Um dos aspectos esquecidos da mensagem
do Evangelho é a capacidade que ele possui de machucar o coração. Quando
falamos de coração somos facilmente enganados. Pensamos em nosso coração como
algo que deve ser preservado. Usamos nosso coração como uma espécie de
termômetro a fim de sabermos se estamos bem ou não. Já estamos acostumados a
ouvir frases como “estou bem comigo mesmo”, “sinto uma paz interior”, “estou
com minha auto estima elevada”. Estas frases nada mais são do que análise do
coração. Quem usa frases assim está querendo dizer que o coração está bem.
Muitos
desejam se sentir bem em seu coração. Podemos arriscar a dizer que as pessoas
têm como grande objetivo de suas vidas obter um sentimento de paz no coração.
Seus planos, suas decisões, suas atitudes têm como alvo fazer com que o coração
sinta-se bem.
Este
desejo exerce influência direta na forma como pregamos o Evangelho. Sabemos o
que as pessoas querem e não queremos desagradá-las nisso. Não queremos frustrar
as pessoas negando-lhes aquilo que tanto almejam. Pregamos o Evangelho
prometendo às pessoas que se aceitarem a Jesus elas se sentirão bem consigo
mesmas, afirmamos que a paz que elas tanto procuram está em Jesus. Acreditamos
que já existe algo no coração das pessoas capaz de levá-las a Cristo, este algo
é o desejo que elas têm por paz, assim apelamos para esse desejo a fim de que
aceitem o Evangelho.
Devemos,
entretanto pensar um pouco a respeito disso. Devemos questionar se temos apoio
da Bíblia para prometermos às pessoas que se aceitarem o Evangelho terão bons
sentimentos em seus corações. Precisamos nos conscientizar sobre o que a Bíblia
fala a respeito de nosso coração.
Quando
a Bíblia fala de nosso coração, o chama de enganoso e desesperadamente corrupto
(Jr.17.9). É claro para nós que a Palavra de Deus não está falando do órgão
físico que bate em nosso peito. Ela está falando de nossa parte imaterial que
engloba nossos pensamentos, nossos sentimentos e nossas conclusões a respeito
de nossa vida. A Bíblia está dizendo que nosso coração está redondamente
enganado a respeito do que pensa. Deus está graciosamente dizendo que nosso
coração não é uma fonte segura para basearmos nele nossas decisões. Isto nos
leva a concluir que se sentir bem no coração não é necessariamente uma boa
coisa e não significa que estamos sem problemas.
A
Bíblia mostra outra atitude com relação ao nosso coração. Ao invés de fazê-lo
se sentir bem, a Palavra de Deus fala contra o coração, desfazendo todo seu
engano. Vejamos por exemplo a primeira mensagem pregada na história do
cristianismo.
Tão
logo o Espírito Santo formou a Igreja, Ele levantou o apóstolo Pedro para
pregar. Lemos isso em Atos 2.14-36. Observamos que o apóstolo não estava
preocupado em fazer com que seus ouvintes se sentissem bem consigo mesmos.
Pedro disse aos seus ouvintes que eles haviam matado a Jesus crucificando-o por
mãos de iníquos (v.23). Pedro ousadamente afirmou: “Esteja absolutamente certa,
pois, toda casa de Israel de que a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez
Senhor e Cristo” (v.36, ênfase acrescentada). Dizer às pessoas que
elas são responsáveis pela morte de Jesus certamente não agrada seus corações.
Pedro, como nós, sabia que aquelas pessoas desejavam se sentir bem. Ele também
sabia como poderia fazer isso. O apóstolo poderia dizer a elas que eram a nação
escolhida de Deus, Pedro poderia dizer a elas que Jesus desejava que se
sentissem em paz, bastava que recebessem a Ele. Não foi isso, porém, que o
apóstolo fez. Ele afirmou que aquelas pessoas eram as responsáveis por matar o
Filho de Deus que foi enviado a este mundo.
Qual
foi o resultado daquela pregação? O que aquelas pessoas começaram a pensar? O
que elas sentiram? A Bíblia nos fala como ficou o coração daquelas pessoas. “Ouvindo
elas estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos
demais apóstolos: Que faremos irmãos?” O verbo compungir é tradução
de uma palavra grega que era usada para se referir à perfuração de alguma parte
do corpo. Referia-se a perfurar com uma faca ou objeto pontiagudo. Era como ser
atingido por algo de forma inesperada e que causava muita dor. Naquele momento
aquelas pessoas não estavam em paz consigo mesmas, seus corações estavam
profundamente incomodados, seus sentimentos eram amargos. O Evangelho não
encontrou algo naqueles corações sobre o qual pudesse edificar a salvação. O
Evangelho na verdade destruiu as convicções enganosas daqueles corações. O
Evangelho ofendeu aqueles corações mostrando claramente que estavam enganados e
corrompidos.
Fazer
as pessoas se sentirem bem em seus corações não é o objetivo do Evangelho. O
Evangelho anuncia a verdadeira paz. Ele deseja estabelecer a paz entre o homem
e Deus, mas não entre o homem e seu coração enganoso. Estar em paz com o
próprio coração não é um sintoma de salvação. O verdadeiro Evangelho machuca o
coração. Não nos esqueçamos disso!
Pr. Clodoaldo Machado
Fonte: http://palavraprudente.com.br/
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