por Rafael de Lima
Penso que um dos grandes
problemas da igreja evangélica na atualidade está em torno da sua falta de
identidade. O ser evangélico tem se tornado algo extremamente vago em nossos
dias.
Da mesma forma, se
afunilarmos um pouco mais a questão, perceberemos uma intensa falta de
identidade denominacional entre as igrejas protestantes e evangélicas.
Em décadas
passadas a designação congregacional, presbiteriana, batista, assembleiana,
etc., expressava significados relativamente claros. O rótulo denominacional não
exprimia apenas um nome, mas um conjunto de crenças. Exemplificando temos que o
ser congregacional representava, basicamente, a aceitação dos 28 Artigos da
Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo, a compreensão do
batismo e da Santa Ceia como ordenanças que representavam símbolos da fé
cristã, a ministração do batismo por aspersão em pessoas que declarassem a fé
cristã (vedado, por exemplo, o batismo por imersão e o pedobatismo), o regime
de governo congregacional, entre outras questões.
Em
nossos dias há uma confusão patente a este respeito. Com o desenfreado crescimento
de igrejas e grupos, a cada dia os rótulos denominacionais têm perdido o seu
real significado. Hoje, uma igreja que apresente em sua placa a expressão batista,
congregacional, presbiteriana, etc., não necessariamente possuirá uma
doutrina saudável e bíblica, nem terá qualquer relação com tais denominações
históricas. Um dos fatos que mais se tornam evidentes neste cenário está em
torno da mudança de nome da Igreja Cristã Nova Vida, que suprimiu a expressão
“pentecostal” de sua designação acrescendo a palavra “cristã”, pois a mesma não
representava mais a realidade da denominação, estando, atualmente, intimamente
ligada às igrejas neopentecostais[1].
Na verdade, muitas
igrejas que têm um rótulo de denominação histórica não passam de grupos
neopentecostais transvestidos. Ainda que muitos encarem esse fato como sendo
algo fútil, o mesmo revela importantes riscos para a saúde espiritual e
doutrinal dos membros do Corpo de Cristo, visto que muitos cristãos têm sido
levados para tais congregações, sobretudo por sua placa, deixando de lado o que
realmente diferenciará uma igreja bíblica de uma não bíblica, isto é, a
doutrina.
Diante disto, destaco alguns
pontos para que você possa identificar se sua igreja, independente da placa que
possui, é ou não uma igreja que está inserida no fatídico e fétido cenário
neopentecostal.
Primeiramente, qual o
tipo de “sermão” que tem sido pregado em sua igreja? Qual o objetivo do sermão?
Ele tem um foco cristocêntrico? Infelizmente, muitas igrejas ou grupos que
trazem em sua placa o nome de uma denominação história, têm abandonado as
mensagens bíblicas e dado ênfase a repugnante Teologia da Prosperidade.
Mensagens que enfatizam o homem, o ego, a benção, a fé na fé, a confissão
positiva, a obrigatoriedade da cura, etc., são essas os tipos de mensagens que
têm sido apresentadas em sua igreja? Se a resposta for positiva, receba minhas condolências.
A sua denominação é
adepta da “visão celular dos 12”? Ela acredita que essa é a visão de
Deus para os nossos dias? Quem sabe ela não tenha passado a militar em torno da
ordenação apostólica, afinal o “apóstolo”, líder de sua igreja, é um grande
homem de Deus e não deve estar errado, independente de os critérios para se
conhecer um verdadeiro apóstolo sejam, entre outros, que ele tenha visto a
Jesus (1Co 9:1; 1Co 15:8), tenha sido escolhido e enviado pelo Mestre (Lc 6:13;
Jo 6:70; At 9:15), tenha sido testemunha de sua ressurreição (At 1:22; 1Co
15:8,15), etc.
A sua igreja, apesar
possuir uma designação histórica ou pentecostal clássica, tem dado ênfase à “unções”
excêntricas? Unção do riso, dos quatro seres viventes, unção da capa, do
“shu profético”, etc.? Quem sabe, sua congregação tem dado um destaque
demasiado e equivocado à “batalha espiritual”, realizando demarcação de
territórios ou comandado anjos nas regiões celestiais.
Na sua congregação o
mais importante são as experiências particulares, ou mesmo o momento
dos cânticos em detrimento da pregação e da doutrina? A sua igreja possui
uma abordagem equivocada da “doutrina do Espírito Santo”, onde a ênfase
não é outra se não a de fomentar entre os membros o surgimento de experiências
particulares, estranhas e contrárias à Escritura?
E, por fim, sua igreja
está centralizada em torno de um líder carismático, o ungido de Deus que
não pode ser tocado, o “apóstolo” ou o “bispo” legítimo possuidor da “visão de
Deus”?
Caro leitor, sinto-lhe informar que se na sua congregação esses pontos estão
presentes, a mesma tem perdido o foco do cristianismo bíblico e da sã doutrina,
abraçando ensinamentos contrários às Escrituras, que têm pretendido colocar o
homem no trono e de lá retirar o Único Rei, que têm objetivado promover um
inchaço desordenando nas congregações abrindo mão de toda a espiritualidade
sadia, tratando a igreja como um grupo de auto-ajuda e não como uma Casa de
Oração. “Se eu fosse o diabo, um de meus primeiros alvos seria fazer as
pessoas pararem de pesquisar a Bíblia” (J. I. Packer)[2].
"Pregue a palavra,
esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a
paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina;
pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos
juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade,
voltando-se para os mitos. Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os
sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu
ministério". (2Tm 4:2-5 – NVI)[3]
Notas
[1] Indico a leitura do livro O fim de uma era,
de autoria do bispo Walter McAlister, e publicado pela editora AD.
[3] A versão utilizada neste artigo é a Nova Versão
Internacional (NVI) publicada pela International Bible Society.
Fonte:
www.cosmovisaocrista.com
Imagem: Google
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