Por
Leonardo Dâmaso
Lucas - 22.3 – Ora, Satanás ENTROU em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze. ARA
João 13.27 – E logo que comeu o pedaço de pão,
Satanás entrou nele. Almeida Século 21
Os evangelhos de Lucas e João retratam duas
ocasiões na qual Satanás ENTROU em Judas Iscariotes. A primeira ocasião ocorreu
pouco tempo antes dele combinar com os principais sacerdotes e os capitães (que
eram um grupo de segurança composto por levitas que guardavam o templo) o valor
em dinheiro (30 moedas de prata de acordo com Mt 26.15, o preço de um escravo
Ex 21.32) e a maneira como entregaria Jesus para ser preso (Lc 22.3-5).
A segunda ocasião em que Satanás ENTROU em Judas ocorreu na ceia, na noite de quinta feira anterior à crucificação após ele ter ingerido o pedaço de pão molhado oferecido por Jesus que, de fato, consistiu na resposta da pergunta de Pedro e João de quem seria o traidor. Após esta cena, além dos discípulos ficarem sabendo claramente quem seria o traidor, todavia, o processo da traição formal de Judas se desencadeou, deixando patente o sentimento maligno que estava em seu coração (Jo 13.21-26). Vale a pena enfatizar que o pão molhado não foi um ato espiritual, mas, simplesmente, um elemento usado por Jesus para ativar o que já estava latente em Judas. Em vista disso, qual foi, então, o papel de Satanás na traição de Judas? Dois fatores revelam o papel de Satanás na traição que João descreve:
1) A Instigação de Satanás
Em João 13.2 é mencionado que durante a ceia ou
enquanto tomava a ceia, Satanás já havia colocado no coração de Judas que ele
deveria trair Jesus. Não é possível saber quando isso ocorreu pela primeira
vez, entretanto, já no momento da ceia, Judas já havia aceitado a sugestão de
Satanás. A semente da traição já havia sido plantada no coração de Judas. A
flecha maligna de Satanás já havia acertado o seu coração. Portanto, Satanás
instigou Judas a trair Jesus tomando ocasião pelas suas próprias inclinações
pecaminosas, isto é, o egoísmo e o amor ao dinheiro (Jo 12.3-6; 1 Tm 6.9-10).
2) Satanás entrou em Judas para que o seu propósito
fosse cumprido
Satanás entrou em Judas para, através dele, efetuar
o seu “plano” maligno de matar Jesus e, talvez, também, matar ou tentar desviar
os discípulos de anunciar o evangelho, impedindo, assim, a sua expansão pelo
mundo. Satanás talvez pensou que, matando Jesus, todos os seus discípulos e
seguidores iriam se dispersar e abandonar a fé, o que, de fato, não aconteceu!
Não obstante, o que significa, então, a expressão ENTROU nele? Satanás possuiu
Judas realmente no momento da consumação da traição? Judas teria sido sucumbido
por satanás a ponto de perder a sua personalidade? Então Judas não era
responsável pelos seus atos porque estava possuído por Satanás?
a) A
entrada de Satanás em Judas não significa necessariamente possessão
No momento de uma possessão maligna, a pessoa
vitimada perde completamente a sua consciência e a vontade própria. Ela é
completamente sucumbida pelo demônio, uma vez que a possessão é plena e
absoluta. Geralmente quando a pessoa é liberta da possessão, ela não se lembra
de nada do que aconteceu outrora sob o domínio maligno. Sendo assim, Judas
sabia perfeitamente o que fez e estava cônscio do ato hediondo que cometeu
traindo Jesus. Ele mesmo disse tomado remorso em Mateus 27.4 – Pequei
traindo sangue inocente! (ARA) Uma pessoa possessa não teria essa reação de
Judas e, tampouco, se lembraria do que havia feito. Se fosse Satanás quem
tivesse traído Jesus usando apenas a pessoa de Judas, Jesus teria dito que foi
ele quem o traiu. Contudo, Jesus é explícito em afirmar que foi Judas quem o
traiu, e não Satanás.
Lucas 22.22 – Mas a mão do que me trai está
comigo à mesa. Almeida Século 21
Portanto, a expressão ENTROU nele significa um tipo
de domínio espiritual que Satanás exerceu em Judas, e não uma possessão total
conforme disse John MacArthur em seu livro: O Evangelho Segundo Jesus, na
página 138. Judas simplesmente foi dominado por Satanás sendo o seu escravo na
trama e execução da traição de Jesus.
b) A
entrada de Satanás em Judas não significa a perda da sua responsabilidade moral
pelo ato da traição
Embora já estivesse decretada pela Soberania de
Deus a traição e quem seria o traidor de Jesus (Sl 41.9; Jo 13.18;
Mt 26.21; 53-56; Mc 14.18; Lc 22.21-22; 37-38; Jo 6.70-71; 13.10-11; 21),
todavia, ainda assim, o traidor foi Judas, e não Deus. Deus determinou a
traição, que foi algo mal da perspectiva humana, contudo, para um propósito
final e maior, que foi algo bom da perspectiva de Deus, ou seja, a redenção dos
pecadores eleitos. Se não fosse a traição de Judas, Jesus não teria sido preso,
humilhado, espancado, condenado e morto na cruz. E se Jesus não morresse e
ressuscitasse não haveria a salvação (At 2.23-24; 3.18). O decreto de Deus
estava se cumprindo no momento da traição, mas Judas não estava isento de sua
responsabilidade em virtude disso. Judas traiu Jesus porque quis! Ele agiu de
acordo com as suas inclinações pecaminosas que eram más no qual, sobretudo,
eram alimentadas por Satanás.
Finalmente, a entrada de Satanás em Judas não se
refere à uma possessão maligna absoluta e irresistível; antes, se refere a uma
ação eficaz manipuladora de Satanás sobre Judas que, no final das contas,
desconhecendo isso, tanto ele bem como Satanás estavam cumprindo o bom
propósito de Deus.
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