quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Deus, um Homem Casado e Polígamo?

Do mesmo modo como os demais mórmons instruídos, eu cria em um “Pai nos céus que tinha sido gerado em um mundo celestial anterior por Seu Pai”. O Deus do mormonismo era apenas um bebê indefeso, que também tinha necessidade de arrotar — nascido de pais mórmons que o criaram para “viver de modo digno do evangelho” e a obedecer a todos os mandamentos que o evangelho mórmon traz. Por isso, aos oito anos de idade, a criança-Deus teve de se submeter ao batismo por imersão para remissão dos próprios pecados, e à imposição de mãos para receber o Espírito Santo. Só assim foi confirmado como membro de igreja. Tudo isso o introduziria no reino do Seu Deus! Após ter sido lavado de todos os seus pecados, “nas­cido da água” pelo batismo e “nascido do Espírito” pela imposição de mãos, nosso Deus noviço foi considerado pronto para maiores progressos.

Por volta dos doze anos de idade, Deus Pai foi ordenado diácono, assim como acontece com todos os rapazes mórmons de doze anos de idade que sejam dignos. Este, o primeiro dos diversos níveis do sacerdócio dos SUD, era um passo gigantesco, em seu progresso, rumo à divindade. Sempre em frente, ele se esforçou nos ofícios de professor e sacerdote, até que ao final mereceu o cobiçado e prestigiado poder e autoridade de se tomar um ancião, conseguindo assim sua primeira admissão ao santuário interior do templo.

Por último, foi-lhe permitido aprender os segredos do sacerdócio, que até então lhe tinham sido ocultados, porque apenas “mórmons do templo”, maduros e dignos, podem receber a carne forte” das práticas e doutrinas secretas do mormonismo. Tudo isso praticamente garantiu sua divindade, pois agora ele poderia ter suas esposas e filhos selados a ele para sua glória eterna. Por isso, em ritos especiais no templo, o recém-iluminado futuro Deus casou-se e foi selado para a eternidade com muitas esposas, do mesmo modo como todos os homens devem fazer, para que, ao final, se tornem deuses.

A multiplicação das esposas e filhos de Deus, e dos filhos de seus filhos, mais o acúmulo de grande conhecimento e inteligência, determinaram a grandeza do Deus, que continuava a se desenvolver. Por essa razão, ele com diligência começou a estender seu reino de esposas e filhos, conquistando com isso vasta experiência. A enormidade das obrigações exigidas por sua vasta e variada família e a passagem do tempo, por certo atrapalharam bastante.

Nosso futuro Deus deve ter sabido que a hora de sua partida estava próxima. Mas outro passo apropriado tinha que ser dado em sua “jornada gloriosa”, outra marca em sua progressão rumo à divindade. Com paciência e em fraqueza, o débil Deus-homem aguardou a morte e ressurreição, como faz qualquer outro patriarca idoso e enfraquecido.

E assim, o Deus do mormonismo que “já foi homem em carne mortal, como nós”, e “já foi um ser finito”, com limites e amarras, sujeito à morte e tendo já estado “na condição decaída” “passou pela experiência da vida mortal, incluindo morte e ressurreição”.

Após Deus ter adoecido, morrido e ressuscitado, ele ressuscitou suas muitas esposas. Deus e suas esposas agora têm corpos ressurretos de carne e osso. A diferença primordial entre seus corpos e os nossos é que eles não mais têm sangue em suas veias. Diz-se que vivem juntos como marido e esposas, e por procriação (geração) geram filhos da mesma forma e com o mesmo período de gestação (o equivalente celestial a nove meses) que todos os humanos. O historiador mórmon B. H. Roberts fala da seguinte forma:

Quando em nossa literatura dizemos: “Deus criou os espíritos dos homens”, entende-se que eles foram gerados. Queremos com isso dizer “geração”, não “criação”.

B. H. Roberts,

Doutrina Mórmon da Deidade, p. 260

O Deus da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ainda não é perfeito. Ainda está em progresso. Contínua se deslocando de um determinado estágio a um nível mais alto de perfeição, avançando em sabedoria e conhecimento, e fecundando sem cessar suas esposas. Necessita continuar progredindo, construindo um reino mais vasto, conquistando uma maior exaltação para si próprio e abrindo espaços ao desenvolvimento de deuses inferiores — os devotos anciãos de grandes famílias deste mundo.

