Essa é a
primeira postagem de uma série que pretendo expor, permitindo Deus. Se a
soteriologia das seitas podem ser identificada com algum sistema conhecido
entre o cristianismo protestante, ou com as heresias históricas a respeito do
tema. As principais seitas ‘cristãs’ – Adventistas do Sétimo Dia, Espiritas,
Mórmons, Testemunhas de Jeová, e as seitas Neopentecostais, possuem um sistema
de doutrinas ligado ao livre-arbítrio. Não raro, a doutrina da depravação total
nessas seitas é diluída, quer em sua forma mais branda com a chamada graça
preveniente*, quer por negar que os efeitos da Queda sobre a alma
humana, não chegam até esse ponto de uma morte espiritual plena. A causa
é simples – as seitas flertam com algum tipo de racionalismo, ou apelo humanista,
para introduzirem seus conceitos.
Percebe-se
isso quando Adventistas, Espíritas e Testemunhas de Jeová apelam a um tipo de
justiça racional, destituída da Divindade Soberana, ao questionarem o tormento
eterno. Com os sentimentos humanos estimulados, a pessoa recebe rapidamente
seus questionamentos contra a doutrina do tormento eterno como legítimos,
rejeitam tal ensino, apesar de estar claramente patenteado na Escritura.
Nesta
primeira postagem tratarei especificamente da religião conhecida como Testemunhas
de Jeová (TJ) no campo da soteriologia, e tentar entender em que
classificação tal segmento religioso é corretamente classificado, ou pelo menos
aproximado, até mesmo, definir o modo próprio da seita ver a salvação.
1. A Queda e
seus resultados segundo a Teologia TJ: a perspectiva teológica da liderança TJ a respeito da Queda não é de
imputação, mas apenas de hereditariedade. Não houve uma representação federal
em Adão por toda raça humana, no sentido dessa raça pecar nele e com ele:
“Alguns têm
explicado que isto significa que toda futura descendência de Adão compartilhou
no ato inicial de pecado porque ele, como chefe da família, os representou e
com isso, realmente, os tornou co-participantes no seu pecado. No entanto, o
apóstolo diz que a morte “se espalhou” a todos os homens, o que dá a entender
um efeito progressivo, em vez de simultâneo, nos descendentes de Adão [...]
Responsabilizar todos os descendentes de Adão como participantes no pecado
pessoal de Adão exigiria alguma expressão de vontade da parte deles quanto a
terem-no como seu chefe de família [...] Portanto, a evidência indica que o
pecado de Adão foi repassado para as sucessivas gerações em resultado da
reconhecida lei da hereditariedade.” (Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3,
p. 199).
Desta forma
os teólogos da Torre de Vigia defendem em um sentido primário o pecado como uma
doença que conduz à morte. A pessoa que nasce acaba pecando, e assim, e somente
assim, ela se torna culpada de morte – mas não de morte eterna,
mais adiante veremos a respeito disso.
O homem
continua sendo capaz de vencer o pecado, não por uma obra regeneradora interna
(Rm 8.1-8), mas no devido uso das faculdades racionais por fazer a vontade de
Deus. Em uma explicação a respeito do caso de Jacó e Esaú, os teólogos da
seita, em seu compromisso com uma limitação de Deus, faz uma afirmação que nos
interessa agora:
“Jeová tinha
a capacidade de ler o padrão genético dos gêmeos por nascer. Ele pode ter
considerado isso ao prever as qualidades que cada um dos meninos
desenvolveria e predizer o resultado.” (Raciocínios, p. 118 [grifo meu]).
2. Salvação
segundo a Torre: Outro fator
estranho na teologia da liderança TJ é como que se dá o processo de salvação.
