Texto
adaptado de A Verdade SUD
DB,
relata sua experiência sobre recusar-se a sair de missão. Sua única resposta a
seu bispo, diante de indagações, foi:
"Os índios não são
judeus".
Certamente,
não há argumentos coontra esse fato. O que o Livro de Mórmon sempre afirmou,
assim como Joseph Smith e todos os Presidentes que o seguiram, foi colocado
abaixo com testes definitivos de DNA.
Como
responder à um rapaz inteligente, diante de tal argumento?
Infelizmente,
o bispo escolheu a resposta mais desastrosa possível:
Confie em Deus mais do que nas
evidências.
Certamente,
para um não-mórmon, isso não faz nenhum sentido. Porém, dentro da igreja SUD,
esse é o primeiro e maior mandamento:
Não pense, não raciocine, apenas
aceite, pois é Deus quem fala.
Pois é
exatamente isso que define o fundamentalismo.
O texto
abaixo, de autoria de Richard Dawkins, extraído do livro "Deus, Um Delírio", explica muito
bem o tema. Ele reforça o motivo do fundamentalismo ser tão perigoso.
Logo após, comparo a definição de fundamentalistas, dada por Dawkins, com um discurso feito por Dali H. Oaks.
"Os
fundamentalistas sabem que estão certos porque leram a verdade num livro
sagrado e sabem, desde o começo, que nada os afastará de sua crença. A
verdade do livro sagrado é um axioma, não o produto final de um processo de
raciocínio.
O
livro é a verdade e, se as provas parecem contradizê-lo, são as provas que
devem ser rejeitadas, não o livro.
As
pessoas acreditam nos livros sobre evolução não porque eles sejam sagrados.
Acreditam porque eles apresentam quantidades imensas de evidências mutuamente
sustentadas. Quando um livro de ciência está errado, alguém acaba descobrindo o
erro, e ele é corrigido nos livros subsequentes. Isso evidentemente não
acontece com os livros sagrados
Os
filósofos, especialmente os amadores, com um aprendizado filosófico limitado, e
mais especialmente ainda aqueles contaminados pelo "relativismo
cultural", podem levantar nesse ponto mais uma cansativa bandeira: a
crença dos cientistas nas evidências é por si só uma questão de fé fundamentalista.
Já tratei
disso em outros lugares, e só vou repetir brevemente meus argumentos aqui.
Todos nós acreditamos em evidências em nossa vida, independentemente do que
professemos quando vestimos nosso uniforme de filósofos amadores.
Se sou
acusado de assassinato, e o promotor pergunta, sério, se é verdade que eu
estava em Chicago na noite do crime, não posso me safar com uma fuga
filosófica: "Depende do que você quer dizer com Verdade'". Nem com
uma alegação antropológica e relativista: "Só no seu sentido científico e
ocidental de 'em' é que eu estava em Chicago...
Talvez os
cientistas sejam fundamentalistas quando se trate de definir de um jeito meio
abstrato o que "verdade" significa. Mas todo mundo é assim. Não
sou mais fundamentalista quando digo que a evolução é uma verdade do que quando
digo que é verdade que a Nova Zelândia fica no hemisfério sul.
Acreditamos na evolução porque as
evidências a sustentam, e a abandonaríamos num piscar de olhos se surgissem
novas evidências que a desmentissem.
Nenhum fundamentalista de verdade
diria uma coisa dessas.
É muito
fácil confundir fundamentalismo com paixão. Posso muito bem parecer apaixonado
quando defendo a evolução diante do criacionismo fundamentalista, mas isso não
acontece por causa de meu próprio fundamentalismo rival. Acontece porque as
evidências da evolução são fortíssimas e fico apaixonadamente perturbado com o
fato de meu oponente não conseguir enxergar isso — ou, o mais comum, recusar-se
até a pensar nisso, porque contradiz seu livro sagrado.
Isso aumenta quando penso em tudo
que os pobres fundamentalistas, e aqueles que eles influenciam, estão perdendo.
As verdades da evolução, junto com muitas outras verdades científicas, são tão
fascinantes e belas que é realmente trágico morrer tendo perdido tudo isso!
