Consequências desastrosas do envolvimento da igreja com a política.
Há denominações evangélicas que não se envolvem com política, por absoluta convicção de que a incumbência da Igreja nunca será essa aqui na Terra. Outras, no entanto, participam ativamente, através dos seus pastores presidentes, bispos e apóstolos, os quais indicam candidatos como representantes da igreja, promovem campanha eleitoral, pedem votos ao rebanho, e ainda, celebram com esses candidatos acordos e alianças das mais diversas. Justificam tamanho envolvimento, dentre outros argumentos inconsistentes, que a Igreja, como Corpo de Cristo, não precisa ser defendida pelos homens, porém, como organização religiosa constituída de pessoas, precisa dos políticos para defendê-la e também manter diálogo com os líderes evangélicos.
Ora,
o Senhor Jesus Cristo não incumbiu a Igreja de uma missão e a
organização religiosa de outra bem diferente. Não criou dualidade e nem
disse ao rebanho “ide e anunciai”, e aos líderes “ide e politicai”. Não
mesmo! A tarefa é uma só, embora haja distinção por questões de
organização meramente humana. Ademais, os chamados “cristãos” somente
estarão, de fato e de verdade, a serviço do Reino de Deus, anunciado por
Jesus Cristo, quando a entidade organizada para esse fim estiver
também, exclusivamente, a serviço do Mestre. Não deve, jamais, servir a
dois senhores, usurpando a organização jurídica da igreja para se
imiscuir em negócios desta vida, alheios ao Reino de Deus (II Timóteo
2.4).
Sobejam
razões para não misturar o Evangelho da Verdade com política na
atualidade, muito embora certos líderes não queiram enxergar tais
verdades. O maior exemplo vem do Senhor Jesus, durante Seu Ministério
terreno. Ele não ficou de afagos com os partidários dos saduceus e dos
herodianos, não estabeleceu qualquer aliança e nem fez oposição à
dominação Romana, mas disse a esses e ao grupo dos escribas, fariseus e
judeus, todas as verdades que deveriam ouvir. Deixou muito bem claro: “O meu Reino não é deste mundo” (João 18.36). Estabeleceu portanto a nítida distinção entre o que é de Deus e o que é de César (Lucas 20.25).
A
Constituição Federal de 1988 veda as íntimas relações entre a Igreja e o
Estado. No artigo 19, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, estabelecer
cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los ou manter com eles ou
seus representantes relações de dependência ou aliança. Todavia,
contrariando o texto constitucional, há líderes que firmam aliança com
políticos e governantes, apoiando-os na campanha. Depois de eleitos, o
que se vê são pastores e seus familiares sendo nomeados para cargos na
administração pública, além de outras vantagens pessoais em benefício
da cúpula das igrejas . É assim que tem funcionado o esquema
político-eleitoral-evangélico. E tudo a pretexto de defender a entidade
religiosa, que tanto precisa de “interlocutores” junto ao poder público.
Francamente, quanta hipocrisia!
Nos
estatutos de muitas dessas igrejas não consta como finalidade a
atividade político-partidária. Fica ainda mais evidente o desvio de
finalidade da instituição, agindo a liderança não aos propósitos de
servir o Reino do Senhor Jesus e divulgar o Evangelho, porém, visam
atender aos seus interesses pessoais, como pastores de si mesmos
(Ezequiel 34.1-10). Isso demonstra ainda o egoísmo denominacional, na
medida em que uma denominação se arvora no direito de ter seu
representante político exclusivo, em detrimento de várias outras
denominações evangélicas, que sequer foram consultadas a respeito.
E
a usurpação prossegue! Sem qualquer autorização estatutária, nem
mandato outorgado pelos membros e congregados, muitos são os dirigentes
evangélicos que de forma arbitrária se julgam no direito de escolher
candidatos em nome da igreja. E assim agem de forma isolada, impondo a
vontade pessoal ou do grupo da liderança sobre o povo, sem sequer ouvir
ou consultar o rebanho, quando na verdade deveriam cuidar, zelar e
pastorear o Corpo de Cristo. Atitudes como essas ocasionam sérios
constrangimentos, além de murmurações e até mesmo dissensões entre os
membros (I Coríntios 1.10), pois nem sempre comungam das mesmas escolhas
políticas impostas por seus dirigentes. Ora, o lugar dessas escolhas é
nas urnas e não nos templos religiosos, onde deveria ser abundante a
oração e súplica em favor de todas as autoridades (I Timóteo 2.1-4).
Além
de tudo isso, a igreja fica seriamente comprometida com o desempenho
do candidato que apoia. Ocorrendo qualquer problema ou escândalo na sua
atuação como governante ou parlamentar, a imagem da igreja é também
afetada, perdendo a credibilidade perante a opinião pública, além de ser
alvo de críticas e comentários que envergonham o Evangelho. A “oração
da propina” é emblemática no envolvimento de Deputados Distritais
evangélicos com o escândalo de recebimento de propina, que
envolveu várias autoridades no Governo do Distrito Federal. (http://www.youtube.com/watch?v=WK0dzsV9YWU ) "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" (Mateus 18.7).
Enfim,
dentre tantas outras razões, a organização religiosa precisa atuar em
função do Corpo de Cristo, razão única de sua existência terrena. Deve
servir ao Reino de Deus e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Não pode
jamais agir como reino de acordos à parte, dissociado das necessidades
dos seus membros, pois eles são "o corpo de Cristo, e seus membros em particular" (I Coríntios 12.27). Portanto, todos quantos fazem parte da igreja devem cumprir a primordial missão da Igreja
de fazer discípulos em todos os lugares (Mateus 28.19 e 20). Ide e
anunciai, foi o que disse Jesus Cristo. Não mandou ninguém se aproveitar
do Corpo de Cristo e nem do Evangelho para fazer politicagens.
Adiel Teófilo
Fonte: http://adielteofilo.blogspot.com
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