O que os Puritanos pensavam sobre a MORADA FINAL dos justos e dos ímpios?
Joel Beek e Mark Jones, em sua extensa obra "Teologia Puritana",
tratando sobre a "Escatologia Puritana", fazem a seguinte advertência à
quem quer estudar o pensamento escatológico dos "gigantes da fé":
Existe nossa tendência de impor as categorias escatológicas de amilenarismo, pré-milenarismo e pós-milenarismo, vigentes nos séculos 20 e 21, à escatologia puritana, que não tinha tais categorias. Craw Gribben defende convincentemente que a teologia puritana consegue "desafiar e transcender os conceitos contemporâneos [...]. Às vezes intérpretes contemporâneos impõem aos puritanos categorias do século 21 (BEEKE, JONES, 2016, p.1090, 1110).
Portanto, conceitos como "morada temporária ou provisória no CÉU e morada definitiva e final dos justos na TERRA, ainda que transformada" definitivamente não fazem parte, como padrão, do arcabouço teológico/doutrinário dos Puritanos.
Mas isso significa que os Puritanos não tinham uma INTERPRETAÇÃO sobre
onde seria a MORADA FINAL dos homens, justos e ímpios? Obviamente que
não!
O fato é que aqueles que querem defender tais conceitos devem seguir
sozinhos em suas "aventuras hermenêuticas escatológicas contemporâneas",
novidades dos séculos XX e XXI, sem o apoio dos Puritanos.
Os Puritanos não tinham nenhuma dúvida de onde seria a MORADA FINAL dos
justos e dos ímpios e isso foi refletido, irrefutavelmente, na Confissão
de Fé e nos Catecismos de Westminster, produzidos por eles.
O problema é que os teólogos reformados presbiterianos contemporâneos
consideram, majoritariamente, a INTERPRETAÇÃO dos Puritanos acerca desse
assunto como "INGÊNUA" e "INCOMPLETA". Mas, para não assumirem isso,
sob pena de serem acusados de "não confessionalidade" dizem que os
puritanos são "silentes" quanto ao tema. Mas isso não é verdade, como
demonstraremos e como já demonstramos em outra postagem, sob o título: A
MORADA FINAL DOS JUSTOS A PARTIR DAS CONFISSÕES E CATECISMOS REFORMADOS
(pesquisar no blog):
1) Para começar, vejamos o que diz John Bunyan, contado entre os
puritanos, em sua obra mais famosa "O peregrino", que conta a trajetória
do Cristão até chegar à sua morada final. No último capítulo,
intitulado "Cristão e Esperançoso atravessam o Rio da Morte e entram,
finalmente, na Cidade Celestial". A narrativa utiliza expressões como
"nova Jerusalém", "cidade celestial", "Sião", "Monte Santo" sempre como
sinônimos de CÉU, como fica claro:
Já às portas do CÉU [...] à medida que se aproximavam da cidade, tinham dela uma vista cada vez mais perfeita. Era toda de pérolas e pedras preciosas. Também as ruas eram revestidas de ouro. Ali — disseram — estão o monte Sião, a Jerusalém celeste, o inumerável exército dos anjos e os espíritos aperfeiçoados dos homens justos. Agora vocês irão para o paraíso de Deus, onde verão a árvore da vida e comerão de seus frutos eternos. Quando lá chegarem, receberão mantos brancos e viverão todos os dias ao lado do Rei, por toda a eternidade[...]. A cena, para quem a pudesse observar, era como se o próprio CÉU descesse para recebê-los [...]. E agora os dois homens, por assim dizer, se viam no CÉU antes de lá entrar, extasiados que estavam pela visão dos anjos e pela audição de notas tão melodiosas. Dali também já avistavam a própria cidade e julgaram ouvir todos os sinos repicando como sinal de boas-vindas (trecho da obra O peregrino).
2) Outro puritano, Thomas Manton, escrevendo sobre "o que aguarda cada
pessoa", afirma: "Naquele dia, o bodes serão separados das ovelhas
[...]; essa distinção permanecerá para sempre, um daqueles grupo ocupará
o CÉU, e o outro o inferno" (BEEKE, JONES, 2016, p.1127). E ainda: O longo estudo de Manton oferece uma exposição daquilo que é resumido na Confissão de Westminster (BEEKE, JONES, 2016, p.1127)
3) Escreve o puritano John Dod; "A cada manhã considere: 1. Vou morrer. 2. Posso morrer antes do anoitecer.3.Para onde irá minha alma: para o CÉU ou parra o inferno? (BEEKE, JONES 2016, p.1156)
4- Richard Baxter escreveu "O descanso eterno dos santos. Um guia para o CÉU e para longe do inferno" (BEEKE, 2016, p.1156).