É claro
que isso me inflama. Como não inflamaria? Mas minha crença na evolução não é
fundamentalismo, e não é fé, porque sei o que seria necessário para mudar de
idéia, e mudaria satisfeito se fossem apresentadas as evidências necessárias.
Isso
acontece. Já contei a história de um integrante respeitado do Departamento de
Zoologia de Oxford, quando eu fazia graduação. Por anos ele tinha acreditado
apaixonadamente, e ensinado, que o complexo de Golgi (uma estrutura
microscópica do interior das células) não existia: era uma fabricação, uma
ilusão.
Complexo de Golgi
|
Era costume
do departamento ouvir, toda tarde de segunda-feira, uma palestra de um
convidado sobre alguma pesquisa. Uma segunda-feira, o visitante foi um biólogo
celular americano que apresentou evidências totalmente convincentes de que o
Complexo de Golgi existia.
No fim da
palestra, o senhor de Oxford foi até a frente da sala, apertou a mão do
americano e disse, apaixonadamente: "Caro companheiro, gostaria de
agradecer-lhe. Eu estava errado por todos esses quinze anos". Aplaudimos
até ficar com as mãos vermelhas.
Nenhum
fundamentalista jamais diria isso. Na prática, nem todos os cientistas diriam.
Mas todos os cientistas pelo menos declaram que isso é o ideal —
diferentemente, digamos, de políticos, que talvez condenassem esse tipo de
atitude, chamando-a de mudança de lado. A lembrança do incidente que descrevi
ainda me provoca um nó na garganta.
Como
cientista, sou hostil à religião fundamentalista
porque ela debocha ativamente do empreendimento científico. Ela nos ensina a
não mudar de idéia, e a não querer saber de coisas emocionantes que estão aí
para serem aprendidas. Ela subverte a ciência e mina o intelecto.
O exemplo
mais triste que conheço é o do geólogo americano Kurt Wise, que hoje dirige o
Centro para Pesquisa das Origens, no Bryan College. Wise poderia ter realizado
sua ambição de infância e ser professor de biologia numa universidade de
verdade, em uma universidade cujo lema fosse "Pense criticamente", em
vez do oximoro estampado no site da Bryan na internet: "Pense crítica e
biblicamente".
Ele,
aliás, obteve um diploma de verdade na Universidade de Chicago, além de dois
outros títulos em geologia e paleontologia em (nada menos que) Harvard, onde
teve aulas com (ninguém menos que) Stephen Jay Gould. Era um jovem cientista
altamente qualificado e promissor, que avançava para realizar o sonho de
ensinar ciência e fazer pesquisas numa boa universidade.
Aí veio a
tragédia. Ela veio não do exterior, mas de dentro da própria cabeça dele, uma
cabeça fatalmente subvertida e enfraquecida por uma criação religiosa
fundamentalista que exigia que ele acreditasse que a Terra — o objeto de seus
estudos geológicos em Chicago e Harvard — tinha menos de 10 mil anos de idade.
Ele era
inteligente demais para não reconhecer a colisão frontal entre sua religião e
sua ciência, e o conflito mental o deixou cada vez mais desconfortável. Um dia,
sem conseguir suportar mais a tensão, atacou o problema com uma tesoura. Pegou
uma Bíblia e a percorreu, retirando literalmente todos os versos que teriam que
ser eliminados se a visão científica do mundo fosse verdadeira. No final desse
exercício honesto e trabalhoso, sobrou tão pouco da Bíblia que:
"...por mais que eu
tentasse, e mesmo com o benefício das margens intactas ao longo das páginas das
Escrituras, vi que era impossível pegar a Bíblia sem que ela se partisse ao
meio. Tive de tomar uma decisão entre a evolução e as Escrituras. Ou as
Escrituras eram verdade e a evolução estava errada ou a evolução era verdade e
eu tinha de jogar a Bíblia fora [...]
Foi ali, naquela noite, que
aceitei a Palavra de Deus e rejeitei tudo que a contradissesse, incluindo a
evolução. Assim, com grande tristeza, lancei ao fogo todos os meus sonhos e as
minhas esperanças na ciência."
