Por Leonardo
Dâmaso
Ao contrário do que muitos cristãos imaginam – a
nossa batalha contra satanás e os demônios não é somente de cunho espiritual,
como se a missão deles consistisse em apenas tentar os cristãos a pecar contra
Deus, oprimir as pessoas, frustrar os seus planos, causar acidentes, brigas,
confusões, destruição de casamentos dentre outras coisas. Satanás e os seus
demônios só podem agir no mundo [ainda que influenciando as pessoas, apenas,
uma vez que certa parte do mal que sobrevém em nossa vida seja como resultado
dos nossos próprios pecados e escolhas erradas que fizemos] se Deus, assim,
“permitir” [ou tiver determinado]. O caso de Jó é um exemplo clássico de que
Satanás só tocou em sua vida porque Deus permitiu que ele o fizesse (Jó 1.6-12;
2.1-6).
Não obstante, a outra faceta desta batalha
espiritual entre Satanás e seus demônios contra os cristãos é de cunho
intelectual. A batalha espiritual não reside apenas em oposições físicas
causadas pelo exército demoníaco que descrevi anteriormente, mas, também, em
oposição “intelectual”. Satanás se opõe veemente contra a Palavra de Deus;
contra o Evangelho. A sua oposição consiste especificamente na deturpação da
verdade. Desse modo, quando os preceitos de Deus estabelecidos nas Escrituras
são distorcidos por teólogos, pastores e pregadores equivocados pouco ou quase
nada instruídos teologicamente, que são os instrumentos de Satanás incumbidos
para esta tarefa [ainda que muitos destes o façam por completa ignorância e
inconscientes do erro], a verdade, a Palavra de Deus ou o Evangelho são
transmitidos e ensinados às pessoas na igreja, no rádio, na TV e na internet
diametralmente de forma equivocada. Esta deturpação da verdade, portanto, é
chamada de heresia.
Partindo deste pressuposto, está completamente fora
dos padrões que as Escrituras determinam fazer uma separação obtusa de
“pessoas”, “crenças hereges” e “ações” das mesmas. É comumente enfatizado no
meio evangélico a ideia de que “a nossa luta não é contra o sangue e a
carne, mas, sim, contra Satanás e os demônios” (Ef 6.12). De fato, é
verdade o que Paulo declarou. Entretanto, precisamos entender o que o apóstolo
quis dizer com esta expressão para não incorrermos em equívocos de
interpretação desnecessários que poderiam ser facilmente evitados se
analisássemos com atenção o texto em voga. Deixe-me ilustrar tal
pensamento:
Muitos evangélicos afirmam categoricamente que não
devemos ser “contra”, no sentido de “odiar” ou “lutar” com pessoas; antes,
devemos nos opor contra suas crenças hereges e ações pecaminosas de acordo com
as demandas das Escrituras. Contudo, “heresias” e “pecados” simplesmente não
invadem a mente e a vida das pessoas, mas são as pessoas que abraçam as
heresias disseminadas através de pregações e ensinamentos orais na igreja, no
rádio, na TV, na internet e através de literatura. E também são as pessoas que
decidem adotar a prática de pecados; ou seja, as pessoas que decidem se
prostituir, adulterar, estuprar, roubar, matar dentre outros pecados.
Portanto, não podemos separar o pecado do pecador,
como fazem muitos evangélicos, dizendo que “Deus odeia o pecado, mas ama o
pecador”. O homem só se torna pecador se cometer aquilo que foi determinado por
Deus nos seus mandamentos como pecado. Assim, o pecado só existe e é
considerado pecado se alguém o tiver cometido. Logo, Deus odeia tanto o pecado
bem como odeia e ama ao mesmo tempo o pecador [especificamente aqueles que
estão para serem redimidos ou regenerados] (Sl 5.5-6; 11.5-6; 34.16; Pv 3.32a;
Rm 8.7-8; Tg 3.4; 1Jo 2.15 etc.). Como Deus pode amar o pecador e somente odiar
o pecado se ambos estão completamente relacionados? Se fosse assim, Deus não
condenaria o ímpio à punição eterna no lago de fogo, mas apenas o pecado, e o
homem, portanto, seria livre da condenação. Porém, sabemos pelas Escrituras que
não é assim. O homem [ímpio] é condenado pelo pecado de Adão, o representante
federal da humanidade caída e pelas suas obras más que são o resultado desta
ligação com ele (Rm 5.12; Jo 3.17-19; Ap 20.11-13).