Antes, porém, devemos mostrar que o conceito de salvação é dividido em dois
grupos – os 144 mil e as “outras ovelhas” que habitarão para sempre na Terra
paradisíaca:
“... Deus
achou bom reconciliar Consigo mesmo, por meio de Cristo, todas as outras
coisas, fazendo a paz por intermédio do sangue que Jesus derramou na estaca de
tortura. Paulo também explica que essa reconciliação envolve dois grupos de
pessoas: “as coisas no céu” e “as coisas na terra” (Colossenses 1:19,20;
Efésios 1:10). O primeiro grupo é composto de 144 000 cristãos que recebem a
esperança de servir como sacerdotes celestiais e reinar sobre a terra com
Cristo Jesus [...] Por intermédio deles os benefícios do resgate serão
aplicados gradativamente à humanidade obediente por um período de mil anos.”
(Achega-se a Jeová, p. 146).
O novo
nascimento para a teologia da Liderança TJ não é o mesmo que para a fé cristã
protestante – quer seja arminiana ou calvinista. Enquanto o novo nascimento,
bíblico, está atrelado em um regenerar do estado de pecado, dando vida
espiritual com Deus, filiação de Deus e justificação diante de
Deus e paz com Deus (Romanos 5; veja Salvos Pela Graça, p. 26;
Teologia Concisa, p. 147), o novo nascimento jeovista está mais ligado com a
perspectiva escatológica do que com o estado diante de Deus, embora não o
dispense. Explico:
A) Para o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová o
ser humano não tem alma, nem espírito, nem parte imortal alguma que sobrevive à
morte do corpo. Segundo propagam, esse ensino é Babilônico, grego, etc., não
bíblico (Brochura “Que Acontece Conosco Quando Morremos”, pp. 5-16).
B) Já que o ser humano não possui parte imaterial
alguma, como ele poderia morar no céu de Deus? Daí entra em cena o Novo Nascimento, ou seja, é
produzido um direito de existência fora do corpo após a morte, onde
apenas os 144 mil (Ap 14.1,2), recebem. Quando os mesmos morrem, ressuscitam
“num piscar de olhos” em espírito, e vão para o céu. Isso ocorre, segundo a
heresia, desde 1918 [não obtive conhecimento se essa data foi mudada, visto que
a seita TJ constantemente muda doutrinas relacionadas a datas e profecias, que
não seja 1914, claro.]
C) Portanto, a questão é que o novo nascimento tem uma
ligação mais ao Reino de Mil anos que apenas os 144 mil participarão com
Cristo, sendo mediadores das outras ovelhas (um estudo mais extenso disso está
em A Sentinela 15/071995, pp. 9-25). Nessa perspectiva, até mesmo Jesus teve
que nascer de novo para os Teólogos da Torre:
“Nascer de novo envolve ser batizado em água (‘nascer da água’) e ser
gerado pelo espírito de Deus (‘nascer do espírito’), tornando-se assim filho de
Deus, com a perspectiva de ter parte do Reino de Deus (João 3:3-5) Jesus
teve essa experiência, assim como a têm os 144 000 que são herdeiros com ele no
Reino celestial.” (Raciocínios, p. 257[grifo meu]).
2. Salvação
como uma filosofia de pensamento denominacional, não como um milagre soberano
regenerativo na alma de quem crê. Para a Liderança TJ a salvação está relacionada com a afiliação às
crenças da organização Torre de Vigia, ou como dizem “A Organização de Jeová”.
“Em razão de
as Testemunhas de Jeová basearem na Bíblia todas as suas crenças, normas de
conduta e procedimentos organizacionais, sua fé na própria Bíblia como sendo a
Palavra de Deus lhes dá a convicção de que possuem a verdade.” (Raciocínios, p.
388).
“Quem,
então, são os que formam o corpo de verdadeiros adoradores hoje? Não hesitamos
em dizer que são as Testemunhas de Jeová.” (Viver Para Sempre, p. 190).
“... existe
uma organização que é notavelmente diferente de todas as demais. A Palavra de
Deus, junto com muitas provas registradas, identificam claramente que essa
organização não é outra senão as Testemunhas de Jeová.” (Organizados Para Fazer
a Vontade de Jeová, p. 5).