Acho isso
uma coisa terrivelmente triste; mas, se a história do complexo de Golgi me
levou a lágrimas de admiração e júbilo, a história de Kurt Wise é só patética —
patética e desprezível. A ferida, na carreira e na felicidade dele, fora
auto-infligida, e era tão desnecessária, tão fácil de evitar. Ele só tinha que
jogar a Bíblia fora. Ou interpretá-la em termos simbólicos, ou alegóricos, como
fazem os teólogos. Em vez disso, tomou a atitude fundamentalista e jogou a
ciência, a evidência e a razão fora, junto com todos os seus sonhos e
esperanças.
Talvez de forma singular entre os
fundamentalistas, Kurt Wise seja honesto — de uma honestidade devastadora,
dolorosa, chocante. Deem a ele o prémio Templeton: ele pode ser o primeiro
premiado realmente sincero.
Wise leva
à superfície o que está secretamente escondido, na cabeça dos fundamentalistas
em geral, quando eles encontram evidências científicas que contradizem suas
crenças. Ouça sua peroração:
"Embora existam razões
científicas para não aceitar uma terra jovem, sou criacionista porque essa é
minha compreensão das Escrituras. Como disse para meus professores anos atrás,
quando estava na faculdade, se todas as evidências do universo se voltarem
contra o criacionismo, serei o primeiro a admiti-las, mas continuarei
sendo criacionista, porque é isso que a Palavra de Deus parece indicar.
Essa é minha posição."
O duplipensamento
de Wise não vem do imperativo da tortura física, mas do imperativo —
aparentemente tão inegável quanto, para algumas pessoas — da fé religiosa:
pode-se defender que se trata de uma forma de tortura mental. E, se ela fez
isso a um geólogo que estudou em Harvard, imagine o que é capaz de fazer a
pessoas menos dotadas e menos aparelhadas.
A religião fundamentalista está
determinada a arruinar a educação científica de inúmeros milhares de mentes
jovens, inocentes e bem-intencionadas. A religião não fundamentalista,
"sensata", pode não estar fazendo isso. Mas está tornando o mundo
seguro para o fundamentalismo ao ensinar as crianças, desde muito cedo, que a fé inquestionável é uma virtude.
Dallin H. Oaks, em 2009, proferiu
um discurso intitulado "A Historicidade do Livro de Mórmon" (Jantar
Anual da Foundation for Ancient Research and Mormon Studies. Provo, Utah, 29 de
outubro de 1993). Não o reproduzirei aqui na íntegra, pois pode ser encontrado
facilmente, em português, na internet. Mas parte dele mostra exatamente esse
fundamentalismo religioso, absurdo e que "subverte
a ciência e mina o intelecto."
Vejamos:
Vejamos:
..."A
historicidade - autenticidade histórica - do Livro de Mórmon é uma questão tão
fundamental que se coloca em primeiro lugar sobre a fé no Senhor Jesus Cristo,
que é o primeiro princípio em si, como em todos os demais assuntos."
Quando, em um mundo são, a história é ensinada através da fé?
A história só tem validade com os registros, cartas, objetos e mesmo fósseis. Mas fé jamais sustentou a história.
"Dessas
observações procurarei usar o argumento racional, mas não me fiarei em nenhuma
prova. Eu tratarei a questão da historicidade do Livro de Mórmon do ponto de
vista da fé e revelação. Sustento que a questão da historicidade do Livro de
Mórmon é basicamente a diferença entre aqueles que fiam exclusivamente no
conhecimento e aqueles que confiam numa combinação de conhecimento, fé e
revelação."
Argumento racional sem provas? Que maior contradição pode haver em uma única sentença relativa à história?
A combinação de conhecimento, fé e revelação é suficiente para provar a historicidade do Livro de Mórmon? Seria se houvesse qualquer conhecimento, ou seja, provas conhecidas e reconhecidas pela comunidade científica sobre lugares, povos, lígua, animais, equipamentos, entre outros, citados no referido livro.
Depois destas declarações, salta aos olhos uma única prova: Dallin H. Oaks, assim como aqueles que aceitam tais afirmações, não sabem o que é usar um argumento racional.
Apenas relembrando Dawkins:
"O
livro é a verdade e, se as provas parecem contradizê-lo, são as provas que
devem ser rejeitadas, não o livro."
Fonte: http://investigacoessud.blogspot.com.br/2011/02/igreja-sud-fundamentalista.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário