Ser humilde é virtuoso. As Escrituras dizem muito sobre a humildade.
Provérbios 15.33, diz que a humildade precede a honra. Nas bem-aventuranças, os
humildes — disse Jesus — herdarão a terra (Mateus 5.5). O próprio Cristo é o nosso paradigma para sermos humildes, tal como
ele foi. Ele diz: “Aprendei de mim que sou manso e humilde” (Mateus 11.29). O
apóstolo Paulo tratando sobre o tema nos conclama para que tenhamos o mesmo
sentimento de Cristo (Filipenses 2.11).
Humildade, segundo os padrões bíblicos, é não alimentar um conceito elevado
acerca de si mesmo (vide Romanos 12.3). E o porquê disto? Porque somos seres
criados, limitados e desde que o pecado entrou no mundo, imperfeitos. Não somos
a medida de todas as coisas e dependemos de Deus para tudo, desde o respirar ao
abrir os olhos, pois somos suas criaturas. É partindo dessa cosmovisão que
poderemos compreender melhor o que é ser humilde e evitar erros comuns, pois
muitos chamam de humildade aquilo que ela não é. Vejamos:
Humildade não é falsa modéstia
A Bíblia nos ensina a não termos um conceito elevado sobre nós, mas isso
não significa que devemos negar as nossas qualidades. Se o Lionel Messi falasse
que se considera um jogador mediano e que está no mesmo nível dos demais
atacantes da Europa, ele não estaria sendo humilde, mas sim falseando algo que
é óbvio: seu futebol está num nível acima da imensa maioria dos jogadores em
atividade. E ser falso é ir de encontro com a verdade, portanto, é uma agressão
aos padrões morais de Deus. Negar as nossas qualidades não nos faz humildes, a
humildade reside em saber que tais qualidades são bênçãos que o SENHOR
graciosamente nos concede, e que, portanto, não são provenientes de nós mesmos.
Assim sendo, não devemos nos vangloriar. Também não devemos humilhar aqueles
que não possuem os mesmos talentos que portamos. Uma maneira efetiva de sermos
humildes seria utilizarmos nossas habilidades em prol do bem estar alheio,
i.é., servindo uns aos outros.
Deus nos concede dons e talentos, negá-los é o mesmo que negar a autoria
da fonte divina. Nenhuma pessoa possui todas as aptidões, consequentemente,
compartilhar o que temos para ajudar os que não têm é algo nobre. Lembrando que
também seremos servidos por aqueles que portam as habilidades que nos faltam.
Humildade não é baixa autoestima
Semelhantemente a falsa modéstia, a baixa autoestima é uma negação de
quem você realmente é, obviamente, não pelo mesmo motivo, mas que na prática
também desagrada ao SENHOR. A Bíblia diz que o conceito acerca de nós mesmos
deve ser equilibrado (Romanos 12.3). Portanto, o desequilíbrio pende para mais
ou para menos. Se colocar no pedestal é censurável, mas cavar um buraco para
enterrar a si mesmo é passível de igual censura.
Tendo Cristo como nosso paradigma, conforme dito anteriormente, vejamos
como ele se portou no episódio em que lavou os pés dos discípulos. Na ocasião,
ele executou uma tarefa que era própria de um escravo. Seus discípulos acharam
aquela cena humilhante, todavia, Cristo diz aos mesmos que ele é Mestre e
Senhor daqueles homens (João 13.13). E mesmo executando um labor serviçal, não
deixa Pedro fazer a sua vontade — nem ditar as regras. De maneira imperativa, Jesus
faz com que Pedro se submeta a ter os pés lavados (João 13.6–10). O Cristo era, ou seja, a sua posição, não dependia da avaliação crítica dos apóstolos ou de quem quer que fosse.
Muitas vezes, a baixa autoestima reflete a estima alheia, no entanto,
devemos manter um conceito equilibrado. Nunca somos tão bons ou tão maus como
dizem que somos (No segundo caso é mais comum sermos ainda mais vis do que nos
apontam). Quem nos conhece de fato é o próprio SENHOR, e é em sua palavra que
podemos entender que apesar de pecadores, limitados e imperfeitos, fomos
lavados e remidos. Em Cristo somos mais que vencedores e abençoados com toda a
sorte de bênçãos espirituais (Romanos 8.37 e Efésios 1.3). Equilíbrio aqui é
reconhecer que somos, conforme a máxima de Lutero, “simultaneamente justos e
pecadores”. O que passa disso é puro equívoco de identidade.
Humildade não é “saber menos”
Existe uma mentalidade enraizada na cultura brasileira de que a
intelectualidade leva à soberba e a ignorância acaba exaltada como uma virtude
associada ao “ser humilde”. A mentalidade anti-intelectual é falsa e, em muitos
casos, maquila a arrogância. Pois, ir atrás do saber, isto é, estudar, remete a
ir atrás de algo que assumidamente não se sabe, e com isso, o aprendiz
curvar-se perante o portador do saber, deixando-se por ele ser guiado — tal qual Dante foi guiado por Virgílio na obra A Divina Comédia.
A disposição para o aprendizado é mais humilde do que a pré-disposição
de permanecer na ignorância. Requer disciplina, respeito e a prontidão em tomar
conselhos com os mestres que nos cercam. É feliz o homem que obtém conhecimento
(Provérbios 3.13), todavia, a Bíblia chama de insensato os que desprezam a
sabedoria e a disciplina (Provérbios 1.7).
Se o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, logo é ponto de partida
para que seus filhos se arvorem pelos meandros dos saberes a fim de compreender
melhor o mundo criado — e na medida em que conhecem, contemplam e veneram a
sabedoria do Altíssimo que fez tudo harmônico e belo, para o louvor da sua
glória. Ao desprezarmos o conhecimento, deixamos de prestar esta veneração e
ficamos embotados.
Humildade não é pobreza
Geralmente, o termo humilde para se referir à pessoa pobre denota
simplicidade. Por razões econômicas, uma pessoa mora numa casa feita de
materiais baratos e muitas vezes, construída com objetos improvisados e em
lugares improvisados. Daí se diz que “fulano habita numa casinha humilde”.
Mas há quem confunda a pobreza com a humildade no sentido em que estamos
trabalhando nesse texto. Geralmente, quem faz tal confusão é o ideólogo que
vislumbra no pobre a imagem sacrossanta do bem. A pobreza como situação
econômica embora possa exercer certa influência não pode ser vista como fator
determinante para a moralidade. Há vileza em pobres e ricos. De igual modo há
altivez, arrogância e por incrível que pareça esnobismo em muitos moradores de
periferia. Há aqueles que se consideram melhor do que os das classes mais altas
pelo simples fato de serem desprovidos de fortuna. Isso é uma ruptura do
princípio bíblico referente à humildade. Lembremos que o humilde é aquele que
não alimenta um conceito elevado sobre si mesmo.
Fonte: Electus
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