Da mesma forma que não podemos separar o pecado do
pecador, também não podemos separar heresias do herege. A heresia não existiria
senão existisse alguém que, em virtude de uma interpretação equivocada das
Escrituras a propagasse. Ambos – heresia e herege estão entrelaçados! Assim, os
inimigos de Deus ou as pessoas com as quais ele se aborrece não são
simplesmente o “pecado” e as “heresias”, mas, sobretudo, “pessoas” que, mesmo
enganadas por elas, ainda que temporariamente abracem, apoiem e ajudem no
progresso das heresias pelas diversas seitas e do falso evangelho anunciado
pelas seitas neopentecostais – quer seja contribuindo financeiramente ou
fazendo parte do rol de membros das mesmas.
Via de regra a batalha espiritual na esfera intelectual
é teológica! Os cristãos lutam pela verdade! Estamos em guerra contra a mentira
caracterizada pelas heresias que compõe o falso evangelho pregado a plenos
pulmões hoje, o qual é reputado como a verdade e a verdade definida como
mentira! Podemos observar que, sempre no contexto do assunto sobre batalha
espiritual, Paulo emprega características militares como ilustração para que
possamos entender que estamos numa guerra constante enquanto vivermos neste
mundo caído que se opõe contra os valores de Deus e contra os seus filhos, os
cristãos. O apóstolo utiliza a metáfora militar de guerra no contexto de
Efésios 6.10-17; em 2 Coríntios 10.3-5; em 1 Timóteo 6.12 e em 2 Timóteo 2.3-4
para destacar que a nossa batalha é tanto espiritual contra os poderes malignos
quanto intelectual pelo verdadeiro evangelho contra o falso evangelho híbrido e
sincrético.
Esta guerra não é somente contra os sofismas
religiosos, mas também contra os seus expositores. Jesus quando esteve neste
mundo na sua primeira vinda foi um opositor ferrenho tanto dos fariseus quanto
de sua religião herege e legalista (veja os detalhes dos confrontos de Jesus
com os fariseus em Mt 5.20; 6.2-17; Mc 7.1-15; Mt 16.5-12; Mt 23; Jo 8.37, 47
etc.). Esta é a verdade subjacente em Gênesis 3.15. Deus disse que haveria um
conflito [enquanto a terra não for restaurada] entre os descendentes de Cristo
Jesus não somente com Satanás, mas também com os seus descendentes de Satanás
caracterizados pelos homens ímpios que, de acordo com o assunto a lume, muitos
destes são falsos teólogos, falsos pastores e falsos pregadores e, portanto,
devem ser refutados e repreendidos. O cristão não deve ser um omisso da
verdade, mas, sim, um expoente crível e implacável a semelhança do Senhor Jesus
quando esteve nesta terra na sua primeira vinda!
Portanto, quando Paulo disse que "a nossa
luta não é contra carne e sangue, mas contra satanás e os demônios",
ele estava acentuando que a guerra que estamos engajados por sermos cristãos
não é física, de modo que não fazemos uso de estratégias e armas físicas como
revólveres, pistolas, escopetas, bombas e, tampouco, iremos infligir os nossos
opositores da mesma forma. Visto que a batalha é espiritual e intelectual,
nossas armas e estratégias são espirituais. Empregamos a oração, a pregação do
evangelho puro e simples, que é a espada do Espírito (Ef 6.17) e a apologética
através de argumentos que defendem a fé evangélica. Como vemos nas Escrituras
que a nossa luta é também contra pessoas sob a influência e domínio de
satanás e contra os demônios, e não somente contra as “heresias” propriamente
ditas, este conflito não é vencido por violência física e verbal, mas pelo
poder do Espírito Santo e da exposição fiel das Escrituras para que pessoas
possam ser libertas da mentira da religiosidade morta, superficial e do falso
evangelho. Paulo escreveu:
2 Coríntios
10.3-5 – Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões
humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são
poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda
pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo
pensamento, para torna-lo obediente a Cristo. (NVI)
As fortalezas que o apóstolo enfatiza aqui não são fortalezas demoníacas conforme entendem os adeptos do movimento de batalha espiritual místico e herético difundido por Peter Wagner. Antes, "Paulo se refere à resistência que os incrédulos oferecem à verdade do Evangelho, por meio de sofismas e de outros raciocínios falazes, que procedem da soberba e da incredulidade do coração deles" (Augustus Nicodemus Lopes. O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual, pág 71 - cultura cristã). Finalmente, o apóstolo ensina que a vitória sobre os argumentos falaciosos dos incrédulos consiste na pregação sincera do evangelho de Jesus Cristo, o que é a única maneira de tais pessoas serem libertas do engano demoníaco. Jesus disse em João 8.32 - "... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (ARA)
Fonte: Bereianos
Nenhum comentário:
Postar um comentário