por
Agostinho
Alguns, baseados nestas palavras:
Até que cheguemos todos à unidade da fé, ao homem perfeito, à medida da plenitude da idade de Cristo (Donec occurramus omnes (in unitatem fidei) in virum perfectum, in mensuram aetatis plenitudinis Cristri - Efésios 4:13),
e nestas outras:
Conformes à imagem do Filho de Deus (Conformes imaginis filii dei - Romanos 8:29),
não acreditam que as mulheres hão de ressuscitar com o sexo feminino, mas todas no sexo masculino, porque Deus fez apenas o homem de barro e, à mulher, tirou-a do homem. Mas a mim parece-me que são mais judiciosos os que não duvidam de que ambos os sexos hão de ressuscitar. É que, lá no Alto, não haverá já a paixão (libido) que é a causa de toda a perturbação. Realmente, homem e mulher, antes de pecarem, estavam nus e nem por isso se sentiam perturbados. Desses corpos serão extirpados os vícios e será conservada a natureza. O sexo feminino, porém, não é vício, mas natureza, embora, na verdade, doravante liberta do coito e do parto; subsistirão, porém, os órgãos femininos, não já acomodados ao antigo uso mas a uma nova beleza com que já não será aliciada a concupiscência, que se anulará, dos que para ela reparam, mas com que serão louvadas a sabedoria e a clemência de Deus que fez o que não era e libertou da corrupção o que fez. Que, na verdade, no princípio do gênero humano, se formou a mulher com uma costela tirada do lado do homem adormecido - é um fato com que convinha fossem profetizados então Cristo e a Igreja. Na verdade, este sono do varão significava a morte de Cristo, cujo lado, quando estava inanimado ainda suspenso da cruz, foi atravessado pela lança, e dele saiu sangue e água - que, como sabemos, são símbolos dos sacramentos com que se edifica a Igreja. Foi precisamente desta palavra que se serviu a Escritura - lendo-se nela, não a palavra formou nem a palavra modelou mas antes:
Edificou-a (à costela) em mulher (Aedificavit eam in mulierem - Gênesis 2:22);
é por isso que o Apóstolo diz a edificação do corpo de Cristo que é a Igreja. Tal como o varão, a mulher é, portanto, uma criatura de Deus; se ela foi formada à custa do homem, foi para pôr em destaque a unidade; e quanto à maneira como foi formada, figura ela, como já se disse, Cristo e a Igreja. Portanto, quem instituiu os dois sexos, os dois restabelecerá. Por fim, o próprio Jesus, a quem os Saduceus, que negavam a ressurreição, perguntaram de qual dos sete irmãos seria a mulher que eles, uns após outros, tinham desposado, pois a cada um pertencia, como a lei preceituava, perpetuar a descendência do irmão falecido, respondeu:
Estais enganados porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus (Erratis nescientes scripturas, neque virtutem Dei - Mateus 22:29);
e embora fosse ocasião para dizer:
- Essa de quem me falais será também ela um varão e não uma mulher - não disse isto, mas disse antes:
Pois na ressurreição nem elas nem eles casarão, mas serão como os anjos de Deus no Céu (In ressurrectione enim neque nubent neque uxores ducent sed sunt sicut angeli Dei in Caelo - Mateus 22:30);
na verdade, iguais aos anjos na imortalidade e na felicidade, mas não na carne - nem também na ressurreição, de que não tiveram necessidade os anjos porque não puderam morrer. O Senhor negou, portanto, que na ressureição haverá núpcias mas não negou que haverá mulheres e negou-o precisamente quando se tratava de tal questão; tê-le-ia resolvido mais rápida e facilmente negando que então houvesse sexo feminino se soubesse que ele não existiria lá. Mas, ao contrário, confirmou que o (sexo) havia de subsistir ao dizer, referindo-se às mulheres:
Nem elas casarão (Non nubent. - Mateus 22:29),
e, referindo-se aso homens:
Nem eles casarão (Nec uxores ducent. - Mateus 22:29).
Haverá lá, portanto, casados e casadas de cá: mas lá é que não voltarão a casar.
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Extraído de: A Cidade de Deus - De Civitate Dei.
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