Ananias e Safira venderam um campo e trouxeram o dinheiro da venda para
os apóstolos. Fizeram isso num contexto público: Pedro recebeu a doação e
havia testemunhas. Só que eles não trouxeram tudo, guardaram parte do
dinheiro. Ao ser questionado sobre se o valor representava a venda toda,
Ananias afirmou que sim, que tinha entregue tudo o que recebera. Mas
Pedro denunciou a mentira, que não era apenas contra os irmãos, mas
contra o Espírito Santo. O homem caiu morto. Três horas depois, Safira
chegou e confirmou a mentira, o que também a fez morrer na presença do
Senhor.
Pedro ponderou com Ananias que ele não tinha obrigação de vender o
terreno. Continuou dizendo que não teria obrigação de trazer o valor
inteiro da venda para a igreja. O que ele fez de errado foi afirmar que
havia trazido tudo sem que fosse verdade. O que isso tem de mais?
O apóstolo Paulo diria, anos depois, que somos membros uns dos outros.
Que a Igreja não é apenas uma assembleia de pessoas com algo em comum.
Somos o Corpo de Cristo. Estamos ligados. E essa ligação é de uma
seriedade que poucos compreendem. No caso de Paulo, ele denunciou
atitudes contra a comunhão dos santos. Em 1 Coríntios 11, disse que, ao
chegarem à mesa da Ceia, muitos tinham trazido sobre si juízo por
desprezar a comunhão verdadeira, a doação de si. Havia pessoas passando
fome, enquanto outras se fartavam à mesa nas ocasiões de “comunhão”. Por
isso, muitos estavam fracos e doentes. Alguns estavam até “dormindo”
(uma expressão grave, que fala de morte – espiritual ou literal). Sua
comunhão era um engodo. Sua irmandade não era real. Reuniam-se, mas sem o
proveito espiritual que poderiam receber. Pelo contrário, por causa da
aparência de comunhão, sem a devida doação de si, na hora da mesa do
Senhor eles se tornavam “réus do corpo e do sangue”.
Há indivíduos que parecem se doar na igreja. São pessoas que exalam
simpatia, “compaixão” e até um sacrifício de si. Tornam-se queridas,
celebradas, até mesmo o centro das atenções. Mas algumas delas não doam
de si, embora façam o que é necessário para serem conhecidas como
amorosas. Expressam com palavras um amor aparente para com o próximo,
mas nunca realmente se abrem e se doam de fato. Sua vida é uma paródia
de comunhão cristã. Recebem muito, mas muito mais do que doam. E recebem
porque querem ser celebradas. Alimentam-se da sua reputação piedosa e
amorosa. Mas, no fundo, nunca se doam. Mantém uma fachada que esconde
escudos impenetráveis. Sua abertura é um teatro de comunhão. Parece que
se dão completamente, mas a sua doação não é completa. Olhos não
conseguem ver essa realidade, os outros não são capazes de enxergar a
profunda hipocrisia que se esconde por trás do semblante aparentemente
lindo e piedoso.
No entanto, há um pecado grave sendo perpetrado, pois essas pessoas
estão mentindo para o Espírito Santo. Não há vida nelas, há somente a
aparência de vida. Pois o Espírito nos uniu em Cristo, o que requer que
sejamos transparentes, que façamos o que o mundo considera loucura.
Praticamos coisas perigosíssimas, como confiar uns nos outros, confessar
os nossos pecados uns aos outros, nos doar uns aos outros. E é claro
que, com essa doação, vem reconhecimento. Vem um bem querer. Há uma
reciprocidade de amor e afeto. A família de Deus é assim.
É agradável ter por perto alguém que sempre nos cumprimenta, diz que nos
ama e fala do amor de Deus. Mas palavras nem sempre mostram o que está
acontecendo dentro do seu coração. Só o Espirito sabe o que se passa por
trás dos nossos olhos. E foi a isso que Pedro se referiu. Ananias e
Safira tinham mentido para a assembleia. Mas a assembleia não é apenas
uma agremiação associativa: é um corpo formado pelo poder do Espírito
Santo. Eles tinham “doado” de si para Deus. Mas sua doação era uma
mentira, pois entregaram uma parte enquanto reservavam outra para si.
Fizeram o necessário para estarem inseridos e serem bem quistos – mas
com um pé atrás.
Quem doa de si se contenta em fazer o bem e servir a Deus. Quem doa
apenas para fazer parte busca aprovação e ser celebrado pelos seus atos
de “justiça”. Quer ouvir o quanto é querido. Precisa saber o quanto é
amado e precioso. Quem doa de si não precisa fazê-lo perante os homens.
Seu galardão não é uma bela reputação, não é ser celebrado. Esse cristão
pode muito bem esperar o último dia para receber o galardão. Então, com
gozo ouvirá: “Bem feito servo bom e fiel. Entre no descanso do seu
Senhor”.
É possível doar de si e ser abençoado? Claro. Mas é igualmente possível
doar parte de si sem que os outros vejam sua hipocrisia e, assim, se
tornar réu do corpo e do sangue. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e
que examinemos o nosso coração, cada um de nós, para não cairmos nesse
pecado religioso tão nefasto mas tão sutil.
Na paz,
+W
Por: Walter McAlister, é bispo Primaz das Igrejas Cristãs Nova Vida, escritor e editor do seu blog pessoal.
Fonte: http://adielteofilo.blogspot.com/
Imagem: Google
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