Irmãos,
quero que saibais que as coisas que me aconteceram, contribuíram para o avanço
do Evangelho. Filipenses 1:12
Quem
tem um pouco mais de idade lembra-se dos discos de vinil e das fitas K7.
As
músicas eram gravadas nos seus dois lados, ou seja, para ouvir todas as faixas
era necessário inverter o disco ou a fita no aparelho, de modo que ouvir um
lado apenas era privar-se de ouvir, quem sabe, uma música melhor que estaria do
outro lado.
Pois bem.
Paulo,
por volta do ano 52 d.C., chega à cidade de Filipos e o faz impelido por uma
visão de um homem Macedônio que suplicava por ajuda (Atos 16:9). É a primeira
vez que o Evangelho chega a um território ocidental, ou para nós hoje, europeu.
Como
na maioria das vezes, Paulo não encontra um ambiente amistoso para proclamar o
Evangelho, ao contrário, a hostilidade dos filipenses resulta em açoites e
prisão.
Mas
Paulo desfrutava de uma liberdade tão fora do comum que, mesmo preso e
acorrentado a um tronco, orava e cantava louvores a Deus.
Em
meio a esta situação, miraculosamente, as portas se abrem e ele junto com seu
companheiro Silas são soltos desta prisão.
Foi
assim que os cristãos filipenses conheceram o Evangelho e seu tão estimado
pastor, ou seja, por meio de correntes, troncos, açoites e prisões.
Passam-se
aproximadamente nove anos e os cristãos filipenses recebem notícias não muito
confortantes do seu amado pastor. Está novamente preso, provavelmente em Roma,
e novamente por pregar o Evangelho.
O
cuidado destes cristãos filipenses com Paulo os incentiva a mandar alguém, com
alguns suprimentos, para assisti-lo e também trazer notícias sobre o porquê de
sua nova prisão.
Novamente?
Poderiam ter pensado.
Por
isso Paulo, ao escrever esta carta para agradecer aos filipenses, após orar por
eles, faz questão de explicar o motivo de sua prisão: É para contribuir com o
avanço do Evangelho!
Como?
Se toda vez que prega o Evangelho o resultado são prisões?
Simples,
pelo menos para Paulo.
Quando
diz que suas cadeias, ao invés de desmotivá-lo ou decepcioná-lo, estão
contribuindo para o avanço do Evangelho ele usa uma palavra muito expressiva
que, traduzida literalmente, significa: remover antes.
Esta
palavra era utilizada para designar o trabalho de uma tropa romana especial que
ia à frente e removia todos os obstáculos que impediriam a marcha de um
exército de soldados romanos, isto é, limpavam o caminho.
Portanto
o que o apóstolo está dizendo literalmente é que suas cadeias têm servido para
remover os impedimentos e limpar o caminho para o Evangelho e isto se vê
aplicado no restante do texto.
Paulo
vivia agora sob constante vigilância da guarda de elite do imperador descrita
aqui como guarda pretoriana ou a guarda do palácio.
Esta
guarda era uma tropa formada por dez a dezesseis mil soldados minuciosamente
escolhidos e o que os diferenciava das outras não era apenas a cor do uniforme
ou o salário três vezes maior que o de um soldado normal, mas sim o fato de
seus soldados serem cultos e exercerem grande influência no império.
Esta
tropa, que conhecia e vigiava, dia e noite, as algemas de Paulo estava agora
conhecendo suas algemas em Cristo como algumas versões traduzem, isto é,
percebiam que sua prisão tinha intrínseca relação com Cristo.
De
que outra maneira Paulo e o Evangelho por ele pregado teriam acesso a estes
homens e as demais pessoas do palácio?
Desta
forma, a sua prisão contribui e muito para o avanço do Evangelho, mesmo que não
tenha contribuído para o pastor.
Paulo
concebe que a causa do Evangelho é mais importante que sua liberdade.
Assim
o que Paulo faz aqui é animar os filipenses mostrando o outro lado da história,
pois sem ouvir a versão pastoral da história ficariam presos as decepções e
dificuldades que a versão imediatista e fatalista da história insistiam em
repetir.
Toda
a privação e sofrimento no ministério pastoral genuíno e sincero tem um lado
triunfante.
Este
lado não é diferente do outro. Trata-se do mesmo sofrimento e privação, porém
encarados com fé no Cristo do Evangelho, vistos com amor pela causa do
Evangelho, compreendidos com alegria por poder contribuir com o Evangelho.
Enfim,
enfrentados com a esperança de que se o Evangelho avança não estamos
subjugados, mas progredindo em nosso chamado e missão.
O
próprio Paulo, escrevendo em outra ocasião acerca do seu ministério, expressa:
Sofremos
pressões de todos os lados, mas não estamos arrasados. Ficamos perplexos, mas
não desesperados, somos perseguidos, mas não desamparados, abatidos, mas não
destruídos. Trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua
vida se manifeste em nosso corpo. Pois nós, que vivemos, somos sempre entregues
à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em
nosso corpo mortal. De modo que em nós atua a morte, mas em vós, a vida. II
Coríntios 4: 8-12.
O
chamado pastoral, assim como a vida cristã, tem esses dois aspectos: a
conformidade nos sofrimentos de Cristo e a garantia da santificação de cada
suplício que valha o avanço do Evangelho que nos chamou.
Fonte: napec.org
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