Precisamos
definir bem as facetas das crenças jeovistas e o que eles pensam a respeito da
salvação. Pois a falta de sintonia entre o que eles pensam e o que a Bíblia
ensina, é gritante. Podemos errar por falta de conexão.
A) O pensamento teológico da seita afirma que a
salvação se dará, em dois momentos. Quando chegar o fim de todas as coisas no
Armagedom, os que servirem a Jeová fielmente na Organização serão livres e
passarão para viver no novo mundo. E os que forem dos 144 000 irem para o céu
logo em seguida ao Armagedom para começar o reino de mil anos com Cristo na
Terra.
B) Aqueles que morreram servindo a Deus na Organização
‘verdadeira’, que são das outras ovelhas (incluindo todos os servos de Deus do
Velho Testamento) ressuscitarão e se ajuntarão com a Grande Multidão de
Testemunhas de Jeová que passaram do Armagedom, e viverão na Terra. Esses são
os justos que herdarão a terra.
C) Os que morreram na ignorância receberão a chance de
ressuscitarem na nova terra – os injustos, para aprenderem a verdade da
organização de Jeová. Serão erguidos a um estado de perfeição para que sejam
habilitados em passarem na prova final, após o milênio, junto com todos os
demais das outras ovelhas.
D) Os que foram infiéis a Deus no passado, saíram da
Organização, não ressuscitarão nem passarão com vida no Armagedom. Estarão para
sempre mortos. Os que forem infiéis no milênio, na prova final e após serão
eliminados por Jeová para sempre, sem a necessidade de nova vindicação mundial.
E) Em um sentido a salvação após a prova final para as
outras ovelhas é eterna enquanto permanecerem submissos. Eles poderão cair
(apesar da possibilidade ser mínima) mesmo na eternidade. Para os 144 mil, Deus
concederá a eles imortalidade, pois eles demonstraram fidelidade e foram
provados. Eles jamais cairão.
Ø Essas afirmações podem ser vistas em várias publicações da seita. Mas de
modo específico no livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo
pp. 113-129; 286-313.
Essa é, em
linhas gerais, a salvação segundo a Liderança TJ.
Como
adquirir direito de disputar no futuro por essa salvação [incerta]? Através do conhecimento dos ensinos e das
atividades da religião Torre de Vigia. Eles classificam isso como o
“conhecimento que conduz à vida eterna”. O perdão é oferecido a todos que clamam por perdão a Jeová. A base com
que Deus perdoa é a morte de Jesus Cristo de Nazaré, que já não existe mais.
Mas a permanência nessa salvação depende do esforço de cada um - por toda
eternidade. Além disso, o que Jesus fez em um sentido jurídico, não é em um
sentido pessoal. Para os TJs Jesus abriu caminho para termos as oportunidades
de salvação. Ele garantiu vagas ilimitadas para a Terra, limitadas para o céu,
mas não garantiu a salvação pessoal de quem quer que seja.
Existe
alguma semelhança entre a soteriologia arminiana ou calvinista com a salvação
da Torre de Vigia? Minha
resposta é não. Ainda que possa ter suas semelhanças, mas não pode ter
uma identificação direta nem indireta. Na verdade, a influência sociana e
pelagiana é bem mais percebida do que das escolas ortodoxas do
protestantismo.
*A Graça
Preveniente é uma doutrina Arminiana, que segundo seus promotores, tem como
objetivo capacitar o morto espiritual a ver e a ouvir, embora, não o regenere –
ele continua morto, nem o salve, é irresistível para o objetivo
proposto- iluminar e capacitar, mas o que ela apresenta pode ser resistido. A
doutrina da graça preveniente nada mais é do que um arranjo solúvel entre
manter o livre-arbítrio e a depravação total. É dito da graça preveniente:
“A graça
preveniente é um ato soberano de Deus pelo qual ele suspende a raça humana
de sua depravação e nos concede a capacidade de respondermos à graça de
Deus.” (grifo meu).
Fonte: MCA
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