Desde o início da última campanha presidencial ocorrida no Brasil, nosso povo ficou familiarizado com o texto de João 8.32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Lido e aplicado de forma isolada, esse versículo passou a sugerir a necessidade de uma administração política transparente, livre de segredos malignos; uma administração em que a corrupção é exposta, assim como os interesses escusos que estão por trás da grande mídia e das diferentes propostas ideológicas que circulam por aí. Partindo disso, o versículo estaria dizendo que o conhecimento dessas coisas (a “verdade”) libertaria o povo do erro, da manipulação e da fraude. A verdade, enfim, tendo aberto os olhos das pessoas, faria com que as elas não fossem mais enganadas e rejeitassem os políticos sujos, as instituições corruptas e as ideologias destrutivas que as escravizam.
Tudo isso faz sentido e seria realmente muito bom se essa “revolução da verdade” acontecesse no Brasil. Porém, será que Jesus quis mesmo dizer essas coisas quando enunciou as palavras registradas em João 8.32? Ao afirmar que a verdade liberta, será que nosso Senhor tinha em mente a verdade acerca do perverso modo de agir dos poderosos e suas reais intenções? Ao enunciar essas palavras, estaria Cristo se referindo ao conhecimento do que realmente move as ideologias político-sociais que nos cercam e ensinando que esse conhecimento nos liberta do engano?
Uma simples leitura de João 8 mostra que a resposta a essas perguntas é um retumbante “não”. É óbvio que conhecer os bastidores da corrupção de um país, bem como as reais intenções por trás das diferentes propostas ideológicas que nos são apresentadas, ajudaria bastante o povo a se livrar de muita gente ruim e de várias ideias destrutivas. Contudo, Jesus não estava preocupado com essas coisas quando enunciou aquela frase tão memorável. De fato, sua meta de ensino estava bem longe disso.
Quando Jesus disse “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, ele estava se referindo à sua mensagem, como fica evidente em vários versículos de João 8: “Muitas coisas tenho para dizer a vosso respeito e vos julgar; porém aquele que me enviou é verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo” (Jo 8.26); “Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (Jo 8.28); “Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai” (Jo 8.38); “Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus” (Jo 8.40); “Mas, porque eu digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso não me dais ouvidos, porque não sois de Deus” (Jo 8.45-47).
Aliás, o próprio versículo 32 começa com a conjunção “e” (Gr. καὶ) que o conecta ao versículo 31, que diz: “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade...”. Jesus estava, portanto, dizendo: “Se vocês permanecerem na minha palavra, isto é, na mensagem que eu proclamo, vocês conhecerão a verdade e ela vai libertá-los”.
Sendo, portanto, a verdade identificada com a mensagem de Jesus, qual seria, enfim, o conteúdo central dessa mensagem tão poderosa para libertar? Muito simples. É, obviamente, no mesmo capítulo 8 de João que está a resposta. Lendo esse capítulo, aprendemos que essa mensagem afirma que Jesus é a luz do mundo (Jo 8.12), aquele que o Pai enviou (Jo 8.42), o Deus-Filho que existe desde os tempos eternos (Jo 8.58) e que é poderoso para salvar (Jo 8.36) e conceder a vida eterna a todo aquele que crê nas suas palavras (Jo 8.51). Em João 8 aprendemos que Jesus proclamava essas coisas acerca de si mesmo com frequência (v.25) e que essa mensagem era aprovada pelo Pai (v.18). Importante notar que, fazendo oposição a essa mensagem está o diabo, que domina os homens (Jo 8.38) e que só profere mentiras (Jo 8.44).
Tudo isso salta facilmente aos olhos quando lemos João 8. Resta, porém, responder a mais uma pergunta. Se a mensagem de Jesus é a verdade que liberta, de que, exatamente, ela nos liberta? Nesse ponto, João 8 é ainda mais claro: “Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34,36).
Agora sim temos elementos para entender melhor as lindas palavras de João 8.32. Jesus estava dizendo aos seus ouvintes: “Se vocês acolherem a mensagem divina que eu proclamo acerca de quem eu sou, isso implicará o conhecimento real da verdade que, afinal, vai livrá-los da escravidão do pecado”.
Como seria bom se, em épocas de campanha política ou mesmo fora dessas épocas, algum candidato ou líder nacional proclamasse o verdadeiro significado de João 8.32! Infelizmente, o que tem ocorrido é o esvaziamento do sentido tão importante desse texto. Que Deus tenha misericórdia, pois, do nosso povo que continua sem conhecer a verdade e, consequentemente, permanece na mais triste e deplorável escravidão.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria
Fonte: http://www.igrejaredencao.org.br
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