutiam se a mulher tinha alma, já que o Senhor havia soprado em Adão o fôlego da vida e o homem se tornou alma vivente, mas não falava nada a respeito da mulher, com isso eles duvidavam que mulher tivesse inclusive uma alma.
No entanto devemos entender esse texto dentro do seu contexto. Ao lermos o contexto nós percebemos que a proibição da mulher exercer a liderança eclesiástica não está presa a cultura, pois o Evangelho é supracultural. O Evangelho define e explica a cultura, não o contrário. Ela é uma proibição que vem do próprio Deus, fundamentada em teologia sólida e imutável. O texto é claro em relação a isso.
O texto não só dá a proibição, mas também nos dá o motivo para isso. Esse texto está inserido dentro do contexto do capítulo 2.11-14. Veja o verso 13: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva”. Paulo usa esse mesmo argumento em 1 Coríntios 11.1-10.
Esse versículo nos dá a primeira base para esta proibição. Primeiro foi formado Adão e depois Eva. Isso não é uma afirmação de base cultural, é uma afirmação de base teológica, ou seja, é uma afirmação doutrinária. O termo aqui é a doutrina da criação, uma das doutrinas principais do cristianismo.
O apóstolo Paulo nos mostra que a ordem da criação serve como um dos pilares para que a mulher não exerça liderança sobre o homem. Isso, mas uma vez afirmo, é uma doutrina, e sendo uma doutrina, ela deve ser obedecida, pois ela é imutável. Em qualquer cultura, em qualquer tempo, em qualquer povo onde o evangelho é pregado deve ser observado. Isso independe de tempo. Seja no século I ou no século XXI, pois o fundamento é imutável. Se crermos na doutrina da criação, então não é permitido que as mulheres exerçam autoridade sobre o homem. Enquanto crermos na narrativa de Gênesis essa narrativa desaparece.
Devemos sempre lembrar de que a prioridade não significa superioridade. Homens e mulheres foram criados por Deus e à imagem de Deus. A questão diz respeito apenas à autoridade: o homem foi criado primeiro [3].
Observe que as igrejas que ordenam mulheres são igrejas liberais. Essas igrejas removeram a base da proibição que é a doutrina da criação. Teologia liberal (ou liberalismo teológico) foi um movimento teológico cuja produção se deu entre o final do século XVIII e o início do século XX. Relativizando a autoridade da Bíblia, o liberalismo teológico estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a filosofia e as ciências da religião. Um “teólogo” que não reconhece a autoridade final da Bíblia em termos de fé e doutrina é denominado, pelo protestantismo ortodoxo, de “teólogo liberal”. Para eles:
- A Bíblia não é inspirada por Deus.
- Não creem no nascimento virginal de Cristo.
- Jesus não ressuscitou de forma corpórea.
- Jesus foi um professor moral.
- O inferno não é real.
- Negam os autores da Bíblia.
Para os liberais a narrativa de Gênesis de 1 a 11 é um conto de fadas. No entanto, se você remove a base, você faz o que você quiser.
A base que o apóstolo Paulo usa não para somente na criação, mas ele avança no seu argumento. A primeira base é a doutrina da criação, mas a segunda base, ou segundo pilar, é a doutrina da queda, ou seja, a doutrina do pecado original.
Ele diz: “E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm 2.14; Gn 3.1-7).
John MacArthur diz que por natureza, Eva não era adequada para assumir um cargo de responsabilidade máxima. Ao deixar a proteção de Adão e usurpar sua liderança, ela se torna vulnerável e cai, confirmando, assim, quão importante era que ela ficasse sob a proteção e a liderança de seu marido [4].
Diante desse texto nós temos duas doutrinas, sendo que cada uma delas é um pilar e sobre esses dois pilares, está construído uma ordem. Primeiro pilar a doutrina da criação e o segundo pilar a doutrina da queda. A mulher foi enganada, Adão não. A resposta que o apóstolo Paulo dá para que a mulher não exerça autoridade sobre o homem é que o homem foi criado primeiro e a mulher foi iludida por Satanás.
Para nós cristãos ortodoxos essa doutrina continua imutável. Mas se removermos esses pilares então pode-se fazer qualquer doutrina, tanto que já temos pastoras trans.
No entanto, se ainda crermos na doutrina da criação e na doutrina da queda, nós não podemos ordenar pastoras e nem diaconisas como oficiais da igreja. Eu sei que isso desagrada a muitos, mas é o que nos fala a Bíblia.
Bibliografia:
1 – Calvino, João. Pastorais, Editora Fiel, 2015, pag. 78.
2 – Lopes, Hernandes Dias. 1 Timóteo, o pastor, sua vida e sua obra, Editora Hagnos, 2014, pag. 64.
3 – Wiersbe. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo, Novo Testamento, vol. 2, Editora Geográfica, 2012, pag. 284.
4 – MacArthur, John. Comentário Bíblico MacArthur, Editora Thomas Nelson, 2019, pag. 1742.
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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