5- O puritano Samuel Rutherford, no leito de morte afirmou: "Estarei radiante - eu o verei como ele é - eu o verei reinar [...] meus olhos, estes meus próprios olhos, e não outros, verão meu Redentor". O CÉU tinha muitas glórias, mas a visão de Cristo, o redentor, era a glória principal (BEEKE, JONES, 2016, p.1160)
6) Chistopher Love, puritano DELEGADO DA ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER, escreveu sobre "as glórias do CÉU e o pavor do inferno", uma série de de dezessete sermões que falavam sobre o CÉU e o inferno. Em um deles, sobre a segunda vinda de Cristo, afirma:
Aquela condição felicíssima e imutável [...], que Deus preparou para os eleitos no CÉU, para ser desfrutada depois do dia do juízo, ocasião em que o corpo se levantará da sepultura e ser unido à alma, e ambos receberão para sempre a glória com de Deus, jesus cristo, O Espírito Santo, os santos e os anjos. É isso que chamamos de glória: esse ajuntamento do corpo e da alma, em que ambos participarão da glória, desfrutando das três pessoas da Trindade, de todos os santos e anjos para sempre (BEEKE, JONES, 2016, p.1163).
Beeke, comentando sobre o pensamento escatológico de Love, para não
deixar nenhuma dúvida, afirma: "Esse estado envolve a glorificação tanto
do corpo quanto da alma. Love, delegado da Assembléia de Westminster, reflete o ensino puritano padrão da Confissão de Fé de Westminster (CFW)" (BEEKE, JONES, 2016, p.1163) e ainda:
Love comenta que o CÉU, que é a morada de Deus e a capital do seu reino [...] é o local onde a alma é glorificada no momento de sua morte e onde mais tarde o corpo e a alma serão glorificados por ocasião da ressurreição. o CÉU existe como paraíso (Lc 23;43), habitação eterna (Jo 14.2; 2 Cor 5.1; Lc 16.9), cidade que virá (Lc 23;43), habitação eterna (Col 1.12) e lugar de alegria (Sl 16.11). Quanto a localização, Love rejeita a ideia de "que existirá um novo CÉU e uma nova terra e que aqui [i.e., na nova terra] os eleitos viverão e serão glorificados". Ele também rejeita a ideia de que o CÉU é simplesmente qualquer local onde Deus habita, sem estar ligado a um lugar em particular. Em vez disso, ele defende [...] que o CÉU é aquele espaço mais brilhante e glorioso bem acima dos céus visíveis, chamado terceiro CÉU, onde Deus manifesta suia glória a anjos e santos benditos (BEEKE,JONES, 2016, p.1167).
Essa é a INTERPRETAÇÃO padrão dos puritanos acerca da "morada final dos
santos", transmitida aos Símbolos de Fé de Westminster, como já deixaram
claro Joel Beeke e Mark Jones, citados acima.
Portanto, não há possibilidade de assumir para si outra INTERPRETAÇÃO sem rejeitar essa INTERPRETAÇÃO dos puritanos e dos próprios símbolos de Fé, como demonstrei também na outra postagem citada acima.
Portanto, não há possibilidade de assumir para si outra INTERPRETAÇÃO sem rejeitar essa INTERPRETAÇÃO dos puritanos e dos próprios símbolos de Fé, como demonstrei também na outra postagem citada acima.
Os escritos de Love sobre o CÉU e o inferno são uma expressão fiel das ideias puritanas comuns sobre o assunto. Embora as posições de Love e a de seus contemporâneos sobre o CÉU não tenham as mesmas nuanças que encontramos em estudos reformados atuais sobre o tema [...], não há dúvida de que até o século 17 não houve geração alguma de teólogos que se equiparasse aos puritanos no que diz respeito a expor as glórias do CÉU e os pavores do inferno. A obra de Love está entre as melhores (BEEKE, JONES, 2016, p.1188).
Como já está claro, tudo se resume à escolha entre as duas escolas de
INTERPRETAÇÃO que tratam sobre MORADA FINAL DOS SANTOS - a escola
Puritana, refletida, também, nos Símbolos de Westminster e a escola dos
teólogos atuais.
7) Thomas Goodwin, puritano, ao escrever sobre "o bendito estado de
glória que os santos possuirão após sua morte", afirma; "Não há nada
mais encorajador para os piedosos [...] que o fato de poderem caminhar
[...] com o coração erguido ao CÉU (BEEKE, JONES, 2016, p.1159).
8) John Owen, afirmou; "os santos na terra anseiam pelo CÉU (BEEKE, JONES, 2016, p.1165).
9) Richard Sibbes, puritano, afirmou: "Sem Cristo o CÉU não é CÉU" (BEEKE, JONES, 2016, p.1165).
10) Outro puritano, Robert Bolton, afirma: "CÉU é
aquele lugar ao qual Cristo ascendeu e onde Deus, de forma bem
especial, habita, e é o lugar onde todos os benditos estarão para
sempre" (BEEKE, JONES, 2016, p.1168).
Bolton e Love refletem a ideia histórica e comum cristã de que a morada eterna dos santos ressuscitados - e não somente a morada das almas de homens justos aperfeiçoados - será [...] o CÉU (BEEKE,JONES, 2016, p.1168).
Fonte: https://filosofiacalvinista.blogspot.com
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