Eles também estão ocupados escalando a escada de exaltação do mormonismo, sempre nos calcanhares de Deus, sempre subindo atrás dele, sempre o empurrando avante, de modo a poderem ocupar a última posição que ele deixou, e eles mesmos se tornarem deuses. Os mórmons crêem piamente que “Deus já foi assim como nós homens somos agora; assim como Deus é, o homem pode vir a ser”.

O Apóstolo Qrson Hyde resumiu esta doutrina ao dizer: Lembre-se que Deus, nosso Pai Celestial, pode uma vez ter sido uma criança mortal assim como nós, e subiu passo a passo na escala do progresso, na escola do avanço; ele foi em frente e venceu, até ter chegado ao ponto onde está agora.

Orson Hyde

Jornal de Sermões, vol. 1, p. 123

Um pequeno exercício da razão faz-nos compreender que um avanço maior de Deus rumo a níveis mais altos de perfeição depende em parte dos zelosos anciãos que estão na escalada e, num grau maior, de suas muitas subservientes esposas e de sua prole. E, portanto, também em parte de mim. Porque eu, com os demais obedientes filhos espirituais de Deus, em nossa “primitiva infância” anterior à terrenal, teríamos, segundo se ensina, auxiliado o Criador, inspirando, adulando, organizando e controlando os desafortunados e desobedientes espíritos de segunda classe, meus fracos irmãozinhos e irmãzinhas espirituais. Presumivelmente, a maioria deles é composta apenas de meus meio-irmãos e meio-irmãs, todos tendo sido fecundados pelo mesmo Pai celestial, mas nascido de mães celestiais diferentes.

Em meio a tal confusão de filhos espirituais, existem os obedientes e os desobedientes, os super -inteligentes e os intelectualmente fracos, os ambiciosos e os vadios, os justos e também os que preferem seguir a Satanás. Mas todos eles necessitam da correção, supervisão e presença do Pai celestial. Todavia, Deus, com seu corpo de carne e osso servindo-lhe de obstáculo, só pode estar em um lugar a cada momento. Por esse motivo necessita que espíritos como eu assumam a responsabilidade sobre assuntos menores, deixando-o livre para executar os dois principais requisitos dos quais depende a continuidade do seu progresso, e que ninguém, a não ser ele, pode realizar.

Acima de todas as outras tarefas estão as demoradas e exaustivas visitas procriadoras a cada uma de suas milhares de es­posas, o que por certo deve deixá-lo fatigado, tanto de corpo como de espírito, e com pouquíssimo tempo e energia para a conquista de mais conhecimento e sabedoria. E ele necessita armazenar estoques sempre maiores de conhecimento, pois, segundo o primeiro profeta da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, “a glória de Deus é a inteligência”.

Porém, é certo que o engrandecimento da inteligência divina, por mais importante que seja, não se compara à força e ao fervor empregados por ele na multiplicação de sua prole, e isso deixa Deus e suas rainhas tão ocupados como as proverbiais abelhas em torno de uma colméia.

Nos supremos remos do céu, os “zangões”, como eu, são perdoados. Enquanto Deus Pai (“a inteligência dirigente do universo”) está se esforçando para atingir uma divindade sempre maior, meu espírito ainda não mortal, nascido no céu, mantêm-se trabalhando de modo positivo, aprendendo e progredindo. Tive, a todo custo, de conquistar o direito de abandonar o céu e nascer na terra, pois, sem passar pelas circunstâncias e experiências de uma vida terrena!, jamais poderia atingir meu potencial mais elevado: o de tornar-me uma rainha ou deusa no céu, uma mãe celestial. Diante disto, entende-se porque a maior de todas as dádivas, o privilégio mais ardentemente almejado pelos espíritos é o de deixar os céus.

Em geral, a maioria das falsas religiões faz com que seus adeptos lutem para abrir um caminho que os conduza aos céus; todavia, o mormonismo fez que eu, em primeiro lugar, conquistasse meu caminho para baixo e para fora dos céus. Porém, minha prestigiosa atuação nas regiões celestes fez com que Deus me mantivesse lá por um tempo mais prolongado. Pelas eras da eternidade, Deus conservou-me nos céus, de modo que eu pudesse receber a bênção eterna definitiva. Eu deveria nascer na dispensação de Joseph Smith, a “maior dispensação de todos os tempos”, iniciada em 6 de abril de 1830, quando ele fundou o que mais tarde veio a ser conhecida como Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.


Essa é a característica do Deus do mormonismo. Será que você quer servir um deus desse tipo?



Extraído do Livro: “Por que Abandonei o Mormonismo, p.15-19 Editora Vida”:

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